terça-feira, 22 de fevereiro de 2005
Na Morte de Cabrera Infante [1929-2005]
Cabrera Infante, escritor cubano morreu, hoje, em Londres onde residia. Polémico, impertinente, amargurado com todos, desde Garcia Marquez, passando por Carpentier ou Nicolas Guillen, até mesmo Saramago, com um obsessão doentia por Fidel Castro, com quem trabalhou e rapidamente esqueceu, após a sua estadia como adido cultural na Bélgica, torna-se a partir de 1965 ferozmente anticastrista, tendo ido viver para Inglaterra. Desde muito novo revela uma paixão assolapada pelo cinema, foi fundador da Cinemateca de Cuba (1951), dirige o jornal literário Lunes de Revolución (acaba em 1961), publica em 1967 a obra com que é mais conhecido, já publicada em Portugal, "Três Tristes Tigres" (Árcadia, 1975), depois de relativo sucesso com "Asi en Paz como en la Guerra" (1960) .
"... O senhor doutor vai-se rir. Não, o senhor doutor não se vai rir. Não se ri nem chora nem diz nada. Limita-se a estar aí sentado a tomar notas. Sabe o que diz o meu marido? Que o senhor doutor é o Édipo e eu sou a Esfinge, só que eu não pergunto nada porque já não me interessam as respostas. Agora só digo. Ouve ou devoro-te, e conto, conto, conto tudo. Até o que não sei conto. Por isso sou a esfinge enfartada de segredos (...)
O senhor doutor é ortodoxo? É or-tó-dó-cso que se diz, não é? Só pergunto porque não vejo nenhum sofá nem poltrona ao pé da parede nem nada do género e sei que não é reflexólogo. Pelo menos não tem olhar de pavloviano. Ah, agora sorri. Não, é a sério, senhor doutor, desta vez vim consultá-lo por minha livre vontade ..."
[G. Cabrera Infante, in Três Tristes Tigres, Árcadia, 1975]
Locais: Guillermo Cabrera Infante / Cabrera Infante: La Música de las Palavras