quinta-feira, 22 de maio de 2003

PAULO PEDROSO

Estou como o Pedro Lomba, «o tempo não é para boatos, graçolas ou para a morbidez em que este país se está a tornar especialista». Mesmo assim, arrisco a dizer que vem aí tempestade. Há coisas que se dizem ou planeiam que mais tarde ou mais cedo se fazem pagar. Seguindo a lema do Lombas, e tal como Joyce diria, «se não podemos mudar de país, mudemos de assunto»

quarta-feira, 21 de maio de 2003

NOTAS VÁRIAS

No CTHEORY, agora com novo grafismo, podemos ler um texto de Jean Baudrillard, The Violence of the Global, antes editado como «La Violence du Mondial»

« ...The establishment of a global system is the result of an intense jealousy. It is the jealousy of an indifferent and low-definition culture against cultures with higher definition, of a disenchanted and de-intensified system against high intensity cultural environments, and of a de-sacralized society against sacrificial forms. According to this dominant system, any reactionary form is virtually terrorist. (...) Look at Afghanistan. The fact that, inside this country alone, all recognized forms of "democratic" freedoms and expressions -- from music and television to the ability to see a woman's face -- were forbidden, and the possibility that such a country could take the totally opposite path of what we call civilization (no matter what religious principles it invoked), were not acceptable for the "free" world. The universal dimension of modernity cannot be refused. From the perspective of the West, of its consensual model, and of its unique way of thinking, it is a crime not to perceive modernity as the obvious source of the Good or as the natural ideal of humankind. It is also a crime when the universality of our values and our practices are found suspect by some individuals who, when they reveal their doubts, are immediately pegged as fanatics. (...)».

Ainda no CTHEORY, uma entrevista com o mexicano Manuel De Landa, filósofo vadio, sobre o seu último trabalho, Intensive Science and Virtual Philosophy.

«Theories of self-organization are in fact being used to explain what Adam Smith left unexplained: how the invisible hand is supposed to work. From a mere assumption of optimality at equilibrium we now have a better description of what markets do: they take advantage of decentralized dynamics to make use of local information (the information possessed by buyers and sellers). These markets are not optimizing since self-organizing dynamics may go through cycles of boom and bust. Only under the assumption of optimality and equilibrium can we say "the State should not interfere with the Market." The other assumption (of contingent self-organization) has plenty of room for governments to intervene. And more importantly, the local information version (due to Hayek and Simon) does not apply to large corporations, where strategic thinking (as modeled by game theory) is the key. So, far from justifying liberal assumptions the new view problematizes markets. (Let's also remember that enemies of markets, such as Marx, bought the equilibrium assumption completely: in his book Capital he can figure out the "socially necessary labor time," and hence calculate the rate of exploitation, only if profits are at equilibrium). Now, the new view of markets stresses their decentralization (hence corporations do not belong there), and this can hardly justify globalization which is mostly a result of corporations. And similarly for warfare, the danger begins when the people who do not go to war (the central planners) get to make the decisions. The soldiers who do the actual killing and dying are never as careless as that.»

terça-feira, 20 de maio de 2003

LEILÃO DE LIVROS

No próximo dia 28 e 29 de Maio, no Hotel Roma, haverá um leilão de livros de arte, história, literatura, modernistas e muito mais. Informa o Bibliomanias, que será pelas 21 horas e a cargo de Luís Burnay, da antiga D.Pedro V. Pelo que se sabe, vai a leilão algumas primeiras edições preciosas, a saber: A Antologia Erótica e Satírica da Natália Correia; A Ceramica Brazonada do Conde Castro e Solla, já rara; um lote bem curioso de opúsculos de Rui Cinatti, hoje infelizmente esquecido; a rara Revista Contemporânea (250 a 500 E, como base) do José Pacheco; um rarissimo opúsculo de cunho surrealista de José A. França, Balanço das Actividades Surrealistas em Portugal (15/30 E); um lote de 4 livros do amigo de F. Pessoa, Augusto Ferreira Gomes alguns muito raros; a Revista Graal de Couto Viana; o muito raro terceiro livro de Herberto Helder, Poemacto, edição Contraponto do Pacheco (75/150 E);a rara 1ª edição do Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jarry seguido de o Senhor Cágado e o menino, de António Maria Lisboa; a Revista Litoral de Carlos Queirós; a Revista Lusitânia de C. Michaelis de Vasconcellos; uma rarissima primeira edição de Mestre Almada, A Chave diz: faltam duas tábuas e meia de pintura no todo da obra de Nuno Gonçalves ...; um opúsculo raro de Vitorino Nemésio, Violão de Morro. Tem Xácara, tem samba, tem farsa ...; o rarissimo Tempo de Fantasmas de O'neill (30/60 E); três raras edições de Luiz Pacheco entre as quais a Comunidade e o Libertino; a segunda edição da Mensagem de Pessoa (100/200 E);o primeiro livro de Saramago, a Terra do Pecado (60/120 E); uma rara edição de Cesariny, Alguns Mitos Maiores ...; a defesa de Padre António Vieira perante o Santo Ofício, muito estimada ...e muitos mais.

A não perder.

BLOG PARA O EXPRESSO, JÁ!

Na blogosfera caiu um manifesto petulante de sabedoria e prenhe de seriedade, dada à lux como resposta a um artigalho intitulado «Pacheco Pereira agita a Web» no Expresso, pelo Paulo Querido. O agitprop incompreensível, porque revelador do perfil de altar iluminado e iluminante que o bando dos oito nos lança sobre a forma de choro desvalido, torna-se assim o novo melhoral para a azia jornalística existente no burgo, e de que, curiosamente, os subscritores se afastam como o diabo da cruz. Assinam, todos muito arrumadinhos, os da A Coluna Infame, Blog de Esquerda, Blogue dos Marretas, O País Relativo, Cruzes Canhoto, Prazer_Inculto, Valete Fratres!, O Intermitente.

A coisa não seria de espantar, se a excitação demonstrada pelo bando militante não fizesse a ponte entre a direita engraçada e a esquerda festivaleira. Sem empacho algum, desatam num chorrilho de postumeiras vontades sobre jornais e jornalistas, seguindo o farol da tradição que «inimici sui amicum nemo in amicitias sumit», no que foi acompanhado imediatamente por outros blogs, todos eles numa de «amicus fidelis». Afinal se pretendiam dizer mal do amigo Pacheco Pereira, porque não passaram a publicidade, e deram por bem empregada a pena?

Afinal que tinha o artigalho de Paulo Querido, que é bem melhor jornalista que xadrezista, assim tão bizarro? Acaso não é verdade, que a entrada do Pacheco na blogosfera agitou a dita? E não nos é referido, ao longo do texto, que PP foi recebido com fidalguia e com a etiqueta devida? E será que, de facto, não vem PP «reforçar qualitativamente uma blogosfera de expressão portuguesa»? Ou era só para bater no Expresso, tecendo mandas aos do DN sempre bestialmente governamental e a esse jornal de extrema direita, que é hoje o Independente?

Ora parece que a furibunda diatribe do bando, assim atirados como gato a bofe contra Paulo Querido, é mais uma pose de magister a dar uma de lição de blogar, que outra coisa qualquer. E vindo de um Lombas, agora bolinando entre a teimosia de querer ser conhecido pelo Luiz Pacheco da direita e a chateza de não saber se Paulo Portas mentiu ou não ao tribunal; ou de um fogoso mercador de poesia, de nome Mexia, que calcorreia o rincão natal a dar desvairadas meta-comunicações sobre a poesis aos crentes; ou que dizer, desse luzeiro dos jornais, suspicaz filósofo encartado no seu isolamento de vida de cão, no Independente, e que conseguiu à sua custa baixar supinamente a tiragem do seu jornal, tal o bom-gosto e o bom-senso que o move; afinal, a trombeta assim esgrimida por tais personagens, iluminada com tão íntegros profissionais da imprensa como subscritores, explica-nos bem a brandura que têm com a direcção dos seus jornais. É que, de facto, não há qualquer diferença entre o engenheiro Saraiva e os seus pares Ribeiro Ferreira ou Inês Serra Lopes. Não é tempo de fustigarem os seus directores, meu caros bloguistas, em vez de mandar missivas por portas travessas?

GASPAR SIMÕES NA FIGUEIRA DA FOZ

Fomos a caminho da Figueira da Foz. O dia prometia ser de companhia. E foi. A exposição comemorativa do nascimento de Gaspar Simões, nascido naquela cidade há cem anos estava excelente, ou não fosse superiormente organizada por Henrique Cayatte. "Evocação de uma presença - Gaspar Simões (1903-2003)" no Centro de Artes e Espectáculos (CAE), integrando a programação do Coimbra 2003, era o título. Lá estava parte da biblioteca do Gaspas, como lhe chamava Luiz Pacheco, um grupo significativo de papéis presencistas, fotos e imagens dos intervenientes de antanho, e um acervo testemunhal do crítico literário, do romancista e do homem de letras.

A Divisão de Acção Cultural, Museu, Biblioteca e Arquivos da C. M. Figueira da Foz lançou um lindo e estimado Catálogo Bibliográfico - obrigado H. Cayatte - muito ilustrado, para esta evocação. De referir, para além da já tradicional bibliografia activa e passiva, os textos de Carlos Reis, «João Gaspar Simões queirosiano»; de António Pedro Pita, «João Gaspar Simões e a dinâmica do Neo-realismo»; e um texto de Eduardo Prado Coelho, «João Gaspar Simões e a Nova Crítica».

Dizia Gaspar Simões numa carta a Casais Monteiro:

«Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade» [in Catálogo ...]. Será que sim?

Uma última questão. Por que carga de água deve o bonito Centro de Artes da cidade da Figueira ficar com o nome do presidente que o mandou construir? Não há vergonha na cara destes boys. Será que teremos, no futuro, além do Centro de Artes Santana Lopes um ... Santana Lopes's Kasino, em Lisboa? Está tudo doido?

sábado, 17 de maio de 2003

A ESPUMA DE UM EX-MAOISTA ENVERGONHADO

O ex- maoista envergonhado José Manuel Fernandes anda numa, como diria o Raul Proença, de "cretinizar inteligências". Não se sabe, ainda, se a sua de mestre-escola assumida, se a dos leitores d'O Público.

O piedoso articulista diz-nos, a dado passo, no "Editorial" de sexta-feira:" (...) um país [nota: Bélgica] que nem é bem país, antes um conjunto de três regiões linguísticas que se esgatanham umas às outras, entendeu ter «jurisdição universal» para crimes de guerra. Assim qualquer general da NATO - que por acaso tem sede em Bruxelas - passa a estar em risco de ser preso inopinadamente ao dirigir-se para uma reunião de rotina". Eis como o Fernandes esgrime o florete jornalístico.

Andou muito desde que saiu da "Voz do Povo" e fazia entrevistas ás operárias. Está mais solto de linguagem, menos adocicado na prosa, mais iconoclasta, se bem que sejam já visíveis os defeitos que tem na curvatura da espinha. Mas está bem, como teremos de o aturar até o Belmiro achar que sim, ou o PSD entender que ainda é cedo, utilizaremos esse extraordinário Fernandómetro que nosso direktor utiliza. Uma sugestão. Não se pode fazer um abaixo assinado e mudar a capital da Europa de Bruxelas para Braga. Assim como assim, tal como o Coutinho recomenda no lote dos «três pês», era um fartar vilanagem. Era só meditar pela calada da noute. Vamos a isso?

ESTA SEMANA O FILÓSOFO É ...

Correu mal a semana de cão do JPC. Já cansado com a putativa correria a Sevilha, ou a fugir dos "três pês" da Bracara Augusta, o escriba infame não nos atirou com um punhado de filósofos esta semana na "Vida de Cão". Está mal. Depois do chateza do Ludwig em prosa anterior, o escriba caiu nos braços de Teresa Guilherme, de Aristóteles e de Kant. Neste caso pode-se dizer que a razão perdeu o Pereira Coutinho. Esse infatigável mineiro da filosofia. Está mal!

FELGUEIRAS "RULA"

O que se viu ontem em Felgueiras é execrável. Um bando de populares (!?) correndo e batendo num homem, agastado e humilhado, é bem o retrato da populaça que habita cá no burgo. Um coio de indigentes que vive de e para o futebol - a suprema alienação da pós-modernidade - em sinistro bando, resolve invectivar quem não alinha com a bagunça que reina pelo país. O retrato de Felgueiras está aí. Para ficar.

Duas imagens nos ficam na memória: a primeira, o faccis dos poltrões socialistas de Felgueiras, enquanto o jornalista da RTP1 explicava o que aconteceu. O ar de alarves com que aparecem na TV, a felicidade de estar na mesma caixa onde os Baiões, os da Moderna, os Cruz ou as Fátimas é elucidativo do bem estar do cidadão portuga. A populaça entendeu bem o que Warhol disse, isto é, há que aparecer, sempre com rasgado sorriso nas beiçolas, onde a TV está. E se for em tertúlia ajumentada melhor. A segunda imagem é o aparecimento de um pobre coitado, vestido com farda de futebolista domingueiro, frente ao Assis para lhe fustigar o lombo. Este popular, que decerto trabalha para receber uns míseros cêntimos no seu dia-a-dia, vinga-se pela calada da noite. Entretando a GNR - pronta a partir para o Iraque a nova província dos USA - aparece meia hora depois, com três exemplares extraordinários.

Que raio de País é este? Será que um bando de marginais á solta em Felgueiras manda mais que as autoridades públicas? E que diz a isso o inefável Ministro? Não é um crime público o que todos vimos? Porque se espera?

ALMOCREVE DAS PETAS

O título de Almocreve das Petas, deve-se, tão somente, termos ficado encantados, in illo tempore, com o periódico do mesmo nome ["O Almocreve de Petas ou a Moral Disfarçada da Vida"], publicado em 1798 por José Daniel Rodrigues da Costa, natural de Leiria, ao que se sabe em Colmeias [30/10/1757, informação de Mestre Inocêncio], que é ainda de grande estimação e bastante curioso. Mais tarde, sob direcção de Couto Brandão surge em 1910, "O Almocreve das Petas" da qual só conhecemos um simples exemplar, bem mais fracativo.

Escreveu ainda, o tal José D. Rodrigues da Costa, alguma pérolas como: "Jantar imaginado com sobremeza, café e palitos, dado em meza redonda, na casa de pasto do Desejado, sendo cozinheiro o Pensamento e freguezes Gente de diversos paladares ..." - decerto dedicado ao abominável J. C. das Neves, o papa-almoços ; "Papéis contra papéis, ou Queixas de Apollo para açoute de máos poetas" - dirigido certamente ao pregador Pedro Mexia; e muitos livros e opúsculos que indicaremos se nos der gozo e tivermos pachorra.

SAUDAÇÃO

... aos Manos da Blogosfera. Aqui estamos, respeitosamente, a apresentar a carta de alforria a todos vós, manos inteligentes e cultos, patriarcas das letras e da coisa pública.
O Almocreve é uma palavra com mil letras. Conhecemos bem as nove primeiras mas serão escritas como a libido nos permitir. Seremos brutais na boçalidade dos vossos desejos. O Almocreve será terrível e não faz propaganda. Carregamos o fardo de todos vós e a herança de poucos. Somos como lobos em deserto puro. Estranha maldição a de todos vós. Graças senhor!

Minhas senhoras e meus senhores é entrar é participar para distrair a mente serem luminosos em prosas de merecida estimação e quando à noite vos deitardes levareis reflexão intensa um estágio económico-político com liberdade de expressão ao fundo iniciações cabalísticas por jornalistas encartados dvd's eróticos para colunas infames consultas poéticas em antiquário discurso varonil F-16 para liberais não masoquistas uma rifa de S. Paulo da Moderna petas verdadeiras postas a circular por peixeiras inteligentes uma subida a S. Bento com paragem no Almarjão e egrégias virtudes de vida de cão que o Mondego é aqui. Basta de mau gosto!

Sois encantadores!