segunda-feira, 1 de março de 2004


Fantasia para Dois Défices e Uma Perdiz

Ainda inspirados pelo cumprimento da caldeirada à Manel Pinovai - mestre das bandas do Furadouro - e antiquíssima sugestão do confrade Manuel Carvalho, somos aliciados para uma "perdiz desossada", arriscada expectativa vinda da ala Eborense. Nada contra a carne saborida, embora dependendo do recheio que é para isso que se vai, como já me garantia meu avô, na sua bondade de alentejano. Mas o esgotamento da jornada e a vigilância caseira a isso impede. Adiante, que como assegurava Fialho, "não há poesia mais bela do que a fome. Dos outros, é certo ..."
Mas é sobre um outro prato nacional - défice de caldeirada com receitas extraordinárias -, bem fornecido das ditas em alegre conúbio, segundo o contento dos clientes, que há alguma confusão. Por um lado, o liberal de Évora, despeitado ao que se presume, entende que a blogosfera é uma espécie de entronização de emails privativos, uma coreografia curiosa e licenciosa que poucos têm acesso e, assim sendo, passa desabridamente ao murmúrio que reina por aqui presunção e altivez. Tem razão. "Nós somos do século de pregar os caixotes de inventar as palavras" (MCV). Que se há-de fazer? Por outro lado, reconhece que no seu nobilíssimo "divertimento", liberrimamente corrosivo já se vê, propinado à plebe, a governação da nação e do país pode ser entendida enquanto mera gestão empresarial, e que na falta de um "gestor" em carteira qualquer fantástico contabilista pode ser primeiro-ministro. Estamos de acordo, mais uma vez. A ser assim, pode ficar de pé a sugestão para a "perdiz desossada", desde que a factura não seja pedida em nome da Icily Lda, ou do tal amigo Ambrósio. Niguém lhe perdoaria.