segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006
Olha a Censura!
"O alarme na opinião pública, provocando a desordem nos espíritos, gera a indisciplina e perturba a ordem as ruas. A Imprensa que o provoca abusa do seu direito e esquece o seu mais instante dever".
[Circular de 28/08/1931 da Direcção Geral de Censura à Imprensa, ponto 17º, in Mutiladas e Proibidas, de Cândido de Azevedo, Ed. Caminho, 1997]
"Urge (...) acalmar as paixões que dia a dia se vêm manifestando em certo número de jornais, quer adversos quer não, uns debatendo-se e dispersando opiniões, outros alegando os perigos já conhecidos de carácter político, religioso e social, todos esquecendo o que devem à Nação.
Aos serviços de Censura pertence o encargo de corrigir o ambiente político"
[A. Salvação Barreto (director da D. G. Censura, ibidem]
"A Censura era um preservativo do 'velho regime' (...) Não havia Exame Prévio. Nem presos políticos. Nem suicídios. Nem barracas. Nem cólera. Nem aumentos de preços. Nem abortos. Nem guerra. Nem hippies. Nem greves. Nem droga. Nem gripes. Nem homossexuais. Nem crises. Nem massacres. Nem nudismo. Nem inundações. Nem febre amarela. Nem imperialismo. Nem fome. Nem violações. Nem poluição. Nem descarrilamentos. Nem tifo. Nem Partido Comunista. Nem fraudes. Nem poisos extraconjugais. Nem racismo.
E os governantes (impávidos, serenos, luminosos) não viajavam, não adoeciam, não sofriam acidentes de viação, não comiam, não improvisavam e, quando eram exonerados, faziam-no sempre 'a seu pedido'. Era o país-ficção contra a evidência do país-real"
[César Príncipe (Os Segredos da Censura), ibidem]