sábado, 24 de abril de 2004


A Cantiga é uma Arma!

"As cantigas de teor politizante tiveram um papel de relevância politica na formação de toda uma consciência anti-fascista ao longo de, pelo menos, os últimos treze anos (1961-74) da ditadura terrorista de Salazar-Marcelo.
O cantor era – é! – acima de tudo, um militante, um agitador. As situações em que ele podia cantar nada tinham a ver com a segurança e a amenidade de uma sala de espectáculos. Em definitivo, a concepção de «show», de recital, é totalmente estranha à realidade da actuação do cantor de intervenção neste país.
Poder-se-á situar o aparecimento da canção de contestação nos anos 1961-62, revestindo uma forma de ruptura com as tradicionais cantigas dos estudantes de Coimbra, os fados. Os textos reflectiam a revolta contra a guerra fraticida que o povo português era obrigado a praticar em África (…). José Afonso é o iniciador do movimento, logo seguido por Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire. Mais tarde viriam, da emigração, os testemunhos de José Mário Branco, Luís Cília, Sérgio Godinho, Tino Flores, e, dentro do país, Vitorino, José Jorge Letria, Pedro Barroso, Francisco Fanhais, José Barata Moura, Aristides, o Grupo de Acção Cultural, Fausto. (…)" ["O papel do cantor de intervenção em Portugal", opúsculo s/d, n/l, 1974 (?)]


Mundo da Canção [nº 1, Dezembro 1969 – Julho 1985] – Revista mensal de "música popular" editada na cidade do Porto, teve como directores Avelino Tavares, José Viale Moutinho, A. Vieira da Silva, António José Fonseca. Colaboração, entre outras, de Teresa Horta, Jorge Cordeiro, Michel Brunet, Arnaldo Jorge Silva, Fernando Silva Cordeiro, Tito Lívio, César Príncipe, Jorge Lima Barreto, Octávio Fonseca Silva, Viriato Teles, Fernando Sylvan. [Ver aqui]


Jornal Opinião [nº 1, Junho 1973 – Junho 1976] – Semanário com redacção na cidade do Porto, teve como director João Huet Viana Jorge e director-adjunto, António Macedo Varela.

Jornal Notícias da Amadora [nº 1, 1958] – Semanário com redacção e administração na Amadora, teve como directores António de Jesus (1958-1959), A. Conceição e Silva (1960-1961), Domiciano P. Valente (1961) e Domingos Janeiro (1961-1963), e a partir dessa data, com a direcção de Orlando Gonçalves, Sérgio Ribeiro e Carlos Carvalhas, chefe da redacção João Paulo Guerra, converte-se um jornal de culto para alguns sectores de oposição à ditadura. Registe-se a colaboração de Oliveira Marques, Adelino Gomes, Afonso Cautela, Afonso Praça, Alexandre Cabral, Alfredo de Sousa, Artur Bual, Ary dos Santos, Abelaira, Baptista Bastos, Bento Vintém, Borges Coelho, Carlos Marinheiro, Cipriano Dourado, Correia da Fonseca, Eduardo Gajeiro, Emídio Santana, Ernesto Sampaio, Assis Pacheco, Fernando Belo, Lopes Graça, Piteira Santos, Salgado Zenha, Helena Marques, João Carreira Bom, Joaquim Leal, José A. Salvador, Cardoso Pires, José Gomes Ferreira, José Saramago, Luiz Pacheco, Maria Velho da Costa, Mário Castrim, Mário Dionísio, Miller Guerra, Nelson de Matos, Nuno Bragança, Óscar Lopes, Pedro Alvim, Raul Rego, Rui D’ Espiney, Sá Carneiro, Sidónio Muralha, Tito Lívio, Vergílio Ferreira, … [Ver aqui]. Ainda se encontra em actividade.

quarta-feira, 21 de abril de 2004


"Memórias de Américo Tomás" (I)

"Eu por mim próprio, não me decidi a escrever as «Minhas Memórias». Decidiram-me. É que, estando quase toda a gente, ex-chefes de gabinete, ex-subsecretários de Estado, ex-secretários de Estado, ex-ministros, ex-chefes de Governo, escrevendo as suas memórias, a minha família começou a insistir comigo para que escrevesse as minhas «Memórias», na medida em que, disseram-me, mal me ficaria não escrever, também eu próprio, as minhas «Memórias».
Habituado a falar e não a escrever, contando, segundo as minhas contas, nove mil trezentos e sessenta e quatro alocuções por sobre o território nacional, isto é, continente, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas, não minto!, nove mil trezentos e sessenta e cinco alocuções por sobre o território nacional e internacional, ligadas ao meu cargo de Presidente da República, - eu nunca me afeitei a usar a caneta, coisa que disse repetidamente a minha família.
Não tive sucesso, como é obvio, dado que me compraram uma caneta e ma deixaram fechada na mão.
Foi então que, pegando na caneta, carreguei no botão do gravador e comecei: "Senhor bispo da diocese, senhor ministro das Obras Públicas, senhor governador civil, senhor presidente da câmara municipal, senhor presidente da junta de freguesia, minhas senhoras e meus senhores" [in, revista Opção, Ano II, nº 30]

"É esta, portanto, a ultima cerimónia que se passa na cidade da Guarda e eu não quero deixar passar esta oportunidade sem agradecer ao bom povo desta terra o seu entusiasmo, o carinho com que recebeu o Chefe do Estado. A chuva não teve qualquer influência no entusiasmo das populações. Elas vivem numa terra de granito, e a chuva não as apoquenta (…) A Guarda é um distrito de bons portugueses, de portugueses de uma só face, portugueses, portanto, sempre prontos a defender a terra que os viu nascer. E a Guarda tem uma particularidade: é a cidade mais alta da Metrópole" [ididem, discurso na Guarda, in Século]

"… É uma terra [Gouveia] bem interessante, porque estando numa cova, está a mais de 700 metros de altitude. Pois o que desejo, sr. Presidente, para poder pagar, de qualquer forma a dívida que contraí, é que esta gente tenha um futuro feliz, abençoado por Deus. Que assim seja, para contentamento vosso e para contentamento meu …" [ibidem, em Gouveia, segundo O Século, 1/6/1964]

Jornal República [nº 1, 15 de Janeiro 1911- 1976]

Dirigido por António José de Almeida (vidé alguns artigos seus em «Quarenta Anos de Vida Literária de Política»), de forte tradição republicana e maçónica, teve uma importância politica grande durante a 1ª Republica e marcou ao longo do Estado Novo um lugar à parte na oposição à ditadura, apesar da atenção que lhe movia a censura. A partir de 1971, com a entrada e o controle de pessoas ligadas à ASP ("percursora do Partido Socialista") sofre alterações significativas, ganha maior "fôlego" e importância. Teve como directores, Carvalhão Duarte, Raul Rego e, por fim, durante o chamado «Caso República» (1975) Belo Marques. Participaram além de António José de Almeida, Alfredo Pimenta, Rocha Martins, Dias Amado, Costa e Melo, Gustavo Soromenho, Álvaro Guerra, Mário Mesquita, Carlos Correia, José Augusto Seabra, Armando do Vale Sereno, …

"… Desde 1926 até hoje [1969] não houve um só dia em que a imprensa portuguesa fosse livre. Tem sido realmente a base da sobrevivência do regime totalitário entre nós (…) podemos dizer que ela [censura] se exerce com dureza sobre o noticiário politico, económico, social e educativo, assim como sobre toda a colaboração literária ou outra. Quase inteiramente livres de Censura só o noticiário do desporto, os jornais desportivos, de modas e quejandos …" [Raul Rego, in Horizontes Fechados, 1969]

[sobre o Caso República, Maio de 1975] – "Os trabalhadores do "R" entraram em luta para que o jornal fosse independente e ele acabou por ser encerrado. Iniciam então uma outra luta, os "50 dias", pela defesa dos postos de trabalho e pela reabertura do jornal, coisas indissociáveis (…) Antes, o problema era forçar a direcção de Rego a modificar a orientação do jornal. Agora, queiram ou não, o problema é inventar um jornal (…) O projecto que se elabora é o de um jornal popular e revolucionário (…) o tom fundamental é logo dado pelo Estatuto Editorial. Este aponta para um jornal "de classe", de apoio às lutas, porta-voz de comissões, que dá a palavra a quem os outros negam …” [in, Gazeta do Mês, nº 1, Maio de 1980]

segunda-feira, 19 de abril de 2004


Boletim Bibliográfico nº 19 de Luís Burnay, Abril 2004

O Livreiro-Antiquário Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa) acaba de publicar o seu 19º Boletim de Livros antigos, esgotados e raros, que é excelente. Com uma forte temática literária, encontra-se, ao longo de 625 peças para venda, um expressivo conjunto de poetas e escritores portugueses com obras há muito esgotadas, outras peças de colecção. Com evidente interesse bibliográfico e a preços muito convidativos. Aliás, será curioso fazer o confronto entre o preçário praticado pelos antiquários/alfarrabistas lisboetas e os da cidade do Porto, para avaliar e entender a situação do mercado do livro antigo e dos processos (estranhos) nesta área.

Algumas referências: Fernando Pessoa e a Magia, de Luiz Moitinho de Almeida (raro) / Memórias de Alegria: antologia de verso e prosa sobre a Coimbra, org. de Eugénio de Andrade, 1971 / Poesia: antologia temática e Mário de Andrade, Alger, s/d (policopiado) / Anteu: cadernos de Cultura, nº1 e nº2, Lisboa, 1954 (raro) / Na Senda da Poesia, por Ruy Belo, 1969 / Ternos Guerreiros, de Agustina Bessa Luís, 1960 / Baionetas da Morte, por António Boto, 1936 / Ruy Cinatti [conjunto apreciável de obras: Borda d’Alma … (1973); Conversa de Rotina (1973); Import-Export … (1974); Memória Descritiva … (1971); Novo Salmo (folha volante com poemas de distribuição para amigos (?) / Obra poética de Afonso Duarte, 1949 / Escola Formal: revista mensal (dir. de Afonso Botelho, Orlando Vitorino), 1977-78, VI nums / Balanço das Actividades Surrealistas em Portugal, de José Augusto França, 1948 (opúsculo raro) / Engrenagem, por Soeiro Pereira Gomes, Porto, ed. SEM, 1951 / GRAAL (ver. dir. de António Manuel Couto Viana, 1956-57, IV nums / Anagramático, de Ana Hatherly, 1970 / O Corpo O Luxo A Obra, de Herberto Helder, 1978 (raro) / À Liberdade (no dia 16 de Maio de 1958), de David Mourão-Ferreira (folha volante com ded. Manuscrita) / Mito-Alegria-Simbolo, por Almada Negreiros, Sá da Costa, 1948 / Orpheu, de Almada Negreiros, 1965 / Varandas de Pilatos, por Vitorino Nemésio, 1927 / O Missionário, por Eduardo Noronha, 1927 / Entre a cortina e a vidraça (poemas com 1 disco), de Alexandre O’Neill, 1972 / O Libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor, de Luiz Pacheco, Contraponto / Apenas uma Narrativa, de António Pedro, 1942 / Clepsydra, por Camilo Pessanha, Ed. Lusitânia, 1920 / Uma carta a Teixeira de Pascoaes: Cadernos de Poesia (separata rara), de Fernando Pessoa / O Dinossauro Excelentíssimo, de Cardoso Pires, 1972 / Odes Modernas, por Antero de Quental, Coimbra, 1865 / Indícios de Oiro, por Mário de Sá-Carneiro, 1937 / Oito Séculos de Arte Portuguesa, por Reinaldo dos Santos, 1970, III vols
Museu do Neo-Realismo:

O nosso amigo do Lugar Efémero regista (e nós agradecemos) que "o espólio da Vértice, assim como a colecção da Seara Nova, e muitas outras publicações ligadas ao período do neo-realismo, mas não só, como o Sol Nascente, o Diabo, Horizonte, o Tempo e o Modo, o Via Latina, inúmeras páginas literárias e culturais de outros periódicos (quer em colecção completa, quer em números avulsos) podem ser consultados por investigadores no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Além de possuir espólios e outros materiais literários, de artes plásticas, gráficos, áudios, vídeos respeitantes a personalidades e acontecimentos desta época”. Obrigado.

Links: Museu do Neo-Realismo / In Câmara Municipal Vila Franca de Xira /

quinta-feira, 15 de abril de 2004


[Para o Luís da Natureza do Mal … para que não pense que o dedico a outro]

Passa por mim na Livraria

"Par délicatesse / j’ai perdu ma vie"

Não há paixão maior que deambular, com carinho e ternura, entre estantes de papéis novos ou velhos, poeirentos ou não, salvo a alegria e a paciência de encontros d'amores furtivos. Que o livro, como diria Joaquim Pessoa, é como uma mulher e no qual o amante-leitor "observa com os olhos apaixonados, mexe com um frémito de emoção, palpa com gozo, cheira, luta por ele e, quando o conquista, uma alegria enorme, uma alegria de posse lhe invade as quatro assoalhadas do coração". Eu sei que este "brincar da criança" (chez Freud), este sobressalto na alma de ver, ali, apertados em tão doce desordem tamanhos fólios, é uma maviosidade sem qualquer perdão. Compreendo como somos prisioneiros de um qualquer opúsculo, manuscrito, novela ou romance, seja pela impressão, papel, corte das folhas, corpo do livro, margens, pelos ferros a ouro nas lombadas, pelas gravuras em separado, simplesmente brochado ou mesmo encadernado. Mas também, confesso, que o local dessa inesperada declaração de amor não é indiferente. E as livrarias são esse lugar do "corpo revoltado", "moral de prazer" ou simples locus de cumplicidade.

A nossa "indisciplina”" começou por uma pequena drogaria da Avenida Madrid onde se comprava revistas e livros em segunda mão. Não mais lhe perdemos o gozo. Depois, já liceal (Camões, evidentemente) e pela companhia do mestre e amigo Freire de Andrade, frequentámos a Barata na Av. Roma, para a rápida vistoria diária. Quando descobrimos as livrarias da Baixa e do Bairro Alto (ao mesmo tempo que a Capela do Rato) foi uma desaustinada emoção. A Barateira era um mergulho imprevisto, o Castro e Silva um baque retumbante, a Livraria Popular um desafio. Na Bertrand lambuzávamos as prateleiras, na Bucholz professávamos exclamações, na Opinião rimávamos. O tempo era de partida, e em Ovar na Livraria Carvalho abríamos gavetas, bem ocultadas com JPP e livros da Centelha. Havia, também, a "biblioteca" e os LP’s rolante de M. Freire, a Estante em Aveiro e outras mais que o tempo esqueceu. E o Porto ali tão perto. Na Leitura era o alarido, na Lello o olhar ofegante, na Cedofeita esgadanhávamos resmas em perfeito desassossego. Sempre sem trair as palavras. Abençoadas livrarias.

Discretos, nos tempos de Coimbra, desembestávamos (por vezes em bando) na Baixa. Na saudosa Atlântida despejámos o segundo andar; na Bertrand não fazíamos cerimónia, no Machado d'Almedina acumulámos esplendor. Não havia a Finisterra, mas a Unitas e o armazém do Soveral resolvia o mau humor. Depois ... depois ficámos mais inspirados. Até hoje. Com aprumo lá vamos à Ler Devagar, FNAC do Chiado, novamente a Bertrand. Nunca fomos vencidos pela fadiga, mas agora mais refinados, gostamos de ficar a escarafunchar nos alfarrabistas, pescar na Feira da Ladra, depenicar em pequenos armazéns ainda escondidos. É sempre bom voltar à Histórica Ultramarina, ao Nunes de Benfica, ao Artes & Letras (descansando o corpo), ao actual Bobone, à Barateira, ao Arquimedes no Carmo, à prelecção com o Ferreira da Livraria Antiga do Carmo e ... muitas mais. A peregrinação continua. Amanhã lá estaremos. Na boca um sorriso. Sempre!

quarta-feira, 14 de abril de 2004

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola
..........
Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo
..........
Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro
..........
Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino ...

[Natália Correia, in Dimensão Encontrada, 1957]

Seara Nova [nº 1, Outubro 1921- nº 1599 de Janeiro 1979]

"Revista quinzenal de doutrina e crítica", nascida de uma "cisão da revista Águia", de intervenção pedagógica, literária e social, com uma matriz de reflexão cultural forte e polémica, marca toda a oposição ao Estado Novo e à ditadura, envolvendo-se em intensa actividade editorial e de campanha cívica e politica. Foram directores, sucessivamente: Aquilino Ribeiro, António Sérgio, Câmara Reys, Rogério Fernandes, Augusto Abelaira, Rodrigues Lapa, José Garibaldi, Ulpiano de Nascimento.
Da activa colaboração havida saliente-se os seguintes nomes: Abel Salazar, Adolfo Casais Monteiro, Afonso Duarte, Agostinho da Silva, Alberto Ferreira, Alexandre Cabral, Alexandre O’Neill, Alfredo Margarido, Almada Negreiros, Álvaro Cunhal, Alves Redol, Américo Durão, António Aragão, António José Saraiva, António Ramos Rosa, António Sérgio, Aquilino Ribeiro, Assis Esperança, Augusto Abelaira, Augusto da Costa Dias, Bento de Jesus Caraças, Carlos de Oliveira, Carlos Queiroz, Castelo Branco Chaves, Daniel Filipe, David Mourão-Ferreira, Eduardo Lourenço, Emílio Costa, Eugénio de Andrade, Lopes Graça, Fernando Pessoa, Ferreira de Castro, Fialho d’Almeida, Flausino Torres, Henrique de Barros, Irene Lisboa, Jaime Cortesão, João de Barros, Gaspar Simões, João José Cochofel, Joaquim Namorado, Jorge de Sena, José-Augusto França, Cardoso Pires, José Gomes Ferreira, José Régio, Rodrigues Miguéis, José Saramago, Luís Pacheco, Manuel Ferreira, Maria Archer, Mário Sá-Carneiro, Mário Dionísio, Mário Sacramento, Melo e Castro, Miguel Torga, Natália Correia, Nuno Bragança, Óscar Lopes, Pedro Oom, Raul Brandão, Raul Proença, Raul Rego, Reynaldo dos Santos, Rodrigues Lapa, Sant’Anna Dionísio, Sttau Monteiro, Teixeira de Pascoaes, Teixeira-Gomes, Victor de Sá, Vergílio Ferreira, Vitorino Nemésio, …

"Renovar a mentalidade da elite portuguesa tornando-a capaz dum verdadeiro movimento de Salvação; criar uma opinião pública nacional que exija e apoie as reformas necessárias; defender os interesses supremos da nação opondo-se ao espírito de rapina das oligarquias dominantes e ao egoísmo dos grupos, classes e partidos; protestar contra todos os movimentos revolucionários e todavia defender e definir a grande causa da verdadeira revolução; contribuir para formar acima das Pátrias, a união de todas as Pátrias – uma consciência internacional bastante forte para não permitir novas lutas fraticidas" [in Dicionário das Ver. Lit. Portuguesas, de Daniel Pires]

segunda-feira, 12 de abril de 2004

A Senha

Ser na acção em cada instante igual
à outra metade de si à sua imagem
de tal modo que o rigor acerte
o fraterno encontro com os outros

que a palavra
no lugar que lhe cabe
dê à frase a evidente verdade
em que todos se reconheçam


[Joaquim Namorado, in Vértice nº 363, Abril, 1974]

Vértice [nº 1, Maio 1942, …]

"Revista de cultura e arte" editada em Coimbra (1942), sob direcção de Carmo Vaz, Raul Gomes, Joaquim Namorado, e que ainda se publica (a partir de 1988, sob direcção de Francisco Melo), acompanhou o movimento neo-realista (de que foi perfeito porta-voz) e outras tendências, promovendo intensas reflexões, debates culturais, estéticos e políticos que marcaram a época. A par da "doutrinação critica e literária" que cedo revelou, do combate estético-literário comprovado ou da "divulgação ideológica" propagandeada, a sua longevidade e uma activa rede de colaboradores torna a Vértice incontornável na história literária e política portuguesa. Da vasta colaboração havida (pode-se consultar o seu Índice de Autores (para os primeiros 45 anos), recolhido por Carlos Santarém Andrade, 1987) registe-se os seguintes: Cristóvão Aguiar, Luís de Albuquerque, Álvaro Sampaio, Aníbal de Almeida, Eugénio de Andrade, Armando Bacelar, José Oliveira Barata, Baptista Bastos, Mário Braga, , Nuno Bragança, João Freitas Branco, Casimiro de Brito, Alexandre Cabral, Gomes Canotilho, Jesus Caraça, Papiano Carlos, Orlando de Carvalho, Jaime Rodrigues Viana, Ferreira de Castro, Fernando Catroga, João José Cochofel, Eduardo Prado Coelho, António Vale (Álvaro Cunhal), Augusto da Costa Dias, Saul Dias, Mário Dionísio, Afonso Duarte, Rui Feijó, Alberto Ferreira, José Gomes Ferreira, Vergílio Ferreira, Lima de Freitas, Eduardo Geada, Aureliano Lima, Campos Lima, Irene Lisboa, Maria Gabriela Llansol, Eduardo Lourenço, Álvaro Manuel Machado, João Medina, José Manuel Mendes, José Ferreira Monte, Adolfo Casais Monteiro, Vital Moreira, Sidónio Muralha, Fernando Namora, Rebordão Navarro, Vitorino Nemésio, Avelãs Nunes, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Cardoso Pires, António Pedro Pita, Júlio Pomar, Cândido Portinari, Paulo Quintela, Julião Quintinha, Luís Francisco Rebelo, Alves Redol, José Régio, Aquilino Ribeiro, Armindo Rodrigues, Urbano T. Rodrigues, António Ramos Rosa, Vítor de Sá, Mário Sacramento, Abel Salazar, Arquimedes da Silva Santos, Piteira Santos, António José Saraiva, José Saramago, José Sasportes, António Sérgio, Joel Serrão, Antunes da Silva, Gaspar Simões, José Carlos Vasconcelos, Alberto Vilaça, Mário Vilaça,

"Não pode a uma revista de cultura portuguesa ser indiferente a politica nacional e muito menos no momento em que se decide o Futuro, o nosso próprio Destino. Vértice toma posição apoiando as revindicações dos democratas portugueses, enquadrando-se no seu movimento em prol de eleições onde o país possa manifestar livremente a sua vontade..." [nº17/21, in Dicionário das Rev. Lit. Portuguesas, de Daniel Pires]

"…Romeu, tu conheces o Namorado?
- O poeta Joaquim Namorado, o director da revista Vértice, de Coimbra?
- Esse mesmo.
- É claro que conheço. Não te esqueças que eu sou colaborador da Vértice.
- Dizem, não sei se é verdade mas dizem que foi o Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de "neo-realismo" o tão falado "realismo socialista" apregoado pelo Jdanov...
Ri-se, abana afirmativamente a cabeça.
- É capaz de ser verdade, o Namorado sempre gostou de brincar às escondidas com a PIDE e a Censura ... Lembras-te daqueles pensamentos na contracapa de cada número da Vértice?
- Sim, estou a ver.
- Pois o Namorado, durante alguns números, publicou pensamentos do Karl Marx mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. E um dia aparece na redacção um agente da PIDE a intimidar: "Ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele"... [in Romeu Correia]

quinta-feira, 8 de abril de 2004

"Notícias do Bloqueio" [Nos vinte anos da Intima Fracção. Obrigado Francisco Amaral]

"Aproveito a tua neutralidade,
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar noticias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos
..........

Dirás como trabalhamos em silêncio
como comemos em silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento

Vai pois e noticia como um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga
..........

Diz-lhe que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva
e a esperança reproduz-se"

[Egito Gonçalves, Arvore nº 4]

O Tempo e o Modo [nº 1, Janeiro 1963 ao nº 126, 1977]

"Revista de pensamento e acção" publicada em Lisboa (1963), dirigida sucessivamente por António Alçada Baptista, João Benard da Costa (a partir do nº 69/70) e Luís Matoso, foi inicialmente um projecto de jovens católicos (JUC) não-conformistas de antanho interessados em "desvincular toda uma geração do laço orgânico da versão salazarista do catolicismo" (Eduardo Lourenço), uma "revolução silenciosa" (idem) face à ditadura, uma "luta contra a desordem estabelecida" (Benard da Costa), de dissidência estética/politica/literária e, de facto, de crucial interesse para toda uma geração que não se revia na corrente dominante da oposição à ditadura. Caminhou, portanto, do "personalismo" à L'Esprit sob a direcção de Alçada Baptista (surgem debates sobre a problemática da função da arte e da crítica, ciência e filosofia, teatro e ensaio literário, no que conta com a participação de Herberto Helder, Sophia Mello Breyner, António Ramos Rosa, Vergílio Ferreira, Jorge de Sena, Cardoso Pires, Nuno Bragança, Abelaira, Murilo Mendes, Nuno Júdice, José Bento, Casais Monteiro, António Pedro, Agostinho da Silva, Agustina Bessa Luís, Alberto Ferreira, Almeida Faria, Angel Crespo, António Franco Alexandre, António José Saraiva, António Osório, Baptista-Bastos, Edgar Morin, Eduardo Lourenço, , Eduardo Prado Coelho, Fiame H. P. Brandão, João Rui de Sousa, José Augusto França, José Blanc Portugal, , José Gomes Ferreira, Rodrigues Miguéis, José Marinho, Palla e Carmo, Francisco Rebelo, Mário Soares, Jorge Sampaio, Michel Foucault, Paulo Quintela, Ruy Belo, Ruy Cinatti, Vasco Pulido Valente, Benard da Costa, Jorge Sampaio; Vítor Matos e Sá, etc.), para a partir do nº 69/70 enveredar, sob a direcção de João Benard da Costa, e principalmente a partir de Luís Matoso para uma maior influência na formação da "nova esquerda portuguesa", assumindo, já perto de 1974, uma posição marxista-leninista, versão EDE/MRPP, sob a direcção de Guerreiro Jorge.

"... Assim, pretendemos lutar, a nosso modo e também, contra a geral «desordem estabelecida», isentos de qualquer confessionalismo ou partidarismo politico concreto, preocupados em localizar e fazer incidir o nosso esforço sobre a análise, clarificação e resolução dos problemas que afectam o nosso tempo particular, propondo-nos especialmente – reflectindo uma concepção libertadora e progressiva da História e da Pessoa Humana, que acentue o primado desta sobre as necessidades materiais e técnicas colectivas em que se baseia o desenvolvimento – estudar com atenção crítica todas as formas de regressão e entrave a esse seu progressivo desenvolvimento..." [Editorial do nº 1, Janeiro de 1973]

quarta-feira, 7 de abril de 2004

A MEMÓRIA DO ELEFANTE




 A Memória do Elefante [Porto, nº 1, 1971- nº 13, 1974 (?)]

Jornal de Música Popular, Jazz, Rádio, com origem na cidade do Porto, saiu ente 1971 e 1974, com direcção de Joaquim Lobo, Editor Jorge de Morais, Relações Públicas João Afonso Almeida, Supervisão de Pedro Nunes, colaboração de António José Fonseca, Mário Gonçalves, Octávio da Fonseca e Silva, Jorge Lima Barreto, Pedro Proença, António Barredo Oliveira, Renato Silva, ...

"A Memória do Elefante tem sido e continua a ser por enquanto, um trabalho quase só de amadores não remunerados cuja acção procura concretizar um ideal de crítica. Estamos alheios aos jogos de interesses que orientam, subrepticiamente ou não, muitos representantes da nossa informação profissional (orgulhosamente). Os nossos redactores não têm obrigação de, como último recurso de incapacidade, encher umas quantas folhas de papel com as futilidades mais incríveis da vida mundana de personalidades pseudo-importantes do nosso putrefacto meio artístico, precisamente as personalidades «progressistas» (ah! ah!) que conduzem à recuperação da contra-cultura. A Memória do Elefante não é de, nem para escatófagos (...)" [A Memória do Elefante, nº 11, Janeiro de 1974]

"... A música urbana, na noção ideal, está ligada à vanguarda e à revolução sob todas as formas. Neste sentido pode dizer-se que em Portugal não há música urbana. Está, por aqui, num estado embrionário, simplista e pseudo-artístico. Abortadas que resultaram as experiências bem desenvolvidas mas inacabadas da Filarmónica Fraude e Quarteto 1111, não há para já perspectiva de uma música nova ..." [Octávio Fonseca e Silva, in José Afonso, ibidem]

"Este artigo é uma pequena e despretenciosa homenagem a Guy Debord e à I. S. Funda-se numa aplicação das teses reais do livro «A Sociedade do Espectáculo» e numa relação afectiva que a carta recentemente recebida dum fugitivo em França, Pedro Jofre, reavivou decisivamente ..." [Jorge Lima Barreto, in Jazz In Situ, ME nº 10, Agosto 1973]


Para Uma Música ... quase até 25 de Abril – O que se ouvia em dias escuros ou como roubar o tempo nos encontros … em cada um de nós. Porque o prazer, também, era transmissivel. É que a música podia chegar pelo lado mais distraído de nós. Uma pedrada no charco!

[Leonard Cohen (Live Songs) / Loud Reed & The Velvet Underground / José Mário Branco (Margem de Certa Maneira) / José Afonso (Venham Mais Cinco) / Brian Eno & Robert Fripp (No Pussyfooting)]

Catálogo nº 04 da Livraria D. Pedro V, Março 2004

A Livraria D. Pedro V - Rua D. Pedro V, nº 16 (ao Príncipe Real), Lisboa - lançou o seu Catálogo nº 4, com 263 peças a preços convidativos. Aberto todos os dias, em horário costumeiro, esse pequeno espaço é local de referência.

Algumas referências: O Inferno de Dante Alighieri (versão portuguesa com notas de uma breve noticia preliminar por Xavier da Cunha), Edic. David Corazzi, 1887 / História de Portugal, de João Ameal, 1940 / O Cristo Cigano, por Sophia de Mello Breyner, 1978 / Antologia do Humor Português (pref. de Ernesto Sampaio, selecção e notas de Virgílio Martinho), Ed. Fernando Ribeiro de Mello, 1969 / Monografia do Concelho de Ponte de Lima, pelo Conde d'Aurora, 1946 / História da Policia em Portugal, de Mascarenhas Barreto, 1979 / Memória sobre o Reino do Algarve, por Charles Bonnet, 1990 / Revista Gazeta Musical (Ano I, nº 1 15 de Out. 1950 ao nº 137 de Agosto de 1962, colaboração de Luís Freitas Branco, João José Cachofel, Luís Francisco Rebello, Mário Dionísio, Lopes Graça, Simões Dias, José Régio, José Terra, Virgílio Ferreira, António Sérgio, Adolfo Casais Monteiro, Gaspar Simões, Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, Cardoso Pires, Aquilino Ribeiro, ...) / Cancioneiro Fernandes Tomás, 1971 / Chronicas do Exílio, por Francisco Manso Preto (nº 1, 30 Dez. 1961 a nº 3, 11 Fev. 1963) / As Palavras e as Coisas, de Michel Foucault, Portugália, 1968 / O Salariato, por Pedro Kropotkine, 1976 / Inventário Artístico do Algarve / A Muralha, de Agustina Bessa Luís, 1957 / A Casa e Morgado da Oliveirinha nos Concelhos de Eixo e Aveiro, por Francisco Ferreira Neves, 1968 / Oceanos (nº 1 – nº 20) / Um Ano de Ditadura, de Sidónio Paes, 1924 / Breve Diccionario da Latinidade Pura e Impura com significação de ambas ..., por António Pereira, Lisboa, 1760 / Cristo Não Volta, de Alberto Pimentel, 1873 / Prosas de Antero de Quental, 1923-26, II vols / O Príncipe Real, de Hipólito Raposo, Ed. Gama, 1945 / As Encruzilhadas de Deus, de José Régio, 1935 / Biografia, por José Régio, 2º ed., 1939 / Primeiro Volume de Teatro, de José Régio, 1940 / Fado de José Régio, Coimbra, 1941 / Poemas de Deus e do Diabo, por José Régio, 1943, 2ª ed. / A Morte na Raiz, de Bernardo Santareno (poemas), Coimbra, 1954 / Nobiliário da Ilha Terceira, por Eduardo de Campos de Castro de Azevedo Soares, Porto, 1944, III vols / Notas Vicentinas. Preliminares de uma Edição Crítica das Obras de Gil Vicente, por Carolina Michaelis de Vasconcellos, Coimbra, 1912, IV vols / A Saudade Portuguesa, de Carolina Michaelis de Vasconcellos, 1922

terça-feira, 6 de abril de 2004

Abril

"Ora súbita raiz, ora formiga,
outro ar no tempo, outro lábio,
outro pé nos caules que começam,
mais redondo o nome que nos deram,
outro rim, outra asa, o cotovelo
aliviado no desenho, mais ligeiro,
outro faro, outra busca, outro riso,
hábil fuga da cama, outra mesa

- esta certa secreta impaciência
tem o nome de Abril, e habita sempre
as vírgulas (uma a uma) da surpresa
" [Pedro Alvim, Abril]

Comércio do Funchal [nº 1, Janeiro (?) de 1967]

"... um pequeno grupo de pessoas agarrou, na Madeira, a possibilidade inesperada de fazer um jornal, só porque fazer um jornal é uma oportunidade que não se deixa perder. Apenas isso. Eis o primeiro acidente: não havia um grupo formado que experimentasse a necessidade de se exprimir jornalísticamente para dar voz a uma posição, a um conjunto de ideias, a um projecto, a uma maneira própria, pensada definida de entender e interpretar a realidade. O que havia eram pessoas ligadas por laços de amizade, de companheirismo, de típicas aventuras jornalísticas de adolescência, mas com uma carência extraordinária de politização, para além de certas «opções» muito idealistas, primárias, ingénuas. (...) Connosco, deu-se precisamente o inverso: só depois de termos um jornal começámos a perguntar para que servia ele ..." [Vicente Jorge Silva, in CF em Mesa Redonda, & etc, nº 3, 14/02/1973]

"... Em determinada altura o Artur Andrade [Artur Pestana Andrade] veio do Casino e, ao chegar à agência [a Foco, de VJS, A.P.A., Victor Rosado, Santa-Clara, Angélica ...] diz-nos que o proprietário do «Comércio», jornal que já existia, com uma tiragem reduzidíssima, estava interessado em passar a sua efectiva direcção e administração e Artur achou a ideia interessantíssima e viu que era uma oportunidade excelente de podermos dar continuidade a toda uma movimentação de esforços de que as páginas, os encontros, os filmes, eram exemplo. Ficamos contentíssimos. O Vicente Jorge Silva, que foi sempre o impulsionador de quase todas as iniciativas, pulava de alegria" [Victor Rosado, ibidem]

"... &etc- Há uma frase de Mário Sacramento, que vocês até utilizam na publicidade: «Comércio do Funchal: extraordinário e quase miraculoso». Pergunto: como é possível que um jornal feito por rapazinhos entre os 17 e os 22 anos, se aguentasse tão bem?
LA [Luís Angélica] - Na minha opinião, para além de todas as possíveis divergências, as pessoas estavam unidas por laços de amizade muito profundos. Não se perdiam em discussões de capelinha, em questiúnculas comezinhas e medíocres ...] [ibidem]

"... LG [Leopoldo Gonçalves] – Aqui em Lisboa houve de facto um trabalho de grupos universitários da Madeira, no tocante à distribuição e divulgação do jornal. No campo da colaboração, esse trabalho era muito variado (...)
& etc- Ainda dentro desse campo parece-me que o CF. Mercê talvez desses colaboradores de Lisboa, e dos trabalhos que enviavam, se aproximou de certas posições que então começava a assumir «O Tempo e o Modo». Assistimos como que a um processo de radicalização do CF..." [in CF em Mesa Redonda, & etc, nº 4, 28/02/1973]

Alguns jornalistas & Colaboradores do CF – João Carlos da Veiga Pestana, Vicente Jorge Silva, José Manuel Barroso, Artur Pestana Andrade, Ricardo França Jardim, Luís Manuel Angélica, Victor Rosado, José Manuel Coelho, Leopoldo Gonçalves, José António Mendonça e Freitas, Fernando Dacosta, Liberato, Mário Vieira de Carvalho, António dos Santos, António Sampaio, José Maria Amadora, Mário Coelho, L. H. Afonso Manta, Carlos Marinheiro, Raul Maurício, José Freire Antunes, António José Fonseca, José Duarte, Matilde Rosa Araújo, José António Saraiva, José Agostinho Baptista ...

segunda-feira, 5 de abril de 2004


Excitações Lusitanas

"O gentleman é alguém que ouve a história que lhe contam como se a escutasse pela primeira vez" [O'Malley]

A excitação compadecida nesta saison pacata e melancólica, em torno do Ensaio sobre a Lucidez de José Saramago, tricotada pelos opinion-makers de serviço à causa da luminosa democracia, não passa de uma gratuita ansiedade, um engano fútil, um novo tédio, que nos causa espanto. A overdose de textos e postas sobre a emoção conceptual do voto em branco, é um enorme e divertido acampamento diante da porta da democracia, em nome da utilidade pública do voto e do interesse geral do país, como se deve presumir.
O mais curioso, é que esta misé-en-scène esquece que o voto em branco tem toda a legitimidade politica e democrática, não resultando pois de uma qualquer disfunção sentimental em defesa do caos, nem uma qualquer nova rebelião feita pela 5ª Divisão ou pela eterna saudade do Copcon. Portanto, não se compreende as razões porque esta novíssima cruzada dos intelectuais prescreva o voto policiado e instale um novo diktat democrático no qual os cidadãos têm de ser arregimentados a votar, seja em quem for. De facto, a democracia tem as costas largas. E nem a blogosfera se recatou dessa comunhão solene e da tentativa de clarificar a busca do novo Graal da (nova) política. Como as "putas intelectuais", atrás referidas, esqueceram-se (já que tanto a citam) que "a revolução é um momento, o revolucionário todos os momentos" [A. J. Forte]. Com ou sem uivos.