quinta-feira, 31 de julho de 2003

BREVES


* Há coisas que não mudam - "Paulo Portas é hoje ministro. De Estado e da Defesa, condição dificilmente imaginável para quem o conhece. (...)
Acontece que Paulo Portas não é um ministro igual a outros. O próprio não aceitaria a paridade. É líder de um partido que usou em função de um interesse intransmissível, gosta de se sentar à direita, ou imediatamente à esquerda, do chefe. Por enquanto.
Sobra a ironia da peça escrita por Diogo Freitas do Amaral – que conhece o adolescente –, ainda por subir à cena. O enredo é simples e potencialmente verdadeiro: um ministro da Defesa trai o primeiro-ministro. Há, na vida, o subliminar que distingue comportamentos e determina pormenores de uma qualquer história.
Não é próprio de um ministro da Defesa as jogadas de bastidores que caracterizam a acção governativa do escorregadio Paulo Portas. Nessa azáfama com o acessório, Portas vai descurando o essencial e perdendo o respeito e a credibilidade junto das instituições, militares e civis.
Resta-lhe a inconsequência, em que muitos vêem sinais inequívocos de cobardia, com que evita a ida ao Parlamento.
Exactamente a mesma síndrome adolescente que o fazia dormir fora de casa para não ser citado nos processos contra O Independente.
Há coisas que não mudam.
" [Raul Vaz, Diário Económico, 30/07/03]

* Paulo Mendo no PJ, foi prudente e sensato ao falar de blogs. Diz-nos, tout court, que não se sabe se serão blogs ou blogues (aqui, é bom de ver que não frequenta o sacerdote Mexia), considerando que é supinamente mais benéfico para a saúde dos "mais velhos" essa modernista prática, que andar a subir e descer os escadotes equilibrando livros e revistas. Fica, assim, de parte o dizer de João Miguel Fernandes Jorge: «Importa que não haja ilusões sobre este ponto: é que podemos morrer de sede em pleno mar». Absolutamente de acordo.

* Pedro Mexia, depois de reiterados problemas informáticos regressou com rasgados elogios à sua pessoa, esperando-se um visual poetry em breve, com recurso a projectos multimédia. Eis um pequeno extracto da sua novíssima grande obra: «A técnica é a ética-ateórica. Tanto a técnica como a estética nos distraem do mundo do logos, do mundo da razão. A técnica do blog é uma arte onde a trajectória do corpo (despótico?) se impõe à enunciação. O mexianismo é a nova discursividade dissidente, que dedicamos a uma qualquer lumine nympha, sem empacho». O Professor Deleuze que se cuide, pois! Nós, continuamos a afiar a esferográfica.

* Eis a nossa modesta contribuição para o dito "meta-debate sobre se existe, ou não, amor na blogosfera":

- "Do amor não se pode dizer tudo, e se se tenta isso pela polivalência da glote, sai fracativo" (Maria V. da Costa ?) [será da MVC, não temos a certeza]

mas é sempre de notar, principalmente, que: "Toda a vulva é fechada como a expansão da noite" (Maria V. da Costa, Da Rosa Fixa)

CATÁLOGO DE LIVROS DE CARLOS DA SILVA CAMPOS - 1877

Catalogo // dos // Principaes Livros, Alguns Raros e Estimados // que se encontram à venda // Na Agencia Universal // de // Carlos da Silva Campos // Rua do Arco de Bandeira, 6, 2º // Lisboa // Imprensa de J.G.de Sousa Neves //65, Rua da Atalaya, 67 // 1877

Algumas notas do catálogo:

- Agostinheida, poema herói-comico em nove cantos. Londres, 1817, in-8.º - 700 réis
- Alcobaça illustrada, por Fr. Manuel dos Santos. Coimbra, 1710, in-fol.- 2$000 réis
- Arco (O) de Sant'Anna, chronica portuense, pelo visconde de Almeida Garrett. Lisboa, 1850, 2 vol. In-8.º, Encad.- 1$000 réis
- Asia portugueza de Manuel de Faria y Sousa. Lisboa, 1703, 3 vol. In-fol. – 8$000 réis
- Chronica de Cister, por fr. Bernardo de Brito. Lisboa, 1602, in-fol.- 5$000 réis
- Chronica d'el rei D. João I de boa memoria e dos réis de Portugal o 10.º Parte 1.ª e 2.ª por Fernam Lopes. Parte 3.ª, por Gomes Eannes de Azurara. Lisboa, 1644, in fol. Rara. – 18$000 réis
- Decadas da Asia, por João de Barros. Décadas I, II, III. Lisboa, 1628; década IV, reformada, etc. por João Baptista Lavanha. Madrid, 1645, 4 vol. In-fol.- 14$000 réis
- Historia geneologica da casa real portugueza, desde a sua origem até ao presente, por António Caetano de Sousa, etc. Lisboa, 1735-48, 14 vol. In-fol. Provas da Historia geneologica da casa real portugueza, etc. Lisboa, 1739-48, 7 vol.in-fol. O todo 21 vol.- 31$500 réis

BIBLIOFILIA - AQUILINO RIBEIRO


"Para Anatole France não havia leitura mais amena e sedativa que um Catálogo de livros. De facto, depois de ouvir um discurso nas Câmaras, dar-se o parecer sobre um relatório, sustentar uma polémica sobre existencialismo, não se pode encontrar entretimento mais repousador e edificante. É como estar debruçado à janela a ver passar, sem nos coagir a nenhuma forma de zumbaia, uma vistosa procissão à antiga."

[Aquilino Ribeiro, Ao Amador do Livro, Catálogo de Livros Seleccionados do Mundo do Livro, nº 3, Lisboa, 1955]

Pois, foi isso o que fizemos, Mestre. Depois de sermos esmagados por duas vezes no xadrez (a mania de ressuscitar a Portuguesa do António Ferreira foi fatal), ignobilmente esmifrados por uma irreverente jogadora, ainda para mais leitora de Augustina, deixou-nos à beira de um ataque de nervos. E ainda se diz que a mulher é "esse continente negro" ...

"Há ainda os lordes Byron da bibliofilia que apreciam um livro como apreciam uma mulher, primeiro pelo aspecto, beleza da mancha, tintagem, cores de título, boa ordenança do frontispício, depois pelo que encerra de recatado e supremo: o espírito. De facto há, não podia deixar de haver, uma certa voluptuosidade em roçar, cerebralmente, esses corpos sensuais, que são os livros bonitos, (...)"

[idem, ibidem]

quarta-feira, 30 de julho de 2003

SAUDADE


Saudade do fim das tardes de Verão, Torreira para trás que o corpo também cansa, e da obrigatória paragem na Murtosa para castigar umas enguias ou uma lampreiada. Murtosa sempre foi uma paisagem de paixão. Como Ovar e o Furadouro. Tempos outros em que reinventávamos caminhos, rostos, paixões. Doçura das coisas perenes.

"Como é vil o coração que, incapaz de amar, não pode conhecer o delírio da paixão! Se não amas, és indigno do sol que te ilumina, da lua que te consola"
(Omar Khayyam)

Nota: reler as Notas Marinhoas do Dr. José Tavares Afonso e Cunha. Julgo que são 5 volumes, mais um fascículo, que nos dá as noticias históricas do concelho da Murtosa e das duas freguesias marinhoas do concelho de Estarreja.

MURTOSA


"Os campinos de Garrett abateram a prôa, assim que ouviram falar duma luta de oito dias com o mar. Para lhes travar para sempre as campainhas, bondava agarrar-lhes pela jaleca e levá-los ali à Torreira, numa madrugada em que o búzio soasse e duas companhas arrancassem para a «recachía».

Os de Ílhavo são peixes de água salgada. Vivem no mar. O comando da nossa marinha mercante está nas mãos deles.

Os da Murtosa, esses não se contentam em ser mareantes. Acham aquilo monótono e, salvo horas naufragantes, luta branda. A pesca, sim, que é movimentada, que pede força, que tira de condição a coragem, que faz preço à audácia, que requere do homem a agilidade da onda e o segredo do ritmo. É a paixão dos murtozeiros. Não é este nem aquel'outro. Observem-os e verão que aprender um é conhecê-los a todos. (...)
"

[Joaquim Leitão, Pescadores da Murtosa. Extracto da Canção do Regresso, Ottosgráfica, Lisboa, s/d, ed. fora do mercado]

terça-feira, 29 de julho de 2003

VÁRIAS

* O Bridge dá cabo de um tipo. Quanto mais se joga (e perde) mais se quer continuar. No dia seguinte lá se anda a teorizar sobre as partidas, o maldito carteio, a não-voz do parceiro. Temo ficar a falar sobre bridge do mesmo modo que o Pedro Mexia discorre sobre o eterno feminino, tal o estado de neurose compulsiva verificada.

* Tenho ideia, que vi a Charlotte na TV. Se foi, então a Bomba faz parte daquela beleza convulsiva que falava Breton, isto é, está entre a erótico-velada e o mágico-circunstancial. E o gato Varandas, que saberá disso?

* Voltando ao Mexia, o porfiado crítico da poesis está decididamente reaccionário. Aquele post sobre a TSF é subscrito integralmente pelo Alberto João. Tal como ele, o Mexia vê vermelhos em todo o lado. Suspeito que a falta de pratica na sua confessada heterossexualidade, resulta tão somente de um excesso de investimento sádico-oral das palavras, no seguimento da analogia em Melanie Klein, entre o investimento genital e a fala, o canto ou a pena. Ora essa crueldade lingual (Luiz Pacheco dixit), por sinal ferozmente reaccionária, será decerto uma luxúria na crítica literária, mas não deixa de ser um forte obstáculo a praticas bem mais libidinosas.

* Como almocreves, somos sensíveis a textos sobre azémolas, ou gado asinino. Temos especial ternura pelos equus asinus. É que os jumentos são a nossa perdição, principalmente se forem bem aprumados. Temos almocrevados alguns, bem preciosos, sabendo sempre que é mais difícil ser livre do que puxar uma carroça (Virgílio Ferreira dixit). Assim, perante prosa tão adocicada no Publico sobre o burro mirandês, ficámos extasiados. Celeste Pereira, a jornalista do nosso encantamento estará para sempre nos nossos corações. E, já agora, viva a AEPGA e a associação cultural Galandum.

* Mário Nunes, vereador da Cultura da Câmara de Coimbra, é uma excelente pessoa, mas excede-se por vezes. Aquela de afirmar que a Feira de Antiguidades de Coimbra, "é uma das melhores a nível nacional" porque tem "qualidade" e é "onde se vende mais", é demasiadamente excessivo. A Feira de Coimbra é uma feira franca curiosa, mas frequentada por um grupo de vendedores (?) que em momento algum sabem o que estão a fazer, a não ser tentar enganar o neófito das velharias. Então a rapaziada dos livros, todos bem iletrados, é de uma tristeza infinita. Nessa feira, como se calhar noutras ao longo do país, qualquer soit-disant vendedor de papéis velhos se julga um antiquário de prestimosos e devotados favores. E assim, atiram-nos com 75 E por um qualquer Campos Júnior, todo esfarelado e maltratado. Dizem que é muito antigo e raro. Ora nem uma coisa nem outra sequer sabem o que é. Esse rol de gente que vende gato por lebre, com ar de intelectual assumido, destrói o mercado do livro antigo. Como alguns verdadeiros antiquários-alfarrabistas o fazem, também. Afinal, porque haveria de existir excepções? Não estamos em Portugal?

JOHN CALE



JOHN CALE nas noites-ligadas-a-noites, que o Verão está cá. 5 tracks para as tardes acaloradas ou para as noites vadias. John Cale ... sempre!

segunda-feira, 28 de julho de 2003

ENTRE MARES E MARÉS

Entre mares e marés na busca
da coluna do equilíbrio, pormenores
e gestos são o dia da casa, olhos
passando pela linha das paredes.
Farás ainda um derradeiro sorriso,
esboçarás o lance da misericórdia
primeiro, o do rigor depois.
Na casa reparas como as coisas
são as tuas coisas, no vidro
um espelho de dois lados, o teu
domínio. É uma paz que vai
do chão ao ar e volta pelas
vértebras ao lado de fora da pele.


[Helder Moura Pereira, Fenda, Coimbra, 1982]

domingo, 27 de julho de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


* Pacheco Pereira e as "Criticas que (me) levam a pensar duas vezes" - Dizia Raul Proença que "na critica nunca vai um ataque a pessoas; divergir em ideias não é sentir a raiva no coração; é sentir a independência do nosso juízo". Nada mais exacto.

E ao ler o que um leitor do Abrupto (Carlos Queirós), citado no blog, considera em torno do comentário de JPP ao "caso Berlusconi", tive a certeza que essa independência de que fala RP não pode resultar em pessoas, que de modo mais ou menos subtil, "se entricheiraram num campo, e que ficam inibidas de pensar, ou de se expressar com total liberdade" (CQ). Como me parece ser o caso de alguns escritos de JPP. Do mesmo modo que CQ, também eu parti para a leitura do artigo tentando saber como é que JPP o ia defender. E, como em escritos de outros colunistas, "mete impressão" tal exercício. Pode ser estimulante, mas não devia acontecer.

Confesso que alguns articulistas fazem parte da "nossa" família. Acompanhamos as suas intervenções, estamos atentos ao que nos sugerem, seguimos-lhes o percurso, o jogo e a vida. Todas as semanas nos jornais, rádio ou TV. Os registos afectivos são sempre assim. Por isso os lemos. Não há nenhuma dedicação especial no facto, mas tão só a constância da presença de uma revelação comunicacional que desvela a gramática da vida: aquilo sobre que falamos com o outro. Que passa sempre por essa ponte sólida entre o saber e a liberdade. Ora, à primeira vista o horizonte de JPP esbate-se contra essa assumpção, mesmo que sugira um saber contra o(s) poder(es). O caso da invasão do Iraque e seus contornos imperialistas, que conduziu a administração americana a uma situação de violação total dos direitos e garantias do ser humano, mesmo no seu próprio país, foi o culminar dessa apologética argumentativa utilitarista que JPP esgrimiu, para nosso desprazer. Nem é preciso recorrer a exemplos da política caseira para afirmar a nossa preocupação relativamente a essa inibição de falar e (des)dizer em liberdade, que nos fala CQ, e que está presente em muitos dos nossos analistas. Basta saber quem são e do que falam.

Verdade seja dita que JPP é um caso à parte. Parece-nos existir dois JPP: um que é militante do PSD e outro que fala e escreve de coisas que gosta e ama, referidas com paixão no seu blog e nalguns textos de jornais. O que nos levou a sorrir, quando no penúltimo Expresso o vimos caricaturado daquele modo (e que não resistimos a publicar), em isolamento suspicaz, perante o anedotório de outras personagens. JPP é dos nossos, mas de qual falamos quando falamos de JPP?

[A ilustração de JPP é de António Martins (com Mário Ramires), retirada do Expresso, 19/07/2003]

"Sim, meus senhores, a Imprensa portuguesa, a grande Sacerdotisa, já não acha sabor algum neste verbo: orientar, o seu verbo hoje é outro; é seguir.
Seguir! Eis a grande descoberta que eles fizeram. Seguir, ser transportado no fluxo dos acontecimentos, como um folha que redemoinha ao vento. Não sentir dentro de si nenhuma espécie de resistência espiritual, nenhum centro de gravidade, nenhuma obstipação sagrada e profunda, mas ser como a pena que obedece ao sopro quási insensível dum bebé, e aí vai na atmosfera (...) Seguir, não ser autónomo, ser massa, prazer supremo, - ir na corrente que leva os outros ...
Não pergunteis, pois, aos jornalistas de grande «circulação» o que é que eles pensam. Eles não pensam - circulam. Circulam, vão com os outros, seguem. De aqui em diante não lhes pergunteis mesmo: «Como vai o senhor?», mas: «Como segue o senhor?». Porque na maneira de seguir é que está toda a higiene do espírito. Almas sem nenhuma espécie de profundidade, que passam a vida a fazer gestos vãos, cabriolas, retórica, lindezas, jogos de palavras, - almas sem paixão, almas sem existência séria, grave, profunda, almas áridas e pobres onde as ideias, os sonhos, as paixões não criaram raízes, - almas de contrabando, de prostíbulo, de quem-mais-dá, de aluguer, eles só possuem hoje um instinto: o do desfile; um prazer: o do acompanhamento; um espectáculo em que desejam colaborar e fundir-se: o da procissão. Nem por um só momento eles poderiam vislumbrar a pureza da atmosfera que respira uma rude alma solitária. Fundem-se os sinos, tocam os sinos - e ei-los na rua, à primeira badalada, a caminhar em série, a ir com os outros, a seguir. Neste sentido, que é o mau sentido da palavra, o jornalismo português é o mais «democrático» de todos os homens - quere dizer, o mais desprezível
."

[Raul Proença, O Ultra-romantismo politico do Diário de Noticias, Seara Nova nº 265, 1/10/1931]

sábado, 26 de julho de 2003

MONTE MAIOR



Tu, que ora vees de Monte maior,
tu, que ora vees de Monte maior,
digas-me mandado de mia senhor,
digas-me mandado de mia senhor,
ca, se eu seu mandado
non vir, trist'e coitado
serei, e gran pecado
fará se non val,
ca en tal ora nado
foi que, mão-pecado!
Amo-a endoado
E nunca end'ouvi al!


[Gil Sanches, citado na monografia "Terras de Montemor o Velho", de A. Santos Conceição, Coimbra, 1944. No dizer de Santos Conceição, trata-se da "mais antiga poesia que a Montemor se refere". Gil Sanches, "bastardo do Rei Povoador e da famosa Ribeirinha", "perdeu-se de amores por D. Maria Garcia de Sousa", que vivia em Montemor (pag.45)]

sexta-feira, 25 de julho de 2003

CITEMOR

Começou o CITEMOR. Oh! Montemor e o seu castelo altaneiro, e a Figueira ali tão perto. Não ir comer ao Ramalhão é imperdoável, mas se preferir dê um salto a Ereira, terra de Afonso Duarte, ao Bernardes, castigar uma marinada de lampreia. Ou mesmo ao Carrocel, na Gala, Figueira da Foz.

Se a proposta gastronómica fica por sua conta e risco, no que diz respeito ao 25º Festival de Montemor-o-Velho já está a perder. Começou ontem e vai até ao dia 14 de Agosto. Venha daí!

ADIVINHAÇÕES


1. Quantos Nokias, Siemens, Alcatel, Motorola, tem na pasta o Senhor Procurador-Geral da Republica?
2. Para onde vai trabalhar, proximamente, Emídio Rangel?
3. Onde está Pedro Roseta?
4. Porque é que a direcção do INE têm de levar palmatoadas do Governo?
5. Quantos GNR são aprovados na disciplina de Estudos Árabes?
6. Quem disse, pela milésima vez, que "não há nenhuma derrapagem orçamental"?
7. Quantas namoradas tem no cardápio, para a próxima semana, Pedro Mexia?
8. Porque é que Celeste Cardona não é ministra da Justiça?
9. Quantos canais de TV estão a soldo de Morais Sarmento?
10. Porque foi José Manuel Fernandes, o primeiro a escrever um editorial sobre os blogues?

LIVRARIAS NO PORTO


"A tornejar do Largo dos Lóios para a Praça Nova, situava-se a antiga livraria do francês Moré. Primava pelo luxo, nessa ocasião. No entanto, seria classificada de modesta se a compararmos ao aparato das modernas. Juntava-se aí, então, a fina flor dos literatos e sábios da época. Entre esses recordo: Camilo, visconde de Vilarinho de S. Romão, Pedro de Amorim Viana, Dr. Albuquerque, que então era rapaz; Eduardo Allen, Eduardo Sequeira, Gonçalo Sampaio, Sampaio Bruno, escritor republicano e de robusto talento; Dr. Magalhães Lemos, médico e enciclopedista; Alberto de Aguiar, Rocha Peixoto, Severo, etc. Ainda outros ali assentavam pousio, como o Arnaldo Gama, Júlio Dinis, Ricardo Guimarães, visconde de Benalcamfôr, Pedro Ivo, Coelho Lousada, Ramalho Ortigão, José Gomes Monteiro.
....................
Afora a livraria Moré, ostentavam os seus mostruários no Porto outras que foram das mais produtivas do país: a Chardron, mais tarde de António Leite, livreiro arrojado, homem honesto e patriota; a de Magalhães e Monis; a da Companhia Portuguesa Editora; a da Empresa Literária e Tipográfica, de Joaquim Antunes Leitão, alma cheia de luz e de bondade e que tão martirizadamente se finou. Algumas mais de que não me lembro a firma sob que giravam. Nessas livrarias, como sucedia na Moré, cavaqueavam, dissertavam, criticavam e mordiscavam os frequentadores.
" [continua]

[Eduardo Noronha - Escritores, Poetas e Jornalistas - O Primeiro de Janeiro, 4 Set. de 1942]

quinta-feira, 24 de julho de 2003

OS LUSÍADAS NO EXPRESSO


Temos Outono camoniano n'O Expresso, com a publicação de Os Lusíadas. Luiz Vaz em fascículos, debates e exposições. Com textos dos habitués nestas andanças, o que significa um enorme bocejo literário, o Expresso não esconde que o sistema funciona. Eis a perfumaria Balsemão a trabalhar para todos nós. Salvé!

"Ah Camões! Luiz Vaz, se visses
Como os vermes pastam a tua glória!
Por um que ame apenas a tua obra
Quantos te inventam a vida passada
Para explicar versos que não sentem
Ou sentem tão à epiderme
Que precisam doutra história
Que não a das palavras que escreveste!
"

[José Blanc de Portugal, in Camões 1980, Loreto 13, nº 6, 1980]

"Ai, Luiz Vaz, retrai-te. Querem fazer de ti um departamento de líricos, uma comissão nacional de épicos, um cortejo histórico de teses académicas, o imaginativo febril de uns quantos alucinados pela porta sagrada das vitalícias chamas."

[Armando Silva Carvalho, in Atado à Grão Coluna, Loreto 13, nº 6, 1980]

quarta-feira, 23 de julho de 2003

ARRUMAÇÕES E JORNAIS - GAZETA DO MÊS (cont.)

Referimos a existência de uma revista, a Gazeta do Mês. No primeiro número (Maio de 1980), a revista apresenta textos de:

- Fernando Belo (A Nova Aventura): «... As massas é que fazem a história, era um dos nossos slogans. As massas são os nossos corpos e desejos, é por aqui que temos de recomeçar a fazer história ... É disso que fala o discurso ecológico, o discurso das mulheres, o discurso do quotidiano ...»

- João B. Serra e José Manuel Sobral (A Política e a História): «... Assistiu-se, assiste-se, ao investimento da matéria histórica por duas vulgatas como guias de leitura preferenciais. Uma vulgata marxista, que desfigura o próprio marxismo, reduzindo-o a uma mera filosofia da história, válida "urbi et orbi". E uma vulgata literária, assente em interpretações que se fundam numa suposta transparência entre o literário e o social ...»

- Sérgio Campos (A Crise do Estado Keynesiano): «... importa não interpretar as "crises" do sistema como o produto de erros de gestão, ou insuficiências de natureza técnica, que bastaria prevenir, ou bastará suprimir, para fazer reentrar a "economia" nos bons caminhos do equilíbrio (tal é a visão liberal do fenómeno), nem como acto agónico, sintoma ou expressão do fim catastrófico do sistema (concepção digamos leninista). È provável que ganhemos em claridade se explorarmos interpretativamente a "crise" actual como o propõe Attali (...): processo complexo e violento de regeneração biológica, de "desordem criadora" (na acepção destes termos em termodinâmica), graças ao qual o sistema faz pele nova, líquida, na instabilidade, os pesos mortos do seu passado e rompe caminho à implementação de condições apropriadas - sociais, económicas, politicas - a uma lógica renovada de reprodução ...»

- João Martins Pereira (O Militantismo e os Movimentos Colectivos): «...Como lançar uma ponte sólida entre o saber muito localizado mas muito profundo (...) do militante popular e o saber globalizante mas "estranho" do militante politico?...»

- José António Salvador (No tempo em que os soldados falavam a liberdade dormia nas casernas): «Que se passa hoje entre os muros dos quartéis das forças armadas portuguesas? ...»

- Jorge Almeida Fernandes (Duas ou três coisas que eu sei do "República") [Notas sobre os acontecimentos no jornal "República"]

- José António Salvador (Anos de 1970)

- Adelino Gomes (RCP em auto-gestão ...) [reflexão sobre o Rádio Clube Português]

- Nuno Teixeira Neves (Aqui não se matam cobras): «... Se os democratas portugueses só tivessem indignação para opor aos reaccionários não mereciam vencer. A indignação tende a tirar realidade aos adversários, porque é a ditadura do Valor sobre o Real. Ora a primeira regra para vencer um adversário é aceitá-lo no espaço e tempo de uma batalha. A segunda é separá-lo da sua serpente, fazendo que ela venha para nós, de aliada. Mas um grande número de pseudolutadores fazem o contrário: deixam ao adversário a serpente dele e ainda lhe atiram, por projecção, a sua própria ...»

- Teresa Joaquim e Fernando Belo (Roland Barthes) [Na morte de Barthes]:

«... Estar com quem se ama e pensar noutra coisa: é assim que tenho os melhores pensamentos, é assim que invento melhor o que é necessário ao meu trabalho. O mesmo se passa com o texto: ele produz em mim o melhor prazer quando consegue fazer-se ouvir indirectamente; quando ao lê-lo, sou levado a levantar muitas vezes a cabeça, a ouvir outra coisa. Não fico necessariamente cativado pelo texto de prazer; pode ser um acto ligeiro, complexo, ténue, quase irreflectido: movimento brusco da cabeça, como o de um pássaro que não ouve o que nós escutamos, que escuta o que nós não ouvimos ...» [R. B., in, O Prazer do Texto]

- António Sena (A Arte Photográphica) [Texto sobre a Revista "A Arte Photographica", primeiro periódico na Península Ibérica no domínio da fotografia. Anos de 1884/1885, Porto, Photographia Moderna]

- Maria Carlos Radick (Nos nomes das ruas e dos heróis Nas estatuas, as escolas e nos mitos)

- Carlos H. Silva (A propósito do "Hitler" de Syberberg): «... o esteticismo romântico de muitas cenas, inegavelmente de extraordinária beleza, não chega a produzir a impressão singular dado a multiplicidade de acrescentos, ou então, a monotonia do próprio texto utilizado. E assim, Hitler vai-se esbatendo no próprio texto e o medo de tratar deste tema transforma-se em Syberberg no prazer de continuar dizendo ...»

- Augusto Abelaira (O Burujandu) [Fragmentos do romance "O Triunfo da Morte"]

terça-feira, 22 de julho de 2003

CHAVELA VARGAS


CHAVELA VARGAS

4ª feira - People & Arts. A não perder!

EUGÉNIO DE ANDRADE

Sei onde o trigo ilumina a boca.
Invoco esta razão para me cobrir
Com o mais frágil manto do mar.

O sono é assim, permite ao corpo
Este abandono, ser no meio da terra
Essa alegria só prometida à água.

Digo que estive aqui, e vou agora
A caminho doutro sol mais branco.


20.2.79

[Eugénio de Andrade, in Loreto nº4, 1979]

VOX POPULI



* Faz-se saber ao publico que José Manuel Fernandes prepara copioso ensaio, com prefácio desse exegeta blairiano Pedro Lombas, intitulado: "BBC não foi económica com a verdade ou as 3 Fontes". Á venda na Typ. Liberal.

* Avisam da Catedral da Luz que está em curso a subscrição a favor da compra do undécimo jogador para os necessitados de Alvalade. Basta de miséria!

* Top Posts - Foi o máximo o Top Posts do Valete Frates. 6 Posts 6 estimulantes. Como cortesia aqui deixamos pistas para próximas novidades: "Onde canta o bloguista, gagueja o jornalista"; "Força! Força companheiro Bush"; "Pedimos desculpa por este post, o blog sai dentro de momentos"; "Blair & Campbell com batatinhas fritas"

* Mata-Mouros pretende conhecer inconformistas liberais para troca de impressões sobre fadas, génios e encantamentos. Traz camionetas do país profundo.

segunda-feira, 21 de julho de 2003

DA PROVÍNCIA



Esta gente parece ter alma
Porque a música está a tocar


[José Gomes Ferreira, Cabaret, 1933]

sábado, 19 de julho de 2003

SEMINARE SEMEN



Como está admirável a blogosfera. Como são tão delicadamente militantes e de muita estimação, os nossos bloguistas. Não se trocam contra reclamações. Hoje rumei por todos eles. Cá no burgo e na estranja. Fomos bem aventurados. Ficámos com um rasto luminoso na alma. Fomos felizes.
Não nos apetece dizer o que quer que seja. Hoje ficámos com a "emoção presa na garganta". Presumimos, depois, que a hora era de companhia. Fomos cavalheiros.

Diremos sobre a blogosfera, tendo em conta o que o Aviz e o Abrupto incomodamente referiram, o que noutro contexto Herberto Helder escreveu:

"Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam
de um lado para o outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos
como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído.
E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque
são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom. E então a gente ama as mitologias
delas. À parte isso o lugar era execrável.
"

[Herberto Helder, in Revista Via Latina, Coimbra 1991]