segunda-feira, 5 de abril de 2004


Excitações Lusitanas

"O gentleman é alguém que ouve a história que lhe contam como se a escutasse pela primeira vez" [O'Malley]

A excitação compadecida nesta saison pacata e melancólica, em torno do Ensaio sobre a Lucidez de José Saramago, tricotada pelos opinion-makers de serviço à causa da luminosa democracia, não passa de uma gratuita ansiedade, um engano fútil, um novo tédio, que nos causa espanto. A overdose de textos e postas sobre a emoção conceptual do voto em branco, é um enorme e divertido acampamento diante da porta da democracia, em nome da utilidade pública do voto e do interesse geral do país, como se deve presumir.
O mais curioso, é que esta misé-en-scène esquece que o voto em branco tem toda a legitimidade politica e democrática, não resultando pois de uma qualquer disfunção sentimental em defesa do caos, nem uma qualquer nova rebelião feita pela 5ª Divisão ou pela eterna saudade do Copcon. Portanto, não se compreende as razões porque esta novíssima cruzada dos intelectuais prescreva o voto policiado e instale um novo diktat democrático no qual os cidadãos têm de ser arregimentados a votar, seja em quem for. De facto, a democracia tem as costas largas. E nem a blogosfera se recatou dessa comunhão solene e da tentativa de clarificar a busca do novo Graal da (nova) política. Como as "putas intelectuais", atrás referidas, esqueceram-se (já que tanto a citam) que "a revolução é um momento, o revolucionário todos os momentos" [A. J. Forte]. Com ou sem uivos.