quarta-feira, 14 de junho de 2006
Portugal dos Pequeninos - III Aniversário
"Há o país da espera e dos sinais, /.../ E a terra de tudo e muito mais ..." [Vitorino Nemésio]
Este espaço é um rincão especialíssimo. Solene na análise dos costumes indígenas, austero perante o atrevimento da política caseira & prudente nas instruções governamentais, o nosso Portugal dos Pequeninos dispersa, mesmo se a realidade dos vaticínios não seja a nossa, esculpidas prosas e rasgados devaneios, que lemos com merecida atenção. Fez 3 (três) anos respeitáveis.
E se não lhe perdoamos a conversão ardente ao Cavaquismo (que é cada vez mais um presidencialismo engomado e decadente) não deixa de ser por isso que quebramos o encanto. Porque "neste país do monólogo, / dos fala-só, muitos poucos / conversatam uns co'os outros". Evidentemente ... era O'Neill a passar por aqui.
Pelos 3 (três) anos de domicilio inteligente, parabéns. Saúde e fraternidade.
terça-feira, 13 de junho de 2006
LIVROS PORTUGUESES SOBRE O CÃO DE PARAR
Ferreira, Dioguo [Diogo] Fernandez [Fernandes] - Arte de Caça da Altane[a]ria, dirigida a D. Francisco de Mello, ..., na Off. de Jorge Rodrigues, Lisboa, 1616 [reeds: Edição Mello d'Azevedo, 1899 em II vols; Edição Diana, 1959]
[Esta rara e estimada obra clássica "Arte da caça da altaneria composta por Dioguo Fernandez Ferreira ... Repartida em seis partes. Na primeira trata da criação dos Gauiães & sua caça. Na segunda dos Assores & sua caça. Na terceira dos Falcões & sua caça. Na quarta de suas doenças & mezinhas. Na quinta das Armadilhas. Na sexta da passagem & peregrinação das aues", é de autoria do outrora pajem de D. António Prior do Crato [Inocêncio], falcoeiro e moço da Câmara Filipe II, Diogo Fernandes Ferreira (n. 1546)]
Anachoreta, Henrique - Álbum Synoptico das Principais Variedades de Cães de Mostra, Lisboa, 1901 / Livro da Montaria, feito por D. João I, Rei de Portugal, publicado por ordem da Academia das Sciências de Lisboa, por Francisco Maria Esteves Pereira, Impr. Universidade, 1918 [aliás entre 1415 e 1433], LXV, 465 p. [segundo o ms manuscrito nº 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa] [nova edição por M. Lopes de Almeida, Lello & Irmão, Porto, 1981 e uma outra pela Mar de Letras Editora, Ericeira, 2003] / Pero, Menino - Livro de Falcoaria, introd. notas e glossário Rodrigues Lapa, Coimbra, Impr. da Universidade, 1931, LXVII, 91 p. [reed. Coimbra, Impr. Universidade, 1999]
[Pero Menino, falcoeiro de D. Fernando, elaborou o "Livro de Falcoaria", uma obra notável de cetraria, por encomenda do seu Rei, e que serviu de fonte a diversas obras posteriormente feitas, tais como o "Tratado de Falcoaria de D. João II de Castela" ou o "Libro de la Caza de las Aves" de Pêro Lopez de Ayala, que o traduziu quase literalmente. (refª á curiosa separata da Academia Portuguesa de Ex-Libris, intitulada "O Bispo de Lamego D. João da Costa e a sua copilação de Livros de Cetraria no manuscrito Sloane 821 do Museu Britânico", escrita por António Pedro de Sousa Leite, 1967). O manuscrito original de Pero Menino perdeu-se de todo e só se conhece algumas cópias, entre as quais a mandada fazer pelo Bispo D. João da Costa (está no Museu Britânico), a cópia descoberta pelo professor Rodrigues Lapa (ms. 518 da Colecção Pombalina) e uma outra (ms 2294 do Fundo geral da BN) publicada por Gabriel Pereira. Curiosamente na obra de Pero Menino é referido um livro anterior de altanaria, autoria de João Martins Perdigão, dito falcoeiro de D. Dinis, e que o nosso falcoeiro diz conhecer]
Carmona, Leopoldo Machado - Estudos sobre o Perdigueiro Português. Tese apresentada ao I Congresso Nacional de Caça e Tiro, Bol. Ass. Perd. Port. Nº 36, Lisboa, 1937, 7-31 p. / Sanches, J. Dias - O caçador e o cão de caça [raça de cães de caça; ensino do cão; higiene, teoria do caçador; lei e regulamento da caça], Livr. Popular de Francisco Franco, Lisboa, 1938, 119 p. / Barroso, Domingos - O Perdigueiro Português, Gazeta das Aldeias, Porto, Typ. Mendonça, 1948, 150 p. [reed. 1962, 1990] / Bravo, João Maria - O Ensino do Cão de Parar, Lisboa, Tip. Imp. Sociedade Astória, 1951, 127 p. / Andrade, Ruy de - A minha experiência no ensino do pointer, Lisboa, 1959, 81 p. / Barroso, Domingos - Perdigueiros e Lebres, Revista Diana, 1948, [reed. 1962] / Branco, Manuel Castelo - Criação de Cães, Editorial Notícias, Lisboa, 1969 / Barroso, Domingos - Colectânea de textos sobre o Podengo Português, C.P.P. (Clube do Podengo Português), ed. policopiada / Correia, Manuel J. - O Perdigueiro Português, Ed. Presença (Tempos Livres nº 113), 1981, 159 p. / Costa, Moisés do Nascimento - Ensino do Cão Perdigueiro, Porto Editora, Porto, 1984 / Rodrigues, Jorge - Perdigueiro Português. O Cão de Parar, Inapa, Lisboa, 1993, [10], 209, [4] p. / Barroso, Domingos - Ainda o Perdigueiro Português, Tipave, Aveiro, 1994 [coord. Domingos Barrroso], 66 p. / Barroso, Domingos - Conselhos velhos para caçadores novos, Edição S.P.S, s.d. / Piçarra, Jorge - Em honra do Cão de Parar. Técnicas de ensino e treino, Tema, Lisboa, 1998, 111 p. / Veiga, Vítor - Raça de Cães Podengo, Tip. Peres, Amadora, 2001, 276 p. / Piçarra, Jorge - Cão de Parar. Uma Paixão, Inapa, Lisboa, 2004
segunda-feira, 12 de junho de 2006
O Cão de Parar - anotações
Um núcleo de estudo organizado sobre o assunto, utilíssimo aos amantes do cão de parar, abarca obras importantes e curiosas de velhos livros, memórias esparsas em artigos de revistas e jornais, pois a matéria é de muito merecimento e apreço. Não espanta, portanto, que verdadeiras preciosidades e raridades a vários respeitos, desde livros de cetraria, altanaria ou montaria, que podem contribuir para compor o essencial das notas históricas e bibliográficas sobre o assunto, apareçam em lugar importante, lado a lado com valiosos artigos em revistas [que mais tarde falaremos].
Assim, além das já referidas edições, interessa referir os trabalhos de:
Alfonso XI [Libro de la Montaría], Chamerlat, Elzéar Blaze [Le chasseur au chien courant ..., 1838], Félix Rodríguez de la Fuente [El Arte de Cetrería], Fernando Tamariz de la Escalera [Tratado de la Caza del Vuelo, 1654], Frederic II de Hohenstauffen [De arte venandi cum avibus], G. Marolles [Chiens de Faucon], Gabriel Pereira [As Caçadas, Évora, 1892], H. Schlegel & A. H. Wulverhorst [Traité de Fauconnerie, 1844-1853], Henrique da Gama Barros [História da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV, 1922], Jean de Francieres [Livre de lart de faulconnerie, 1532], José Gutierrez de la Veja [La Ilustración venatória], Juan Vallés [Libro de acetrería y montería], Luis Barahona de Soto [Diálogos de Montaría], Mestre Giraldo [Tratado das Enfermidades das Aves de Caça], Moamin [Libro de los Animales que Cazan], Pero Menino [Livro de Falcoaria], Pero López de Ayala [Libro de la Caza de las Aves], do Rei Dancus [Tratado da cetraria], William Arkwright [The Pointer and His Predecessors], Xenofonte [livros de arte de caça ou cinegética], etc
entre outros mais publicados anónimos, que a colecção é imensa e apreciada.
O Cão de Parar
"A primeira arte do homem, escreveu Buffon, foi educar o cão e, pelo cão, é que ele chegou à conquista e posse do mundo" [Padre Domingos Barroso]
"... um cão perdigueiro de dous narizes, o melhor da matilha" [Camilo]
O debate sobre o cão de parar ainda não está, completamente, encerrado. Ao elogio do cão (de aves, de falcão, de busca, de mostra, de parar) o bom senso diz-nos que é provável que a paixão pelo cão de parar, e a estima pelo perdigueiro lusitano em particular, o seu "equilíbrio estético", alegria, humildade e obediência, ou mesmo o aperfeiçoamento morfológico que a raça impõe, essa estima provada que se têm por esse admirável "caminheiro" e "buscador" incansável nunca nos fará esquecer a controvérsia estimulante sobre a sua origem e o seu estudo.
Não é invulgar que a questão sobre a narrativa e origem do cão de parar (em particular o perdigueiro português) nos convide a traçar, olhos na terra & auxílio do céu, as antigas artes de cetraria, altanaria ou montaria. E se, a partir dos tratados que nos chegaram incólumes, posteriormente, se passe à converseta sobre as virtudes do "governo do príncipe" e à reflexão sobre o poder, do seu exercício & avisamentos, o que torna a prosa cada vez mais instruída e de pregação proveitosa, não sugere nada de estranho nem tão-pouco pode ser impensável. Afinal ... isto anda tudo ligado.
Do sabujo (de trela, de correr, de buscar) usado na montaria - esse cão ibérico, que os "franceses reconstruiriam" no "seu epagneul" e os ingleses formaram como "setter" ou "cocker-spaniel" [Correia, Gazeta Aldeias, 1921], apresentado no "Livro da Montaria de D. João I" e que Diogo Fernandes Ferreira também refere [Arte de Caça da Altaneria, 1616] - ao não menos antigo alão - entusiasmo maior do Mestre de Avis e que pode ser a "origem dos dogges da Alemanha" [Correia, 1921] - passando pelo podengo - admirável cão de mostra usado na caça de altanaria, como nos diz Diogo Fernandes Ferreira, muito referenciado nas Ordenações de D. Afonso III de 1621 e de agrado particular do Padre Domingos Barroso - até aos bracos peninsulares - usados em Portugal com o nome de perdigueiro, formidáveis descendentes do excelente "chien d'oysel" de que fala Gaston Phébus, aliás Conde de Foix [Le Livre de Chasse, ms. 616 da BNF, 1387-89] e que são ainda conhecidos por "Navarros", por braco espanhol em França, ou por "pachons", perdigueiro tão usados por caçadores lusos [refª Correia, 1921 e Henrique Anachoreta, 1903], ou mesmo por "pigarços" - existe toda uma literatura e bibliografia verdadeiramente notável, de interesse e respeito.
domingo, 11 de junho de 2006
GAZETA DAS ALDEIAS
Existiram alguns periódicos com o título de Gazeta das Aldeias. Pelo menos um datado de 1885 [Ano I, nº1, 5 de Julho de 1885, terminando a sua publicação ao nº 52 de 25 de Dezembro 1887], com o subtítulo de Política e Agrícola, e que foi fundado por José Teixeira Simões e teve a colaboração de Joaquim Machado e José Leite Guimarães.
Mas aquele que figura lá em cima, na foto, é um outro periódico, um "semanário de propaganda agrícola e vulgarização de conhecimentos úteis" [mais tarde passa a quinzenal], que surge [nº1] no domingo de 5 de Janeiro de 1896. Tem como proprietários o Padre João Pereira Vidal e Júlio Gama, e o seu redactor principal é o dr. António Magalhães [químico analista do Laboratório Químico-Agrícola do Porto]. A importância deste periódico é imensa, dado o grupo de colaboradores ilustres, com saberes muito diferentes e que ao longo de muitos anos e após várias reformulações, forneceram, com particular rigor, um conjunto apreciável de úteis conhecimentos, que vão da agricultura em geral, medicina prática, veterinária, etc, até estimados textos sobre pesca, caça e tiro.
Alguns excelentes e apreciados textos [que teremos ocasião de referir mais tarde], hoje bem invulgares, foram contributo de figuras notáveis, que aí os publicaram inicialmente, tais como: Armando Correia [cães portugueses], Carlos Manuel Baeta Neves [falcoaria, montaria, história da cinegética em Portugal], Padre Domingos Barroso [perdigueiro português], Henrique Anacoreta [cães portugueses], J. J. Gonçalves Coelho [caça, pesca], Júlio Gama [vitivinícola], Mello de Mattos [caça] e outros mais. Foram citadas, ainda, pela Gazeta das Aldeias, obras importantes, como a de um Diogo Fernandes Ferreira [caça de altanaria] ou a de Gaston Phoebus [Livre de la Chasse]. É, sem dúvida, um dos mais apreciados periódicos de "propaganda agrícola", contendo preciosas informações técnicas e bibliográficas, de evidente utilidade.
A Gazeta das Aldeias, como nos é referido no seu número inicial, apresentou como colaboradores "valorosos espíritos", entre eles: Adolpho Portela (adv.), Affonso Chaves (propr.), Agostinho de Campos (publicista), Alexandre de S. Figueiredo (agron. e dir. Escola de Agr. Prática de Faro), A. Moraes Carvalho (eng e deputado), Armando de Seabra (agron.), A. A. Telles de Menezes (agron e prof. da Escola de Viticultura Alexandre de Seabra), D. António X. Pereira Coutinho (lente do Inst. Agronomia de Lisboa), dr. Arthur Cardoso Pereira (médico-analista), Carlos de Oliveira Carvalho (regente agrícola), Conde de Samodães (propr.), Diogo de Macedo (propr. e deputado), dr. Ernst Richter (químico da Estação Químico-agricola de Tharand), F. Palma de Vilhena (dir. Estação Ampeto-Philoxerica do Norte), Georg Schweder (eng- industrial), Guilherme da Silveira (agron. Porto), Gonçalo Sampaio (botan.), Henrique Mendia (lente Inst. Agr. Vet. Lisboa), dr. Hugo Masthaum (químico), J. T. Menezes Pimentel (dir. estação Agric. de Mirandela), Padre Martins Coutinho (prop.), J. V. Paula Nogueira (médico veten. e lente), J. Gaudêncio Rodrigues Pacheco (eng. minas), dr. J. J. Gonçalves Coelho (adv.), dr. Júlio Augusto Henriques (dir. do Botânico de Coimbra), Manoel Amândio Gonçalves (dir. Botânico do Porto), Visconde de Vilarinho de S. Romão (eng. e propr.), etc.
quinta-feira, 8 de junho de 2006
Do Mundo
The urban imagery of George Orwell [Vittore Collina] / The Future of the American Workforce in the Global Creative Economy / Sur l'Affaire Handke, par Jean-Gérard Lapacherie / Ameriraq - The New Colonial Frontier [via Wood s lot] / Si el poder estadounidense cambia de manos en 2008, por Robert Kagan [ABC] / Los escritores y la guillotina de papel [ABC]
[ler o ...] Antimanifiesto de Banfield
[Ver, ouvir ... sentir] Le Sang d'un poète [50m 31 s] - filme de Jean Cocteau, 1930 [via Cinematógrafo]
Lembrar os valiosos (28) textos de Luis Carmelo, O 'tom' dos blogues, que é só a mais séria reflexão sobre os blogs & blogosfera lusa.
Felicitar a Maira Parula pelo lançamento do seu livro, "Não Feche Seus Olhos esta Noite" (logo ali na Livraria da Travessa do Ipanema ... oh! saudade, ah! inveja). E esteve linda a festa ... Beijo e felicidades.
Catálogo LXVII de Llibres del Mirall
Eis, de novo, um Catálogo da Llibres del Mirall. Apresenta livros e revistas estimadas e valiosas.
Algumas referências: Lectura Popular. Biblioteca d'Autors Catalans (364 quaderns enquadernats), Barcelona, 1900, XXI vols / Antologia de La Poesía Argentina, con notas biográficas y bibliográficas (1900-1925), Buenos Aires, Edición de "Nosotros", 1926 / La Revista (1915-1936, completa), Barcelona, XX vols [trata-se dos estimados cadernos La Revista, aqui digitalizados] / Revista Rosa dels Vents [rev. Mensal de literatura e critica], Barcelona, 1936, 3 numrs / Revista Sintesis, de Buenos Aires [nº1, Junho 1927 a nº41, Out. 1930], 1927-1930, XLI nums [Borges pertenceu à sua direcção, publicou aí a "Indagación de la palabra II" no nº3, "El lado de la muerte en Güiraldes", "Séneca en las orillas", "La duración del infierno"] / Revista Dau Al Set, Il Salon Jazz, Barcelona, Junho-Julho de 1952 [revista de vanguarda de influência surrealista, fundada por Antoni Tàpies, Joan-Josep Tharrats, Brossa, Ponc, Cuixart e outros pintores & poetas, em 1948] / Poesias Completas, de Rafael Alberti, Buenos Aires, Ed. Losada, 1961 / El Futurisme. Conferencia llegida en l'Ateneo Barcelonés la nit del 18 de Juny de 1904, por Gabriel Alomar, Barcelona, Tip. L'Avenç, 1905 / Le Pas Perdus, de André Breton, 1924 / Jean Cocteau, Portraits-souvenir 1900-1914 / Obras Poéticas Completas, de Ruben Dário, Madrid, Aguilar, 1937 / Garcia Marquez. Historia de un Deicídio, de Vargas Llosa, 1971 / Los Jefes, de Vargas Llosa, Barcelona, 1959
terça-feira, 6 de junho de 2006
ABADE CORREIA DA SERRA
José Francisco Correia da Serra ou Abade Correia da Serra
Para além de textos sobre geologia e botânica, escreveu outros para prefaciar e introduzir várias obras publicadas pela Academia das Ciências de Lisboa [ex: Collecção de livros ineditos de historia portugueza, publicados de ordem da Academia das Sciencias de Lisboa por José Corrêa da Serra, Lisboa, 1925, Officina da mesma Academia, V vol, etc] e fez o "Discurso Prelimimar" das Memórias Económicas da Academia publicadas em 1789.
Alguma Bibliografia sobre Correia da Serra: Silva, Inocêncio Francisco da, Aranha, Brito - Diccionario Bibliographico Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, T. IV, pp. 336-342 / Henriques, Júlio - Correia da Serra: apontamentos biográficos e correspondência, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1923, Separata do Boletim da Sociedade Broteriana Vol. II, 2ª Série / Carvalho, Augusto da Silva - O Abade Correia da Serra, Lisboa: Academia das Ciências, 1948, Sep. Memórias, Classe de Ciências, 6 / Bourdon, Léon - José Corrèa da Serra: ambassadeur du Royaume-Uni, de Portugal et Brésil a Washington, Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, 1975, XVIII, 668 p / Carvalho, Rómulo de - Serra, José Correia da, in Serrão, Joel, Dicionário de História de Portugal, Porto, Figueirinhas, 1981, vol. V, pp.539-540 / Davis, Richard Beal - The Abbé Corrêa in America, 1812-1820, Gávea-Brown, Providence, Rhode Island, 1993 / Abade José Correia da Serra documentos do seu arquivo (1751-1795): catálogo do espólio, compil. e pref. de Michael Teague ; trad. do inglês Manuela Rocha, Lisboa, Fundaçao Luso-Americana para o Desenvolvimento, 1997 / Carneiro, Ana Maria Oliveira - The portuguese naturalist Correia da Serra (1750-1823) and his impact on early nineteenth-century botany, Lisboa, 1998 / Faria, António (1999) - Concepção de história e prática política : o abade Correia da Serra, Lisboa, [s.n.], 1999, 2 vol / Diogo, Maria Paula, Carneiro, Ana, Simões, Ana - The Portuguese naturalist Correia da Serra (1751-1823) and his impact on early nineteenth-century botany, Journal of the History of Biology, 34, 2001, pp. 353-393
[Agradecimento pela colheita ... ao A.B., vale]
Abade Correia da Serra [n. em Serpa a 6 Junho 1750-1823]
José Francisco Correia da Serra ou Abade Correia da Serra é uma personagem absolutamente deslumbrante, arrebatadora, única. O que quer que se saiba sobre os seus trabalhos científicos (estudos botânicos e de geologia, principalmente), literários, diplomáticos e outros (bem menos conhecidos) é bem pouco para a abundante eloquência do erudito presbítero secular.
Foi, o Abade Correia da Serra, "fidalgo da Casa Real, do conselho da rainha D. Maria I, conselheiro da Fazenda, comendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem de Cristo, doutor em direito canónico pela Universidade de Roma, conselheiro de legação e agente diplomático em Londres, ministro plenipotenciário de Portugal junto ao governo dos Estados Unidos ["Estabeleceu relações de amizade com Thomas Jefferson (1743-1826), a quem visitava regularmente. Na sua mansão Monticello, na Virginia, o antigo presidente norte-americano tinha um quarto permanentemente reservado ao amigo"], deputado nas cortes ordinárias de 1822, sócio fundador e secretário perpétuo da Academia das Ciências [de 1790-1795; tendo sido um dos principais redactores do seu Estatuto fundador], sócio da Sociedade Real de Londres, da Lineana [de Inglaterra] e da dos antiquários da mesma cidade; membro correspondente do Instituto de França, da Sociedade Filomática de Paris, das Academias de Turim, Florença, Bordéus, Lyon, Marselha, Liège, Sena, Mântua e Cortuna; e das Sociedades Reais de Agricultura do Piemonte e da Toscana; e da Economia de Valença" [ver aqui], membro da American Philosophical Society [onde "ministrou cursos de botânica"]. Foi um assombroso naturalista, polígrafo e diplomata e falava fluentemente um ror de línguas.
O Abade Correia da Serra, "homem comprometido com o seu tempo", esteve ligado aos ideais maçónicos e liberais, foi um dos muitos estrangeirados que o caminho levou (e leva ainda) deste intratável Portugal. Poucos trabalhos de investigação têm sido feitos sobre a vida e o percurso conspirativo do nosso Abade e convinha fazê-lo.
Afinal, sendo conhecida a sua grande amizade com o Duque de Lafões [D. João Carlos de Bragança], Domingos Vandelli, Broussonet [médico francês refugiado em Portugal em 1794 e que o Abade Correia da Serra protegeu, tendo, por isso mesmo, (ambos) que fugir à polícia de Pina Manique], Avelar Brotero ou Thomas Jefferson (todos de tradição maçónica), reconhecido que é o seu trabalho na Academia Real das Ciências ["organização paramaçonica", com uma curiosa - segundo assegura Oliveira Marques, in História da Maçonaria em Portugal, vol. I - estrutura e organização que lembra uma loja maçónica], suspeitando-se que teve algum papel na constituição (em 1820) das Sociedades Patrióticas, ou conhecido o que afirmou sobre esses enigmáticos "sucessores dos Templários" nos tempos idos de 1805
[o Abade Correia da Serra publicou, originariamente, nos Archives Littéraires de l'Éurope, tomo 8 (1805) um curioso texto - depois sucessivamente reeditado pela Ilustração, de Julho 1846, seguido de nova edição por "um fiel de Amor" em 1980, e já em 2000 de novo publicado, aqui pelos Cadernos da Tradição, sob direcção de Manuel Gandra - intitulado "Os Verdadeiros Sucessores dos templários e o seu Estado em 1805"]
seria, pela abundância de interrogações, conveniente encetar o trabalho de pesquisa nesta sua faceta discreta, ou seja procurar um olhar outro, que nos revele em toda a grandeza o grande Abade Correia da Serra.
Locais: Serra (José Francisco Correia da) / Correia da Serra (1751-1823) / The Abbé Correia (1750-1823) and Jefferson / Seleção de documentos da Divisão de Manuscritos [Library of Congress]
[continua]
segunda-feira, 5 de junho de 2006
[Fora do Gráfico]
"O melhor momento de futebol, para um técnico, deve ser o minuto de silêncio. É quando os jogadores ficam parados, mais ou menos na sua posição designada no desenho da escalação. É no minuto de silêncio que o jogador mais se parece com o botão, ou com as cruzinhas ou a bolinha, que o técnico usa na instrução. Por um breve instante materializa-se no campo a sua onipotência diagramada. Ali estão as peças do seu pequeno universo, exactamente onde ele as quer. Sem o movimento e todas as suas imperfeições - o erro, o infortúnio, a desobediência, o esquecimento, a bola espirrada. Enfim, os acontecimentos. Todo o técnico deve saborear aquele último minuto antes de perder o controle, antes dos seus jogadores saírem do gráfico e caírem no real. Aí o juiz apita, as teorias se evaporam e começa a confusão, que é um outro nome para a vida ..."
[Luis Fernando Veríssimo, in A Eterna Privação do Zagueiro Absoluto, 1999]
Catálogo LIV da Livraria Moreira da Costa
Acaba de sair o Catálogo do mês de Junho da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto). Pode ser consultado on line.
Algumas referências: Garantia, Sciencias e Estudos sobre a nobre arte de Cavallaria e diversas antiguidades em Portugal, de João António d'Almeida, Porto, 1874 / Peidologia, por ****[aliás Domingos Monteiro de Albuquerque e Amaral], Typ. Commercial Portuense, 1836 [diz Inocêncio que o autor era "Formado em Direito pela Universidade de Coimbra... Desembargador da Casa da Suplicação de Lisboa, Juiz do Tombo da extincta Basilica de Sancta Maria..." ... "são umas oitavas burlescas, que depois de correrem largos annos manuscriptas, se imprimiram a final, sem que n'ellas se declarasse o nome do auctor"] / Dual, de Sophia M. B. Andresen, Moraes, 1972 / As Communidades de Goa. História das Instituições, de António Emílio d'Almeida Azevedo, Viúva Bertrand, 1890 / Figuras Literárias do Porto, por A. de Magalhães Basto, Porto, 1947 / Tratado das Doenças Venéreas..., de Banjamin bell, Off. Simão Thadeo Ferreira, 1804, II vols / O Imposto e a Riqueza Publica em Portugal. Dissertação de concurso, por Bento Carqueja, Typ. Commercio Porto, 1898 / O Brazil. Colonização e Emigração (Historia) ..., por Augusto de Carvalho, Porto, 1875 / Cancioneiro Alegre de Poetas Portuguezes e Brazileiros Commentado ..., de Camilo Castelo Branco, 1887 (2ª ed.), II vols / Colecção das Leys Promulgadas e Sentenças proferidas nos Casos da Infame pastoral do Bispo de Coimbra D. Miguel de Annunciação: das Seitas dos Jacobeos e Sigillistas ..., Typ. Regia Off. Typ., Lisboa, 1769 / Documentos para a Historia da Arte em Portugal (or. Raul Lino e Luis Silveira), FCG, 1969, 8+1 vols / Doutrinas da Igreja Sacrilegamente Offendidas pelas Atrocidades da Moral Jesuítica que ..., Lisboa, Regia Off. Typ., 1772 [ref. à expulsão da Companhia de Jesus] / Economia Política feita em 1795 por M.J.R. Negociante da Praça de Lisboa dada à luz em 1821 por J.L. dos S.L., Lisboa Impressão Alcobia / Antologia de Textos Pedagógicos do século XIX Português (notas e recolha textos de Alberto Ferreira), FCG, 1971-75, III vols / Opúsculo Theologico das Constituições ou ..., por António Ferreira, Coimbra, Off. Luis Secco Ferreira, 1759 / Indiculo Universal ..., do Pe. António franco, Évora, 1716 / In Memoriam de Henrique Marques (1859-1933), Lisboa, 1934 / Pátria, de Guerra Junqueiro, 1896 / Águas Minero-Medicinaes de Portugal, por Alfredo Luiz Lopes, 1892 / Jornal Encyclopédico de Lisboa (coord. Pe. José Agostinho de Macedo), (nº1, Jan. 1820 a nº12, Dez. 1820), II vols enc. (completo) / Paquete de Portugal. Periodico politico dos emigrados portuguezes em Londres (col. Rodrigo da Fonseca Magalhães, P. Marcos Pinto Soares Vaz Preto, José Liberato Freire de Carvalho), Brighton (depois Londres), 1829-1830, 4 tomos em II vols / Biografia, de José Régio, 1939 (2ª ed.) / Revista Bibliografica Camiliana e Reprodução Fac-simile dos Frontispícios de todas as obras e edições Cartas autografas, Retratos, Folhetos, Folhas avulsas, etc., etc., por Manoel dos Santos, 1916-1926, III vols (muito imp.) / A Vinha Portugueza (Revista Mensal dedicada ao progresso e defeza da viticultura nacional. Publicada e dirigida por F. D'Almeida e Brito), Lisboa, 1º Ano (1886) ao 5º Ano (Dez. 1890), V vols
sexta-feira, 2 de junho de 2006
Jornal do País ou notícias do passeio público contadas às criançolas
[Educação & Plano Nacional de Leitura] Saramago questiona estímulos [eróticos] à leitura e Ministra da Cultura estranha [estranha-se e depois entranha-se] [C.M.] - Ministra da Educação (com pose intelectual) diz: "Ler muito, durante muito tempo e depressa" [R.T.P.] - Violência nas escolas [E.P.C., no Público] - o escritor & Nobel indígena M.S.T. avalia a avaliação avaliada aos professores [T.V.I.] apreçada pela Ministra da Educação [que aparece em traje intelectual] - Jorge Pedreira diz qualquer coisa em língua de Camões sobre o Ensino e Fátima Bonifácio pasma com o perfil intelectual do secretário de Estado [R.T.P.] - Maria Lurdes Rodrigues (em lição intelectual) diz sobre os funcionários que dirige: "Os professores são os culpados pelo insucesso escolar" [dos jornais, TV's, cafetarias e F.N.A.C.] e o M.E. por lapso [intelectual] publica no Diário da República a listas definitivas do concurso de professores [C.M.] - Maria de Lurdes Rodrigues (discretamente intelectual) confessa: "A noite é quando uma pessoa está cansada do dia" e Lili Caneças avança com um processo de plágio [fonte disfarçada para as miudezas da vida]
[País & Crise da Crise] Pescadores desesperam [C.M.] - O Caso Apito Dourado custa um milhão ao erário público [Manuel Pinho anota tudo na caderneta rosa] [C.M.] - Mal-amados [J.P.P., no Público] - Texto de Carla Machado: "E depois de Abril?" [Público] ... Maio maduro Maio [dizem as más línguas!] - Manuela Vaz Velho alerta [Público] para a politecnização das universidades e a universitização dos politécnicos ... citando Bento Nemo [perdão, Vital Moreira] - no blog Causa Nossa o investigador e professor Vital Moreira defende (com verve estudantil) a senhora (de carreira intelectual) Maria de Lurdes Rodrigues postando: "Quem tem medo se ser avaliado?" & logo os estudantes de Coimbra se reuniram para avaliar os docentes da Faculdade de Direito de Coimbra [teme-se o fim da venerável Faculdade e ex-libris de Coimbra, consta no café Tropical e no bar de Direito] - Patrick Monteiro de Barros culpa Governo pelo fracasso do projecto da refinaria Vasco da Gama [D.E.] & Jack Welsh (da General Electric) oferece manuscrito da comunicação proferida em Lisboa ao guru de economia Nicolau Santos para publicação no Expresso.
[Defesa & Ataque] Portugal vende aviões, helicópteros e fragatas & Cavaco Silva (enquanto vestia a farpela do saudoso Presidente Carmona) elogia esforço de Amado [C.M.] - Governo vai vender doze F16 comprados por Guterres e que nunca voaram [Publico] - Trinta por cento da frota automóvel da PJ parada por falta de verbas [Público] - Medina Carreira depois dos Pós e Contras da RTP1 vai dar à luz um copioso tratado de Finanças Públicas desde a intimidade de D. Afonso Henriques até ao Socratismo [à venda por cima do Arco do Terreiro do Paço] - Carlos Manuel Castro, atento no Tugir, semeou o post: "A Ministra [intelectual da educação] que não pactua com imobilismo" & adverte que nunca foi traumatizado na Escola por profs e afins.
[Do Outro Mundo] Deputados do PSD propõem "O Dia do Cão" [R.T.P.] - Segundo uma fonte do blogspot o Almocreve das Petas postará imediatamente sobre o Perdigueiro português, o Padre Domingos Barroso e Ruy de Andrade [somos bestiais, dizem] - Nossa Senhora Padroeira de Portugal viaja com a Selecção na TA.P. para o Mundial na Alemanha [C.M.] - Manuais escolares mais leves [J.N.] depois de serem expurgados de Eça de Queiroz, Camilo, Fernando Pessoa, Eduardo Prado Coelho, Manuel Maria Carrilho e Ricardo Costa - abriu ontem a época balnear [dos jornais]
quinta-feira, 1 de junho de 2006
"Ooh, do it again. I may say no, no, no, no,
but do it again.
My lips just ache to have you take the kiss that's waiting for you.
You know if you do, you won't regret it. Come and get it!
Oh, noone is near. I may cry, oh oh,
bu noone will hear.
Mamma may scold me 'cause she's told me it is naughty ... but then,
oh do it again, please, do it again!"
Marilyn Monroe - Do It AgainCastpost
Catálogo de Junho da In-Libris
Acaba de sair o Catálogo do mês de Junho da In-Libris (Porto). A consultar.
A PIDE nunca existiu
[Curioso folheto]
"Aos jaime Aires Pereira e Firmino Neves, Amigos e Companheiros da Resistência. S.l.n.d. 14,5x25cm. 12 págs. B."
Trata-se de um "folheto anónimo em forma de tríptico impresso em ambas as faces, publicado, segundo nos parece, logo depois do 25 de Abril, bem escrito e composto por dois textos: «Um Pide em Massamá» e «Onde se fala da Okrana»" [ver na In Libris]
terça-feira, 30 de maio de 2006
Abade de Faria, aliás José Custodio de Faria [n. 30 Maio 1746 - 1819]
"O Abade Faria foi um cientista luso-goês nascido em Candolim de Bardez, Goa, a 30 de Maio de 1746 e falecido em Paris em 20 de Setembro de 1819.
O seu nome verdadeiro era José Custódio de Faria. Chegou a Lisboa em 1771 e a Roma em 1772. Nesta última cidade esteve até 1780, tendo recebido ordens de sacerdote e formou-se em Teologia. Implicado na conspiração da Índia Portuguesa de 1787, apressou-se a ir para França em 1788. Defensor da Revolução Francesa, comandou em 1879 uma das se(c)ções que atacaram a Convenção. Foi professor de Filosofia nos liceus de Marselha e Nîmes.
Iniciado na prática do magnetismo por Puységur, no ano de 1813 abriu em Paris um gabinete de magnetizador. A prática de hipnose trouxe-lhe uma enorme clientela e uma pronta rea(c)ção de descrédito, sendo rotulado de maníaco e bruxo" [ler aqui]
"O padre Faria viu o problema da hipnose em suas próprias bases com uma grande precisão e com clareza. Foi ele o primeiro a marcar a hipnose e os seus limites naturais ... Foi ele que defendeu, pela primeira vez, a doutrina sobre a interpretação dos fenómenos do sonambulismo, ponto de partida de toda sua doutrina filosofia ..." [Egas Moniz]
Locais: Abade Faria (Biografia) / José Custódio de Faria (1776/1819) / The Enigmatic Abbe Faria / The Enigmatic Abbe Faria (2) / José Custodio de Faria: Hypnotist, Priest and Revolutionary / De la Cause du sommeil lucide ou Étude de la nature de l'Homme [Ab. Faria]
Ensino, Ministério de Educação & Professores
"O sentido não se decreta, não existe em nenhuma parte se não estiver em todo o lado" [Lévy-Strauss]
A animosidade intelectual do Ministério da Educação contra os professores e a quixotesca reorganização do sistema educativo a que se assiste (misturando teorias de management duvidosas, de enorme frivolidade, com mudanças de características pedagógica desajustadas, pouco rigorosas, ineficazes e de má fé) deixa as famílias, os pais, os encarregados de educação e os docentes à beira de um ataque de nervos. O economicismo pacóvio revelado pela tutela governamental não só põe em causa, definitivamente, todo o sistema educativo (já de si quebrado pelo recheio pedagógico do eduquês, curiosamente apadrinhado por esses mesmíssimos intervenientes e por quem os apoia cegamente) mas, pela afronta à civilidade e à inteligência de todos nós, compromete qualquer passo em frente no desenvolvimento económico do país.
A não ser que se tenha, exclusivamente, a intenção malévola de proporcionar passagens administrativas para inclusão nas estatísticas, não se consegue alcançar a bondade das medidas presentes na proposta de alteração do "Regime Legal da Carreira do Pessoal Docente" e o que consta do documento da "Política Educativa e Organização do Ano Lectivo 2006/07". São tantas as contradições e tão evidente a má fé, que julgamos que só razões do foro psicanalítico explicarão as inenarráveis reformas tomadas. O eduquês é só por si um mistério e, deste modo, o discurso oficial deixa de ter qualquer lucidez.
Incapaz, pela natureza própria do eduquês, de mudar a matriz curricular inadequada ao perfil dos alunos em diferentes Cursos (que o inefável David Justino instituiu), desistindo de reformar métodos e procedimentos curriculares e psico-pedagógicos, mostrando (e de que maneira infausta) que não está disposta a alterar o facilitismo educativo e o pouco rigor avaliativo (e que os professores, pela sua condição de funcionários, não controlam), introduzindo com requintes de malvadez o confronto entre docentes e entre estes e os pais, a equipa da senhora Ministra da Educação fomenta a agonia na Instituição Escola e presta um mau serviço ao país. A fuga à prática escolar lectiva e a desvalorização da componente pedagógica-curricular em troca de um economicismo inebriante, determinaram a necessidade da tutela configurar um maior controlo disciplinar e punitivo sobre os docentes, que estão assim reféns de si próprios e da perversidade das medidas ministeriais.
Não se pense que a voragem ministeriável iliba os vários e insanos discursos dos sindicatos sobre a Escola, a sua actividade lectiva e não-lectiva ou a avaliação do desempenho dos seus associados. Os sindicatos (evidentemente que não se refere, aqui, à FNE, dado ser um grupo de vassalos da quadrilha rotativa governamental ao longo de todos estes anos) contribuíram para a situação a que se chegou. Tantos anos sem qualquer preocupação de rigor pelo trabalho e avaliação dos professores teriam que levar a todo este desastre educativo, que se aproxima em grande exaltação. E quando se tem governos autoritários e incompetentes dum lado e sindicatos autistas de outro, nada se pode fazer. Infelizmente.
quinta-feira, 25 de maio de 2006
Capas & capas & mais capas
Pergunta-se ao V.S.T: Então e a caparia da "Martinhada" do Camões do Rossio (obra bíblica observada) onde está? E que é feito da "Torre e Babel ou a porra do Soriano seguida de As Musas", de Guerra Junqueiro? Não lhe pusemos o olho em cima, logo nós que só temos uma edição manuscrita da época (?) do poeta, que corria entre os amigos mais crentes. Não se faz.
And now, para os gulosos da poesis & outras abastanças mais roliças, petit excerto da "Martinhada", do tal Camões do Rossio, com letrinhas e tudo.
"O Martinho encostou-se na parede
E disse logo:«Menina, eu tenho faro
De que vossa mercê esmola pede
Para uma missa dita a Santo Amaro:
Se é este o seu negócio, ou se tem sede,
Entre cá dentro, venha sem reparo;
Que nesta casa, as moças mais luzidas
Entradas querem porque vêem saídas»
Responde a moça: - «A minha sorte ímpia
Me traz a um negócio, com bem ânsia.» -
«Porém (torna o Martinho) bom seria
Tratarmos outro caso de importância:
Para o corpo um bocado de folia
Lhe requer esta minha caralhância;
Ora ature, meu bem, no seu paxocho
Cinco ou seis cabeçadas de boi mocho» -
Disse; e soltando o membro para baixo,
Só de vê-lo pasmaram as três fêmeas;
Mas o nosso Martinho, feito um macho,
Naquela hora estava posto em gémeas:
Só dizia: - «Abra as pernas, que lho encaixo,
Se não hei-de fazer-lhe a crica em sêmeas;
Receba este canhão no seu postigo,
Que a mato se lho meto pelo umbigo!» -"
[Martinhada. Poema épico-obsceno dedicado ao Rev.mo Padre M. Martinho de Barros, pelo Camões do Rossio (aliás Caetano José da Silva Sotomaior, insigne Corregedor do Crime da Mouraria), &etc - colecção contramargem, Janeiro de 1982]
& etc - 33 anos ao papel
Hoje à noute, pelas 22 horas, no Estúdio da Rosa lá para os lados do Bairro Alto ao número 241, temos páginas de leituras & estórias paridas pelo espírito da editora &etc. O que dá para esconjurar a memória daqueles dias em que os seus livros não nos caíram nas mãos, de tão vivos estavam. [recebido via Joana Amaral Dias. Graças!]
Consulte-se o cardápio disponível e tome nota do que se fala aqui:
"[nota sobre a edição d'A Cona de Irene, de Louis Aragon] Tanto quanto se pode afirmar, única edição mundial com nome próprio do autor (Louis Aragon, que só tardiamente assumiu a paternidade da obra) e as letrinhas do título. Episódio da prospecção: apresentado o livro ao gerente da Bertrand do Chiado, leu este, na capa, "A Lona de Irene". Esclarecido do equivoco, exclamou: "Vocês pensam que isto é alguma casa de putas?". Pousado no balcão um livro Europa-américa com a fotografia de uma beldade nua na respectiva capa, logo ali se respondeu «que sim senhor, pensamos». A selecta centenária livraria do Chiado teve mesmo de vir a adquirir um exemplar da obra, por encomenda expressa da distinta cliente habitual Luiza Neto Jorge, por acaso sócia fundadora da «&etc». Não há livreiros mentecaptos" [ler mais & mais]
quarta-feira, 24 de maio de 2006
Henri Michaux [n. 24 Maio 1899 - 1984]
"Pode estar tranquilo. Ficou algo limpo em você / Em uma só vida não pode sujar-se completamente" [H. M.]
"Apreender
ou absolutamente nada apreender ou apreender com louca intensidade
Por falta do principal
apreender desordenadamente, exageradamente,
Atordoar-me
Tornar-me insecto para melhor apreender
patas em gancho para melhor apreender
insecto, aracnídeo, míriapode, ácaro
se for preciso, para melhor apreender" [Henri Michaux]
Locais: Henri Michaux / Henri Michaux (1899-1984) / Henri Michaux (1899-1984) Écrivain. Peintre / Henri Michaux (1899-1984) Belge / Poesias / "Uma Vida de Cão" [H.M.] / Principes d'enfant / Henri Michaux Poète du secret / Michaux - O Espaço Interior
O jornalismo segundo 'os próprios' ou o caso Carrilho
"Dos de nuestros grandes males: la solemnidad y la falta de humor" [Borges]
O debate maledicente de ontem, na RTP, entre três carpideiras personagens e o dr. Pacheco Pereira (de permeio) foi um arraial pavoroso de canalhice, que incomoda. O instinto grosseiro, provocador, ordinário mesmo, revelado ao longo do programa pelo trio de pavões que nos saiu na rifa televisiva, não foi agradável de seguir. Não foi, por isso, uma polémica séria, honesta e esclarecedora. Aliás, nesta lastimosa querela - como se pode estimar pelas várias defesas d'honra esculpidas em diversos locais (incluindo a blogosfera) pelas sentinelas do jornalismo corporativo ou "de classe" (ou, mesmo, por putativos candidatos) - as declarações dos indígenas instruídos sobre o assunto já estavam anteriormente assumidas. O hediondo mau da fita, para a tribo corporativa, tinha um nome só: Carrilho.
O programa foi, portanto, não um espaço para debater a corrupção no jornalismo, como é evidente ao longo das acusações de Carrilho e de Rangel, e o modo como empresas e jornalistas acofiados manipulam a opinião pública e publicada, mas uma arena de vaidades e de bufarias. Lamentavelmente.
Mas goste-se ou não da personagem Carrilho (bem retratado por Pacheco Pereira quando regista, com acerto, a máxima: "quem vive pelos jornais, morre pelos jornais"), faz todo o sentido - para que não se esqueça a questão substantiva - o que escreve José Vítor Malheiro (no Público) sobre o espectáculo da "minimização das criticas de Carrilho" ou "desagravo" corporativo, imoral, às acusações feitas. Diz:
"No fundo, tudo se passa como no proverbial caso da prostituta violada, que não consegue ver a sua queixa aceite pela polícia".
O dr. Pacheco Pereira ainda compreendeu, mas já era tarde demais e o local não era o mais aprazível. Quanto ao inenarrável Ricardo Costa a impudicícia demonstrada nos argumentos, todos dignos de delator ou de garoto escolar (eu fiz, mas sei que tu também fizeste), é o episódio mais marcante e terá efeitos nefastos, seguramente, no futuro. Afinal ... the show must go on.
Aforismos do senhor Karl Kraus ... dedicados a cavalheiros prudentes
* A missão da imprensa consiste em propagar o entendimento e, simultaneamente, em destruir a receptividade do entendimento
* Os jornais têm mais ou menos a mesma relação com a vida que a cartomante com a metafísica.
* A palavra escrita será a incorporação naturalmente necessária de um pensamento, e não o invólucro socialmente conveniente duma opinião.
* Jornalista é quem exprime o que o leitor de qualquer jornal já pensara, numa forma de que não seria mesmo assim capaz qualquer escriturário.
* A falta profundamente sentida de personalidade criou um estado de incêndio espiritual. Os bois evadem-se dos currais a meio das chamas; o publicista evade-se do assunto a meio da cultura. A meio desta pestilência espiritual, a gente tapa as ventas.
* Por que escreve fulano? Porque não tem carácter bastante para não escrever.
* O jornalismo pensa sem prazer do pensamento. A um tal domínio relegado, o artista assemelha-se à hetera obrigada a prostituir-se. Com uma diferença, porém: esta última sucumbe, sem dificuldade, também ao constrangimento. O constrangimento pode no seu caso significar prazer; no caso do primeiro, só desprazer.
* O que é que tem sobressaltos de ideias sem ideias? O que é que é mais inconsistente e impenetrável, mais infundado e imprevisível do que o boato? É jornal. O jornal é o funil dos rumores.
* A distorção da realidade na notícia é a notícia verídica da realidade.
* O historiador nem sempre é um profeta voltado para trás; o jornalista, porém, é sempre alguém que, depois, soube tudo antes.
* A humanidade inteira encontra-se já perante a imprensa no estado do actor a quem a omissão de um bom êxito poderá prejudicar. Nasce-se receando a imprensa.
* A crítica dos jornais consegue, apesar de tudo, exprimir como o criticado está para com o crítico.
* O jornalismo é uma operação a prazo em que o trigo também não existe em ideia, mas em que, realmente, há grande debulha de farelo.
* Censura e jornal - como não poderia eu pronunciar-me pela primeira? A censura pode oprimir a verdade durante certo tempo, retirando dela palavras. O jornal oprime a verdade a longo prazo, ao dar-lhe palavras. A censura não prejudica, nem a verdade, nem a palavra; o jornal, a ambas.
[Karl Kraus, "Presença de Karl Kraus contra o jornalismo", in revista Pravda, nº4, 1986]
domingo, 21 de maio de 2006
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