segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005


Uma Trepa Histórica

"Ó tempore ó mores / oh tempo das amoras"

Os sacerdotes do país dito real, na boca altiva de um Bettencourt Resende ou no enfado do meditabundo Martim Avillez, estão em estado de prostração pela perda desse objecto extremoso que é a civilização em Portugal. A infidelidade dos indígenas à paixão do neo-liberalismo - olhem como bate o coração cristão liberal do cívico Portas ou como pestaneja em pecado de escândalo a Maria João Avillez, e entenderão - deixou esses protectores dos pobres e do gentio pátrio em estado de calamidade total. A epidemia anti-liberal que grassa no país não é entendida pelos servidores do aparelho político e por comentaristas conspícuos. Pobre populaça que não adere ao tricot civilizacional pós-moderno e vota, desonrosamente já se vê, à esquerda. Já não há respeito pelos comentadores encartados.

Curioso é, que ao longo de 30 anos andaram em fervor revolucionário, animando a milagrosa economia lusa, plantando oásis e fortunas espirituais por todo o lado, logrando elevar os indígenas a um alvorecer esplendoroso e angelical, com a Europa ali ao lado - diziam - e, afinal, deu nisto: uma absoluta maioria de malignos sujeitos alapados na Assembleia da República. Oh crueldade infame, não é que de tanto se esmerarem na civilidade económica ao gentio, que por sua vez se arrastava como podia quando não zarpava para outras terras, a própria sebenta os denunciou?

Que prodigioso dia. Parabéns ao PS pelo resultado obtido, que pela sua expressão não terá qualquer tipo de desculpa para governar bem o país e os portugueses. Seria imperdoável o contrário. E parabéns, de igual modo, à CDU e Bloco que nos assombraram. Um elogio especial a José Manuel Pureza pela expressividade eleitoral revelada no distrito de Coimbra. No resto, registe-se a posição séria de Portas ao demitir-se e a náusea de alguém se chamar Lopes, Santana Lopes. E, para não esquecer, faça-se justiça ao posicionamento corajoso, desde a primeira hora, de José Pacheco Pereira, que honra a galeria de homens ilustres do PSD. Porque ainda existem alguns por lá.