quinta-feira, 27 de maio de 2004


F. C. do Porto: uma Lição Magistral

A credibilidade do FCP deixou há muito de ser um ponto de interrogação. A respeitável tradição de exaltação dos dois clubes da capital é hoje uma deliciosa manifestação de eloquente provincianismo, que só os fundamentalistas ainda instigam. O FCP, artesão, profissional, responsável, crente, impiedoso e praticando um futebol colectivo, conquistou, definitivamente, o coração dos desportistas. Estes dois anos, com generosidade, foram dos maiores êxitos para a glória futura do clube. Hoje, então, foi magistral. A coisa resume-se a isto: o FCP soube ser moderno, apostando em novas soluções, outros riscos. A simplicidade daí decorrente, conduziu a um desempenho imaculado. Quando outros - caso do meu Benfica - foram progenitores de asneiras sem fim - vide a novela de Toni/Vilarinho, a vergonha do soez ataque a um Presidente cessante ou, no lado de Alvalade, a lógica injuriada de Sá Pinto quando da possível contratação de Mourinho e/ou as aleivosias dos seus adeptos sobre o mesmo cenário -, o clube das Antas, com a maior da naturalidade, atreveu-se a ser inteligente. Contratou um técnico profissionalmente exemplar, um naipe de jogadores dispostos a trabalhar para vencer. A perfeição foi conseguida. Hoje demonstrou-o mais uma vez. Parabéns!

quarta-feira, 26 de maio de 2004



Pushkin [1799-1837]

n. em Moscovo a 26 de Maio de 1799

Não morrerei de todo - pois que no meu canto,
sem corpo corruptível, soarei altivo.
E o meu renome imenso durará enquanto
houver na terra um poeta sobrevivo



"O homem que outrora fui, o mesmo ainda serei:
leviano, ardente. Em vão, amigos meus, eu sei,
de mim se espere que eu possa contemplar o belo
sem um tremor secreto, um ansioso anelo.
O amor não me traiu ou torturou bastante?
Nas citereias redes qual falcão aflante
não me debati já, tantas vezes cativo?
Relapso, porém, a tudo eu sobrevivo,
e à nova estátua trago a mesma antiga of'renda..."

[Pushkin, «O Homem que outrora fui...», in Poesia de 26 Séculos, Fora Texto, 1993]

Locais: Pushkin's Biography / The Pushkin Page / Aleksandr (Sergeyevich) Pushkin (1799-1837) / Alexander (Aleksandr) Pushkin / Pushkin Genealogy / Alexander Pushkin / Alexander Sergeevich Pushkin / Aleksandr Sergeevich Pushkin (1799 ? 1837) / A Collection of Poems by Aleksandr Pushkin / Pushkin' Poems

Terra Livre [nº 1, 13 de Fevereiro de 1913]

"...O semanário «Terra Livre», claramente integrado na corrente anarquista do movimento operário, foi porventura um dos jornais de maior qualidade produzido pelo movimento operário português. Com oito páginas num formato aproximado ao «tablóide» ... publicava-se às quintas-feiras e tinha como director Pinto Quartin e como editor Jaime de Castro. O seu primeiro número tem a data de 13 de Fevereiro de 1913 e na própria definição de propósitos e objectivos, «Terra Livre» afirmava: «órgão de luta social e económica - tribuna amplamente aberta às revindicações dos trabalhadores - análise e comentário dos factos capitais da vida social e política portuguesa» (...)
«Terra Livre» vai centrar boa parte do seu conteúdo numa crítica sistemática e contundente à República, ao parlamentarismo e à acção desenvolvida por Afonso Costa quer como líder do maior dos partidos republicanos quer como Presidente do Ministério que tomara posse a 9 de Janeiro de 1913 ... Esta orientação, de crítica contundente e por vezes demolidora de «Terra Livre» à recém implantada República, inseria-se de resto numa acção de crítica sistemática que Neno Vasco um dos mais conhecidos e importantes redactores, vinha exercendo desde os começos de 1911 (...)
Como escreveu Pinto Quartin, «Terra Livre tem pouca circulação entre a massa operaria» o que confirma a ideia de que o público a que primordialmente se destinava o semanário [cerca de 3.500 expls semanais] era constituído pela fracção dirigente do movimento operário, por estudantes e empregados de comércio de Lisboa, por leitores com certa formação e certa capacidade de análise (...) O semanário sofre, ao fim de poucos meses de vida, as consequências da repressão republicana que se seguiu à explosão de uma bomba na cauda do cortejo que, a 10 de Junho de 1913, comemorava Camões. Pinto Quartin é preso e expulso do país [irá para o Brasil], muitos dos seus colaboradores e redactores são detidos e o fim do «Terra Livre» chegou ... " [César de Oliveira, in Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: Vieira dos Santos, Neno Vasco, Emílio Costa, Gaspar dos Santos, Rui Forsado, Emília Garrido, Pinto Quartin, Sobral de Campos, Adolfo Lima, [cf, César de Oliveira ]
Leilão de Importante Biblioteca - 26 de Maio de 2004 [conclusão]

Algumas referências: O Anthi-Christo, por Gomes Leal, 1884 / O Bando Sinistro. Appelo aos Intellectuaes Portuguezes, por Raul Leal, Barcelona (raro) / Sodoma Divinisada, por Raul Leal, 1961 (ed. Contraponto) / O que aconteceria se o Arcebispo de Beja fosse ao Porto e dissesse que era Napoleão, folha volante de Mário Henrique-Leiria (raro) / Mais um Cadáver, por M. Henrique-Leiria, 1951 / Para bem esclarecer as gentes que ainda estão à espera, os signatários vêm informar ..., de M. Henrique-Leiria & Cesariny de Vasconcelos, 1951 (raro) / A Industria do Sal em Portugal, por Charles Lepierre, 1935 / Aviso a Tempo por Causa do Tempo, de António Maria Lisboa, 1953 (raro) / Isso Ontem Único, de A. Maria Lisboa, 1953 (raro) / A Verticalidade e a Chave, por A. Maria Lisboa (ed. Contraponto, raro) / [Manuscrito] Espólio de Acúrcio Pereira (cartas e cartões de escritores) / As Avelãs do Cesariny, por Fernando Ribeiro de Mello (folha volante "violenta" contra Cesariny feita pelo editor da Afrodite, por Cesariny se ter recusado a traduzir e prefaciar a Correspondência do Marquês de Sade) / A Arte de Escrever, por Vitorino Nemésio (sep. Instituto), 1928 / Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, 1944 / O Poeta Povo, de Vitorino Nemésio, 1917 (2º livro em prosa do autor, publicado em Angra do Heroísmo) / Requiem Alegre para Cesariny, por Rui de Oliveira, Porto, 1959 (manifesto violento contra Cesariny) / Aldrabona Madona Maxona, por Luiz Pacheco, 1975 / Alguns Mitos Maiores, Alguns Mitos Menores Porpostos à Circulação. Cesariny ex-nudista em franca ascenção para as coroas ..., de Luiz Pacheco / O Cachecol do Artista, de Luiz Pacheco, 1965 (raro) / Comunicado ou Intervenção da Província, de Luiz Pacheco (raro) / Contraponto. O Prato do Diabo. Leitura dos Jornais, 1961 (reprod. em stencil), de Luiz Pacheco / Postal. Felizarda Botelha, de Luiz Pacheco (raro) / Requiem pelos Corpos Penados mais em Destaque no Cemitério Ulissiponense, de Luiz Pacheco, 1961 (raro) / Salve Van Kricka!, de Luiz Pacheco (folha volante) / Clepsydra, de Camillo Pessanha, 1920 (raro) / 1ª Exposição dos Surealistas (1949) / Luz Central, de Ernesto Sampaio, 1958 (raro) / XX Dessins, de Amadeo Sousa Cardoso, 1912 (raro) / Os Surrealistas Expõem (1949, rara folha volante) / Obras valiosas de Cesariny (Contraponto. Série Fantasma, 1960 ; Do Capitulo da Probidade, 1951, etc. )

terça-feira, 25 de maio de 2004

Leilão de Importante Biblioteca - 26 de Maio de 2004

A Leiria & Nascimento organiza no próximo dia 26 de Maio (21, 30 h) no Pavilhão de Exposições (Tapada da Ajuda) um leilão de livros provenientes de uma importante biblioteca, salientando-se um conjunto significativo de obras de literatura portuguesa moderna, que pode ser consultada on line.

Algumas referências: Mar-de-Leva, de Al Berto, 1976 (raro) / Adolescente, por Eugénio de Andrade, 1942 / Poema Primeiro, de António Aragão, 1962 / Memoria sobre a Pesca do Bacalháo Offerecida á Companhia de Pescarias Lisbonenses, por Jacob Frederico Torlade Pereira d'Azambuja, 1935 (raro) / Apontamentos para o Error do Mundo e Os Homens na Sombra, por R. Azancot, II vols, 1910 / Guide du Libraire, por J. de Beauchamps, Paris, 1884 / Memorias e Observações sobre o modo de aperfeiçoar a manufeactura do azeite de oliveira em Portugal, de João António Dalla Bella, 1786 (raro) / O Correio Interceptado, por José Ferreira Borges, Londres, 1825 (publ. anónimo) / Manuel du Libraire et de L'Amateur de Livres, por J.-C. Brunet, VIII vols, 1922 / Oeuvres Complètes de Buffon, XII vols, 1853 / O Cadáver-Esquisito, 1925-1975. Sua exaltação seguida de pinturas colectivas [tir. Especial comemorativa do meio-seculo da Revolução Surrealista, de apenas 20 exempls, com textos de M. Henrique-Leiria, Calvet da Costa, Cesariny, O'Neill, Raul de Carvalho, Ernesto Sampaio, etc. Raro] / Os Lusíadas de Luis de Camões, ed. do III Centenário, de publ. de Emílio Biel, 1880 / Discurso Moral e Politico sobre os Contrabandos, pelo Fr. Ignácio de S. Carlos, 1814 (raro) / Mas, de Ferreira de Castro, 1921 [raro] / Les Principales Avantures d'Admirable Don Quichotte ..., de Cervantes, 1746 / Conjunto valioso de 15 Obras de Ruy Cinatti (Borda d'Alma, 1973; Cravo Singular, 1974; Folhas Volantes, 1974-77; Salém, 1987; etc.) / Contravento, Revista Letras e Artes, IV nums, 1968-71 / Do Do. (D. Sidónio). S. Nacional de Belas Artes, 1982 [Catálogo com apresentação de Eurico Gonçalves e poesia inédita de Luiza Neto Jorge] / Exame e Juízo Critico sobre o papel, intitulado Antisebastianismo, anunciado na Gazeta de Lisboa ..., 1809 (anon.) / Hora di Bai, de Manuel Ferreira, Coimbra, 1962 / Uma Viagem ao Valle das Furnas na Ilha de São Miguel, por Bernardino José de Senna Freitas, 1845 [monografia rara] / Galeria de A Bibliófila. Catálogo da Exposição de 1 de Junho de 1950, da Livraria A Bibliófila [raro catálogo com trabalhos de M. Henrique-Leiria, Cesariny, Cruzeiro Seixas, Risques Pereira, etc.] / Grifo. Antologia de Inéditos, Grafilarte, 1970 [import. antologia com textos de Pedro Oom, António José Forte, Ernesto Sampaio, Manuel de Castro, etc.] / Conjunto valioso e raro do poeta Herberto Helder [O Bebedor Nocturno, 1968; A Colher na Boca, 1961; Electronicolirica, 1964; Fonte, de Herberto Helder, 1998 (ed. fora de mercado); Húmus, 1967; Lugar, 1962; Retrato em Movimento, 1967; etc] / Memoria sobre Lourenço Marques, de Levy Maria Jordão (Visconde de Paiva Manso), 1870

[continua]

segunda-feira, 24 de maio de 2004



Obras de Ferreira de Castro

Ferreira de Castro [1898-1974]

Nasce em Ossela (Oliveira de Azeméis) a 24 de Maio de 1898

"... Era de Inverno. Ia de chancas, friorento, enroupadito. Creio que foi minha mãe quem me acompanhou até meio do caminho. Não me recordo bem. As lembro-me, nitidamente, da minha entrada na escola. Lá estava, ao fundo, à secretária, instalada sobre um estrado, o Sr. Professor Portela. Era gordo e de carne muito branca e fofa. No primeiro plano, as carteiras com os alunos chilreantes. Alguns conhecia-os eu cá de fora. Mas tomavam, ali, para minha timidez, o papel de inimigos.
Eu sentia um respeito enorme por tudo aquilo e estava envergonhado. Sentei-me a uma das carteias e, não tendo coragem de levantar os olhos, fixei-os no abecedário, que crescia e de deformava constantemente. Nesses primeiros dias, a minha única distracção era seguir as moscas que passeavam no sujo rebordo do tinteiro.
Veio, depois, a inveja, a única que tive na minha vida: a de não ser igual aos outros, a de não possuir o seu à-vontade, a de não ter o sangue-frio de que eles dispunham e graças ao qual brilhavam nas lições mais do que eu, embora soubessem menos. Eu era bom aluno. Tinha, porém, uma existência triste e afastava-me quase sempre dos meus condiscípulos. (...)

Por esses tempos, passava, todos os dias, no largo para onde dava a escola, uma rapariga de 17 ou 18 anos - linda, linda para mim, como nunca tinha visto outra. Chamava-se Margarida (...) a Margarida continuava a cruzar, indiferente o largo, sem voltar os olhos para a janela da escola, de onde eu a seguia com sofreguidão. E se me fazia encontrado no caminho por onde ela passava, voltava a cara sem dirigir à minha timidez uma só palavra, um olhar sequer. Eu sofria com esse desdém e desesperava-me por ainda não ser homem. (...)" [Ferreira de Castro, Memórias in «Vários Estudos sobre Ferreira de Castro e a sua obra», 1938]

"A obra de Ferreira de Castro é como a de um filósofo pastoral: vive da resistência que faz às desgraças do seu século. Por isso, como a de Rousseau, parece-nos ingénua quando a moda è libertina; e é naturalmente afectiva e cordial quando toda a literatura experimenta a necessidade de incorrer em excessos. Vemos agora que essa obra preparava a clarificação duma nova era. (...) Ferreira de Castro era um desses heróis-meninos, incapazes de corrupção, por muito que sofram e conheçam o mundo. O pudor, quase o que se chamaria a nobreza dum preconceito proletário, nimbava os seus romances e narrativas. Se vivesse mais tempo, acharia os costumes insuportáveis, agora que certa debochada sinceridade, própria duma erudição sentimental e não de uma cultura cerebral, toma o lugar da experiência humana (...) [Agustina Bessa-Luís, in In Memoriam de Ferreira de Castro, 1976]

sexta-feira, 21 de maio de 2004


Infância

Hora em que a erva cresce
na memória do cavalo.
O vento pronuncia discursos ingénuos
em honra dos lilases,
e alguém entra na morte
com os olhos abertos
como Alice no país do já visto.

[Alejandra Pizarnik, trad. de There's Only Alice]

Filhos e 'Encalhados'

"Nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovidio]

Confessamos a maneira branda e suave com que José Manuel Fernandes, o comissário dos bons costumes lusos, nos brindou em artigo nas páginas d'O Público sobre a magna questão da necessidade de aumento da taxa de natalidade. Em perfeito acesso de orgulho sociológico, o pontífice diz-nos que ... não temos cumprido. Mais, que a "atitude cultural dominante em Portugal" é decididamente o tão importuno modo de "viver a vida" e, evidentemente, "desvalorizar aquilo que os filhos trazem". A listagem caprichosa é quase apocalíptica. Tememos pelo nosso aconchego e suspiramos por um bom "boudoir". Para "repor as gerações".
Venha pois a sexualidade, ou a sua descoberta para os 'encalhados' desta vida, mas entendida como expressão elevada de reprodução biológica, para que a dissolução do princípio do hedonismo (t'arrenego Lyotard) se esfrangalhe, a bem da Nação. E deixemos o amor, sempre esse combate, sempre essa angústia (Bataille dixit), sempre essa ilusão, para outros. Toca, pois, a cumprir. E nós, sabendo que Sade morreu e Reich também, não nos encontramos muito bem. Mas iremos cumprir. Não tenham dúvidas.

Tommaso Campanella [1568-1639]

m. em Paris, a 21 de Maio de 1639

"...Todos determinaram, então, começar uma vida filosófica, pondo todas as coisas em comum. E, se bem que em seu país natal não esteja em voga a comunidade das mulheres, eles a adoptaram unicamente pelo princípio estabelecido de que tudo devia ser comum e que só a decisão do magistrado devia regular a igual distribuição. As ciências e, em seguida, as dignidades e os prazeres são comuns, de forma que ninguém pode apropriar-se da parte que cabe aos outros.
Dizem eles que toda espécie de propriedade tem sua origem e força na posse separada e individual das casas, dos filhos, das mulheres. Isso produz o amor-próprio, e cada um trata de enriquecer e aumentar os herdeiros, de maneira que, se é poderoso e temido, defrauda o interesse público, e, se é fraco, se torna avarento, intrigante e hipócrita. Ao contrário, perdido o amor-próprio, fica sempre o amor da comunidade (...)" [T. Campanella, in A Cidade do Sol]

quinta-feira, 20 de maio de 2004

[Sombra]

O mal não é a lama dos vestidos,
nem os limos, os líquenes dos sentidos.
O mal é esta sombra
que se deita connosco em cada cova,
se penteia connosco em cada dia
e, quando amamos, surdamente espia ...

[Orlando de Carvalho, Sobre a Noite e a Vida, 1985]


Ex-Libris

"Ex-Libris é um indicativo de propriedade, uma marca de posse bibliográfica, que vai desde o nome do possuidor, manuscrito na capa, na folha-de-guarda ou primeiras folhas do volume, até folha solta de papel, pano ou pele, de mais ou menos reduzidas dimensões, onde estão manuscritos ou impressos desenhos ou dizeres e que aparecem apostos geralmente no ante rosto do volume encadernado ou brochado (quando não é intercalado na encadernação, antes da primeira folha); abrangendo ainda desenhos e dizeres gravados a oiro ou a seco, nas pastas e lombadas das encadernações, ou pintados em pele ou marfim, ou ainda abertos a buril em chapas de metal, e que são apostos na parte anterior do volume, nos locais indicados." [Armando de Mattos, in Bibliomanias]

O Sindicalista [nº 1, 13 de Novembro de 1910- 1915]

"... os dezasseis anos de República democrática constituem uma fase durante a qual se vai destacar uma imprensa operária de cariz fundamentalmente sindical, claramente inserida nas estruturas sindicais e orientadas para os problemas centrais do movimento sindical(...)
«O Sindicalista» foi um semanário que claramente se inseriu na linha de orientação que se exprimiu, pela primeira vez, no diário «A Greve». Predominantemente sindicalista revolucionário este semanário vai cumprir, com êxito, uma dupla função: acompanhar muito atentamente o poderoso movimento reivindicativo dos trabalhadores portugueses que se desencadeia logo após a implantação da República e servir de suporte ao grande esforço organizativo que se segue a Outubro de 1910 e que se materializa na realização em 1911 do Congresso Sindical e em 1914 no Congresso Operário de Tomar que funda a União Operária Nacional(...)
Neste semanário, habitualmente em quatro páginas, deve assinalar-se a atenção como que são acompanhados os problemas das várias profissões, o cuidado que é posto na divulgação das suas aspirações e das suas lutas, o vigor que caracteriza a denúncia da repressão que a novel república fez abater sobre a actividade sindical e, sobretudo, sobre os trabalhadores em greve" [in, César de Oliveira, Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: Bernardo de Sá (condutor de obras públicas), Severino de Carvalho (ajudante de notário), Francisco Cristo, João Pedro dos Santos, Alexandre Vieira, Augusto Machado, António Evaristo, Manuel Ribeiro (escritor de A Catedral, O Deserto, a Ressurreição, foi colaborador d'O Sindicalista, A Batalha, membro do Partido Comunista e redactor da Bandeira Vermelha, etc.) [cf, Alexandre Vieira]

quarta-feira, 19 de maio de 2004


Agradecimentos

Agradecemos as amabilidades que nos foram endereçadas. Gratos, por isso.

Ao Analiticamente Incorrecto, A Natureza do Mal, A Tasca, Avatares, Aviz, Blasfémias, Bomba Inteligente, Cabo Raso, Causa Nossa, Contra a Corrente, Eclético, Fórum Comunitário, Mar Salgado, Memória Virtual, Nova Floresta, Placard, Quartzo, Feldspato & Mica, Retórica e Persuasão, Rua da Judiaria, Terras do Nunca, Tugir, Um Blog sobre Kleist, e àqueles outros que em privado nos enviaram carinhosos suplementos de alma, um muito obrigado.

De outro modo, daqui encaminhamos as maiores felicitações ao Critico Musical, Modus Vivendi e Os Tempos que Correm, que comemoraram o seu aniversário de muita e merecida estimação.


Vladimir Mayakovsky

Catálogo XLVI da Livraria Moreira da Costa

A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto) acaba de publicar o seu Boletim bibliográfico de livros seleccionados, Catálogo XLVI, referente ao mês de Maio, de interesse monográfico e etnográfico.

Algumas referências: Alta Cultura Colonial. Discurso inaugural e conferências, 1936 [Discurso inaugural de Vieira Machado e conferências por Agostinho de Campos, Alfredo Pimenta, Manuel Múrias, Quirino da Fonseca, Reinaldo dos Santos ...] / Elucidiario do Viajante no Porto, de Francisco F. Barbosa, Coimbra, 1864 / 100 Annos de Vida . A expansão da imprensa brazileira no primeiro seculo da sua existencia Subsidios para trabalho de maior fôlego por Alberto Bessa, 1929 / Poetas e Prosadores. À margem dos livros, de Júlio Brandão, s/d / Novíssimos ou Últimos fins do Homem, pelo Barão do Castelo de Paiva, Lisboa, Typographia Universal, 1866, II vols / Contemporâneos Illustres. D. Fernando II de Portugal, de F. J. Pinto Coelho, Lisboa, 1878 / Colecção Camoneana de José do Canto, Lisboa, Imprensa Nacional, 1972 / Camões e as Artes Plásticas. Subsídios para a Iconografia Camoneana, de B. Xavier Coutinho, Porto, 1946-1948, II vols / A Ourivesaria em Portugal, por João Couto & António Gonçalves, 1960 / Mouzinho. Acção. Pensamento. A Época, de Amadeu Cunha, 1956 / A Antiga Freguesia dos Olivais, por Ralph Delgado, Lisboa, 1969 / Julgareis qual é mais excelente - No Tricentenário da Restauração de Angola, de Gastão Sousa Dias, 1948 [ref. A figuras dominantes da história de Angola] / Estudo sobre o Absentismo e a Instabilidade da Mão-de-Obra Africana, Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta de Investigações do Ultramar, 1959, III vols / Primeira Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934 [XXI opúsculos diversos] / Ronda de Africa. Outras Terras, Outras Gentes, por Henrique Galvão / A Pátria a Luiz de Quillianan, Porto, 1884 [conjunto de reacções e homenagens prestadas ao Major Quillinan, pela reacção deste aos insultos proferidos no Parlamento Inglez, pelo deputado Jacob Bright, contra Portugal] / Exórdio em Prol da Filantropia & da Educação Física, por Fernando Pessoa, Editorial Cultura, Porto / Filosofia Tradicional dos Cabindas, de José Martins Vaz, 1969-70, II vols

terça-feira, 18 de maio de 2004


Feliz Primavera - Director!

Oferecemos hoje aos leedores caprichosos d'O Almocreve uma entrevista exclusiva com o nosso Director. Assim com D grande, que com devotos amigos e sem administração míope, a linguagem nunca é expiação.
O nosso estimado director recebe-nos no seu castelo altaneiro, nos doces campos do Mondego e, enquanto fala pausadamente em quieto jogo, vai devassando as tropelias d'O Almocreve das Petas ou não fosse um director um "decorador de interiores". A caminho da livraria, nota-se-lhe o sorriso travesso, o respeito ou paixão por coisas simples, o infortúnio da modéstia, o misticismo do olhar, o gosto e a luxúria. Diz-nos: "só é livre quem é digno da liberdade", enquanto vai afogueando o amor cívico no olhar desse vale eternamente sacro do Mondego. O rio já corre ...

[Diz-nos:] - O Almocreve das Petas é um desvelado mineiro das letras. Blog de impressões, escritos do pitoresco, que se pretendem elegantes e cuidados, uma oração ou moral disfarçada da vida para profanos sensatos. Principiou com fadigas literárias mas não pretende estacionar em isolamento suspicaz. Porque o que é assombroso e extraordinário é a tabuada politica lusitana. Assim como, as dulcíssimas palavras proclamadas em abundância pelas sentinelas liberais, o mais boçal dos dogmatismos. O rastro e soberba de alguns "infinitamente pequenos", apregoadores da "seara comum" desenvolvimentista, são meramente um agitprop "ad captandus vulgus". Virgílio Correia tinha razão quando dizia que "é mais difícil ser livre que puxar uma carroça".

[P: consta que não recebem muito bem, causam perplexidade e ...] - Meu caro, a cultura não tem preço. Não faltará n'O Almocreve atropelos à urbanidade, à etiqueta ou ofensas à gramática (Deleuze, é claro). Cada um prevarica conforme o estilo. Mas pensamos que modos finos e adamados são fadigas de desenganos, um padre-nosso liberal para ladrilhar discursos sobre a ordem do mundo. E para nós, que procuramos renascer em cada dia, o objecto da procura é mais o conhecimento do desejo do outro, daí que se deva mudar o jogo e não as peças do jogo. Não seguimos, por isso, a pastosa linguagem da chinfrineira do dia-a-dia da politika. Nessa fatwa dos escribas não desejamos cair. Como alternativa, preferimos ser mais "um cacto no cu da arte". A sugestão evocativa é mais expressiva e o rendez-vous mais malicioso.

segunda-feira, 17 de maio de 2004


[O Mar]

Era a minha vez de falar.
E disse que não somos nada.
Foi tão simples, fiquei mesmo

aliviado. E não custou nada.
Os apupos, esses, amplifiquei-os
no búzio que sempre trago

comigo. É o mar que me chama ...

[Helder Moura Pereira, Puxar ao Sentimento, in Relâmpago, nº 13]

Um Bom Português

José Mourinho é, apenas, o melhor treinador português. É um vencedor nato. Com esforço, talento, auxílio de amigos, sorte e trabalho. Como todos nós. Certamente a mãe pátria tem uma plêiade de indígenas de muita estimação, que olhamos embevecidos e puxando luminosas grandezas, para mais tarde recordar. Tanta gente feliz, por isso.

Ora, Mourinho é essa espécie de visionário à força, estudante sem cábula, valente e arrojado de tanto correr, mas enfastiado deste quintal oceânico tal a náusea que em cada testemunho nos dá conta. A bizarria assim manifestada, comum entre os altíssimos cidadãos lusitanos, dá-lhe sempre para a cantilena anedótica, para o desabafo trapaceiro, para o comentário hilariante, para a acusação gratuita. José Mourinho é o Alberto João do futebol. Uma Helena Matos de saias. Se Mourinho fosse americano estava sentado à direita de Donald Runsfeld. Como não é possível, por sadismo do futebol, passeia-se no expositor das vaidades lusas. Nem procura disfarçar. A arrogância nem bem-humorada é servida. A adoração de si mesmo é uma banalidade que tresanda a caprichos de pouca originalidade. Percebe-se porquê. Por isso, Mourinho é um bom português.

[Hoje, sem brilhantismo algum, o meu Benfica venceu. Com felicidade, mas sem favores. Lutando como podia, com o tormento de tanto tempo como praga, surpreendeu. E a imprevidente brincadeira de mau gosto e mau perder de Mourinho, documentará a história deste jogo. Para os benfiquistas é o fim do sufoco. Que nunca se duvidou.]

domingo, 16 de maio de 2004


17 de Maio - Aniversário do Almocreve


"Em forma de responso, de absolvição e de legenda"

Faz-se saber ao público, que fará amanhã um ano quando chegou o Almocreve com as petas da sua papeleira, do país e do mundo. Com dissertações úteis para criados de servir desatentos, folhetos para venda a vinagreiros lamentosos, escritos declamatórios contra a indigestão literária ou composições prudentes, já com letras, de método fácil de fazer calar as crianças quando choram, recebe na sua estalagem costumada. A festa será assombrosa. A ladainha também. A lista de mazelas não terá fim. Saúde e fraternidade.