domingo, 1 de junho de 2008
Manuela Ferreira Leite
"Fui-me confessar e disse / Que não tinha amor nenhum
De penitência me deram / Que tivesse ao menos um ..." [popular]
Manuel Ferreira Leite venceu as directas no PSD. Como ordinariamente se esperava e a infecta colegiada dos "ilustres" do partido pretendia. No final, a exaltação nas hostes do PSD parecia uma novena ao "glorioso" passado cavaquista, enquanto as diatribes nas hostes do PPD atestam que o serviço por ora feito é prenúncio de aparatoso divórcio. A coisa promete, faça o que fizer o eng. Sócrates, tenha ou não a senhora Ferreira Leite a credibilidade que tiver. O ofício fúnebre da senhora chegará em 2009. Tragicamente!
Manuela Ferreira Leite, nesta sua comédia doméstica, não foi mais que um Sócrates em "tailler" e sob medida. Não tendo uma única ideia sobre a crise económica em curso (que aliás não entende nem pode entender), esquivando-se a qualquer proposta de estratégia política (assunto que sempre lhe tolheu a mente), sem fazer circular qualquer ideologia (social-democrata ou liberal) que agregue espíritos e vontades, Ferreira Leite apresentou o pregão eleitoral que as corporações e os interesses instalados no seu partido esperavam: discurso claro para chegar às "migalhas" que o poder político (por ora socialista) generosamente distribui entre os seus. O "bloco central" (clientela PS+PSD) dos interesses corporativos foi bem ensaiado e está a chegar. Até mesmo o sábio Cavaco, em ânsia inédita, a isso se referiu em doce pastiche. Ao que parece a profecia de Sá Carneiro está prestes a cumprir-se: "uma maioria, um governo e um presidente".
Em tudo isto - fora as futilidades do jovem Ângelo Correia encarnado na figura de Passos Coelho (que fez a delícia aos ouvidos dos adeptos da superstição liberal: leia-se a prosa cariciosa de Lomba & Mexia, no DN de ontem), o esforço cénico desse original que é Santana Lopes ou os impropérios rústicos de Menezes a JPP – só ficou entre "boca e louca" uma curiosa afoiteza da senhora do défice: a sua putativa credibilidade e a ostentosa conversão à "questão social". A chacota política disso tudo virá de seguida.
É só esperar para ver o que Ferreira Leite dirá das avultadas medidas anti-sociais que o eng. Sócrates e os seus boys tomam na economia, na saúde, na educação, na justiça, para ver a hipocrisia disso tudo. Até se entender que, mais que fazer frente a uma situação económica e social caótica (que seria um exercício académico respeitável), se promove a guarda do "rebanho" para o futuro e pavoroso bloco central em 2009. Até lá, não há milagre que nos salve. Que vos salve!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Leilão Biblioteca Particular – 27, 28 e 29 de Maio
Nos próximos dias 27, 28 e 29 de Maio (21h) na Sala Veneza do Hotel Roma (Lisboa), Luís Burnay irá colocar em praça 1049 peças de uma curiosa e rica livraria particular. Os lotes são de relevante estimação, percorrendo temas variados desde: Arqueologia, Arte, Bibliografia, Biografias, Brasiliana, Camoneana, Conimbricense, Descobrimentos, Direito, Etnografia, Genealogia, Guerra Peninsular, Heráldica, História, Inquisição, Literatura, Memórias, Monografias, Olisiponense, Periódicos, Regionalismo, Queirosiana, Republicanismo, Ultramar (ou livros coloniais), etc.
Algumas referências do 1º dia: Academia Portuguesa de História (com relevância as publicações comemorativas do duplo centenário da Fundação e Restauração) / Álbum das Glórias, 1880-83 / L’Album de la Guerre [publicação da revista L’Illustration] / História de Portugal de Fortunato de Almeida, 1922-29, VI vols / Anais das Bibliotecas e Arquivos, 78 numrs / Anathema (camiliano), 1890 / Memórias sobre chafarizes, bicas, fontes ... de Lisboa, Belém ..., de José S. Veloso de Andrade, 1851 / Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavallaria, por Manuel Carlos de Andrade, 1790 / Archivo Pitoresco, 1857-1868 / O Arqueólogo Português, 1895-1938 / História da Revolução de Setembro, por José d’Arriaga, III vols / Lotes diversos sobre Arte (livros, publicações, ...) / Chronica do muito alto, ..., D. Sebastião ..., por José Pereira Baião, 1730 / As cidades e Villas da Monarchia Portugueza ..., de Inácio de Vilhena Barbosa, 1860-62, III vols / Noticia Histórica do Corpo Académico de Coimbra (1808-1811), de Fernando Barreiros / Corvos, de J. Abel Manta e João de Barros, s.d., II vols / Os Judeus do Velho Porto, de Barros Basto, 1929 / Chorografia Moderna do Reino de Portugal, por João Maria Batista, 1874-79, VII, vols / Olivença Ilustrada pela vida e morte da ..., de Fr. Jerónimo de Belém, 1747 (imp. hist. local Olivença) / Da Vida e Morte dos Bichos, Henrique Galvão ..., V vols / Congresso do Mundo Português, 1940, XIX vols / Banditismo Político. A Anarchia em Portugal, de Homem Christo, 1912 (raro livro, dado a sua apreensão e inutilização à ordem do governo. Curioso livro de H. Christo, ainda anarquista)
Consultar catálogo, aqui.
domingo, 25 de maio de 2008
Leilão Victor Palla - II
Capas de livros, com o punho de Victor Palla.
Além dos acima apresentados [Vergílio Ferreira, Erskine Caldwell e o "The Black Cat"], estará presente a leilão vários lotes de livros (todos com a assinatura de V. Palla), como o estimado "Histórias de Amor", de Cardoso Pires; "Alcateia" de Carlos de Oliveira; vários obras inseridas na colecção "Arcádia", de autores como Tomaz Ribas, Luís Cajão, Vasco Branco, Artur Portela filho, Alfredo Margarido, Urbano Tavares Rodrigues, Garibaldi de Andrade, Manuel do Nascimento, João Gaspar Simões [Elói].
Leilão Victor Palla
A leiloeira P4photography no próximo dia 29 de Maio, pelas 21.30, na Rua dos Navegantes, 16, em Lisboa, vai colocar em praça parte do espólio de Victor Palla, em especial um conjunto apreciável de fotografias, livros e pintura.
Victor Palla [1922-2006] foi uma personagem de múltiplas facetas – arquitecto, fotógrafo, "pintor, ceramista, designer gráfico, editor, tradutor, galerista [co-fundador da galeria Prisma], agitador de ideias e animador de muitas iniciativas" [Alexandre Pomar, in Biografia de Victor Palla].
Deve-se a ele [e a Cardoso Pires] a estimada colecção de bolso "Os Livros das Três Abelhas" e as edições Folio, e "fundou com Orlando da Costa, o Círculo do Livro e, entre outras actividades de editor, autor, tradutor e capista, realizou o plano gráfico da editorial Arcádia" [idem].
Ver, aqui, as peças a leilão e o primoroso catálogo apresentado.
sábado, 24 de maio de 2008
Agradecimentos
Nós, em solene gratidão pela rememoração do aniversário do nosso estabelecimento - que imprime letras tradicionais & modernas, cuida com enlevo daqueles que "fazem mijar a caneta para cima do papel do jornal" [Péret] e tricota tapeçarias musicais – agradecemos ao Blasfémias, Bomba Inteligente, Desnorte, Ferrão, Fumaças, L & E, Miss Pearls, Nova Floresta, O Amigo do Povo, O Insurgente, Pisca de Gente, Prosas Vadias, Retorta, Tomar Partido & a outras missivas pessoalmente enviadas ... a V. luz e o V. acolhimento. Graças, pois!
Vale!
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Torcato Sepúlveda (1951-2008)
"Era um grande libertário e um grande liberal" [cf. Francisco José Viegas, in JN, 22/05/2008]
"Nunca se devia dizer nada, nunca se devia chorar desta maneira. Torcato Sepúlveda, amigo de muitas horas, de muitas conversas, meu companheiro de tanta literatura gasta e por gastar, a voz, a fúria, a zanga, os livros, a memória de muitas páginas, o leitor amável, o leitor furioso, o céptico entusiasta, os bancos de jardim, o Jardim da Parada logo de manhã, os jornais, as estantes, os bares, as varandas sobre a planície. Nunca se devia chorar desta maneira a quem nunca se dirá adeus, adeus, adeus, mesmo que essa palavra exista, mesmo que essa palavra não exista lá, para onde vais." [Francisco José Viegas, Despedidas]
"Pacheco [Luiz] nunca escreveu romances porque a sua literatura era de urgência: a de matar a fome, de zurzir os bonzos que mandavam nas letras, de atacar o salazarismo a golpes de impropérios e gargalhadas” Palavras de Torcato Sepúlveda ... na sequência da morte do escritor Luiz Pacheco, e que poderiam servir-lhe quase de auto-retrato ... [Ana Marques Gastão, DN, 22/05/2008, p. 57]
Torcato Sepúlveda, aliás, João Torcato Macedo Duarte Sepúlveda, nasce em Braga a 27 de Fevereiro de 1951. Filho de professores [cf. Gastão, ibidem], começa as suas leituras (com a imensa paixão que sempre o acompanhou) pela biblioteca de casa. Camilo, Eça, Júlio Dinis, Alexandre Herculano, e muitos mais autores lhe encheram a alma e vida, marcando-lhe o prazer da leitura, o gozo da escrita ou o apuro da conversa. Em Braga, ainda, frequenta a vasta biblioteca do pai do seu amigo Américo Barbosa [cf. entrevista à Rádio Universitária do Minho] e toma conhecimento com as obras de escritores estrangeiros. Colabora, então, num jornal de escola. Depois de findo o liceu vai para Coimbra, cursar Filologia Românica. Os tempos de Coimbra, com as tempestades políticas de então (crise 69), trazem-lhe outras leituras, diferentes realidades, novas combatividades e o mesmo ardor pelos livros. Participa nas lutas académicas, conhece os escritos de surrealistas portugueses (António Maria Lisboa, Cesariny, ...), lê Debord e outros situacionistas [Internacional Situacionista (IS)].
[Coimbra teve um núcleo curioso de pró-situacionistas e publicações ligadas à IS – diga-se que em 1972, foi publicado em Coimbra "Banalidades de Base”, de Raoul Vaneigem e (segundo Torcato) foram publicados no Diário de Coimbra alguns textos, sob pseudónimo. Em 1971, os pró-situacionistas de Coimbra interrompem uma sessão de Julien Gracq, na Alliance Française, com ruidosas palavras de ordem. Na altura participa Carlos Amaral Dias, que pouco depois é preso. Outros pró-situacionistas, como Francisco Alves (tradutor da "Sociedade de Espectáculo" e que em finais de 1964 foge do país) ou Américo Nunes da Silva (antropólogo), são citados no "Leituras", do Jornal Público, 6 de Maio de 1995, p.2]
Parte para o exílio (discordando da guerra colonial) na Bélgica, onde vive entre 1971-1974 trabalhando como operário. Entra em contacto, na época, com os situacionistas belgas e franceses. Nunca se dizendo pró-situacionista, curiosamente, escreve anonimamente [Anónimo do Seculo XX] "Reflexão sobre a estratégia da luta de classes em Portugal", Braga, 1976, e outros textos sob pseudónimo, que marcam a literatura da IS em versão portuguesa. Decerto, Torcato Sepúlveda era quem mais sabia, entre nós, sobre a influência do movimento da IS em Portugal, matéria aliás nunca devidamente recenseada.
Regressa depois de 25 de Abril de 1974, trabalha no serviço de fronteiras em Vila Real de Santa António e a convite de Vicente Jorge Silva entra para o Expresso, colaborando na crítica literária [assinando João Macedo]. É co-fundador do jornal Público, editando o estimado suplemento literário "Leituras", saindo em 1997 para ingressar no Semanário. Colaborou ainda no Independente, na revista Invista, no jornal A Capital e na Grande Reportagem. Trabalhava actualmente na NS (Diário de Notícias). Fez crítica literária e traduções [como a "Historia desenvolta do Surrealismo", Antígona, 2000] e sob pseudónimo como: Silva de Viseu, Buíça, D. Luís da Cunha.
Torcato Sepúlveda, que morreu no dia 21 de Maio de 2008, era "homem de tantas histórias, de muitos amigos, de outros inimigos (...) era um redactor de estilo inconfundível, ora virulento ora comovente, na quase extinta linha de fronteiras entre jornalismo e literatura ..." [Ana Marques Gastão, ibidem]. Uma perda terrível.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
The Happy Birthday
"Já não basta o refúgio dos pássaros ...
As sombras que tu crias não têm direito à noite" [Paul Éluard]
Trata-se do sopro deste corpo – Almocreve das Petas -, ocultamente sustentado pela noite. De modo passional, de secura temperamentada, de lábios sem dor. O Almocreve, nascido sob o signo do Touro – nocturno e feminino, paixão ardente e rebelde – é a casa de Vénus. Curioso! Vénus é a sensualidade e mistério da arte. Quente, caminhando "pesadamente" & com graça, o Touro vive no abandono da calma. Com o sol a crescer dia-a-dia e apesar disso, não muda de opinião. "Por toda a noite bebida" [Éluard], toca, apalpa com devoção, capricha na libertinagem. O Almocreve não é um "murmúrio casual", é a sombra da memória. Da nossa!
O nosso amparo, a nossa presença e a V. piedade, descrevem o círculo: livros, estampilhas em letras publicadas, lugares santos, sentenças que os "ferros curtos" assombram, ardentes desejos como "língua do céu", cocktails bibliófilos, romagens literárias, poemas clínicos.
Para V. - que tal como mestre Almada a "liberdade é uma palavra que sobe" – reunimos o nosso fresco sonhar, tocamos a rebate os nosso moinhos de lux e V. apresentamos o nosso manual de trabalho.
Saúde e fraternidade
Leilão de Livros & Manuscritos - Hoje e amanhã
O amador de livros tem hoje (dia 19) e amanhã (dia 20) uma curiosa e importante livraria a ser leiloada na Amazónia Lisboa Hotel [ao Jardim das Amoreiras], pelas 21.00h. A cargo do livreiro-leiloeiro Pedro de Azevedo, as peças a leilão, pela sua variedade e raridade, são voluptuosas.
Refira-se, para além de espécies que "abordam a temática do final da Monarquia e da implantação da República", uma valiosa e estimada colecção de periódicos, almanaques e revistas – jóias cada vez mais procuradas e valiosas – e um conjunto surpreendente de manuscritos (do sec. XVIII ao séc. XX) e parte de um espólio de Luiz Forjaz Trigueiro, com documentos de merecido valor.
A não perder.
Aniversário – 5 anos no V. aconchego
"Que a espada ou o dente cortem enquanto o chumbo arder ..." [Alfred Jarry]
Sessenta meses depois – entre sombra de desilusão e a janela sempre esquiva, mas muito mais felizes que os pastores do eng. Sócrates – prosseguimos o Almocreve das Petas. 5 anos a incendiar corações. 5 anos de sonho nocturno, mas (descansem!) em doce opulência e copioso luxo. 5 anos a suspirar por uma brisa pátria, neste quase silencioso degredo. 5 anos! Corpo fatigado, poeira nos olhos, tinta morta pelo passar do tempo, mas ainda não nos cansaram do voo. Uma questão de assédio poético. Um repouso de alma. E porque nos apetece! 5 anos no V. aconchego.
"Era uma vez uma realidade
com as suas ovelhas de lã real
a filha do rei passou por ali
E as ovelhas baliam que linda que está
A re a re a realidade" [Aragon]
5 anos tumultuosos, absolutamente memoráveis. Começámos - em 2003 - a gatinhar na corda da Mercearia Ferreira Leite. Estamos agora atolados pelo vício, neste Hipermercado Teixeira dos Santos. A vidinha está boa é para contabilistas. De lápis afiado sobre a orelha, é bom de ver. Hoje a galeria de técnicos & travestis de políticos que "trocaram de alma" [como diria R. Proença] é a recitação da nova paróquia. Escudados na protecção presidencial - por aquele que veio do oásis sem destino – e todos gemendo em nome da canalha, os governantes e a oposição, que os sustenta, são conversos mui liberais. Admirável os episódios e o talento destes rapazes! Não se vê a hora do livramento. Mas não curvamos a cabeça. É esse o nosso encontro fortuito. No V. aconchego.
Saúde e fraternidade
quinta-feira, 15 de maio de 2008
In-Libris – Catálogo
A In-Libris (Porto) apresenta on line um Catálogo de livros estimados, entre os quais: Gravura Chimica nas Illustrações (de Marques Abreu), Equitação e Hippologia (pelo Conde de Fornos d’Algodres), uma edição especial do Cristo Cigano (de Sophia M. Breyner), peças de Al Berto, o procurado Curiosidades Estéticas de António Botto, o Quadro Elementar da Historia Natural dos Animais (Cuvier, trad. port.), os Esteiros (de Soeiro Pereira Gomes), a excelente e estimada Historia Completa das Inquisições de Itália, Espanha e Portugal; e muitos mais.
A consultar on line.
Os fumos de Bettencourt Resendes
Mário Bettencourt Resendes & Luís Delgado são dois comentadores com insígnias governamentais. Vigiam - quase sempre pela calada da noute - o corpo, o rosto e os lábios dos ministros e de outras obscenas figuras nativas. Na paróquia ninguém, com zelo, os bate. Quase sempre, o indígena, em prostração intelectual, fica confidente. E a canalha, fatigada na sábia leitura de Sousa Tavares filho, deslumbra-se. Por outro lado, os governantes domésticos – esses missionários da coisa pública - temem-nos. E o sermão político agradece, no seu estranhar.
Delgado & Resendes – por singular heresia - nunca aparecem desprevenidos. Uma declaração de Bettencourt sobre o fato ou toillette do primeiro-ministro é inatacável. Qualquer exposição do Luís sobre a almofada ou leito (político) de um ministro é a estupefacção geral. O País conhece-os, tal como os seus putativos punhos. E a descompostura, conforme a época festiva.
Delgado é da direita circunstancial. Resendes é da esquerda filológica. O Luís é frugal na palavra e no gesto. Bettencourt apresenta a melhor frase de ouvido e é mais etnográfico nos gestos. Delgado vende bagatelas. Resendes troca pedantismos. Excelentes pavões, exibem sempre aquele aspecto feliz, como se estivessem a iniciar um conselho de ministros. Não há anemia política ou indigestão fatídica, que não sejam diagnosticadas. A isto chamam: a arte de comentar.
Ontem, na SIC-N, o pastoreamento do fumo do eng. Sócrates e do casto dr. Pinho ficou para a posteridade. Disse o sr. Resendes, crente na virtude e no bom humor do sr. Sócrates, que o "passamento" tribal & governativo verificado e adaptado às notícias não está provado ser improcedente. E, pelo habitual desconhecimento legislativo dos governantes, é absolutamente normal. E gracioso, atrevemo-nos assinalar. O bentinho Resendes fez, a propósito das passas do eng. Sócrates e à maneira de introdução, o "histórico" da coisa. Aliás - pelo que nos diz – Bettencourt Resendes inicia sempre a prática da coisa, pelo histórico. Valente!
E o histórico - qual fresco cor-de-rosa - foi "bufar" que aquelas fumaradas eram absolutamente habituais em todas as viagens, quer sob patrocínio do governo quer da presidência da república. Como tal, tudo regular. Ficámos todos mais descansados. E agradecidos ao sr. Resendes. Bem-haja!
domingo, 11 de maio de 2008
Constança Cunha e Sá
"Um ministro é uma página de publicidade" [Seguèla]
Deixei de ouvir e ver a sra. Maria de Lurdes Rodrigues (MLR), por uma questão de sanidade intelectual, por imputação ideológica e em resguardo & exercício de graça sociológica. Falta-nos paciência e pudor, muito pudor. Confesso que ainda prevarico (mea culpa) nos dizeres do sr. João Freire, "anarquista" aposentado e tutor da senhora ministra MLR, dados os trabalhos domésticos em curso. Mas só por isso! Assim, as opiniões de MLR sobre o ensino, a educação ou querer saber (ou entender) dos seus novíssimos afazeres doutrinários contra a escola pública, o ensino e os professores, são matérias que tento evitar e faço desabrigar para os mais ditosos. Limito-me às redondilhas do eduquês, por evidente prudência.
Aconteceu, porém, que um pedido caridoso de visionamento da "entrevista" que MLR exercitou na TVI, com a "romântica" Constança Cunha e Sá, ingloriamente me levou a aceder ao presuntivo pastiche que esperava assistir. Sou dado a encher a alma de tédio, que querem!?
De facto, dispensaria tal perda de tempo, mas convenceram-nos da bondade e, já agora, do fôlego da entrevistadora. Aquela de "jornalista de combate", em plena ortodoxia socrática, não deixava de ser curioso. Debalde! A ex-professora (só podia) Constança, enfiada no politicamente e televisivamente correcto, não só reprimiu os seus putativos instintos (como nos confessou a nossa anfitriã) como foi uma lástima na sua energia jornalística. Não houve, nunca, "Cartas na Mesa". Simples simulacro. Nem uma "desobediência" mediática, daquelas plenas de realismo liberal, se viu. Nada!
A sra. MLR fez, portanto, uma entrevista-exibição, inútil decerto para nós, mas digna de nota. Nunca se tinha assistido à desordem de um actor político desdizer-se tão saudavelmente, em todas as matérias em debate. Não há memória de coisa assim. Para reconstrução da imagem, não foi nada mal. E até o conhecido acofiado António Ribeiro Ferreira, no seu proverbial disparate, atribuiu logo a coisa à pujante "personalidade" da ministra da educação. Personalidade é o que não tem o Ferreira. Curioso seria fazer a listagem das divas espirituais do dito A. R. Ferreira, onde – e não merece discussão – decerto se encontrará a Sra. Thatcher, a cariciosa Ferreira Leite & outras com os mesmos arrufos. Coisas para tratar no sofá do dr. Freud, sem dúvida.
E assim vai a mediacracia, a que temos direito. Mas não havia necessidade de ser assim tão trauteada. Falta-nos frescura e libertinagem. Entre muitas outra coisas.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Livraria Histórica e Ultramarina
A estimada Livraria Histórica e Ultramarina (em Lisboa), do profundo conhecedor do livro antigo José Maria da Costa e Silva (Almarjão), até hoje sitiada ao Bairro Alto, mudou de instalações. Mantêm, porém, o costumeiro fascínio da sua abonada livraria, a par do bom gosto, profissionalismo e da inexcedível simpatia com que sabe receber. As novas instalações ficam na Rua José Lins do Rego, nº 2B, ali para os lados da Av. Brasil ao Campo Grande.
No seu site (simples mas de fácil leitura) apresenta catálogos temáticos, em especial uma curiosa Judaica, um conjunto interessante de Alvarás sobre o Brasil, folhetos e livros de Genealogia e Heráldica, um conjunto estimado de monografias e literatura das ex-colónias, entre muitos outros assuntos.
A consultar on line.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Les fleurs du mal
"Toi, vêtue à moitié de mousselines frêles,
Frissonnante là-bas sous la neige et les grêles,
Comme tu pleurerais tes loisirs doux et francs,
Si, le corset brutal emprisonnant tes flancs,
Il te fallait glaner ton souper dans nos fanges
Et vendre le parfum de tes charmes étranges,
L'oeil pensif, et suivant, dans nos sales brouillards,
Des cocotiers absents les fantômes épars!"
[Charles Baudelaire]
Bibliofilia
"De loin vous en flairez l'arome avant-coureur;
Vous contemplez, ravi, sa date reculée;
Vous caressez du doigt sa marge immaculée,
Et de sa rareté vous pronez la valeur.
Vous en animez la tranche a la vive couleur,
La nervure du dos, ou svelte ou protelée,
La robe au blanc satin, d'um filet dentelée,
Le noir changrin, brodé par le fer du doreur"
[François Fertiault, in Sonetos de um bibliophilo, aliás, in Neves de Antanho (1918), do Conde de Sabugosa]
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Olha o 1º Maio ... ó freguês!
Para os nossos leitores de Maio, sem insónia ou fraqueza excessiva, e para promover a cura e combater o tédio - quanto possível -, expulsando a moléstia destes dias-a-dias de suores copiosos e palestras muito chãs e dissolvidas em cavaquês, temos o prazer de apresentar
L'Internazionale – Area
P.S.: Curiosamente a parte artística deste 1º de Maio, ou poesia dos trabalhadores (os que o são), teve as trovas & o lampejo do proleta da UGT, o sr. João Proença. Sabe-se que nós, por mero acaso, não somos de excursos suaves. Mas assistir ao folclore do sr. Proença neste 1º de Maio, enquanto nas vésperas (ou nos amanhãs que cantam) lambe liberalmente as mãos do patrão Sócrates (como antes do casto Bagão Félix), ou aos seus pomposos quanto hipócritas discursos, é demais mesmo se a pregação é mais do mesmo. Como diria o povo na sua sageza: "Um burro sobre um animal / à maneira de Portugal".
Para os nossos leitores de Maio, sem insónia ou fraqueza excessiva, e para promover a cura e combater o tédio - quanto possível -, expulsando a moléstia destes dias-a-dias de suores copiosos e palestras muito chãs e dissolvidas em cavaquês, temos o prazer de apresentar
L'Internazionale – Area
P.S.: Curiosamente a parte artística deste 1º de Maio, ou poesia dos trabalhadores (os que o são), teve as trovas & o lampejo do proleta da UGT, o sr. João Proença. Sabe-se que nós, por mero acaso, não somos de excursos suaves. Mas assistir ao folclore do sr. Proença neste 1º de Maio, enquanto nas vésperas (ou nos amanhãs que cantam) lambe liberalmente as mãos do patrão Sócrates (como antes do casto Bagão Félix), ou aos seus pomposos quanto hipócritas discursos, é demais mesmo se a pregação é mais do mesmo. Como diria o povo na sua sageza: "Um burro sobre um animal / à maneira de Portugal".
Voltámos em Maio!
"Em Mayo vai, e torna com recado" [popular]
Fomos de dar pousa ao bloganço. Obtivemos licenças & outras mercês. E, entretanto, fizemos o quê? Como nos dizem em Moncorvo:"Era uma vez um cesto e uma canastra /para conto já basta". Esclarecidos!? Nós também não.
Ao que nos dizem, corre por aí que a sra Ferreira Leite, economista arruinada pelo deficit e tremenda em moléstias políticas, abandonou as xícaras e o tricot dos barões do PSD e promete, com alguma gravidade, ser primeira-ministra num dia imaginário qualquer. Cruzes, canhoto! É, por demais evidente, que a sra Ferreira Leite não é remédio para coisa nenhuma e que a sua candidatura é tão só o resultado da enfermidade que reina por aqueles lados da rua de São Caetano à Lapa. Dizem-nos que irá, abundantemente, fornecer carácter e respeitabilidade ao PSD. Que é "credível", segundo a própria e irrepreensível conforme os comentadores. Ora, pois! Fazer da candidatura de Ferreira Leite uso e porte de respeitabilidade política é coisa que não lembra a ninguém. A senhora é tão respeitabilíssima como incompetente. E os dois dotes – como se sabe – são, por junto, demais. E o povo eleitor (se ainda existe) do PSD não vive de tais predicados e desses pasmos de fama. A palavra "respeitabilidade" nunca soube ser bem pronunciada pelos lábios da clientela laranja. Estão aí Santana Lopes, Marco António, Rui Gomes da Silva, Alberto João e outros tantos, para o provarem.
Por outro lado, o eng. Sócrates, em vigilância atenta aos media e sempre em arraial eleitoral, proporciona-nos uma variante curiosa de náusea, de que não é estranho aquela maneira esquisita de falar e a modo rasteiro que tem de tentar explicar aquilo que todos há já muito entenderam: o país vai de carrinho, mesmo antes de expirar. A paróquia para Sócrates é um comício constante. Uma escola à moda da dr. Lurdes Rodrigues. Começa a ser preocupante esta intromissão (quasi salazarenta) sem jeito nos negócios dos ministros. Não há dia de tragédia pátria que não nos venha vender um putativo plano caridoso para salvar o país. Cuida o dr. Sócrates que a sua solitária fronte é uma virtude de felicidade instantânea. Dura ilusão! Já não há paciência para o ouvir e ver. Para burlesco basta-nos o meu Benfica. Ó horror!
Boa noite!
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Leilão de Livros, Manuscritos e Obra Gráfica - 22 e 23 de Abril
A novíssima Leiloeira "Renascimento" põe à venda – amanhã dia 23 de Abril, seguindo dia 24 – um estimadíssimo rol de livros, manuscritos e obras gráficas, de invulgar e rara oportunidade para bibliómanos. Do Catálogo, elaborado por José F. Vicente e que é composto por importantíssimos peças literárias, destacam-se um conjunto apreciável de revistas literárias e obras únicas (e raras) de quase todos os maiores e mais admirados escritores e poetas lusos.
Esta invulgar colecção que vai à praça – na rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro), nº 20, pelas 21.30 horas -, pela sua riqueza literária, marca o aparecimento desta nova leiloeira e traz a felicidade dos amantes dos livros e obras raras.
A não perder. Ver Catálogo aqui.
Uma entrevista lamentável
O inefável António Ribeiro Ferreira [ARF], desocupado da lide informativa, entendeu apadrinhar uma entrevista zelosa à senhora Ministra da Educação. O sr. ARF deu à luz um conjunto de disparates, com o conúbio de Maria Lurdes Rodrigues [MLR], sobre o sistema educativo, a organização escolar e o trabalho de professores e alunos, inenarrável. A declaração de interesses final do senhor jornalista é elucidativa. Sem o mínimo estudo, instrução e percepção sobre o assunto, o sr. ARF faz mau jornalismo, como quase todos os que se metem nessa aventura de opinar sobre a educação e o ensino – e são já muitos, desde os putativos comentadores dos jornalecos indígenas àqueles que, largamente, militam fantasiosamente na blogosfera.
Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores que tricotam admiráveis prosas sobre o ensino, que os professores são meros funcionários administrativos - seres desprezáveis e de vida fácil – sem labor profissional, cultural ou intelectual. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores de testada altiva, que os cursos e diplomas que os professores (orgulhosamente) exibem e nos diversos ramos do saber, não lhes servem para nada. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem soluçar, jubilosamente, autorizadas apreciações sobre a docência, o ensino e a educação pública, sem nenhum contraditório. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores investidos de idiotas toleimas, que os professores são meros papagaios transmissores/reprodutores do conhecimento cientifico, sem discurso, exercício e acção pedagógica visível e que, na sua natureza educacional, só debitam aquilo que (presumidamente) na folclorização das faculdades aprenderam. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem, em piramidal discursata e em aleluias de ruído gratuito, passar atestados de imbecilidade a docentes, que ao longo da sua profissão têm feito inúmeros (e, por vezes, inenarráveis) investimentos culturais, formativos e pedagógicos, conforme a tutela e a administração escolar muda de humores. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os ofegantes comentadores afectados pela "inteligência" ministerial, que o debate e o conflito que reina e persiste no ensino público e na educação não vai deixar sequelas insanáveis entre docentes (ofendidos e injuriados que estão a ser) e os seus grosseiros detractores. Cuidam – caso curioso -, mas enganam-se!
Da lamentável entrevista ficam aqui, apenas, duas singelas questões, que persistem no enrodilhar da argumentação ministerial. Dado o alvoroço revelado na entrevista e pela montra das adulterações feitas no que se disse, não tínhamos, nem espaço nem paciência para mais. Sobre a funcionalização da função docente e a verticalização da sua carreira, mecanicamente e abusivamente tomada de experiências teóricas de outras profissões e a que a professora MLR denomina, com imensa graça sociológica, de novo "paradigma", falaremos um dia.
A primeira questão é simples: a senhora ministra da educação, na sua cegueira teórica, considera que via o desditoso antigo ECD, a progressão da carreira fornecia professores "mais experientes, mais graduados e melhor remunerados mas [que] isso não correspondia a nenhuma responsabilidade", mas ao mesmo tempo no seu novo e santificado ECD coloca, justamente, tais docentes como professores-titulares, ao abrigo do que prosaicamente denomina "meritocracia", num concurso duvidoso e insano. Estamos conversados!
A segunda questão é tão simples como curiosa: a senhora ministra da educação entende (não por experiência própria, como se sabe) que as "nossas escolas tinham um défice dessa responsabilização individual, dessa exigência de trabalho de equipa" e assegura que com a nova organização da administração escolar, com a nova avaliação dos docentes, tal facto é superado. Ora está provado que o que existia, de facto, nas escolas era um trabalho colectivo e em equipa. Do processo ensino-aprendizagem, com as planificações feitas em grupo curricular e validadas em sede de Conselho Pedagógico, até ao trabalho na chamada Escola Cultural e/ou informal, era visível o esforço em equipa dos docentes. Evidentemente que a professora MLR desconhece o que é um projecto educativo, a dimensão organizativa da escola e a construção de uma escola democrática. Não era do seu tempo tais modernices. E que agora pense, com o processo avaliativo (e competitivo) que defende e face ao maior caos curricular que aprontou nas Escolas, que o trabalho pedagógico em equipa sairá reforçado, só revela desconhecimento e falta de consideração pelos professores. De facto, é preciso ter atrevimento. Muito atrevimento!
segunda-feira, 14 de abril de 2008
O Tribunal Constitucional ou o limite do elogio
"Não é sisudo o juiz que tem jeito no que diz e não acerta no que faz" [popular]
O espírito de cobrança política que, em curiosos Plenários, os ilustres conselheiros do Tribunal Constitucional [T.C.] coligem, via apreciação de pedidos de inconstitucionalidade requeridos por grupos de indígenas, não granjeia boa estimação. Que o dr. Cavaco, ou o cérebro do dr. Vitorino, entendam, seguindo com os olhos a beca e o colar dos ilustríssimos conselheiros, que o Palácio Ratton não se deixa "envolver na espuma conjuntural da conflitualidade político-partidária", não só não é boa doutrina como carece de fundamento.
Conhecendo-se o Acórdão nº184/2008 do T.C., onde surge fundamentada a improcedência do pedido de inconstitucionalidade do artigo 46.º, nº3 do ECD, assim como as normas contidas nos artigos 10.º, nº8 e 15.º, do DL nº15/2007, e atendendo, em tese, que o chorado dos conselheiros do Palácio Ratton pode, se devidamente confrontado, estar conforme os preceitos que o direito autoriza, fica sempre a dúvida, por força da redacção dada e face aos vícios materiais aí existentes e não considerados, que a garantia de constitucionalidade observa o "jogo político" ou "direito de estratégias" do receituário constitucional. As curiosas, excessivas e disparatadas (re)interpretações dos doutos conselheiros sobre "meritocracia" ou "cultura de excelência e qualidade", como constam no Acórdão, parecem sair directamente da boca do sr. Sócrates, tal o meticuloso ânimo aí revelado pelos dignos pares.
Não está em causa a legitimidade (por indirecta que seja), nem (talvez) o "modus de escolha" dos conselheiros, mas tão só a ideia que o sentido normativo da Constituição está (como no caso acima referido) ausente, havendo lugar apenas às estratégias políticas dos diversos clientes.
De facto, são tão evidentes as violações dos princípios constitucionais da proporcionalidade (porque excessiva e desproporcionada face aos resultados assumidos) no que o caso diz respeito ao artigo 46º., n.º3 do ECD; é de tal forma visível a arbitrariedade de diferenciações de situações (tomadas) iguais; é tão escandaloso a omissão de averiguações (ex officio) conducentes a entender o que os doutos conselheiros ex abundanti referem como a "avaliação externa das escolas" (sem nunca compreenderem do que se trata e como será feita) , tão só único e putativo referencial para a atribuição da percentagem máxima (de Muito Bom e Excelente) a atribuir aos docentes (que curiosamente os doutos conselheiros consideram de igual formatação aquela que ocorre à avaliação de desempenho dos demais trabalhadores da Função Pública, o que não sendo verdadeiro é demasiado grave para um Tribunal); que ilustra bem a insensatez de tão ilustrados juízes.
Com tudo isto, o precioso trabalho do Tribunal Constitucional embaraça, definitivamente, a jurisprudência nativa, por muitos que sejam os encómios e os discursos ataviados do dr. Cavaco e do sábio Vitorino. Vós o sabeis!
In-Libris – Catálogo
A In-Libris (Porto) apresenta on line um curioso Catálogo de livros de "Cultura Portuguesa", entre os quais: a reprodução fac-similada do Real Teatro de S. Carlos de Lisboa (de Francisco da Fonseca Benevides), a Farsa de Raul Brandão, o estimado Guia Histórico do Viajante no Bussaco (por Augusto M. Simões de Castro), A Selva e os Emigrantes de Ferreira de Castro (ed. comemorativa do 50 anos da vida literária do escritor), a rara separata da revista Ocidente "A Doçaria de Beja na Tradição Provincial" (de Castro e Brito), a obra de B.C. Cincinato da Costa "L’Enseignement Supérieus de l’Agriculture en Portugal" (1900), a colecção de Estudos Nacionais do Instituto de Coimbra (19 vols), literatura infantil (com desenhos de Stuart Carvalhais), o livro póstumo de Augusto Gil "Rosas desta Manhã", a estimada edição da História do Regimen Republicano em Portugal, o Inquérito ao Livro em Portugal de Irene Lisboa, o curioso livro de Adão A. Nunes "Peixes da Madeira" (1953), a revista literária Renovação (1925-26), a colecção completa dos Cadernos da Antologia Sociológica de António Sérgio e as suas Cartas de Problemática.
A consultar on line.
terça-feira, 8 de abril de 2008
O embaraçado da moleza dos dias ficou
Dizem-nos que não existe mais o pregão da "mulher do mingau", ali na Bahia ao romper do sol. Que o "ofício de janelar", que as mocinhas na sua infinita ventura observavam, anda disfarçado entre a vadiagem da noite e a (des)graça da vidinha. E que, até mesmo, as Caponas, mulheres sábias da velha cidade, já não respondem ao chamamento. Enfim, parece que já ninguém gosta de esperar na própria alcova.
Andar a "ruar" (perigoso termo entre os nossos respeitáveis indígenas), já não dá em desaforo. Andar a vagabundar, sem errar nunca (lá dizia o Barão de Itararé) sempre foi a parte "mais gostosa". Mais trabalhosa.
E, meus amigos, em verdade vos digo: na Bahia o mundo ainda não ruiu de todo.
Para os nossos pacientes ledores
António Nóbrega - Truléu, Léu, Léu, Léu, Léu
Bom dia!
domingo, 30 de março de 2008
Arreganhar o dente
"O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente"
Ana Hatherly
José Miguel Júdice: o teorizador
O dr. Júdice, enlevo da rapaziada do sr. Sócrates e seu estimado caudilho, teve uma vida na mocidade (presumidamente) agitada no nacionalismo-revolucionário e continuada, após Abril 74, no requinte enternecido do MDLP. Com o retrato – quando jovem - de Primo de Rivera em décor empolgante, Júdice, que é um abismo de mistério, enfastia-se agora do mundo e reclina-se no cómodo sófa da vidinha indígena. Hoje ergue o báculo democrata, ensaia graciosas cenas com o sr. António Costa e expõe opiniões na TV (com o benevolente dr. António Barreto). O seu talento político de continuidade é de uma meticulosidade obscena. Mas a fé ideológica, essa que adquiriu outrora, mantêm-se. O gentio letrado - como se sabe - nunca se aborrece.
"... Não havendo em Portugal uma tradição nacional-revolucionária (quando muito o nacional-sindicalismo poderá ter tido, o que é discutível, alguns ingredientes esparsos) e mesmo que houvesse – dado o carácter especifico das posições nacionalistas revolucionarias – a grande tarefa actual parece ser a reformulação de uma doutrina adequada às necessidades actuais e próximas da sociedade portuguesa.
A função de um jornal político nacional-revolucionário terá de ser enquadrada neste condicionalismo (…)
Tem faltado à 'Política' [nota: revista de doutrina e acção, dirigida por Jaime Nogueira Pinto, I Série, Ano I, nº1 (Novembro 1969) à II Série, nº 24-25 (Fevereiro 1974), com a colaboração de José Valle de Figueiredo, António Pinheiro Torres, Goulart Nogueira, António Marques Bessa, Pacheco de Amorim, Miranda Barbosa, José Miguel Júdice, Cazal Ribeiro, Rodrigo Emílio, entre outros] uma inequívoca linha ideológica interna que obste à incorrecta identificação por largos sectores da opinião publica da 'Política' com a extrema-direita, reaccionária e conservadora (...)
Quanto ao trabalho teórico de crítica do capitalismo, nas suas várias formas, e do pensamento marxista, é confrangedoramente diminuto. Como consequência disto os desviacionismos teóricos (sobretudo no ataque a formas neo-capitalistas pela defesa inconsciente de outras formas capitalistas) que impedem o desempenho de um papel de 'organizador colectivo' que se impunha.
Claro que muitos destes vícios são mascarados pelos 'contrapontos', onde Jaime Nogueira Pinto exprime o melhor que a 'Política' tem (...)
De um mal sofre ou tem sofrido a actividade nacionalista: mais agarrada aos princípios do que a realidades (...)
Resulta daqui, que a maior parte dos que se confessam nacionalistas não tenha qualquer ideia sobre a resolução dos problemas concretos do dia-a-dia (...)
Se há divórcio entre o País Real e o País Legal – como há; se há divórcio entre a classe política e o país – como há – assume importância grave que essa separação exista também entre o nacionalismo e os problemas nacionais,
Mais grave ainda é que não tenha havido uma rotura – urgente – entre aqueles elementos nacionalistas que têm uma visão revolucionária da vida nacional (e internacional) e haja ainda quem ande a reboque de personalidades ou notáveis ou conservadores ou patrioteiros do seu (e nosso) capital (...)"
[José Miguel Júdice, "Política em questão", in revista Política, nº 24-25, 15 de Janeiro a 15 de Fevereiro de 1974, p. 4-6 - sublinhados nossos]
Leilão de Biblioteca - 31 Março e 1 de Abril
Sob direcção do livreiro-antiquário José Manuel Rodrigues (Livraria Antiquária do Calhariz, Largo do Calhariz, 14, Lisboa) vai à praça uma "valiosa e variada Biblioteca composta de Livros e Manuscritos, com destaque para Obras de Literatura Clássica e Modernista, Camoneana, Queirosiana, Descobrimentos, Porto, Teatro, África, Religião, Arte, Ex-Libris, etc." amanhã, dia 31 de Março e no dia seguinte (1 de Abril), na Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca, 20, Lisboa), pelas 21.00 h.
Algumas referências para o 1º dia: revista Acção Realista (1924-1926) / revista Alma Nacional (1910, 34 nms) / Obras de Almada Negreiros / Lote de livros e opúsculos de Moses Bensabat Amzalac / o raro nº único da revista Anathema (1890) / Lote de livros sobre Angola / Obras de João de Araújo Correia / Obras de J. C. Ary dos Santos / a estimada Bibliotheca Lusitana de Barbosa Machado / Obras do Padre Manoel Bernardes / a colecção completa e rara d’O Bibliophilo (1849) / a invulgar publicação Boletim da Academia de Ex-Libris (33 nms) / publicações de Bordallo Pinheiro (A Paródia e a Comedia Portugueza) / a colecção completa da revista Cadernos de Literatura (Coimbra) / uma estimada Camoneana / obras de A. Feliciano de Castilho / várias peças raras de M. Cesariny de Vasconcelos / obras procuradas e esgotadas de João Chagas / a reimpressão da colecção dos nms do Velho Liberal do Douro (1833) / a colecção completa da publicação do Congresso do Mundo Português (19 vols) / Obras de Jaime Cortesão / obras para o estudo do Direito em Portugal / Lote importante e curioso de Documentos e Memórias para a História do Porto / um conjunto de peças de Fernando Emygdio da Silva (com dedicatória do autor) / várias pastas de arquivos contendo Ex-libris / obras de Ferreira de Castro / a revista Folhas de Arte (1924) / obras conhecidas e valiosas de Henrique Galvão (et al) / a gazeta miguelista Gazeta de Lisboa (1829) / gravuras diversas / peças várias de História do Porto.
A não perder.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Mudança - por João Paulo Guerra
"O Diário de Notícias de ontem publicou uma interessante comparação entre a legislação laboral tal como os socialistas a defendiam, enquanto oposição ao governo PSD/CDS, e aquilo que o PS agora preconiza na qualidade de governo.
O que pode concluir-se da comparação é que diversas medidas do Código Laboral de Bagão Félix, então criticadas na declaração de voto dos socialistas, são agora ultrapassadas em diversos aspectos anti-laborais pelo próprio PS.
O que é que mudou nestes cinco anos? O carácter das relações entre o capital e o trabalho, as regras dominantes da economia, a relação entre poder económico e político? O que mudou foi o PS. Aliás, vários acontecimentos da vida política centraram-se nestes últimos cinco no supremo desígnio de liquidar o PS que havia.
Em muitas questões essenciais, o actual PS e o PSD são gémeos separados à nascença. Mas há um aspecto fulcral que os distingue: o PS tem mais facilidade em fazer a vida negra ao mundo do trabalho que a direita propriamente dita. Ou seja: o PS liquida direitos laborais em nome dos trabalhadores o que, por razões históricas e de registo de patente política, condiciona a contestação às suas políticas. Na oposição, o PS capitaliza a contestação às mesmíssimas políticas que, uma vez no governo, põe em prática. Esta regra teve um hiato excepcional durante a liderança de Eduardo Ferro Rodrigues, "ministro dos pobres" no governo e contestatário consequente da política laboral da direita na oposição. Arrumado politicamente Ferro Rodrigues, mais nenhum obstáculo se levantou a que o PS faça no governo igual ou pior que aquilo que critica à direita quando está na oposição. Chamem à mudança "cabala" ou outro palavrão qualquer"
[João Paulo Guerra, in Diário Económico - sublinhados nossos]
In-Libris – Mais livros do mês de Março
A In-Libris (Porto) apresenta on line, um conjunto curioso de livros, entre os quais a rara revista Athena, a edição fac-similada da Presença, o Cours d’Architecture que comprend les ordres de Vignole ..., o Almanaque do Palco e das Salas (1926), o Canto da Nossa Agonia (de Casais Monteiro), o estimado livro de B. C. Cincinnato da Costa e Luiz de Castro "Le Portugal au point de vue agricole" (1900), o Atlas de Botânica de António Xavier Pereira Coutinho, a procurada monografia "No Alto Minho. Paredes de Coura" de Narciso Alves da Cunha, poesia de Afonso Duarte, António Nobre, Ana Hatherly, José Régio, Pedro Homem de Melo (O Rapaz da Camisola Verde, 1954), António Correia de Oliveira, Luis Guedes, David Mourão Ferreira, um Guia de Turismo de Guimarães, a rara monografia "Quatro dias na Serra da Estrela" de Emídio Navarro e uma outra monografia "Serra do Gerez" de Tude Martins de Sousa.
A consultar on line.
terça-feira, 25 de março de 2008
Maria Lurdes Rodrigues
"...Maria de Lurdes Rodrigues não pode ficar à espera de receber outra vez o apoio do primeiro-ministro. Depois disto, é seu dever sair do cargo. E não é, como diz constantemente, a mais fácil das soluções. É a medida necessária para que haja soluções. A saída da ministra é, viu-se agora, uma questão de segurança nacional. É a mensagem necessária para a comunidade escolar, alunos e professores, entenderem que o relaxe, a desordem e o experimentalismo desenfreado chegaram ao fim. Que não há protecção política que os salve já da incompetência do Ministério, da DREN e de tudo o mais que nestes três anos nos trouxe à vergonhosa situação que o vídeo do YouTube mostrou ao país e ao Mundo ..."
[Mário Crespo, in Jornal Notícias, 24/03/08 (ler aqui) - via Ramiro Marques]
"... O professor hoje, em Portugal, vive com dificuldades de vida e com medo, esse terrível medo que se apoderou da quase totalidade da população portuguesa. Tenho já o tempo de vida bastante para poder ter observado, durante mais de 20 anos, a evolução duma certa corporação científica, e ter verificado nela a instalação e o alastramento desse processo de destruição progressiva do professor português. E é preciso registar que, a despeito de casos isolados de resistência heróica, esse processo de destruição tem produzido os seus efeitos.
A coisa vai mesmo mais longe – a política do medo não atingiu apenas uma determinada camada social ou profissão. Não, essa política foi a todos os sectores da vida nacional e a todos os núcleos de actividade privada e pública, procurando transformar-nos num povo aterrado, reduzido à condição deprimente de passarmos a vida a desconfiar uns dos outros. Mas o que é curioso, nesta questão, é que, ao fim e ao cabo, não se conseguiu apenas que os pequenos tenham medo uns dos outros e dos grandes, ou os indivíduos tenham medo das instituições. O próprio Estado foi vitima do seu jogo e acabou por ser tomado de medo dos cidadãos ..."
[Bento de Jesus Caraça, in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, 1978, p. 203 - via Almanaque Republicano]
segunda-feira, 24 de março de 2008
Almanaque Republicano – Actualização
"... a instrução pública é um arroteamento" [Alexandre Herculano]
Saber ler, escrever e contar, uma instrução pública popular – como direito e obrigação do Estado – e uma educação cívica de homens livres, estiveram sempre na alma socializante e romântica do republicanismo. Mesmo se o "saber ler, escrever e contar" fosse condição de uma técnica de aquisição, a doutrina republicana era entendida como "a entrada da vida" ou o "pão de espírito" que a educação portuguesa necessitaria e a administração republicana assim o exigia.
Na luta contra o analfabetismo, com a "instrução pública" função e domínio do Estado e, ao mesmo tempo, garantia do cidadão, em tal tarefa generosa e educativa, estão sempre presentes os princípios estimados do republicanismo: municipalismo, federalismo e associativismo. Para os republicanos "abrir uma escola, era fechar uma prisão", por isso a educação, no sentido de formar vontades, mentalidades ou "integração na civilização" [Bernardino Machado], era uma tarefa prioritária do ideário republicano (...)
Num momento particularmente difícil - como o de hoje - em que o ensino público e a educação são objecto da mais subversiva e assustadora contra-reforma, num estranho conúbio entre um economicismo doentio & as trapalhadas e os negócios da educação com interesses corporativos, o Almanaque Republicano - feito por dois professores devotos da instrução - irá publicar um conjunto de textos, documentos e memórias, acompanhadas de notas bio-bibliográficas, de pedagogos e professores que, com entusiasmo, participaram na causa comum da instrução pública republicana.
Saúde e fraternidade
in Almanaque Republicano - Dossier A Instrução Pública e a República
A Ministra e o Código da Estrada
Como responso à "insolência" de uma herege jornalista - a propósito da real eficácia desse seu "estimado" código (o Estatuto do Aluno) no caso particular do deplorável acontecimento passado numa escola do Porto -, a senhora ministra da educação retorquiu-lhe com a sábia interpelação:"O Código da Estrada impede os acidentes?".
Entende Maria de Lurdes Rodrigues, via sua "alma falante", que o ensino e a instrução se comparam, na sua natureza psico-pedagógica, com um serviço de estradas, a carecer de formalidades, licenças e "passes" válidos. E que mesmo assim sendo, tendo as licenças de trânsito passadas, a DGV, perdão, o Ministério da Educação não se responsabiliza com a duvidosa conduta dos seus utentes.
Há, lamentavelmente, um equívoco em tudo isto. É que não consta que a dra. Maria Lurdes Rodrigues conduza ou tenha licença de condução. Ao que se diz, foi viajante, com despacho e transporte de bagagens, desse inefável anarquista aposentado, João Freire. E não se lhe conhece, até a carreira parar na 5 de Outubro, nada de substantivo no campo teórico & prático em "condução" pedagógica, "radares" curriculares ou em "acidentes" educacionais. Quanto muito estudou o regulamento temporário dos engenheiros e outros residentes da profissionalização. Mas foi tudo!
Mas ficará, na sua gloriosa biografia & para o murmurar de futuras retóricas governamentais, o seu contributo para a lexicologia política. Decerto a estudar em qualquer escola de sociologia, que se preze e onde se estude.
domingo, 16 de março de 2008
In-Libris – Livros de Março
A In-Libris (Porto) apresenta para este mês de Março, um conjunto de folhetos [sobre a República, Norton e Matos, etc.] & peças raras ou obras esgotadas de merecida estimação de Abranches Ferrão, Agostinho de Campos, Alberto de Serpa, Alexandre O’Neill, Almada Negreiros, Ana Benavente, Anselmo Vieira, António Sérgio, Augusto Gil, Bento Carqueja, Botto Machado, Carlos Bento da Maia, Cunha Leal, D. António Bispo do Porto, Dante, Eça de Queiroz, Eugène Pelletan, Fernando Pessoa, Ferreira de Castro, Gabriel Gkisley, João Baptista de Castro, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Costa, Jorge de Sena, Leopoldo Berchtold, Lúcio d’Azevedo, Luiza Neto Jorge, Mariana Alcoforado, Mário Azevedo Gomes, Mário Ventura, Miguel Torga, José Cardoso Pires, José Jobim, José Régio, Mário Domingues, Paulo Gaspar Ferreira, Pasteur, Pedro Veiga (Petrus), Rousseau, Samuel Johnson, Vieira Transtagano.
A consultar on line.
Quem se mete com o PS ...
... leva com 7.000 (sete mil) almas, que graciosamente viajaram de "Elvas, Resende, Reguengos, Montalegre, Idanha-a-Nova, Guimarães, Castelo Branco” de lábios abertos e olhos entaramelados para a cidade do Porto, no comício dos 3 anos de governo.
A energia desses validos da União Nacional, contou ainda com a presença rija de altos funcionários do Governo, como a laureada Maria Lurdes Rodrigues (exterminadora da escola pública), o sr. Manuel Pinho (enternecido ministro da coisa económica), o irresistível Augusto Santos Chavez (restaurador do conchego democrático), o cintilante padrinho Almeida Santos (génio da civilização indígena), o vigário par(a)lamentar Alberto Martins (astro da pia Assembleia Nacional), o alevantado José Lello (sábio pensador do futebol) & outras inclemências da rosa.
Consta que foi imponentíssima a recepção, com o brilho e o aparato de antanho. As caprichosas toilettes da estação, em louvor do sr. Presidente do Conselho, colheram grande luzimento e apreço, principalmente entre o corpo da blogosfera acreditado junto do governo e que vem comentando com brilho e inexcedível competência técnica a situação da nação.
Do grupo excursionista, registe-se a eloquente prelecção, com que deliciou o espírito da canalha, feita pelo sr. Jorge Coelho – e que nos disse não têm "qualquer cargo político ou partidário" sendo "um cidadão que trabalha e vive do seu trabalho" -, que após trepidante fugidela da consultoria da Mota & Engil, e ainda ofegante de vitalidade e talento, excedeu com as suas impressões inapagáveis o espírito dos fiéis. O auditório aplaudiu freneticamente, em especial quando o sr. Coelho fez a oração de louvor à defunta educação. Por último o eng. José Sócrates disse qualquer coisa, decerto importante que, seguramente, o sr. José Miguel Júdice esclarecerá e o sr. Henrique Monteiro ilustrará no seu jornal.
Eis tudo!
sábado, 8 de março de 2008
In Memoriam de Maria Gabriela Llansol [1931-2008]
"Maria Gabriela Llansol nasce em 31, de um pai bibliófilo, de uma mãe extremosa e de um avô que intentona, e é deportado. Estudos de Direito. Advocacia rejeitada, para se vir encontrar num dos lugares filosóficos decisivos: viver com miúdos” [in Depois de os pregos na erva ..., 1973]
"... Escondeu-se para escrever; mas, antes, começou por ler no livro em que possuía a sua infinita felicidade
permanecia no princípio mas não tinha princípio; era o próprio princípio e, por consequência, não havia princípio; um no outro estava como o amado no seu amigo; e este amor que os une tem o mesmo valor que num e noutro, a mesma igualdade ...
Leio um texto e vou-o cobrindo com o meu próprio texto que esboço no alto da pagina mas que projecta a sua sombra escrita sobre toda a mancha do livro. Esta sobreposição textual tem por fonte os olhos, parece-me que um fino pano flutua entre os olhos e a mão e acaba cobrindo como uma rede, uma nuvem, o já escrito ..." [in O Livro das Comunidades, 1977]
"... Era uma vez um animal chamado escrita, que devíamos, obrigatoriamente, encontrar no caminho; dir-se-ia, em primeiro, a matriz de todos os animais; em segundo, a matriz das plantas e, em terceiro
a matriz de todos os seres existentes ..." [in Causa Amante, 1984]
quinta-feira, 6 de março de 2008
O insulto do dr. Vital Moreira!
O artigalho – em tom arrogante, grosseiro, sem brilho, nem substância – do impudentíssimo dr. Vital Moreira no jornal Público [4/03/08], intitulado “Os Professores”, é uma desafronta e um evidente insulto aos docentes (de todos os graus de ensino), aos cidadãos contribuintes e suas famílias, à classe governativa e, curiosamente, é injurioso face à obra intelectual do saudoso professor Vital Moreira. A propósito da atitude & crítica fundamentada, persuasiva, de vigilância necessária e séria dos (diversos) docentes à desastrosa e infeliz política (des)educativa do governo, o dr. Vital Moreira insiste num panfleto que é mais uma sensaboria em torno das virtudes governamentais. O discurso (inqualificável) revela, entre uma curiosa e zelante psicose conspirativa, uma angústia pouco esclarecida e não resolvida sobre o problema (e importância) da educação, do ensino público, da Escola e da classe docente, do mesmo modo que está sempre oculto o "encargo da prova" feito pelos docentes (desde o início), em toda esta questão.
O expediente insidioso do dr. Vital Moreira [VM], ao considerar que a putativa "luta" [VM dixit] dos docentes se centra "na defesa de interesses profissionais", ou não fossem para VM as pouco cariciosas corporações um caso nefando pátrio, é um costumeiro e intratável pregão, com "boa" escola mas de muito atrevimento. Picarescamente, o sábio VM deixa de fora dessa arrazoada funesta, e sem a mínima reserva, a confraria dos empregados da política, as luminárias dos partidos e sua indiscreta clientela.
O piedoso VM, nesse presuntivo enxurro corporativo (em que o "arrumo" ou o critério de leitura está ausente), estabelece uma curiosa "dissidência" entre as ditas corporações (docentes, médicos, juízes, funcionários públicos em geral) e a população ou canalha. Esta, ajoelhada e vergada às "corporações" - "forças de conservação e de reacção [mais] do que mudança" (tese afinal "que não é em geral verdadeira", como se estuda em qualquer manual de história ou direito) -, veria espantada "passar" as tradicionais "reformas" (pelo que se presume, nunca consumadas), das quais eram directamente (e unicamente) "beneficiárias". Esta pouco meticulosa quanto desaprumada (o contexto field-dependent da medida argumentativa, não aparece nunca) especialidade na argumentação de VM terá os seus encantamentos entre a boçal classe política, em especial a juventude partidária, ou em algum raminho de comentadores até, mas não colhe o génio entre aqueles que estudam, conhecem e vivem a realidade do ensino e da educação em Portugal.
A composição do dr. VM, portanto, não identifica os problemas presentes da educação; não define os objectivos educacionais do governo e as metas a alcançar com a putativa "reforma"; não compreende o que é a escola, o seu espaço escolar e a comunidade envolvente; não distingue a especificidade da profissão docente entre as suas congéneres; não reconhece a importância dos muitos estudos sobre a autonomia e gestão das escolas, a avaliação de professores e alunos ou o estatuto da carreira docente; não avalia a justeza da argumentação técnico-pedagógica usada pelos professores para explicar o seu mal-estar; não é sensível à humilhação pública da classe docente; não justifica os métodos e procedimentos autistas, arrogantes e anti-democráticos praticados pelo ME; não relaciona essas práticas autoritárias e humilhantes com a ignorância existente sobre todas essas supracitadas matérias, por parte do grupo residente no ME; nem aceita a responsabilidade do seu comportamento em toda esta questão.
O dr. Vital Moreira esforça-se por saber admirar a lide da governação. Mas não basta. Tem de estudar mais, ser mais convincente, mais verdadeiro e menos injurioso. E exibir mais respeito pelos docentes deste país, alguns dos quais foram seus alunos. Para que seja ouvido e lido, com estima e consideração. Se então o merecer!
[Foto retirada do blog do meu caro amigo Ademar Santos, com a devida vénia]
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