segunda-feira, 3 de maio de 2004


A Sagrada Família

Um dia a mais antiga categoria de honra do Sport Lisboa (1904-1905) fez ascender um sol intenso e alado. A Praça do Império era campo de jogos. O Nunes, em Belém, forneceu a flanela avermelhada. A farmácia do Franco servia de sede conspiratória. As redes das balizas foram tecidas por hábeis pescadores da Nazaré. "Um por todos, todos por um". A águia começava a voar. Que história admirável a nossa.

A alma colectiva vermelha, irreverente e muito prendada, ensina a voar sobre o abismo. O Benfica é uma manifestação de enternecida ternura, uma frescura de beleza, a alma da paisagem lusitana. Vede – ali, em cima - o porte aprumado dos seus jogadores, o altivo colorido das camisolas, a pose, a barba à Degas ou os bigodes fartos. Atendei às peculiares figuras do grupo fundador. Sintam a sua frescura maravilhosa. E sorriam.

Hoje, em quieto jogo, fomos felizes. Contra preces e clamores, fomos encantadores. Os dias de Maio como são brejeiros. Uma paisagem única. Mesmo que a lucidez seja breve.