quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

VÍTOR CONSTÂNCIO: UM FUNCIONÁRIO ZELOSO


A entrevista dada pelo Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, à RR e abundantemente divulgada pelos media é exemplar. As suas previsões optimistas sobre a economia portuguesa, atiradas do alto do Banco de Portugal sobre as nossas cabeças malabrutas, fazem a delícia dos analistas económicos, sobretudo daqueles que frequentam a gamela do aparelho de estado ou correm às sua migalhas, mas não são perceptíveis a partir das magras bolsas das famílias portuguesas e da miséria da sua situação económica e financeira, nem sequer do ponto de vista da ciência económica pode tal ser entendido.

Afinal, desconhece-se os fundamentos macroeconómicos com que se baseia o insigne economista, agora impulsionado como altar iluminante pela governação, para tais inauditas previsões e demais bênções à política orçamental.

Compreende-se o esmero de Vítor Constâncio. Funcionário zeloso e irrepreensível do Banco Central Europeu, a politica fundamentalista dos seus patrões não pode ser posta em causa. O controle da inflação como única variável explicativa dessa abencerragem do pacto de estabilidade não o incomoda nada. Nem os efeitos que tal máxima de estabilidade comporta na frágil economia portuguesa, sequer o atrapalham. Fica, sim, extasiado em discursos à volta da teoria dos ciclos económicos, esquecendo o que sobre eles foi dito por Robert Lucas, numa vaidade irritada e irritante à boa maneira de Mr. Jekyll & Mr. Hide. Dizem que é socialista. É possível que sim, não sabemos. Porém, pode crer que o seu nome ficará, independentemente do lugar que ocupa e da sua função, irremediavelmente ligado a um dos ciclos mais nefastos da economia portuguesa. Para bem ou para o mal.

CATÁLOGO Nº 80 DO LIVREIRO ALFARRABISTA MARTINHO


Saiu o Catálogo 80 do Livreiro Alfarrabista Martinho [Outeirinho do Mirante, 5, Lisboa] com livros esgotados, alguns raros e a preços convidativos.

Algumas referências: Álbum de Pensamentos, Máximas, etc, por Francisco Pimentel Carvalho, 1901 / Auxiliar do Ferroviário, por Jorge F. Teixeira, Lisboa, 1929 / Coimbra e António Nobre Homenagem ao Poeta, Coimbra, 1940 / Documentos para a História da Universidade de Coimbra (1750-1772), Coimbra, 1959 / Fel, de José Duro, 1898 / Elogio Histórico de Anselmo José Braamcamp, Porto, 1887 / A Memoria das Palavras ou o Gosto de Falar de Mim, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1966 / O Mundo dos Outros-Histórias e Vagabundagens, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1969 / Aldeia Nova, por Manuel da Fonseca, Ed. Forja, 1975 / Inventario da Criação dos Expostos do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia, Lisboa, 1998 / Memorias Extraordinárias do major Calafaia, Páginas Desconhecidas, por Reinaldo Ferreira (Repórter X), Lisboa, 1945 / Os Lusíadas de Luís de Camões, Edição Comemorativa do IV Centenário da Publicação, 1972 / A Confissão de Lúcio, por Mário Sá-Carneiro, Edição do Autor, 1914 (raro) / As Portas que Abril Abriu, de José Carlos Ary dos Santos / Tarrafal Testemunhos – Trabalho Colectivo de Sobreviventes do Tarrafal, Editorial Caminho, 1978 / O Senhor Ventura, de Miguel Torga, Coimbra, 1943 / Traços de União - Temas Portugueses e Brasileiros, por Miguel Torga, 1955 / Relance da Alma Japonesa, de Wenceslau de Moraes, 1925

segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

EDGAR ALLAN POE [1809-1849]



n. em Boston a 19 de Janeiro de 1809

"'Rancores literários, vertigens do infinito, cuidados familiares, insultos da miséria - diz Baudelaire - tudo Poe sepultava na negrura da embriaguez; bebia não como quem é guloso, mas como quem é bárbaro'

Em Nova Iorque, exactamente na mesma manhã que a revista «Whig» publicava O Corvo, ao mesmo tempo que o nome de Poe passava a andar nas bocas de toda a gente, sendo o poema mais que disputado, ele deambulava pela Broadway a bater às portas e a estrebuchar. Uma tal quantidade de contradições bastaria para não ser preciso ir mais à frente falando de humor: umas vezes ele nasce do choque entre as suas faculdades lógicas fora do normal, a alta estatura intelectual e o brumoso espírito do vinho (O Anjo Bizarro); outras vezes vê-se tenebrosamente nascer nas inconsequências e contradições da condição humana pressentidas em alguns estados mórbidos (O Demónio da Perversidade)" [Edgar Allan Poe, in Antologia do Humor Negro, de André Breton, Fernando Ribeiro de Mello/ Afrodite, 1973]

Locais: Edgar Allan Poe / Index to the Edgar A. Poe Biography / The Edgar Allan Poe Society of Baltimore / E. A. Poe / Allan Poe (Biografia) / Allan Poe Website / The Works of Edgar Allan Poe / Os Espectros de Edgar Allan Poe / O Corvo (trad. Fernando Pessoa) / Edgar Allan Poe (Obras)

IN MEMORIAM DE ARY DOS SANTOS [1937-1984]





"Nós amamos a carne das palavras
sua humana e pastosa consistência
seu prepúcio sonoro sua erecta presença.
Com elas violentamos
O cerne do silêncio
"

[José Carlos Ary dos Santos, in A Luxúria, 1968]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XIX)



* Loja Pátria e Caridade (1852) - O Conimbricense refere que "depois de estabelecida a Sociedade de Instrução dos Operários, lutava esta por falta de meios para sustentar as aulas nocturnas". Assim, entenderam alguns dos fundadores da Sociedade, criar uma Loja Maçónica com o fim de conseguir meios para tal fim. Nos primeiros dias de Outubro de 1852, chega a Coimbra o académico Francisco das Neves Castanheira (Ir. Fuas Roupinho) com a necessária autorização para a fundação da Loja. Após uma reunião inicial numa casa da Rua do Poço, reuniram-se numa casa da Rua dos Grilos, pegada com o Jardim do Colégio de Santa Rita, e onde habitava o académico José Affonso Coelho, a Loja Pátria e Caridade. Dado a adesão verificada teve-se que mudar as instalações para o Colégio da Trindade. Pertenciam à Loja, na qual era Ven. Fillpipe de Quental, Francisco das Neves Castanheira, Manoel José da Fonseca (Ir. Robespierre), José Affonso Botelho, Henrique de Castro, Carlos Pacheco Bettencourt (Ir. Lafayette), José Bernardes Galinha, Augusto Pinto Tavares, Manoel Ignacio do Canto Ramos, António José da Silva Poiares, Joaquim Rodrigues de Andrade (Ir. Annibal), José Joaquim Ferreira, João de Brito Furtado de Mendonça, Amaro Affonso de Moura, Padre João Manoel Cardoso e Nápoles (Ir. Bailly), Joaquim Martins de Carvalho (Ir. Lamartine), Padre Luiz Caetano Lobo, etc. Deixou de se reunir depois de Junho de 1853. [in, Conimbricense, 1905]

* Associação Agrícola dos Campos de Coimbra (1853) [ibidem]

* Sociedade dos Operários do Theatro da Graça (1853) [ibidem]

* Choça Kossut (1853) - O Conimbricense refere que, de novo sob os auspícios do Padre António de Jesus da Costa, foi de novo organizado a Carbonária na cidade de Coimbra. Assim, em 1853 funcionava uma Choça com o título Kossut, de que foi eleito presidente Abílio Roque de Sá Barreto. Mas foi breve a sua existência e não teve seguimento. [ibidem]

domingo, 18 de janeiro de 2004

RUBÉN DARÍO [1867-1916]



n. a 18 de Janeiro de 1867 [Nicarágua]

"Todo lo renovó Darío: la materia, el vocabulario, la métrica, la magia peculiar de ciertas palabras, la sensibilidad del poeta y de sus lectores. Su labor no ha cesado ni cesará. Quienes alguna vez lo combatimos comprendemos hoy que lo continuamos. Lo podemos llamar libertador." [Jorge Luis Borges]

"El lugar de Darío es central, inclusive si se cree, como yo creo, que es el menos actual de los grandes modernistas. No es una influencia viva sino un término de referencia: un punto de partida o de llegada, un límite que hay que alcanzar o traspasar. Ser o no ser como él: de ambas maneras Darío está presente en el espíritu de los poetas contemporáneos. Es el fundador". [Octavio Paz]

Locais: Biografia / Rubén Darío (1867-1916) / Bibliografía / Dariana / Poemas / Museu Archivo Ruben Dário / Rubén Darío en la Biblioteca Nacional de Chile

"Dichoso el árbol, que es apenas sensitivo,
y más la piedra dura porque esa ya no siente,
pues no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo,
ni mayor pesadumbre que la vida consciente.

Ser y no saber nada, y ser sin rumbo cierto,
y el temor de haber sido y un futuro terror...
Y el espanto seguro de estar mañana muerto,
y sufrir por la vida y por la sombra y por

lo que no conocemos y apenas sospechamos,
y la carne que tienta con sus frescos racimos,
y la tumba que aguarda con sus fúnebres ramos,
y no saber adónde vamos,
ni de dónde venimos!..."

(Rubén Darío, Lo Fatal]

LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN [1743-1803]



n. a 18 de Janeiro de 1743

"Não temos deveres senão um - respeitar a integridade da personalidade humana, a nossa como a alheia. Isto quer dizer trez coisas: (1) para os fins fundamentaes da nossa vida, dispensar todo o auxilio alheio; (2) para os fins quotidianos da nossa vida, estabelecer uma exacta reciprocidade com os outros; (3) para as circunstancias da vida que são extranhas a uma cousa e outra, subordinar-nos à regra do ambiente, visto que ella nos não attinge (...) Estas trez grandes regras da vida superior, resumiu-as Saint Martin, servindo-se de um aspecto da formula dos Rosa Cruz, na phrase Liberdade, Egualdade, Fraternidade - independência dos outros (Liberdade) na vida superior e intima; reciprocidade com os outros (Egualdade) na vida normal que serve de base material a essa vida superior; conformação com os outros (F) nos phenomenos exteriores e insignificantes da vida [Fernando Pessoa 54-76 (dt), in Fernando Pessoa, Rosea Cruz, dir. Pedro Teixeira da Mota, Edições Manuel Lencastre, 1989]

Locais: Biografia / Louis Claude de Saint-Martin / Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803) / Saint-Martin / Ecce Homo / O Filósofo Desconhecido / Louis-Claude de Saint-Martin and the Supérieurs Inconnus / Le Livre Rouge

CATÁLOGO Nº 205 DA LIVRARIA ACADÉMICA


Saiu esta semana o Catálogo 205 da Livraria Académica, de Nuno Canavez (Porto), podendo ser consultado na sua homepage. De consulta obrigatória, enquanto outros catálogos em breve estarão disponíveis, entre os quais o correspondente ao leilão da segunda parte da Livraria de Luiz Forjaz Trigueiros, a cargo de José Manuel Rodrigues.

Algumas referências: Dia do Mar, de Sophia M. Breyner Andresen, 1947 / O Castelo de Monsanto, por Guilhermino Augusto de Barros, 1879 (II vols) / MANUSCRITO alusivo ao teatro, escrito num álbum e datado de Lisboa (24/01/1950) de 28x20 cm, de Raul de Carvalho / Compendio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra, no Tempo da Invasão dos Denominados Jesuítas ..., Lisboa, 1771 / Aquela Voz, de Alexandre da Conceição (Poema manuscrito, datado de Coimbra, 23 de Nov. 1881, 35x27 cm. O autor, natural de Ílhavo, foi fundador da Revista A Revolução (1877) e polemizou com Camilo tomando partido pela escola realista) / Os Descobrimentos Portugueses, de Jaime Cortesão, Arcádia, II vols / Carta Manuscrita de Liberto Cruz (c/ 2 pags A4, datada de Rennes 1969 e dirigida ao escritor Serafim Ferreira) / Estatutos da Universidade de Coimbra, Lisboa, 1772, III vols / Longe, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1921 (2º livro do autor) / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão et all, Ed. Primeiro de Janeiro, 1943 (II vols) / Gazeta Literária, Editor e Director Mário do Amaral (nº 1 Set. 1952 a nº 76 Dez. 1961) / Portugal Antigo e Moderno, por Pinho Leal, 1873, 12 vols / Mappa Genealogico, Histórico, Chronologico, Diplomático e Litterario do Reino de Portugal e Seus Domínios Antigos e Actuaes (s/d, sec. XIX, 1,10x75 cm) / Memorias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1792-1856, 8 vols / Carta Manuscrita de António Luís Moita a Serafim Ferreira, de 11 de Nov. 1970 (s/ a homenagem a Irene Lisboa) / Mundo Ilustrado, Revista semanal, dir. Eduardo Pimenta e Marques Abreu (nº 1, 7 Abril 1912 a nº 26, 29 de Set. 1912) / Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel,Coimbra, 1797, 5 vols / In Memoriam de José Régio, 1970 / Anno Histórico Diário Portuguez, Noticia Abreviada de Pessoas Grandes e Cousas Notáveis de Portugal ..., por Francisco de S. Maria, 1744, 3 vols / Dispersão de Mário de Sá-Carneiro, Coimbra, 1939 / Evolução do Culto de Dona Isabel de Aragão ..., por A. G. Ribeiro de Vasconcelos, 1915

sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

SER O QUE NÃO É



Na sequência do que Luís Carmelo refere em "Tragédia de um Esquecimento", a propósito da alusão da Rua da Judiaria sobre os "350 anos "sobre a chegada dos primeiros emigrantes judeus à colónia holandesa de Nova Amsterdão", é possível a partir do pensamento de Miguel Real (que cita), na sua obra "Portugal Ser e Representação" (Difel, 1998), ter em apreço aquilo que Miguel Real denomina como "tentativa de encontrar uma forma corporis do povo português", afinal uma demanda da característica dominante do português, e que configuraria um "ser o que não é" ou "estar onde não está", e que pode, de algum modo, levemente contribuir para as interrogações sugeridas no belíssimo texto de Luís Carmelo.

Assim, a partir de diferentes contributos - de Teixeira de Pascoaes a Eduardo Lourenço; de Agostinho da Silva a A. José Saraiva, ou com referências a autores como Fernando Pessoa, Álvaro Ribeiro, Antero, Dalila Pereira da Costa, António Vieira, Marcello Duarte Mathias, António Telmo, Pinharanda Gomes, etc - o autor de Portugal Ser e Representação refere os seguintes "traços":

- "habita-nos ... uma funda religiosidade, expressão actual de setecentos anos de domínio quase absoluto de códigos religiosos de comportamento, âncora histórica de uma cosmovisão bíblica que inundou a mentalidade cultural portuguesa até ao século XVIII. (...) O excesso desta visão religiosa portuguesa, ou talvez, a sua condensação numa ideologia, originou o messianismo providencialista português, a que nenhum grande autor nacional foi imune, pela positiva ou negativa ..." (pag. 181- 183)

- existência de uma "característica profundamente emotiva, apaixonada, sentimental, do comportamento dos portugueses em detrimento de uma visão racionalista, calculista, programada, técnica e cientifica da vida". Como consequência daí resultante: "ausência de um corpo coeso de obras cientificas e filosóficas; ausência de um espírito técnico e tecnológico de envergadura; predominância de uma mentalidade lírico-emocional que tem atravessado toda a nossa literatura" (pag. 184)

- "estar onde não se está" (...) Esta característica tem permitido ao português uma errância mental e física, ou, talvez melhor, uma plurivalência entre o que de facto é as mascaras ou as imagens por que se disfarça ora um jubilo se si, ora numa humilhação rendida, isto é, tem permitido ao português ser o que não é: religioso, mas herético; ortodoxo, mas heterodoxo (toda a filosofia portuguesa religiosa desde o sec. XIX); emigrante, mas não colonizador (miscegenização); aventureiro, mas radicado (...); pobre, mas generoso (comunitarismo); culturalmente atrasado, mas crente que possui um destino vanguardista (messianismo)" (pag. 185-186)

Concorde-se ou não com o autor, a obra é demasiado estimulante para passar despercebida, por isso aqui fica a sugestão da sua leitura.

VITTORIO ALFIERI [1749-1803]



n. a 16 de Janeiro de 1749

"... [Vittorio Alfieri] andou vagueando pela Europa, irrequieto, insatisfeito, dedicado à paixão do jogo e dos cavalos, e às mulheres, adquirindo ao mesmo tempo a experiência dos homens de das coisas: conheceu o continente desde a Rússia a Portugal, até que a leitura ouvida, em Lisboa, duma canção eloquente (a Alfa fortuna) do seiscentista Guidi, pelo amigo Tomaso di Caluso, lhe deu a consciência do seu destino de poeta" [Giuseppe Carlo Rossi, Breve História da Literatura Italiana, Cosmos, 115-116, dir. de Bento Jesus Caraça, 1946]

"[A Merope de Maffei teve como tradutor português Cândido Lusitano, que antepôs à versão (de 1751; conserva-se inédita em Évora) um longo prefácio, em que chama "talvez a melhor tragédia que tenha aparecido em teatro", e "fonte do verdadeiro bom gosto da poesia dramática". Há notícia de duas traduções brasileiras que também ficaram inéditas. Na tragédia de Maffei inspirou-se Garrett para a sua Mérope, como está narrado no prefácio desta útima; e tem relações com ela a Sofonisba espanhola de Zorrilla ..." [ibidem, pag. 193]

"... Foi português o primeiro amigo de Alfieri, confidente das suas ânsias amorosas e seu incitador ao estudo: D. José da Cunha, ministro em Haia. A obra alfieriana foi muito lida e traduzida em português. Familiarizou-se muito com ela, e dela se valeu para incitar os seus compatriotas às ideias da liberdade, o revalizador do teatro nacional, e editor de Gil Vicente, o então homiziado político J. V. Barreto Feio, que traduziu Orestes e os dois tratados literário-políticos fundamentais Del principe e delle lettere e Della tirannide... [ibidem]

Locais: Vittorio Alfieri / Vittorio Alfieri (1749-1803) / Vittorio Alfieri / Biografia / Vittorio Alfieri (biografia) / Vittorio Alfieri (Biblioteca) / La Polémica Antidogmatica dell'Alfieri / Progetto Vittorio Alfieri / Vittorio Alfieri da Asti-Conte di Cortemilia

quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

AS MENSAGENS DO PRESIDENTE



"O futuro é a única coisa que podemos mudar" [Robert Heinlein]

Nestes dias em que se assiste a uma incapacidade governativa total, embrenhados que estão, profundamente, na crise da crise que tanto procriaram, numa cultura politica a cair de sono onde a sucessão de fenómenos é o elixir para a sempre eterna sociedade de espectáculo, face à magnitude do caos económico que os fundamentalistas neo-liberais detonaram, as mensagens do Presidente da República são de uma perplexidade inquietante.

Os vários discursos de Jorge Sampaio desabam sistematicamente em arruaças político-partidárias por parte daqueles que administram o tédio, e longe de mobilizarem pedagogicamente a classe politica e os cidadãos para o exercício de combate à apatia e à indiferença da gestão política, social e cultural a que estamos condenados, remetem, numa ingenuidade encantadora, para um adormecimento angustiante, num quotidiano sem futuro nem desejo. Isto porque, as mensagens do Presidente são, invariavelmente, deixadas ao abandono entre os inenarráveis discursos parlamentares, que em simulacros vários debatem tudo menos os enunciados e as propostas presidenciais, perante a maior crise económico-social jamais vista.

A desarmonia é evidente. Hoje, nem se dignaram comentar as preocupações e as propostas feitas pelo Chefe de Estado. Foram execráveis. Eis, pois, a mais perfeita alucinação do poder. E, portanto, a questão começa a ser uma outra, a saber: até quando será possível a Jorge Sampaio manter esta estratégia de excessiva brandura face à governação caótica e irresponsável que tudo contamina? De outro modo, seria interessante que a maioria governamental e os seus acólitos fundamentalistas entendessem o dizer de Adorno: "ninguém tem direito, por orgulho elitista, de se opor à massa de que é apenas um momento". Que a aventura do poder não dura sempre. Podem crer!

LIVROS USADOS



"... Para onde foram os livros usados, os que tinham na capa esse visgo publicitário, as brochuras encardidas, as encadernações de pobre, os folhetos, as revistas do tempo de Rodrigues Alves? Tudo isso também é gente, na cidade das letras, e, como gente, ninho de surpresas: no mar de obras condenadas ao esquecimento, pesca-se às vezes o livrinho raro, não digo raro de todo, pois o farol do mercador arguto o escondeu atrás do balcão, e destina-o a Plínio Doyle, ao Mindlin paulista ou à Library of Congress, que não dorme no ponto ... mas, pelo menos, o relativamente raro, sobretudo aquele volumeco imprevisto, que não andávamos catando, e que nos pede para tirá-lo dali, pois está ligado a circunstâncias de nossa vida: operações de resgate, a que procedemos com alguma ternura. Vem para a minha estante, Marcelo Gama, amigo velho, ou antes, volta para ela, de onde não devias ter saído; sumiste porque naqueles tempos me faltou dinheiro para levar a namorada ao cinema, e tive de sacrificar-te, ou foi um pilantra que te pediu emprestado e não te devolveu? Perdão, Marcelo, mas por 5 cruzeiros terei de novo tua companhia ..."

[Drummond de Andrade, Sebo, in O Poder Ultrajovem]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVIII)


* Conselho dos 5 (1851) - O Conimbricense refere que foi formado por cinco estudantes, que tinham uma "espécie de governo de Coimbra", tendo a seu cargo a concessão de "diversas mercês civis e eclesiásticas". A sede era no Largo de Sansão (Praça 8 de Maio), em casa do sr. Francisco Martins da Rocha [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade de Instrucção dos Operários (1851) – Realizou-se a 4 de Outubro de 1851 a primeira reunião, sendo “nomeada uma mesa provisória assim composta: Presidente, Joaquim Martins de Carvalho; secretários, Carlos Ramiro Coutinho e Filippe de Quental; tesoureiro, Domingos Sebastião Sanches". [ibidem]

* Sociedade Gymnastica (1852) [ibidem]

* Sociedade para o Melhoramento dos Banhos do Luso (1852) [ibidem]

quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

LEWIS CARROLL [1832-1898]






















Morre a 14 de Janeiro de 1898


Locais: Lewis Carroll / Lewis Carroll / The Lewis Carroll E-text Collection / Works by Lewis Carroll / Alice's Adventures in Wonderland


"... Ao passar por um jardim vi um Mocho e uma Pantera
A repartirem uma empada.
À Pantera coube a carne, a massa e a geleia
E ao Mocho o prato e a colher.
Quando a empada acabou
A Pantera rosnou
E ainda ficou
Com o garfo e a faca
E o festim acabou ..."

[In Aventuras de Alice no País das Maravilhas, trad. Ernesto Sampaio]

THE CURE



The Cure - Join The Dots (1978-2001)

4 CD's espaçados no tempo, de 1978 a 2001, novas versões, remixes vários, homenagem aos The Doors, Jimi Hendrix, 76 paginas sobre a banda e, claro, Robert Smith, em raros trechos musicais, revisitações excelentes, a não perder, passe os sinais dos tempos ... enquanto lá para o Verão se espera o novissimo albúm com nova colheita. Somos sentimentais, evidentemente. Pois!

Locais: Seventy-one track rarities collection / The Cure: Join The Dots: B-Sides and Rarities, 1978-2001 (The Fiction Years)

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

VOX POPULI



[Dos Jornais] Causou impacto nos meios intelectuais do Correio da Manhã, novíssima Maria para taxistas e mulheres-a-dias, a antevisão do processo Casa Pia (Casa Pia, Últimos Episódios) pelo articulista Alberto Gonçalves. Consta que: um conhecido homem de leis aliviou-se em plena rua, com um sorriso nos lábios; um grupo de políticos, reunidos em local oculto, fulminou o autor com impropérios vários e ditos grosseiros; um liberal Eborense lembrou à edilidade que seja dado o nome de Avenida do Alberto-a-Dias, a uma artéria da cidade, substituindo a Rua Berlin; um popular activista Bolsista confessa que realizou avultados investimentos em acções CM; em reunião de comentaristas & Cia, foi debatido a excessiva verbosidade e a vulgaridade do texto, enquanto se ouvia um Audaces Fortuna Juvat proveniente da plateia popular, considerando-se que é caso para dizer, "não apalpes em casa de ferreiro, nem peças em botica bom mercado". Ó tempora, ó mores ... oh tempo das amoras!

[Novo Guia das Ruas de Portugal] Acaba de sair um precioso Guia (Edições Papelaria Laranja), onde se regista o local de todas as artérias das cidades portuguesas, com inclusão das alterações ultimamente feitas em vários arcos, arruamentos, azinhagas, bairros, calçadas, casais, estradas, jardins, largos, miradouros, paróquias, parques, praças, pracetas, ruas, residenciais, rotundas, sítios, travessas e vilas. Os autores agradecem penhorados ao major Valentim Loureiro as sugestões e contribuições apresentadas. Como curiosidade, registe-se as seguintes novidades: Travessa do Luís Delgado; Praça Bush; Azinhaga José Manuel Fernandes; Quinta Celeste Cardona; Residencial Tavares Moreira; Arco Ferreira Leite; Chalé Portas; Miradouro Marques Mendes; Circunvalação José Luís Arnaut; Escadinhas Bagão Félix; Mercado Dias Loureiro; Posto Morais Sarmento; Paróquia Telmo Correia; Rotunda Miguel Beleza; Vila Durão Barroso; Pátio Rebelo de Sousa; Cais Santana Lopes;... Bem Hajam!

JAMES JOYCE [1882-1941]



Morre a 13 de Janeiro de 1941

"Ele quis encontrar no mundo real a fraca imagem que sua alma, indefinidamente, contemplava. Ele não sabia onde ou como procurá-la. Mas uma premonição lhe disse que esta imagem iria encontrá-lo, independente do que fizesse. Os dois iriam se encontrar tranquilamente, como já se conhecessem, como já tivessem se encontrado antes, talvez em um dos portões ou em algum lugar secreto. Os dois estariam sozinhos, cercados pela escuridão e pelo silêncio. E em um momento de suprema ternura, ele mudaria. Se desbotaria em algo impalpável diante de seus olhos e, num breve momento, ele se transformaria. Fraqueza, timidez e inexperiência tombariam diante dele naquele momento trágico."

[J. J., in Retrato de um Artista Quando Jovem]

"(In) Gibraltar as a girl where I was a Flower of the mountain
yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used
or shall I wear a red yes
and how he kissed me under the Moorish wall
and I thought, well as well, him as another
and then I asked him with my eyes to ask again yes
and then he asked me, would I yes to say yes, my mountain flower
and first I put my arms around him, yes
and drew him down to me so he could feel my breasts all perfumed, yes
and his heart was going like mad and yes I said, yes I will, Yes." [J. J., in Ulysses]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

RUBEM BRAGA [1913-1990]



n. Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo), a 12 de Janeiro de 1913

"Braga é sempre bom, e quando não tem assunto então é ótimo. Disseram um dia do português Latino Coelho que era um estilo à procura de um assunto. Braga é o estilista cuja melhor performance ocorre sempre por escassez de assunto. Aí começa ele com o puxa-puxa, em que espreme na crônica as gotas de certa inefável poesia que é só dele. Será este o segredo de Braga: pôr nas suas crônicas o melhor da poesia que Deus lhe deu? Os outros cronistas põem também poesia nas suas crônicas, mas é o refugo, poesia barata, vulgarmente sentimental, que tanto pode estar ali como nos versos de... Bem, cala-te, boca! A boa poesia eles guardam para os seus poemas. Braga, poeta sem oficina montada e que faz poema uma vez na vida e outra na morte, descarrega os seus bálsamos e os seus venenos na crônica diária ..." [Manuel Bandeira]

Locais: Biobibliografia / Rubem Braga / Rubem Braga (1913-1990) / Textos na Folha de S. Paulo / Crónicas de Rubem Braga / Escritos Vários / Poesia / Ai de ti, Copacabana / Diário de um subversivo

sábado, 10 de janeiro de 2004

THE UNNATURAL AND THE STRANGE











"The unnatural and the strange
Have a perfume of their own –
That of human flesh, of change
Made corruption without moan;
The unnatural and the strange
Have a perfume of their own ..."

[Alexander Search (aliás F. P.), The Unnatural and The Strange, 1906]

ROMANCES POLICIAIS



"Um dos poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que ainda resta de intelectual na humanidade é a leitura de romances policiais. Entre o número áureo e reduzido das horas felizes que a vida deixa que eu passe, conto por do melhor ano aquelas em que a leitura de Conan Doyle ou de Arthur Morrison me pega na consciência ao colo.
Um volume de um destes autores, um cigarro de 45 ao pacote, a ideia de uma chávena de café - trindade cujo ser-uma é o conjugar a felicidade para mim - resume-se nisto a minha felicidade. Seria pouco para muitos, a verdade é que não pode aspirar a muito mais uma criatura com sentimentos intelectuais e estéticos no meio europeu actual"

[Fernando Pessoa, in Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação]