quinta-feira, 31 de julho de 2003

BREVES


* Há coisas que não mudam - "Paulo Portas é hoje ministro. De Estado e da Defesa, condição dificilmente imaginável para quem o conhece. (...)
Acontece que Paulo Portas não é um ministro igual a outros. O próprio não aceitaria a paridade. É líder de um partido que usou em função de um interesse intransmissível, gosta de se sentar à direita, ou imediatamente à esquerda, do chefe. Por enquanto.
Sobra a ironia da peça escrita por Diogo Freitas do Amaral – que conhece o adolescente –, ainda por subir à cena. O enredo é simples e potencialmente verdadeiro: um ministro da Defesa trai o primeiro-ministro. Há, na vida, o subliminar que distingue comportamentos e determina pormenores de uma qualquer história.
Não é próprio de um ministro da Defesa as jogadas de bastidores que caracterizam a acção governativa do escorregadio Paulo Portas. Nessa azáfama com o acessório, Portas vai descurando o essencial e perdendo o respeito e a credibilidade junto das instituições, militares e civis.
Resta-lhe a inconsequência, em que muitos vêem sinais inequívocos de cobardia, com que evita a ida ao Parlamento.
Exactamente a mesma síndrome adolescente que o fazia dormir fora de casa para não ser citado nos processos contra O Independente.
Há coisas que não mudam.
" [Raul Vaz, Diário Económico, 30/07/03]

* Paulo Mendo no PJ, foi prudente e sensato ao falar de blogs. Diz-nos, tout court, que não se sabe se serão blogs ou blogues (aqui, é bom de ver que não frequenta o sacerdote Mexia), considerando que é supinamente mais benéfico para a saúde dos "mais velhos" essa modernista prática, que andar a subir e descer os escadotes equilibrando livros e revistas. Fica, assim, de parte o dizer de João Miguel Fernandes Jorge: «Importa que não haja ilusões sobre este ponto: é que podemos morrer de sede em pleno mar». Absolutamente de acordo.

* Pedro Mexia, depois de reiterados problemas informáticos regressou com rasgados elogios à sua pessoa, esperando-se um visual poetry em breve, com recurso a projectos multimédia. Eis um pequeno extracto da sua novíssima grande obra: «A técnica é a ética-ateórica. Tanto a técnica como a estética nos distraem do mundo do logos, do mundo da razão. A técnica do blog é uma arte onde a trajectória do corpo (despótico?) se impõe à enunciação. O mexianismo é a nova discursividade dissidente, que dedicamos a uma qualquer lumine nympha, sem empacho». O Professor Deleuze que se cuide, pois! Nós, continuamos a afiar a esferográfica.

* Eis a nossa modesta contribuição para o dito "meta-debate sobre se existe, ou não, amor na blogosfera":

- "Do amor não se pode dizer tudo, e se se tenta isso pela polivalência da glote, sai fracativo" (Maria V. da Costa ?) [será da MVC, não temos a certeza]

mas é sempre de notar, principalmente, que: "Toda a vulva é fechada como a expansão da noite" (Maria V. da Costa, Da Rosa Fixa)

CATÁLOGO DE LIVROS DE CARLOS DA SILVA CAMPOS - 1877

Catalogo // dos // Principaes Livros, Alguns Raros e Estimados // que se encontram à venda // Na Agencia Universal // de // Carlos da Silva Campos // Rua do Arco de Bandeira, 6, 2º // Lisboa // Imprensa de J.G.de Sousa Neves //65, Rua da Atalaya, 67 // 1877

Algumas notas do catálogo:

- Agostinheida, poema herói-comico em nove cantos. Londres, 1817, in-8.º - 700 réis
- Alcobaça illustrada, por Fr. Manuel dos Santos. Coimbra, 1710, in-fol.- 2$000 réis
- Arco (O) de Sant'Anna, chronica portuense, pelo visconde de Almeida Garrett. Lisboa, 1850, 2 vol. In-8.º, Encad.- 1$000 réis
- Asia portugueza de Manuel de Faria y Sousa. Lisboa, 1703, 3 vol. In-fol. – 8$000 réis
- Chronica de Cister, por fr. Bernardo de Brito. Lisboa, 1602, in-fol.- 5$000 réis
- Chronica d'el rei D. João I de boa memoria e dos réis de Portugal o 10.º Parte 1.ª e 2.ª por Fernam Lopes. Parte 3.ª, por Gomes Eannes de Azurara. Lisboa, 1644, in fol. Rara. – 18$000 réis
- Decadas da Asia, por João de Barros. Décadas I, II, III. Lisboa, 1628; década IV, reformada, etc. por João Baptista Lavanha. Madrid, 1645, 4 vol. In-fol.- 14$000 réis
- Historia geneologica da casa real portugueza, desde a sua origem até ao presente, por António Caetano de Sousa, etc. Lisboa, 1735-48, 14 vol. In-fol. Provas da Historia geneologica da casa real portugueza, etc. Lisboa, 1739-48, 7 vol.in-fol. O todo 21 vol.- 31$500 réis

BIBLIOFILIA - AQUILINO RIBEIRO


"Para Anatole France não havia leitura mais amena e sedativa que um Catálogo de livros. De facto, depois de ouvir um discurso nas Câmaras, dar-se o parecer sobre um relatório, sustentar uma polémica sobre existencialismo, não se pode encontrar entretimento mais repousador e edificante. É como estar debruçado à janela a ver passar, sem nos coagir a nenhuma forma de zumbaia, uma vistosa procissão à antiga."

[Aquilino Ribeiro, Ao Amador do Livro, Catálogo de Livros Seleccionados do Mundo do Livro, nº 3, Lisboa, 1955]

Pois, foi isso o que fizemos, Mestre. Depois de sermos esmagados por duas vezes no xadrez (a mania de ressuscitar a Portuguesa do António Ferreira foi fatal), ignobilmente esmifrados por uma irreverente jogadora, ainda para mais leitora de Augustina, deixou-nos à beira de um ataque de nervos. E ainda se diz que a mulher é "esse continente negro" ...

"Há ainda os lordes Byron da bibliofilia que apreciam um livro como apreciam uma mulher, primeiro pelo aspecto, beleza da mancha, tintagem, cores de título, boa ordenança do frontispício, depois pelo que encerra de recatado e supremo: o espírito. De facto há, não podia deixar de haver, uma certa voluptuosidade em roçar, cerebralmente, esses corpos sensuais, que são os livros bonitos, (...)"

[idem, ibidem]

quarta-feira, 30 de julho de 2003

SAUDADE


Saudade do fim das tardes de Verão, Torreira para trás que o corpo também cansa, e da obrigatória paragem na Murtosa para castigar umas enguias ou uma lampreiada. Murtosa sempre foi uma paisagem de paixão. Como Ovar e o Furadouro. Tempos outros em que reinventávamos caminhos, rostos, paixões. Doçura das coisas perenes.

"Como é vil o coração que, incapaz de amar, não pode conhecer o delírio da paixão! Se não amas, és indigno do sol que te ilumina, da lua que te consola"
(Omar Khayyam)

Nota: reler as Notas Marinhoas do Dr. José Tavares Afonso e Cunha. Julgo que são 5 volumes, mais um fascículo, que nos dá as noticias históricas do concelho da Murtosa e das duas freguesias marinhoas do concelho de Estarreja.

MURTOSA


"Os campinos de Garrett abateram a prôa, assim que ouviram falar duma luta de oito dias com o mar. Para lhes travar para sempre as campainhas, bondava agarrar-lhes pela jaleca e levá-los ali à Torreira, numa madrugada em que o búzio soasse e duas companhas arrancassem para a «recachía».

Os de Ílhavo são peixes de água salgada. Vivem no mar. O comando da nossa marinha mercante está nas mãos deles.

Os da Murtosa, esses não se contentam em ser mareantes. Acham aquilo monótono e, salvo horas naufragantes, luta branda. A pesca, sim, que é movimentada, que pede força, que tira de condição a coragem, que faz preço à audácia, que requere do homem a agilidade da onda e o segredo do ritmo. É a paixão dos murtozeiros. Não é este nem aquel'outro. Observem-os e verão que aprender um é conhecê-los a todos. (...)
"

[Joaquim Leitão, Pescadores da Murtosa. Extracto da Canção do Regresso, Ottosgráfica, Lisboa, s/d, ed. fora do mercado]

terça-feira, 29 de julho de 2003

VÁRIAS

* O Bridge dá cabo de um tipo. Quanto mais se joga (e perde) mais se quer continuar. No dia seguinte lá se anda a teorizar sobre as partidas, o maldito carteio, a não-voz do parceiro. Temo ficar a falar sobre bridge do mesmo modo que o Pedro Mexia discorre sobre o eterno feminino, tal o estado de neurose compulsiva verificada.

* Tenho ideia, que vi a Charlotte na TV. Se foi, então a Bomba faz parte daquela beleza convulsiva que falava Breton, isto é, está entre a erótico-velada e o mágico-circunstancial. E o gato Varandas, que saberá disso?

* Voltando ao Mexia, o porfiado crítico da poesis está decididamente reaccionário. Aquele post sobre a TSF é subscrito integralmente pelo Alberto João. Tal como ele, o Mexia vê vermelhos em todo o lado. Suspeito que a falta de pratica na sua confessada heterossexualidade, resulta tão somente de um excesso de investimento sádico-oral das palavras, no seguimento da analogia em Melanie Klein, entre o investimento genital e a fala, o canto ou a pena. Ora essa crueldade lingual (Luiz Pacheco dixit), por sinal ferozmente reaccionária, será decerto uma luxúria na crítica literária, mas não deixa de ser um forte obstáculo a praticas bem mais libidinosas.

* Como almocreves, somos sensíveis a textos sobre azémolas, ou gado asinino. Temos especial ternura pelos equus asinus. É que os jumentos são a nossa perdição, principalmente se forem bem aprumados. Temos almocrevados alguns, bem preciosos, sabendo sempre que é mais difícil ser livre do que puxar uma carroça (Virgílio Ferreira dixit). Assim, perante prosa tão adocicada no Publico sobre o burro mirandês, ficámos extasiados. Celeste Pereira, a jornalista do nosso encantamento estará para sempre nos nossos corações. E, já agora, viva a AEPGA e a associação cultural Galandum.

* Mário Nunes, vereador da Cultura da Câmara de Coimbra, é uma excelente pessoa, mas excede-se por vezes. Aquela de afirmar que a Feira de Antiguidades de Coimbra, "é uma das melhores a nível nacional" porque tem "qualidade" e é "onde se vende mais", é demasiadamente excessivo. A Feira de Coimbra é uma feira franca curiosa, mas frequentada por um grupo de vendedores (?) que em momento algum sabem o que estão a fazer, a não ser tentar enganar o neófito das velharias. Então a rapaziada dos livros, todos bem iletrados, é de uma tristeza infinita. Nessa feira, como se calhar noutras ao longo do país, qualquer soit-disant vendedor de papéis velhos se julga um antiquário de prestimosos e devotados favores. E assim, atiram-nos com 75 E por um qualquer Campos Júnior, todo esfarelado e maltratado. Dizem que é muito antigo e raro. Ora nem uma coisa nem outra sequer sabem o que é. Esse rol de gente que vende gato por lebre, com ar de intelectual assumido, destrói o mercado do livro antigo. Como alguns verdadeiros antiquários-alfarrabistas o fazem, também. Afinal, porque haveria de existir excepções? Não estamos em Portugal?

JOHN CALE



JOHN CALE nas noites-ligadas-a-noites, que o Verão está cá. 5 tracks para as tardes acaloradas ou para as noites vadias. John Cale ... sempre!

segunda-feira, 28 de julho de 2003

ENTRE MARES E MARÉS

Entre mares e marés na busca
da coluna do equilíbrio, pormenores
e gestos são o dia da casa, olhos
passando pela linha das paredes.
Farás ainda um derradeiro sorriso,
esboçarás o lance da misericórdia
primeiro, o do rigor depois.
Na casa reparas como as coisas
são as tuas coisas, no vidro
um espelho de dois lados, o teu
domínio. É uma paz que vai
do chão ao ar e volta pelas
vértebras ao lado de fora da pele.


[Helder Moura Pereira, Fenda, Coimbra, 1982]

domingo, 27 de julho de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


* Pacheco Pereira e as "Criticas que (me) levam a pensar duas vezes" - Dizia Raul Proença que "na critica nunca vai um ataque a pessoas; divergir em ideias não é sentir a raiva no coração; é sentir a independência do nosso juízo". Nada mais exacto.

E ao ler o que um leitor do Abrupto (Carlos Queirós), citado no blog, considera em torno do comentário de JPP ao "caso Berlusconi", tive a certeza que essa independência de que fala RP não pode resultar em pessoas, que de modo mais ou menos subtil, "se entricheiraram num campo, e que ficam inibidas de pensar, ou de se expressar com total liberdade" (CQ). Como me parece ser o caso de alguns escritos de JPP. Do mesmo modo que CQ, também eu parti para a leitura do artigo tentando saber como é que JPP o ia defender. E, como em escritos de outros colunistas, "mete impressão" tal exercício. Pode ser estimulante, mas não devia acontecer.

Confesso que alguns articulistas fazem parte da "nossa" família. Acompanhamos as suas intervenções, estamos atentos ao que nos sugerem, seguimos-lhes o percurso, o jogo e a vida. Todas as semanas nos jornais, rádio ou TV. Os registos afectivos são sempre assim. Por isso os lemos. Não há nenhuma dedicação especial no facto, mas tão só a constância da presença de uma revelação comunicacional que desvela a gramática da vida: aquilo sobre que falamos com o outro. Que passa sempre por essa ponte sólida entre o saber e a liberdade. Ora, à primeira vista o horizonte de JPP esbate-se contra essa assumpção, mesmo que sugira um saber contra o(s) poder(es). O caso da invasão do Iraque e seus contornos imperialistas, que conduziu a administração americana a uma situação de violação total dos direitos e garantias do ser humano, mesmo no seu próprio país, foi o culminar dessa apologética argumentativa utilitarista que JPP esgrimiu, para nosso desprazer. Nem é preciso recorrer a exemplos da política caseira para afirmar a nossa preocupação relativamente a essa inibição de falar e (des)dizer em liberdade, que nos fala CQ, e que está presente em muitos dos nossos analistas. Basta saber quem são e do que falam.

Verdade seja dita que JPP é um caso à parte. Parece-nos existir dois JPP: um que é militante do PSD e outro que fala e escreve de coisas que gosta e ama, referidas com paixão no seu blog e nalguns textos de jornais. O que nos levou a sorrir, quando no penúltimo Expresso o vimos caricaturado daquele modo (e que não resistimos a publicar), em isolamento suspicaz, perante o anedotório de outras personagens. JPP é dos nossos, mas de qual falamos quando falamos de JPP?

[A ilustração de JPP é de António Martins (com Mário Ramires), retirada do Expresso, 19/07/2003]

"Sim, meus senhores, a Imprensa portuguesa, a grande Sacerdotisa, já não acha sabor algum neste verbo: orientar, o seu verbo hoje é outro; é seguir.
Seguir! Eis a grande descoberta que eles fizeram. Seguir, ser transportado no fluxo dos acontecimentos, como um folha que redemoinha ao vento. Não sentir dentro de si nenhuma espécie de resistência espiritual, nenhum centro de gravidade, nenhuma obstipação sagrada e profunda, mas ser como a pena que obedece ao sopro quási insensível dum bebé, e aí vai na atmosfera (...) Seguir, não ser autónomo, ser massa, prazer supremo, - ir na corrente que leva os outros ...
Não pergunteis, pois, aos jornalistas de grande «circulação» o que é que eles pensam. Eles não pensam - circulam. Circulam, vão com os outros, seguem. De aqui em diante não lhes pergunteis mesmo: «Como vai o senhor?», mas: «Como segue o senhor?». Porque na maneira de seguir é que está toda a higiene do espírito. Almas sem nenhuma espécie de profundidade, que passam a vida a fazer gestos vãos, cabriolas, retórica, lindezas, jogos de palavras, - almas sem paixão, almas sem existência séria, grave, profunda, almas áridas e pobres onde as ideias, os sonhos, as paixões não criaram raízes, - almas de contrabando, de prostíbulo, de quem-mais-dá, de aluguer, eles só possuem hoje um instinto: o do desfile; um prazer: o do acompanhamento; um espectáculo em que desejam colaborar e fundir-se: o da procissão. Nem por um só momento eles poderiam vislumbrar a pureza da atmosfera que respira uma rude alma solitária. Fundem-se os sinos, tocam os sinos - e ei-los na rua, à primeira badalada, a caminhar em série, a ir com os outros, a seguir. Neste sentido, que é o mau sentido da palavra, o jornalismo português é o mais «democrático» de todos os homens - quere dizer, o mais desprezível
."

[Raul Proença, O Ultra-romantismo politico do Diário de Noticias, Seara Nova nº 265, 1/10/1931]

sábado, 26 de julho de 2003

MONTE MAIOR



Tu, que ora vees de Monte maior,
tu, que ora vees de Monte maior,
digas-me mandado de mia senhor,
digas-me mandado de mia senhor,
ca, se eu seu mandado
non vir, trist'e coitado
serei, e gran pecado
fará se non val,
ca en tal ora nado
foi que, mão-pecado!
Amo-a endoado
E nunca end'ouvi al!


[Gil Sanches, citado na monografia "Terras de Montemor o Velho", de A. Santos Conceição, Coimbra, 1944. No dizer de Santos Conceição, trata-se da "mais antiga poesia que a Montemor se refere". Gil Sanches, "bastardo do Rei Povoador e da famosa Ribeirinha", "perdeu-se de amores por D. Maria Garcia de Sousa", que vivia em Montemor (pag.45)]

sexta-feira, 25 de julho de 2003

CITEMOR

Começou o CITEMOR. Oh! Montemor e o seu castelo altaneiro, e a Figueira ali tão perto. Não ir comer ao Ramalhão é imperdoável, mas se preferir dê um salto a Ereira, terra de Afonso Duarte, ao Bernardes, castigar uma marinada de lampreia. Ou mesmo ao Carrocel, na Gala, Figueira da Foz.

Se a proposta gastronómica fica por sua conta e risco, no que diz respeito ao 25º Festival de Montemor-o-Velho já está a perder. Começou ontem e vai até ao dia 14 de Agosto. Venha daí!

ADIVINHAÇÕES


1. Quantos Nokias, Siemens, Alcatel, Motorola, tem na pasta o Senhor Procurador-Geral da Republica?
2. Para onde vai trabalhar, proximamente, Emídio Rangel?
3. Onde está Pedro Roseta?
4. Porque é que a direcção do INE têm de levar palmatoadas do Governo?
5. Quantos GNR são aprovados na disciplina de Estudos Árabes?
6. Quem disse, pela milésima vez, que "não há nenhuma derrapagem orçamental"?
7. Quantas namoradas tem no cardápio, para a próxima semana, Pedro Mexia?
8. Porque é que Celeste Cardona não é ministra da Justiça?
9. Quantos canais de TV estão a soldo de Morais Sarmento?
10. Porque foi José Manuel Fernandes, o primeiro a escrever um editorial sobre os blogues?

LIVRARIAS NO PORTO


"A tornejar do Largo dos Lóios para a Praça Nova, situava-se a antiga livraria do francês Moré. Primava pelo luxo, nessa ocasião. No entanto, seria classificada de modesta se a compararmos ao aparato das modernas. Juntava-se aí, então, a fina flor dos literatos e sábios da época. Entre esses recordo: Camilo, visconde de Vilarinho de S. Romão, Pedro de Amorim Viana, Dr. Albuquerque, que então era rapaz; Eduardo Allen, Eduardo Sequeira, Gonçalo Sampaio, Sampaio Bruno, escritor republicano e de robusto talento; Dr. Magalhães Lemos, médico e enciclopedista; Alberto de Aguiar, Rocha Peixoto, Severo, etc. Ainda outros ali assentavam pousio, como o Arnaldo Gama, Júlio Dinis, Ricardo Guimarães, visconde de Benalcamfôr, Pedro Ivo, Coelho Lousada, Ramalho Ortigão, José Gomes Monteiro.
....................
Afora a livraria Moré, ostentavam os seus mostruários no Porto outras que foram das mais produtivas do país: a Chardron, mais tarde de António Leite, livreiro arrojado, homem honesto e patriota; a de Magalhães e Monis; a da Companhia Portuguesa Editora; a da Empresa Literária e Tipográfica, de Joaquim Antunes Leitão, alma cheia de luz e de bondade e que tão martirizadamente se finou. Algumas mais de que não me lembro a firma sob que giravam. Nessas livrarias, como sucedia na Moré, cavaqueavam, dissertavam, criticavam e mordiscavam os frequentadores.
" [continua]

[Eduardo Noronha - Escritores, Poetas e Jornalistas - O Primeiro de Janeiro, 4 Set. de 1942]

quinta-feira, 24 de julho de 2003

OS LUSÍADAS NO EXPRESSO


Temos Outono camoniano n'O Expresso, com a publicação de Os Lusíadas. Luiz Vaz em fascículos, debates e exposições. Com textos dos habitués nestas andanças, o que significa um enorme bocejo literário, o Expresso não esconde que o sistema funciona. Eis a perfumaria Balsemão a trabalhar para todos nós. Salvé!

"Ah Camões! Luiz Vaz, se visses
Como os vermes pastam a tua glória!
Por um que ame apenas a tua obra
Quantos te inventam a vida passada
Para explicar versos que não sentem
Ou sentem tão à epiderme
Que precisam doutra história
Que não a das palavras que escreveste!
"

[José Blanc de Portugal, in Camões 1980, Loreto 13, nº 6, 1980]

"Ai, Luiz Vaz, retrai-te. Querem fazer de ti um departamento de líricos, uma comissão nacional de épicos, um cortejo histórico de teses académicas, o imaginativo febril de uns quantos alucinados pela porta sagrada das vitalícias chamas."

[Armando Silva Carvalho, in Atado à Grão Coluna, Loreto 13, nº 6, 1980]

quarta-feira, 23 de julho de 2003

ARRUMAÇÕES E JORNAIS - GAZETA DO MÊS (cont.)

Referimos a existência de uma revista, a Gazeta do Mês. No primeiro número (Maio de 1980), a revista apresenta textos de:

- Fernando Belo (A Nova Aventura): «... As massas é que fazem a história, era um dos nossos slogans. As massas são os nossos corpos e desejos, é por aqui que temos de recomeçar a fazer história ... É disso que fala o discurso ecológico, o discurso das mulheres, o discurso do quotidiano ...»

- João B. Serra e José Manuel Sobral (A Política e a História): «... Assistiu-se, assiste-se, ao investimento da matéria histórica por duas vulgatas como guias de leitura preferenciais. Uma vulgata marxista, que desfigura o próprio marxismo, reduzindo-o a uma mera filosofia da história, válida "urbi et orbi". E uma vulgata literária, assente em interpretações que se fundam numa suposta transparência entre o literário e o social ...»

- Sérgio Campos (A Crise do Estado Keynesiano): «... importa não interpretar as "crises" do sistema como o produto de erros de gestão, ou insuficiências de natureza técnica, que bastaria prevenir, ou bastará suprimir, para fazer reentrar a "economia" nos bons caminhos do equilíbrio (tal é a visão liberal do fenómeno), nem como acto agónico, sintoma ou expressão do fim catastrófico do sistema (concepção digamos leninista). È provável que ganhemos em claridade se explorarmos interpretativamente a "crise" actual como o propõe Attali (...): processo complexo e violento de regeneração biológica, de "desordem criadora" (na acepção destes termos em termodinâmica), graças ao qual o sistema faz pele nova, líquida, na instabilidade, os pesos mortos do seu passado e rompe caminho à implementação de condições apropriadas - sociais, económicas, politicas - a uma lógica renovada de reprodução ...»

- João Martins Pereira (O Militantismo e os Movimentos Colectivos): «...Como lançar uma ponte sólida entre o saber muito localizado mas muito profundo (...) do militante popular e o saber globalizante mas "estranho" do militante politico?...»

- José António Salvador (No tempo em que os soldados falavam a liberdade dormia nas casernas): «Que se passa hoje entre os muros dos quartéis das forças armadas portuguesas? ...»

- Jorge Almeida Fernandes (Duas ou três coisas que eu sei do "República") [Notas sobre os acontecimentos no jornal "República"]

- José António Salvador (Anos de 1970)

- Adelino Gomes (RCP em auto-gestão ...) [reflexão sobre o Rádio Clube Português]

- Nuno Teixeira Neves (Aqui não se matam cobras): «... Se os democratas portugueses só tivessem indignação para opor aos reaccionários não mereciam vencer. A indignação tende a tirar realidade aos adversários, porque é a ditadura do Valor sobre o Real. Ora a primeira regra para vencer um adversário é aceitá-lo no espaço e tempo de uma batalha. A segunda é separá-lo da sua serpente, fazendo que ela venha para nós, de aliada. Mas um grande número de pseudolutadores fazem o contrário: deixam ao adversário a serpente dele e ainda lhe atiram, por projecção, a sua própria ...»

- Teresa Joaquim e Fernando Belo (Roland Barthes) [Na morte de Barthes]:

«... Estar com quem se ama e pensar noutra coisa: é assim que tenho os melhores pensamentos, é assim que invento melhor o que é necessário ao meu trabalho. O mesmo se passa com o texto: ele produz em mim o melhor prazer quando consegue fazer-se ouvir indirectamente; quando ao lê-lo, sou levado a levantar muitas vezes a cabeça, a ouvir outra coisa. Não fico necessariamente cativado pelo texto de prazer; pode ser um acto ligeiro, complexo, ténue, quase irreflectido: movimento brusco da cabeça, como o de um pássaro que não ouve o que nós escutamos, que escuta o que nós não ouvimos ...» [R. B., in, O Prazer do Texto]

- António Sena (A Arte Photográphica) [Texto sobre a Revista "A Arte Photographica", primeiro periódico na Península Ibérica no domínio da fotografia. Anos de 1884/1885, Porto, Photographia Moderna]

- Maria Carlos Radick (Nos nomes das ruas e dos heróis Nas estatuas, as escolas e nos mitos)

- Carlos H. Silva (A propósito do "Hitler" de Syberberg): «... o esteticismo romântico de muitas cenas, inegavelmente de extraordinária beleza, não chega a produzir a impressão singular dado a multiplicidade de acrescentos, ou então, a monotonia do próprio texto utilizado. E assim, Hitler vai-se esbatendo no próprio texto e o medo de tratar deste tema transforma-se em Syberberg no prazer de continuar dizendo ...»

- Augusto Abelaira (O Burujandu) [Fragmentos do romance "O Triunfo da Morte"]

terça-feira, 22 de julho de 2003

CHAVELA VARGAS


CHAVELA VARGAS

4ª feira - People & Arts. A não perder!

EUGÉNIO DE ANDRADE

Sei onde o trigo ilumina a boca.
Invoco esta razão para me cobrir
Com o mais frágil manto do mar.

O sono é assim, permite ao corpo
Este abandono, ser no meio da terra
Essa alegria só prometida à água.

Digo que estive aqui, e vou agora
A caminho doutro sol mais branco.


20.2.79

[Eugénio de Andrade, in Loreto nº4, 1979]

VOX POPULI



* Faz-se saber ao publico que José Manuel Fernandes prepara copioso ensaio, com prefácio desse exegeta blairiano Pedro Lombas, intitulado: "BBC não foi económica com a verdade ou as 3 Fontes". Á venda na Typ. Liberal.

* Avisam da Catedral da Luz que está em curso a subscrição a favor da compra do undécimo jogador para os necessitados de Alvalade. Basta de miséria!

* Top Posts - Foi o máximo o Top Posts do Valete Frates. 6 Posts 6 estimulantes. Como cortesia aqui deixamos pistas para próximas novidades: "Onde canta o bloguista, gagueja o jornalista"; "Força! Força companheiro Bush"; "Pedimos desculpa por este post, o blog sai dentro de momentos"; "Blair & Campbell com batatinhas fritas"

* Mata-Mouros pretende conhecer inconformistas liberais para troca de impressões sobre fadas, génios e encantamentos. Traz camionetas do país profundo.

segunda-feira, 21 de julho de 2003

DA PROVÍNCIA



Esta gente parece ter alma
Porque a música está a tocar


[José Gomes Ferreira, Cabaret, 1933]

sábado, 19 de julho de 2003

SEMINARE SEMEN



Como está admirável a blogosfera. Como são tão delicadamente militantes e de muita estimação, os nossos bloguistas. Não se trocam contra reclamações. Hoje rumei por todos eles. Cá no burgo e na estranja. Fomos bem aventurados. Ficámos com um rasto luminoso na alma. Fomos felizes.
Não nos apetece dizer o que quer que seja. Hoje ficámos com a "emoção presa na garganta". Presumimos, depois, que a hora era de companhia. Fomos cavalheiros.

Diremos sobre a blogosfera, tendo em conta o que o Aviz e o Abrupto incomodamente referiram, o que noutro contexto Herberto Helder escreveu:

"Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam
de um lado para o outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos
como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído.
E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque
são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom. E então a gente ama as mitologias
delas. À parte isso o lugar era execrável.
"

[Herberto Helder, in Revista Via Latina, Coimbra 1991]

sexta-feira, 18 de julho de 2003

ARRUMAÇÕES E JORNAIS - GAZETA DO MÊS

Começamos a limpeza e resguardo dos periódicos. Por mero acaso, a coluna de hoje de JPP no Público é um registo elucidativo de alguma apetência que alguns têm por guardar jornais e revistas. Dantes era usual recortar as noticias que se queria e cola-las em folhas de papel, que depois de encadernava modestamente. Tenho alguns volumes curiosos, desde as eleições de Norton de Matos, Arlindo Vicente, Humberto Delgado, vários Primeiro de Janeiro, Diário de Lisboa e um sem fim de jornais, que comprámos em bom tempo.

No cimo do monte, salta-nos a Gazeta do Mês, de Lisboa. Só possuímos 3 números. O primeiro data de Maio de 1980 e o 3º e suponho último, de Julho do mesmo ano. O director era o João Martins Pereira, chefe da redacção Jorge Almeida Fernandes. Alguns colaboradores do 1º número: Adelino Gomes, António Lima (gráfico), António Sena, Augusto Abelaira, Eduarda Dionísio, Fátima Bonifácio, Fernando Belo, Helder Moura Pereira, João Miguel Fernandes Jorge, João Santos, Joaquim Manuel Magalhães, José António Salvador, Leonor Pinhão, Mário Botas, Pedro Saraiva, Rodrigues da Silva, Rui Oliveira, Teresa Ferrand, Teresa Joaquim, Vasco. A propriedade era de José Manuel Cortês. Custava 60$00.

Nº1 : Capa: SOS Estarreja. Primeiro Caderno e Revista.

No 1º Caderno, na critica de Livros, temos: "Ligeiras coisas:objectos principais" de A. Franco Alexandre, por Helder Moura Pereira; Joaquim Manuel Magalhães escreve sobre Augustina Bessa Luís e o livro Conversações com Dmitri e outras Fantasias; Jorge Roza de Oliveira sobre Ruy Belo (Despeço-me da terra da alegria) e, curiosamente, João Miguel Fernandes Jorge, num bonito texto, fala-nos sobre Ruy Cinatti, Lembranças de S. Tomé e Príncipe, 1972.

" ... Ruy Cinatti neste seu goso pelas terras do português não nos dá um movimento, dá-nos uma direcção: S. Tomé e Príncipe é uma direcção que não pertence a ninguém, mas é de todos; é um pouco como nos contasse o ritmo próprio do português no mundo ...

«É preciso viver entre os vivos». A frase do começo deste pequeno guia a um livro de Ruy Cinatti destrói-se com esta pratica de Montaigne. Contradizer a aventura seria contradizer a vida. Vida e aventura são estes falares das ilhas atlânticas ...

Inauguro a ilha. Vivo-a inteiro
sem receio de me estar sonhando
navegador heróico de outras eras.
Os frutos que me oferecem desalteram.
Sinto-me capaz de endoidecer
Mas de alegria só, mas deslumbrado
............... "

[continua]

BARROSO E A ECONOMIA POLÍTICA


A prestação do PM na TV foi um enorme bocejo. Já se esperava ouvir tão melodiosa discursata, alias inserida numa «petição de princípios» (que corresponde a falta de argumentação, no dizer de Perelman) por um Portugal a recuperar da tanga em que foi metido, a caminho de novo oásis paradigmático. Para época de veraneio até não foi mal pensado. Ainda olhámos de soslaio para o faccis do nosso PM quando chamado a dar explicação para a aparente contradição entre a vacina da empresarialização contra o monstro insano referido por Cavaco Silva e a desbunda da gestão da Amadora-Sintra. Ou mesmo quando foi chamado à pedra para analisar a consolidação orçamental, ou o celebre PEC e a evasão fiscal. Atento, o nosso PM não foi na cantilena Juditiana. Afinal não estávamos na fase de open mindedness. Não havia riscos a correr. Barroso não é definitivamente uma open-minded person (H. W. Johnstone, Jr.). Eis o estilhaçar da teoria da argumentação, em todo o seu esplendor. Talvez José Bragança de Miranda nos possa elucidar sobre esta costumeira pragmática do discurso televisivo do poder. Por mim, essa personagem conceptual do governante em conversas ao país é mera ficção retórica.

Mas o que é preocupante são as afirmações sobre a performance económica do governo. Compreendemos que governar, hoje em Portugal, seja "alta competição", como refere o PM, mas que sobre a economia e os economistas nos atire com lapalissadas, é constrangedor. Se o PM se refugia numa exercício escolástico baseado em que "a economia não é uma ciência exacta" ou que "não há nenhum economista que possa prever" o que pode acontecer, então não se pode entender a sua convicção na prestação da politica económica e orçamental, nem se pode defender o cunho fundamentalista da senhora ministra das Finanças em torno da problemática do deficit. E muito menos se pode falar no putativo modelo económico escolhido, porque não se sabe muito bem o que isso representa. Não era esperado que o PM esgrimisse ideias em torno da controvérsia neoclássica versus pós-keynesianos. Nem que explicasse as diferenças substantivas entre o grupo constituído por Miguel Cadilhe, Silva Lopes ou Cavaco Silva, e o outro onde fazem parte Miguel Beleza, o inefável Tavares Moreira e Ferreira Leite. Não era obrigado a tal. Mas apenas que tivesse em conta que em "alta competição governativa" não ter em conta os dados estatísticos, manipulando-os conforme as estratégias, se pode pagar caro a ousadia. É que, quem se mete com a economia ... leva!

quinta-feira, 17 de julho de 2003

AY! HAVANA ME MATA!



Uma delícia o daiquiri com Compay Segundo sugerido pelo O Cozinheiro. Eu acredito que só pode ter sido um barman (Ribalagua) do El Floridita e não um engenhocas americano, a inventar o daiquiri. No Floridita ou na Bodeguita del Medio, a mesma perdição.

Lá dizia Hemingway: "My daiquiri in the Floridita and my mojito in the Bodeguita".

quarta-feira, 16 de julho de 2003

RAUL LINO (1879-1974)



Exposição "Raul Lino, Cem anos Depois" no Museu Machado de Castro em Coimbra. Até 14 de Setembro.

O CEDRO DE GUERNICA [sobre a Guerra Civil Espanhola]



No fragor da batalha
- que era como um troar de tempestade -
a árvore da metralhadora.
..............................
Todo o Euzcádi chorou
no cedro assassinado a morta liberdade.
..............................
Mas que importa perder o cedro de Guernica,
por momentos não ter ao sol o seu lugar,
Se a luta que travais, gentes de Euzcadi, implica
Que cada «pueblo» tenha um cedro de Guernica
Para não mais tombar?!


Novembro de 1938

[Álvaro Feijó - in, A Guerra Civil de Espanha na Poesia Portuguesa. Antologia por Joaquim Namorado, Centelha, Coimbra, 1987, pag. 41]

BREVES


*O Governo acaba de mudar, pela quarta vez em menos de dois anos, a sua orientação quanto à construção de um novo aeroporto internacional na Ota. Convenhamos que já é demais para não ser demasiado rude e acrescentar que já passámos da fase da trapalhada à da palhaçada (Nicolau Santos, EXPRESSO)

* [Nicolau Santos e o melhor Governo desde 1986 - Expresso]

PRIMEIRO-MINISTRO: Aníbal Cavaco Silva.
MINISTRO DAS FINANÇAS: Miguel Cadilhe
MINISTRO DA JUSTIÇA: António Costa
MINISTRO DA INDÚSTRIA - Mira Amaral
MINISTRO DA SAÚDE - Correia de Campos
MINISTRO DA EDUCAÇÃO - David Justino
MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - Jaime Gama
MINISTRO DAS OBRAS PÚBLICAS - João Cravinho
MINISTRO DA AGRICULTURA – Nenhum
MINISTRO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA - Dias Loureiro
MINISTRO DA DEFESA - Fernando Nogueira
MINISTRO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA - Mariano Gago
MINISTRO DA CULTURA - Manuel Maria Carrilho

* Artigo de Vital Moreira no Publico, com exigência de uma simples explicação, a saber: porque razão os bestiais belicistas portugueses, travestidos de jornalistas e/ou pensadores liberais, estão calados nesta patranha que foi a Guerra do Iraque? Um bloguista que por mero escapismo é jornalista avança com a sugestão de o mesmo Vital Moreira pedir desculpas sobre as suas (do Vital) mentiras. Extraordinário, este putativo jornalista. Aprendeu depressa as metodologias da administração neoconservadora americana. Temos homem!

terça-feira, 15 de julho de 2003

HASTA SIEMPRE!



HASTA SIEMPRE!

MEMÓRIAS DE UM EX-MORFINÓMANO


[Lá se catalogou o Reporter X, o X, o Espião. Ficou-se com uma extraordinária impressão de Reinaldo Ferreira, o Repórter X. Fomos buscar à livralhada o seu famoso (e já difícil de encontrar) livro "Memórias de um Ex-Morfinómano". O prefácio, ao livro, por Artur Portela é elucidativo. Não resistimos a transcrever um pequeno extracto. Como são belas as tardes de Julho!]

Memórias de um Ex-Morfinómano [Reinaldo Ferreira]

"Reinaldo Ferreira foi o maior repórter da Imprensa portuguesa. Morto, continua a sê-lo, através de uma obra extraordinária, fulgurante, caudalosa, que é impossível avaliar (...)
Estou ainda a vê-lo, de olhos cinzentos, fosforescentes, o cabelo loiro, como se fossem as chamas do incêndio da sua alta vocação jornalística; dinâmico, nervoso, fustigante, multiplicando os gestos, as palavras, as ideias, sempre com uma caneta na mão, que não passeava lentamente no papel, mas galopava vertiginosamente, desentranhando-se em milhares de artigos, sensacionais reportagens, crónicas de viagem, novelas de mistério, romances empolgantes, peças de teatro, numa palavras, toute la lyre que ele percutia, sem esforço, como que ébrio ou magnetizado pela mais assombrosa vocação que tenho visto no Jornalismo!

Falta ainda, para o retrato ser flagrante, medir-lhe a estatura física, que não era muito alta, como que condensada na força do salto; desenhar-lhe a fronte enorme, enobrecida de claridade interior; dizer que os cabelos fulvos, chamejantes, pareciam desgrenhados pelo vento das mais arrojadas aventuras e que nos lábios, cremados pelo fumo, ardia sempre um cigarro, quase nunca tirava da boca carregada de cinza - essa mesma cinza de um talento de oiro, irresistível, frenético, electrizante, que ele espalhou sobre o Mundo nas mais extraordinárias e audaciosas performances. (...)
O jornalismo era nele, fisicamente, uma vocação instintiva. (...) Por instinto, decerto -
Reinaldo Ferreira não tinha tempo para ler, tanto escrevia! -, ele introduziu em Portugal a maneira característica do jornalismo americano - incisivo, inconfidente, mesmo escandalosa, densa na sua verdade, em que as imagens, como no cinema, dominam as palavras, fotografando o que se passava e o que se não disse, o que se sabe e o que se esconde, numa reconstituição visual em que tanto as personagens como os pormenores empolgam, visceralmente desnudados. (...)
A certa altura, porém,
Reinaldo Ferreira encontra um formidável adversário. Um gigante enorme, duro, terrível, tolhe-lhe o passo: é o Repórter X.

Mas, quem é o Repórter X? (...) É ele próprio, Reinaldo Ferreira, pseudónimo criado por um lapso tipográfico no final de um seu artigo no jornal A Tarde, e que será até ao fim de tão febril e convulsiva existência - o seu inimigo nº1. O pseudónimo individualiza-se, humaniza-se e destrói Reinaldo. O ser que engendrou entra em circulação. É um nome civil. Uma autêntica personalidade (...) É a sua sombra, que nunca o deixará de perseguir na existência, até aos últimos passos, até á morte! (...)
[Reinaldo Ferreira] desapareceu por completo. À sua mesa de trabalho, com os mesmos traços, o mesmo cigarro em brasa, que não tira das comissuras dos lábios, a grenha a empalidecer com os primeiros fios brancos dos anos - senta-se esse horrível monstro, o repórter X, que o fita, irónico, desabusado, de mãos enluvadas de negro, mascarilha vermelha, sangrenta, irónica, cruel, insaciável, (...) É ele que quem visita as lôbregas prisões, (...), que penetra nos esgotos das tentaculares cidades, (...), que devassa os cárceres dos loucos (...), que se embriaga com os paraísos azuis da morfina e de outros alcalóides, como Aldous Huxley, nas Portas da Percepção, para nos descrever todas as sua bizarrias, todos as suas abomináveis, todas as suas oníricas fantasmagorias. (...)

[Artur Portela, in, Nota Prefacial (pag. 9- 21) às Memorias de um Ex-Morfinómano de Reinaldo Ferreira, Lisboa, 1956]

IN MEMORIAM HENRIQUE BARRILARO RUAS



"Se a terra falasse, havia de contar, por entre abundantes lástimas, muitos sinais do amor dos homens por ela... Terra humanizada é sempre mais que terra trabalhada. Se o homem só a quisesse como nascente de ouro, talvez já ela se tivesse extinguido. Mas, se a terra dá o pão à gente, também nós lhe damos pão. E o pão mais rico que lhe damos não é tanto a semente que a fecunda; é a alma que lhe confiamos."

[Henrique Barrilaro Ruas - in, Cultura Portuguesa nº 2, Janeiro-Fevereiro de 1982]

segunda-feira, 14 de julho de 2003

AINDA ... REINALDO FERREIRA - O REPÓRTER X


Afinal temos, apenas, 115 números do antigo semanário Repórter X. A colecção completa, ao que sei é de 128 números [REPORTER X. SEMANÁRIO DAS GRANDES REPORTAGENS - Director Reynaldo Ferreira (Reporter X) e chefe da redacção, Mário Domingues. Nº 1 (9 de Agosto de 1930) ao Nº 128 (23 de Junho de 1933). Lisboa, 1930-1933]. Ficámos angustiados.

Algumas curiosidades:

- "Existem Templários em Portugal?" [refª ao texto do alemão Paulo Kopper, publicado no Instituto Histórico de Leipzig, nº 9 de 20/09/1931] - in, Repórter X, Ano II, nº 63

- "Cavaleiro de Oliveira - um admirável e quási ignorado jornalista planfetário do século XVIII" [Trata-se de um artigo sobre Francisco Xavier de Oliveira (Cavaleiro de Oliveira), com referências ao seu panfleto (muito citado por Camilo e, posteriormente por Aquilino Ribeiro) "Amusement Periodique", publicado em francês e que apenas 3 exemplares chegaram a Portugal (e um às mãos de Camilo)] - in, Repórter X, Ano II, nº 67

- "Hitler, o homem que mete medo ao mundo" [um texto bem premonitório]] - in, Repórter X, Ano II, nº 72

- "O último instantâneo de Joshua Benoliel" - in, Repórter X, Ano II, nº 80

- "O que se passa entre os hebreus e os «Marranos» do Norte?" [refª à revista mensal Há-Lapid, órgão da comunidade isrealita do Porto] - in, Repórter X, Ano II, nº 96

- "Os mistérios da Revolução de 5 de Outubro" - in, Repórter X, Ano III, nº 100

- "Trotski o antigo comissário de guerra russo ... esteve alguma vez em Portugal? " - in, Repórter X, Ano III, nº 105 e 106

- "Finanças Literárias. Os rendimentos dos escritores, nacionais e estrangeiros ... " - in, Repórter X, Ano III, nº 106

- "António Ferro, Salazar. António Ferro, a sua entrevista e o seu entrevistado" - [texto de Reinaldo Ferreira] - in, Repórter X, Ano III, nº 112

domingo, 13 de julho de 2003

CORRESPONDÊNCIA AO MAR



Correspondência ao Mar

Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar

.............

Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que teve em mim
Que onde ele acaba, o coração começa
.............

[Vitorino Nemésio, in O Bicho Harmonioso]

sábado, 12 de julho de 2003

SOCIEDADE DOS AMIGOS DA DEMOCRACIA PORTUGUESA

Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa

[Do Jornal Republica, 23 de Outubro de 1945 (?), citado pelo Jornal Vitória (25/02/1946)]

"No Rio de Janeiro constitui-se a Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa

O movimento de defesa de unidade democrática, excedeu quanto se tivesse imaginado. Não só em todo o continente, mas através o mundo os portugueses procuram estabelecer a máxima união em defesa da democracia.

A comprovar isto, diremos que no Rio de Janeiro acaba de constitui-se a Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa, com o fim de promover o desenvolvimento das relações entre os democratas portugueses e brasileiros e dar apoio a todas as iniciativas realizadas em Portugal no sentido da conquista das liberdades democráticas, as quais, no entender da sociedade, constituem a melhor garantia da futura cooperação entre os países irmãos.

Eis algumas das individualidades que deram já a sua adesão àquela sociedade:
Gilberto Freire, Manuel Bandeira, Caio Prado Jr., Graciliano Ramos, João Mangabeira, Hermes Lima, Carlos Drumond de Andrade, Hedgar de Castro Rebelo, Abel Chermont, Vinicius de Morais, José Lins do Rego, Sérgio Buarque da Holanda, Jorge Amado, Aparício Torely, Osvaldo de Andrade, ..., Astrugildo Pereira, ..., Ruben Braga, Carlos Lacerda, Joracy Camargo, Paulo Mota Lima, ..., Oscar Niemeyer, ..., Valdemar Cavalcanti, Maria Werneck, ..., Dias da Costa, Raimundo Sousa Dantas, ..., Gastão Cruz, Raul Lins e Slva, ..., Melo Lima, …

As listas de adsão a esta sociedade encontram-se na Livraria José Olímpio, do Rio de Janeiro, e na Associação Brasileira da Imprensa"

VOX POPULI


* Causou impacto nos meios jornalísticos, em especial no NYT e na BBC, o último editorial do mestre José Manuel Fernandes. Consta que vários directores de jornais pediram a demissão; um conhecido presidente americano engasgou-se no Texas com meio copo de JD; um grupo de senhoras pretende patrocinar a Liga dos Amigos do Fernandes; a União dos Blogs Livres aceita, depois de intensas conversações com Pedro Mexia, convidar JMF para presidente honorário; um fadista de renome dedicou-lhe uma canção vadia; um activista de esquerda sucumbiu ao ler o Livro de Estilo, patrocinado pelo mestre; Vasco Graça Moura fez um poema de circunstância; e o Meu Pipi ficou preocupado com a argumentação sobre as 3 fontes, presentes no editorial citado. A redacção do Almocreve das Petas pediu a exoneração do seu director.

* Reapareceu de caqui e chapéu novo colonialista, o senhor Presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, na recepção ao Presidente do Brasil. Foi um assombro em S. Bento a elegância de estilo e maviosidade desvelada. Lula da Silva manteve-se hirto e firme. O deputado Telmo Correia compôs o nó da gravata, enquanto Guilherme Silva arregimentou as hostes. Mário Soares não foi ao Tavares!

* Tony Blair jurou pela centésima decima vez que "vão aparecer provas concretas de armas de destruição maciças" no Iraque. José Manuel Fernandes prepara editorial para esse momento solene. Foram pedidas várias garrafas de Don Perignon. Nós por cá abrimos uma Maria Gomes.

* Manuel Vilarinho não fica no Benfica. A redacção do Almocreve embriagou-se, perdidamente. Foi uma correria às garrafas da Quinta do Vale Meão. Sempre assumimos que pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual.

* Cansado de oásis, Alvalades e Quintas do Lago anda o edil de Lisboa, Pedro Santana Lopes. Agora pretende dedicar-se à feitura de túneis. O vício nunca esquece. A nós também não.

* Pedrito de Portugal levou uma estocada no valor de 100.000 Euros. Na Moita é assim. Sejam prudentes, pois.

sexta-feira, 11 de julho de 2003

BOLETIM Nº19 DE J. A. TELLES DA SYLVA

Chegou o Boletim nº 19 da Livraria Telles da Sylva, superiormente dirigida por Margarida Maria Pacheco de Noronha Soares Franco.

Estes boletins são sempre uma fonte de ensinamento, uma aprendizagem com muito gozo. É soberba a descrição biográfica dos autores, bem como as referencias sobre o livro à venda. Por exemplo, no numero 1359, "José da Silva Carvalho /e/ o seu tempo/ ... / " é-nos dito:

"José da Silva Carvalho nasceu em 1782 vindo a morrer em 1856. Magistrado no Porto fundou o Sinédrio que deu origem à Revolução de 1820. Esteve emigrado em Inglaterra durante o reinado de D. Miguel I, vindo posteriormente a ser ministro de D. Maria II, tendo negociado os empréstimos externos. A obra que apresentamos é composta por 2 volumes e um suplemento e trata da correspondência desta figura política de relevo com as diferentes estâncias oficiais da época, comentadas por António Viana. Exemplar com as capas de brochura um pouco deterioradas, com falhas de papel e por abrir."

Como o Boletim está disponível on line, deixo ao leitor e amante do livro a curiosidade da descoberta. Boas compras!

IMAGEM - REVISTA DE CINEMA DOS ANOS 30 (II)


No nº 2 (24 de Maio de 1930) um texto não assinado, com o título «Os estetas do cinema»

"... [o cinema] não é uma arte para raros apenas, destinada a satisfazer a ânsia bizarra, tola, falsa de meia dúzia de estetas com aberrações visuais.
Não a entendem assim certos pequenos decadentes e tristes. O cinema, para esses mancebos, não passa duma colecção de imagens bêbadas. Não lhes agrada ver uma paisagem de casas, como toda a gente vê, com os telhados voltados para o céu. Babam-se de goso quando as coisas e as figuras aparecem na tela branca viradas do avesso. Deliram com os ângulos esquisitos! O ângulo! Como eles enchem a boca com essa palavra saborosa! Rebolam-se quando aparece no écran o mesmo objecto fotografado 10 vezes de sítios diferentes: da ponta do nariz, do lado da frente, da parte de trás, de cima da mesinha da cabeceira, etc. São os estetas, em suma, os encharcados da literatura até ao esqueleto, os seres mais complicados e inúteis da criação. Esses desgraçados não compreendem as coisas simples, tranquilas e humanas
. (...) "

No nº 10 (12 de Setembro de 1930) um texto sobre as aventuras de Arthur Lak, artista jovem de Holywood, na sua iniciação na praia de Santa Mónica e Palm-Beach. Trata-se da via iniciática, a prova de fogo, que os neófitos artistas teriam de passar nesses lugares de veraneio. Desde os flirts (consta que o A. L. atacou 10 putativas candidatas) com variadas estrelas bem na moda, até a um conjunto bem sensaborão de brincadeiras ou praxes de duvidoso gosto. No fim, parece que entregaram ao jovem candidato ao estrelato Arthur Lak pequenos textos literários, conselhos a seguir, prosas curiosas que a revista Imagem transcreve. Eis algumas pérolas citadas, com especial dedicatória a alguns bloguistas e, em especial, aqueles que confessam não levar à pratica a máxima: "A mulher é de quem a trabalha".

"O flirt é um invento de praia, amor epidérmico, leve; duas palavras trocadas, quando se está em maillot. Um amor que não deixa rasto, tal como uma onda, quando rebenta na praia. Na praia de Santa Mónica tudo é assim superficial. Profundo, só é o mar. (...) O flirt é uma bola com que os banhistas jogam, quando estão mergulhados até à cinta. Uma bola com vinte cores. (...) uma bola de sabão, que o vento desfaz; um rebuçado que sabe bem, que é delicioso, mas que passado meia hora, já nos esquecemos do gosto." [Robert Montgomery]

"Se eu escrevesse um livro, havia de intitular-se O Elogio do Maillot. Esse livro seria, ao mesmo tempo, o elogio da América. (...) Paris ensina a vestir. A América ensina a despir. Enquanto a Europa continua agarrada à literatura dos trapos, que inventam corpos divinos à mulheres, nós limitamo-nos a gritar ao mundo: vai-te despir! (...)" [Frances Dee]

"Este ano surpreendi um grupo de «estrelas» ao sol, completamente despidas, num canto discreto da praia de Santa Mónica. Era um grupo de vedetas célebres, adeptas do nudismo. (...) Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido co esta visão da velha Grécia. Só a antiga imagem clássica das deusas ao sol, acabadas de sair da espuma, pode descrever a beleza daquele grupo. Fiquei ali horas, a contemplá-las e a filosofar! (...) os corpos das mulheres nuas já nem parecem nus. São maillots cor de rosa, através dos quais a alma espreita." [Frank Albertson]

" ... O paraizo devia ter existido ao pé do mar, numa praia larga com algumas rochas e uma ondas pouco violentas. Foi ali, concerteza, que os nossos primeiros pais viveram, completamente nus e felizes. Isso explica a atracção atávica que ainda hoje sentimos pelo mar, e o desejo que nos assalta de atirar para longe os fatos, quando nos deitamos na areia. (...) O maillot! Deixem-me fazer uma confidência. O maillot despe mais a mulher. Se Eva tivesse aparecido a Adão, vestida de banho, ele não só teria comido a maçã, mas toda a macieira! (...) [Charles Roggers]

[Conselhos de Gary Cooper] " Quando estiveres no estúdio, a filmar, sê o mais natural possível. Mas quando fores para a praia, não hesites: representa."

quinta-feira, 10 de julho de 2003

IMAGEM - REVISTA DE CINEMA DOS ANOS 30

Nas arrumações costumeiras, reunimos a revista IMAGEM, dirigida por Chianca de Garcia e com José Gomes Ferreira como redactor principal. Estamos a 10 de Maio de 1930, quando saiu o número 1, 24 páginas que custavam 1$50 (lembram-se?). O editor era Francisco Bertrand e o administrador João Sá. Na capa, com dedicatória especial à revista, a vedeta alemã Lilian Harvey. Do número de estreia, saliente-se o editorial «Sempre Cinema», onde se debate a questão do cinema mudo versus cinema sonoro

« ... surgiu para o cinema uma nova possibilidade. A imagem juntou-se ao som. E um novo sentido, num mundo que parecia imutável, surgiu, modificando toda a técnica de expressão de que o cinema se servira até hoje. (...) Quer isto dizer que o som veio completar o cinema - ou que o cinema mudo era uma Arte incompleta? Devemos confessar que não. A Lina geral, de Eisenstein, é, através de tudo, uma obra definitiva. (...) O sonoro terá um grande lugar, como tem na literatura o romance e a novela. Mas o mundo persistirá também, pela mesma razão que em todos os países os poetas continuam a sonhar».

Escrevem ainda, António Lopes Ribeiro (Crónica), José Gomes Ferreira (Os que não passam de figurantes. Reportagem sentimental), Cottinelli Telmo ( Os antepassados do sonoro), Rui Casanova (O que cortam os censores em Portugal).

[A continuar a visitação às revistas de antanho]

INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM (EUA)


Saiu uma amostra pequena (no Público de dia 7 de Julho, último) dos livros banidos dos manuais e do receituário escolar pelas «school boards» americanas. Os neoconservadores ianques, agora com a roupagem do politicamente correcto, não param de nos surpreender. Ou talvez não. Deles já se espera tudo. Eis algumas obras do Index, capaz de fazer corar de inveja o nosso Sousa Lara:

- Huckleberry Finn, Mark Twain
- Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley
- Uma Agulha no Palheiro, J. D. Salinger
- Adeus às Armas, Ernest Hemingway
- Diário, Anne Frank
- As Vinhas da Ira, Steinbeck
- Fahrenheit 451, Ray Bradbury
- Harry Potter, J. K. Rowling

BOLETIM BIBLIOGRAFICO Nº15 DE LUÍS BURNAY


Acaba de sair o Boletim Bibliográfico do Livreiro-Antiquário Luís Burnay, totalmente dedicado à bibliografia. Há muito que não tínhamos acesso a um conjunto tão expressivo de livros (684 exemplares) sobre a temática bibliográfica. Tudo é excelente para consulta bibliográfica e desde logo para bibliófilos. Refira-se:

- Bibliotheca Lusitana, de Diogo Barbosa Machado, 4 vols; Dicionário Bibliográfico Português de Inocêncio F. Silva e Brito Aranha, 25 vols; Livros Antigos Portuguezes1489-1600 da Biblioteca ... El-Rei D. Manuel, 3 vols; Catálogo da notável ... livraria ... do ilustre bibliófilo conimbricense Conde do Ameal [Josão Correia de Campos], 1924; Catálogo da ... livraria ... escritores e bibliófilos Condes de Azevedo e Samodães, 2 vols, 1921/22; Catalogo da Livraria Duarte de Sousa, 2 vols, 1972-1974; Manual Bibliographico Portuguez de Livros Raros,..., por Ricardo Pinto de Matos e prefácio de Camilo, 1878.

- Inúmeros catálogos de bibliotecas e livrarias particulares, que foram colocados em leilão, entre os quais a de Ávila Perez, do etnólogo Francisco Lage, do crítico de arte Alfredo Pinto Sacavém, do jornalista Geraldo Soares, do bibliófilo portuense Arnaldo Coimbra da Silva, da biblioteca de Rebelo da Silva, do Dr. Américo Teixeira, Dr. Jorge Peixoto, do escritor Fran Paxeco, do engenheiro agrónomo António Romão Passos, da importante biblioteca do Dr. António Simões Baião, do Eng. Pedro Joyce Diniz, da biblioteca do Conde de Ficalho, da biblioteca preciosa do industrial José Rodrigues Simões, do Prof. Cânones Francisco Gomos, do Visconde de Juromenha, de Francisco Gomes de Amorim, do cónego F. da S. Mattos (Porto), do Barão de Vila Nova de Fozcoa, da biblioteca do romancista Arnaldo Gama, da biblioteca e Arthur de Sandão, de Antonio da Silva Tullio, de Henrique Botelho, do Visconde de Ouguella, da livraria de José Maria Nepomuceno, do bibliófilo Dr. Luiz Monteverde da Cunha Lobo de Viana de Castelo [nós por cá temos um ternura muito especial por catálogos de livrarias e bibliotecas particulares. Pode consultar o site Bibliomanias para mais registos]

- um conjunto de livros importantes e curiosos, como a Bibliografia das Bibliografias Portuguezas, de António Anselmo, 1923; o Arquivo de Bibliografia Portuguesa, sob direcção de Manuel Lopes e Almeida, 56 números, 1955 ? 1968; a Bibliografia Geral Poruguesa sec. XV ? XVI, 1941-1983; o Bibliófilo Aprendiz de Rubens Borba de Morais, S. Paulo, 2ª ed. 1975; Bibliografia sobre a Economia Portuguesa, coordenada por Amaro Guerreiro, 1958 -1967, 13 vols; vários exemplares da Livraria Lusitana e catálogos dos irmãos Santos; A Bíblia do Bibliophilos, de Xavier da Cunha, 1911; a Arte do Livro - Manual do Dourador e Decorador de Livros, por Maria Barjona de Freitas, 1941; os Jornais e Revistas de Coimbra, 1931; Bibliografia Coimbrã de Pinto Loureiro, 1964; e muitos muitos mais.

quarta-feira, 9 de julho de 2003

IN MEMORIAM AUGUSTO ABELAIRA


AUGUSTO ABELAIRAIn Memoriam

Não podia deixar passar: gostava da escrita de Augusto Abelaira. “Bolor” e “Sem Tecto entre Ruínas”, com certeza. Mas, também, as crónicas do Jornal das Letras ou no Jornal. O romancista era demasiado humano para ser de companhia. Mas quem o conheceu sabe que entre a timidez e os infortúnios vários, existia um homem livre. Talvez por isso fosse pouco compreendido. Pouco lido. Nós dizemos – obrigado Abelaira.

NUM BAIRRO MODERNO - CESÁRIO VERDE


E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, aos bocados,
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injectados

As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos d'uvas - os rosários d'olhos

Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que me lembrou um ventre.

E, como feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vivida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras

[in, O Livro de Cesário Verde, Editorial Ática, Lisboa, 1945]

BOAS


De regresso, fico estupefacto com tantas novidades em tão poucos dias. Isto na blogosfera. Porque o país e o mundo estão na mesmíssima posição (perigosos à maneira de Pulido Valente).

- Direi que o fecho do Blogo não é aceitável. E como tal, proponho uma manif bloguista contra a decisão do(s) mentor(es) desse importante espaço que agora desaparece. Não há substituição possível. Volte ao work, já!

- Fiquei comovido pelo bestial figurino do amante de Berlin, o nosso caro MacGuffin. Rodeado de livralhada, a mão docemente segurando o peso da teoria liberal, o Carlos deu a cara no Contra a Corrente. Fez bem. Cada um dá o que pode. Só lamento que em vez de referir o ar “de puto” que supostamente tem, não termine o MacGuffin com a velha máxima de Baudelaire, “A verdade enfática do gesto nas grandes circunstâncias da vida”. Dava uma atmosfera mais erudita.

- Lemos com o recato possível, sem ousar corar por uma única vez, a crónica da Charlotte em estylo maviosamente Carlos Castro (como sugere o JPP) sobre a elegante e cuidada reunião da UBL. Post de impressões (in eternum manebit et ultra) é um curioso documento para a história da blogosfera. Ficámos sabedores da inteligência do Lomba (a juventude é um mystério), compreendemos a timidez Mexiana que depois é transposta para a poesis com sucesso, também concordamos que O Intermitente deve ser castigado, enquanto os giros De Direita não por serem giros. Até aqui tudo bem, mas quer no post da piedosa bloguista Charlotte, quer naquele outro do Pedro Mexia, nada nos é dito sobre os pormenores da desbunda gastronómica havida, nem nos é referido as sinopses das comunicações proferidas, pelo que suspeito deve ter ocorrido o que o narrador de Fradique Mendes nos diz: “Nada de ideias! Deixem-me saborear esta bacalhoada, em perfeita inocência de espírito, como no tempo do senhor D. João V, antes da democracia e da crítica».

quarta-feira, 2 de julho de 2003

O ALMOCREVE AUSENTA-SE POR CURTOS DIAS



Eis, mais acima, sob as vossas cabeças e clamores, o momento da partida. Serei nestes dias um mutante de barriga ao sol. Mas voltaremos quando reunirmos a saudade e em antiquíssimo cantar dos frescos campos do Mondego, faremos espaço de reflexão e de dizeres outros, retomando a nossa (e vossa) ventura.

Pretium laborum non vile. Até Segunda!

Vale

JOSE LAMEGO, O VIGILANTE DAS CIMENTEIRAS


Lamego ontem refutava os actos belicistas no Iraque. Hoje a mando da Secil corre alegremente para lá. Lamego quer ser o primeiro. Eis os últimos suspiros de um velho revolucionário a caminho da velhice. Não pode, o camarada Lamego, sacar das medalhas da sua luta contra o Estado Novo, exibindo o curriculum de ter sido barbaramente agredido nas cadeias da Pide se agora num perfeito golpe de rins, vacila no que é mais sagrado no Homem - ter espinha vertical. Lamego, manifestamente, não tem. A mando das Empresas da Construção Civil, o ex-maoista e actual socialista perdeu por fim o pudor. Afinal, a caminho da velhice, o vil metal está primeiro que a honra e a ética.

Começa a ser preocupante o papel que um conjunto de jovens oriundos da extrema-esquerda, versão maoista, começam a ter na política caseira e internacional. E acompanhar o seus percursos é lembrar o tempo, a lembrança. Não bastava o José Manuel Fernandes (travestido de mestre escola liberal), o João Carlos Espada (mais soft porque a vergonha persiste), o próprio José Pacheco Pereira (nas suas análises de política internacional - que na política lusitana desmarca-se quase sempre - embora se lhe reconheça algum fair play e inteligência política e cultural), o Pedro Baptista convertido agora em simples amador de futebol, versão Pinto-costista, o Henrique Monteiro a colunar expressivamente em defesa da nova pátria do tio Bush, o Vilaça agora literato e fazedor de canções, e muitos mais.

Eis pois um trabalho interessante, a fazer pelo nosso Estudos sobre o Comunismo, sobre a chefia e o percurso individual dos principais dirigentes dos vários movimentos à esquerda do PCP, antes e depois de Abril - desde os troskystas Lambertistas ou Pablistas, ou versões mais familiares, toda a tribo maoista que, dos URML, UCPML, UCMLP, OCMLP, PCPml (em todas as suas versões), O Bolchevista, a ORPCml, MRPP, ... - que contribuíram, de facto, para um Portugal melhor mas ao mesmo tempo instalaram a perplexidade nos tempos de hoje. Porque não acredito que o mundo tenha mudado e os intervenientes restassem na mesma posição. Como quer fazer passar o JPP quando diz que (ele, JPP) não mudou nada, mas sim o mundo. Suspeito que é mais, aquilo que diz Herberto Hélder - As palavras não fazem o homem compreender / é preciso fazer-se homem para compreender as palavras.

REVISTA EPICUR

Para os epicuristas, que os há ainda, a boa nova: acaba de sair o nº34 da EPICUR, superiormente dirigida por Mestre Alfredo Saramago. Logo na abertura podemos ver as fotografias do grupo de aprendizes dos puros, agora em terras da Figueira da Foz. Consta que castigaram várias Quintas dos Cozinheiros, o que me preocupa pois estou a ver que vai subir de preço, rapidamente, ali feita perto da Marinha das Ondas. Mas o tema de eleição é o whisky (assim mesmo escrito). A não perder: uma entrevista a João Paulo Martins, um vate do vinho em Portugal e que tem a ousadia de nos dizer que, "aí pelos 17 ou 18 anos" começou a calcorrear as tascas e mercearias velhas de Lisboa, tendo comprado a sua primeira Barca Velha a um extraordinário preço de 200$00, o que dá direito a ser seviciado imediatamente. Depois, um texto que me assustou, de título, " Garrafeira Guterres", o que seria fantástico: o nosso António abandonando os prazeres celestiais, caindo no pecado terreno. Mas, não é isso, podem ficar tranquilos. Trata-se de João Guterres, de Valença, que tem um autêntico "quartel-general" de vinhos e charutos - Aromas de Vinho. Por fim, uma prova de charutos: Juan Lopez (corona gorda) desta feita. Cubano claro. Refira-se uma entrevista a Jaime Gama, um praticante de puros, e as colunas habituais. Boa leitura a todos e em especial ao Fumaças.

FESTA DOS TABULEIROS OU FESTA DO ESPÍRITO SANTO - TOMAR


A serenidade incómoda, nunca explicada, que nos invade em Tomar, ruas a fugir de ruas, esguias, labirínticas, castelo ao fundo, é sentida por todos que lá vão em visita. O saber do corpo e da terra estão presentes num ritual mágico-religioso ao longo do rio Nabão, num enamoramento que o corpo responde com as doçuras das coisas perenes. Ao longo do ano, no solstício sem dúvida. Na Festa dos Tabuleiros também. Os agradecimentos à Divindade o produto das colheitas, em "acções de graça" de uma religiosidade pagã que se perde nos tempos, tem uma das suas expressões ritualistas mais poderosas em Tomar, nas festas em honra do Espírito Santo. Como nos Açores terá e tem. "É esse o nome do povo, o culto popular do Espírito Santo" [Agostinho da Silva].

"Talvez o povo, para que se atinja seu ideal de governo, de economia e de liberdade, saiba de Constituições mais adequadas do que aquelas que, talvez sempre com as melhores das intenções, lhe fabricaram os especialistas; talvez para um Portugal do Espírito Santo ... " [Agostinho da Silva]

Tomar, pois. "A Festa dos Tabuleiros é essencialmente constituída por um CORTEJO de oferendas, neste caso particular o PÃO, fruto da terra e dom de Deus. Quer a tradição que todos, indistintamente, recebam após a festa o seu Quinhão - a PÊSA - de Pâo Abençoado pelo Pároco - PÃO BENTO - e a CARNE, produto das rezes abatidas propositadamente e que, primitivamente, seriam imoladas em sacrifícios. Também, por vezes, se tem feito incluir na «Pêsa» o Quinhão de VINHO" [Programa Oficial das Festas, 1950].

Tomar, Teodomar dos Visigodos, lugar protegido pela Virgem Negra, presente na Igreja de Santa Maria do Olival (ou da Nossa Senhora das Oliveiras), mais tarde, ao que parece [O Ouro dos Templários. Gisors ou Tomar, Bertrand]" anexada por um convento de beneditino de quarenta e quatro frades? [note-se, 44], a lenda de Santa Iria [ou Ireia, vide Amorim Rosa, "Tomar"], a mixagem cultural, antropológica e etnográfica aí presente; o Castelo dos Templários, o Convento de Cristo, a Ermida da Conceição, a Igreja de S. João Baptista, a Sinagoga, todo uma via simbólica, arquitectónica por descobrir. Como em Sintra, Mafra, Batalha ou nos Jerónimos [vide o Jornal V Império, 1991]

Tomar, Ordem do Templo ou Ordem de Cristo. Gualdim Pais, vindo de Bragança, aluno dos Cruzios, símbolo da defesa desse lugares, mas também procurando "os conhecimentos" que o universalismo templário assumia. Dupla face: Esóterico (Igreja de S. João) versus exóterico (Igreja de S. Pedro). Daí a presença importante da comunidade judaica. O Castelo Templário, o ovo alquímico nas ruínas do castelo que nos diz que a Grande Obra se realizou. A Charola, templo dentro do castelo, octogonal, os medalhões da com a Cruz de Cristo nas abóbadas, edifício único da época, lendas sobre os subterrâneos ou câmaras de iniciação debaixo da sala; a Janela Manuelina do Convento de Cristo com traçados geométricos elucidativos, a Ordem da Jarreteira e do Tosão de Ouro aí presente, que nos leva ao claustro da Micha e do Corvo; e de novo surge Hermes de Trimegisto, lá no alto da abobada; o Olho de Boi Manuelino, com a presença (constante na arquitectura templária) de ângulos de 17 e 34 graus. Eis uma linguagem secreta por descobrir. Toda uma cosmogonia para estudar. Toda uma Terra para visitar.

[Há uma extensa bibliografia, em livros, brochuras, revistas sobre Tomar. Julgamos que é prossível começar por consultar o site Bibliomanias, onde pode aceder a um conjunto, imcompleto que o é, mas expressivo sobre a temática em causa]

terça-feira, 1 de julho de 2003

TOMAR



Ainda hoje
As constelações
São em ti esplendor,
Ponto vivo
De energia e de amor.

Quando batem as horas
No bronze alquímico
Os cavaleiros vigiam
No altíssimo segredo
O nosso inteiro destino.

Tomar,
Onde a neblina
Quando se forma,
É uma esfera armilar

[Eduardo Aroso, in Poemas do Arquétipo, 1990]

FESTA DOS TABULEIROS


Não me apetece escrever. A Net está tão bem nutrida que um tipo se perde nela, alegremente, enquanto cai a noute.

Poderia dar um bravo pelo texto do Daniel Oliveira no Público de hoje. Espantoso de força, pertinente nos argumentos. Arrasador. Ficámos, porém, preocupados dado a dama de Matos ser nossa cliente desde sempre. Nunca perdemos uma boa gargalhada com os paroquiais textos da senhora. E, também, suspeitamos que possa andar amancebada intelectualmente com o profeta César das Neves. Que tal um "Breve Tratado da Raiva", ó dupla maravilhosa?

Assim, fica para amanhã referir a FESTA dos TABULEIROS, ou FESTA DO ESPÍRITO SANTO, que acaba no próximo fim de semana. A não perder em Tomar. E, já agora, alumiadas as almas, será sempre útil castigar o corpo com a gastronomia local.