 LETREIRO LICENCIOSO NECESSÁRIO AOS SRS. DEPUTADOS
LETREIRO LICENCIOSO NECESSÁRIO AOS SRS. DEPUTADOSA regressada 
Assembleia Nacional tem urgência do uso escorreito da colocação da palavra, do furto da grandeza do vocábulo, do eco da oratória. O acolhimento, na tertúlia parlamentar, que a legenda do insigne deputado 
Eduardo Martins impiedosamente verberou ao ouvido do sr. 
Candal (
filho) fez - segundo 
dizem - honras de improvisação. O espectáculo, indiscutivelmente feminino, que a verborreia discursiva do sr. 
Candal compõe, merece não só uma elocução aperfeiçoada mas exige também uma fonética subsidiária. Em verdade (naquele local) não há oradores negligentes, mas sim devassidão política. O sr. 
Candal (
filho) atrapalha-se nos exercícios práticos de lisonja ao seu patrono. Compreende-se! Mas por isso mesmo deve continuar a esforçar-se para restaurar as letras pátrias. Assunto que o sr. 
Eduardo Martins - distinto promotor do purismo e concisão da linguagem – solidamente e harmoniosamente 
observa.
Portanto, para que ao deboche político se junte o dom pessoal no uso do castiço vocabular, os srs. deputados devem ser 
puros na linguagem e 
devassos na ideologia. Em bom português, o fraseador político terá de ter qualidades e vícios de estilo que a libertinagem do trabalho não confere. Estamos convencidos que a locução "
eu só faço o natural se queres variedades vai ao teatro" [
cf. Eduardo Nobre] não tem fundamento e é intolerável. 
Por isso, para fazer 
bom uso da vernaculidade e fugir à banalidade, para deputados estreantes ou com ócio, aqui vos deixamos um reputado letreiro licencioso. Bom trabalho!  
Pénis / 
Pila / 
Picha - abono de família, apenso, assobio, banana, barambaz, barrote, berimbau, bilharda [corruptela decerto  da "
bilharda: f. Jogo de rapazes, que consiste em fazer saltar com um pau comprido outro mais pequeno", cf. mestre Cândido Figueiredo], cacete [na acepção de "
O rapaz recebeu o cacete e seguiu", 
cf. Poesia Popular Brasileira], caralho 
[usado por 
Plínio Marcos – curioso dramaturgo falecido em S. Paulo em 1999 – na peça/novela policial "
O assassinato do anão do caralho grande", 1996; ou com o mesmo sentido que deriva o poema de 
Joaquim Pessoa "
Ó caralho! Ó caralho! / Isto de a gente sorrir / com os dentes cariados / esta coisa de gritar / sem ter nada na goela /..."; equivalente ao "
o enfermeiro que me ajudava repetia Caralho caralho caralho com pronúncia do Norte", saído da pena de 
António Lobo Antunes, 
in Cu de Judas; loc. copiosas vezes utilizada na obra "
O Meu Pipi" e escusadíssimo quando diz:"
Que porra de esquizofrenia é essa, caralho?"],
careca, carocho, chicote-da-barriga, coiso, encomenda, farfanho, flauta-lisa, gaita, gregório, lalau, mandrião, mangalho [
loc. pop. que Jorge de Sena usa em 
Os Grão-Capitães:"
puxar por um mangalho"], marsapo, mascoto, mingalho, pechota [diz-se no Norte], pica, picha, piegas, pincel, piroca, pau-barbado, pau-de-leite, pendureza, pissa 
[termo registado, ainda, na exuberante obra de 
Pierre Louys, 
Manual de Civilidade para Meninas, onde se regista;"
Não suspendais pissa postiça nenhuma à cabeceira do vosso leito. Tais instrumentos colocam-se por debaixo do travesseiro", p. 9; do modo cordial, ainda 
Louys assegura que "
cativam-se os homens assim: pondo-lhes um grãozinho de sal na ponta da pissa e chupando-a, depois, até o sal se derreter", p. 30; é erro – diz 
Louys -, confundir o termo com 
Teseu; e em bom português não se deve dizer "
O que mais gostava de ser era Metelo", 
cf. Louys, p.19],
porra [de uso esforçado, como filosoficamente 
Guerra Junqueiro nos serviu n’
A Torre de Babel ou a Porra do Soriano, "
A porra do Soriano, é um infinito assunto! / Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto? / Onde é que ela começa? / Onde é que ela termina"], puxador, quilé, romão-cego, sardão, solino, surdo, tinoco [não confundir com 
Tinouco Vieira O Xantho, pseud. José A. X. Coutinho, que escreveu a insigne obra, "
Freio métrico para os novatos de Coimbra em oito oitavas", 1749, cf. 
Dic. Pseudónimos de Albino Lapa], tangalho, trincalho, verga, vergalho (ou finório, 
Alberto Bessa), zezinho, faro (cf. 
Artur Bívar), galinha (cf. 
Alberto Bessa), camarão pequeno (cf. 
Cândido de Figueiredo) 
[retirado do 
Dicionário Expressões Populares Portuguesas, de 
Guilherme Augusto Simões, P&R, 1984]