quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009


BENÇÃO DE ANO NOVO

A fraternal Livraria Letra Livre, que vende copiosos papéis pintados & confeccionadas letras de salvação pós-moderna, conhecendo os efeitos que a crise da crise recolhe entre os ledores da coisa literária, deixa-nos neste garrotilho de annus horribilis – evidentemente para além de noviciadas composições e demais desportos para conter o fastio –, um postal de crença (e liberdade ... pois canté) para observar e fugir à Grande Dor. Lá em cima, seguramente sob protecção da Santa Wiborade, o postal alumia-nos.

Saúde e Fraternidade.

O LOBO DE WALL STREET ou o apóstolo Nicolau

A comissão promotora do bem-estar económico indígena teve outrora na autorizada pessoa de mestre Nicolau Santos sempre um judicioso parecer. O apóstolo Nicolau jogava (e, pelo que se sabe, ainda prevarica) no jogo do Expresso, compondo baralhos micro & macro económicos, adivinhando os sinais da abastança que por aí vinha, seguindo sempre o seu tacto financeiro e a chave ministerial do (qualquer) governo.

Para que o efeito do ruído tivesse aplausos, pois o seu dom de profeta do open-market se alevantava entre os neófitos, o sábio Nicolau rodeou-se de outros atinentes maníacos. Os Bessas, um qualquer respigado moço neoliberal da faculdade, dois ou três párocos empresariais de sucesso, um raminho de viciosos redactores da divina bolsa, o prof. Cavaco & equipa antes do atoleiro do oásis, oradores liberais cultivados em sementes reaganianas, todos deram no jornal fartos testemunhos. A coisa era inqualificável, petulante, fantasiosa e divertida, mas vendia. Nicolau estava feliz. Balsemão (e o BPP) agradecia.

Anos depois, o bom do Nicolau Santos, com o "estouro" do sistema financeiro & demais estabelecimentos entre mãos, foi ler e estudar. No último Expresso (à pagina 5) obteve uma revelação, à qual sobreviveu, que denominou: "a loucura que criou a crise". Está explicado, portanto, o sacrifício dos trabalhadores e cidadãos, todos estes anos de luxúria económica. Graças Nicolau! Estás desculpado!

Diz Nicolau: "... Na verdade, Belfort colocava acções de empresas no mercado, cujo valor depois controlava usando a sala de corretagem. Se depois o dono da empresa não colaborasse, Belfort utilizava o seu poder para derrubar o preço das acções até chegarem aos centavos. Colaborando, fazia subir o preço das acções através de vendas maciças. E em novas emissões garantia para si uma parte que comprava abaixo do preço do mercado, vendendo depois as acções com um lucro enorme. Além disso, utilizava testas-de-ferro para comprar mais acções do que a legislação lhe permitia.

Contudo, o dinheiro ganho ilegalmente tinha de ser colocado em local seguro, onde as autoridades americanas não começassem a fazer perguntas acerca da sua proveniência. E assim Belfort lá abriu uma conta num banco suíço, em nome de uma tia da sua mulher, bem como duas empresas fictícias nas Ilhas Virgens britânicas, onde não se paga impostos nem há regulamentos a seguir. Pelo meio, havia documentos falsificados e pessoas que serviam de correio para transportar dinheiro para fora dos Estados Unidos.

Tudo foi correndo bem, até que morre a referida tia e um dos correios é detido e dá com a língua nos dentes. Belfort é obrigado a negociar com as autoridades o seu afastamento da presidência da Stratton e a empresa acaba por encerrar ao fim de oito anos. 0 seu passado profissional, contudo, continua a persegui-lo. E assim em 1999, Jordan Belfort, "O Lobo de Wall Street", é finalmente preso por fraude mobiliária, lavagem de dinheiro e outros crimes e acaba por cumprir uma pena de 22 meses numa prisão federal.

Foram pessoas como esta, brilhantes financeiramente mas gananciosas, amorais e que sempre desprezaram as empresas produtivas, que durante duas décadas fizeram girar triliões em Wall Street, inventaram todo o tipo de veículos financeiros sem que ninguém soubesse exactamente que risco continham e alavancaram a economia mundial a um ponto que já nada tinha a ver com a economia real. 0 resultado é a devastadora crise em que caímos”.

[escriba Nicolau Santos, in Expresso-Economia, 31/01/2009]

domingo, 1 de fevereiro de 2009


LIVRARIA (PARCERIA) ANTÓNIO MARIA PEREIRA

Na morte de António Maria Pereira [1924-2008], advogado e político, ocorrida no dia 28 de Dezembro de 2008, de imediato surge à lembrança a antiga Livraria António Maria Pereira, que tantos e estimados livros publicou. A mítica editora teve uma actividade editorial notável, patrocinando os melhores escritores portugueses.

O ofício de livreiro de António Maria Pereira, um desconhecido com 23 anos de idade que tinha sido aprendiz de oficio na Casa dos Vinte e Quatro [corporação extinta por D. Pedro a 7 de Maio de 1834] e depois caixeiro na estimada Casa Marques, começa a partir do dia 18 de Agosto de 1848 quando se instala no nº188 da Rua Augusta. O mester de livreiro [a este propósito é indispensável o livro de Fernando Guedes, "Os Livreiros em Portugal e as suas associações desde o século XV até aos nossos dias", Verbo, 1993] lê-se na tabuleta da porta que indicava:"Estabelecimento para venda e encadernação de livros" [cf. Crónica de uma Dinastia Livreira, de António Maria Pereira, Pandora, 1998].

Editando os melhores escritores da época, a par de literatura popular, torna-se uma importante editora e a partir da administração do 2º António Maria Pereira ("um homem de letras", segunda Eça) muda o nome para Parceria António Maria Pereira. Curiosamente na primeira direcção da (denominada) Associação dos Livreiros de Lisboa (13 de Fevereiro de 1924), o secretário da direcção estava atribuída à Parceria. Como, aliás, virá a suceder em 1927, quando aparece entre os livreiros que fundam a Associação de Classe dos Livreiros de Portugal [cf. Guedes, 1993]. Foi esta Associação que em 1930 promove a Feira do Livro.

A administração da Parceria passa, de novo, para as mãos de um novo António Maria Pereira (o 3º), mas a crise, a má gestão e depois os conflitos laborais surgidos após o 25 de Abril, passa à denominação de Livraria do Arco e rapidamente se extingue. O dr. António Maria Pereira, filho do último administrador da Parceria e falecido em Dezembro último, em 2000 refunda a casa editora dos seus antepassados, a Parceria António Maria Pereira.

Náusea

"Nós vivemos do eco das coisas e neste mundo de pernas para o ar, é ele que suscita o grito" [Karl Kraus]

Perante uma das maiores crises económicas e sociais que há memória (e, já agora, de que se não vê remédio) nesta paróquia ou quintal desventurado, a choldra esquece tudo e mergulha definitivamente em convictos exercícios espirituais e, dado o jejum quebrado, em curiosas bênções ofertadas ao governante (genuflexão, respeitosa!). O caso Freeport dá o mote. Ele é insinuações de boca a boca, infamantes cabalas, guerras exuberantes, poderes ocultos, urdimentos conscienciosos e o que mais se verá. As personagens estão aí. Os factos, também. A justiça, nem por isso.

Os indígenas, sovados que foram estes anos de campanha negra Sócratista, abraçam a celeuma, avivando as mazelas políticas de todos estes anos, alimentando (ingenuamente) a fogueira dos media. A engenhosa governação, inçada pela fluidez da novela "presumidamente orquestrada" (Sócrates+Santos Silva, dixit) por duvidosa gente, adverte vergonhosamente, ameaça atrevidamente e engendra a vitimização. A democracia e o estado de direito estão a banhos, enquanto o sr. Presidente da República pratica o golf. A fazenda é, doravante, um depósito de gente sem civismo.

A miséria moral que resulta disto tudo - desta vez - não autoriza a deixar de fora o sr. P.G.R. e o Ministério Público (via entrevista de Cândida Almeida), tal foi a desastrada e provocatória intervenção com que nos distinguiram esta semana. Sem surpresa, o silêncio sobre este lamaçal que é o exercício da justiça em Portugal existe apenas por parte do entediante Alberto Costa, apenas o pior ministro de sempre. Tal vulto jamé se "molha", na sua preclara quanto insana ocupação de reformar (?) o sistema judicial.

Alguns reparos & outros pecadilhos:

1. O caso Freeport (muitos mais, decerto, existem na mesma situação) dormiu no regaço da investigação durante anos. A putativa explicação para tal aconchego nunca se entendeu. Uma explicação séria e sustentada (e só essa) sobre a inoperância da investigação deveria ter sido dada pela PGR ou, do mesmo modo, pela dra Cândida Almeida. Os cidadãos tinham esse direito. Debalde, foi. A desordem e a gravidade da coisa têm aqui a sua raiz. Manobras corporativas e apoios velados ao poder, não são admissíveis. Mais ainda quando há verdadeiras ameaças de quem governa, dadas as insinuações sobre forças "obscuras" pairando sobre a pátria e que ninguém entende.

2. O caso Freeport sendo um caso policial, também é político. De muito gravidade, face ao ponto onde chegou. Porém tal não permite que a informação e contra-informação se torne um lugar comum ou que de uma qualquer trincheira saia, inesperadamente, um soundbyte para recriar as audiências (reabertura do caso Siresp, ou melhor do surgimento de Santana Lopes, assunto que já cá faltava para entreter o gentio). Se vale tudo, haja decoro e investigue-se mesmo tudo. Exemplos não faltam na escola do bloco central dos interesses.

Por último, é curioso que o governo que mais propaganda faz – superiormente assessorado por desinquietos jornalistas (e que regressam depois ao "seu" jornal, como se nada se tivesse passado e sem que se conheça qualquer declaração de interesses) - seja, também, aquele que constrói as mais despudorados teorias conspirativas, que como tal só podem ter eco por gente dos jornais. Mas não vale a pena o incómodo disso tudo. É que a melhor propaganda anti-Sócrates é deixar o sr. Augusto Santos Silva falar. Simples e sem visco.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


In-Libris – Livros de Janeiro 2009

A In-Libris (Porto) apresenta um lote de 100 livros antigos e esgotados de filosofia, história, literatura, zoologia, arte, etc.

Referências: O Porto na época dos Almadas, de J. J. Ferreira Alves, 1988 / Folhas, Manifestos e Cartas [um manifesto d’A Federação Municipal Socialista do Porto, 1916; uma folha "Viva a Republica", 1910; uma folha "Crimes da Quadrilha Sidonista", 1919; outra folha, "Conjuras Reacionarias", 1910 / outra, ainda, de Norton de Matos, Á Nação”, 1948; uma "Carta Aberta ao Senhor Presidente da Comissão Provincial da União Nacional", s.d., assinada por Almeida Santos, Carlos Adrião Rodrigues, Henrique Soares de Melo e José Santa Rita; outra Carta do Senhor Bispo do Porto D. António ao Presidente do Conselho, 1958; outra Carta ao Snr. Cardeal Patriarca, por José Manuel de Deus, 1932; outra, ainda, de Cunha Leal a Paulo Cunha, 1965; outra de Cunha Leal ao Dr. Castro Fernandes, 1965] / Realidade Branca, de Raul Carvalho, 1968 / livros de Augusto Gil, Álvaro Lapa, Alexandre O’Neill, Antero de Quental, Melo e Castro, Eugénio de Castro, José Gomes Ferreira, João Cabral de Melo Neto, José Régio, Políbio Gomes dos Santos, José Rodrigues Miguéis, Ovídio, José Cardoso Pires, Alves Redol, Jorge de Sena, Mário Domingues, Fernando Luso Soares, Carlos Sombrio, Fernão Botto-Machado / uma edição rara da União Nacional "O que foi a democracia dos Partidos" / o Programa para a Democratização da Republica, 1961 / a Sessão de 30 de Novembro de 1946 do MUD / a Administração da Dictadura Clerical-Militarista, de Anselmo Vieira, 1929 /

A consultar on line.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


58º Centenário da Real República da Pra-kys-tão

Foram muitos os amigos que ao longo do tempo nos deixaram testemunhos vibrantes, despretensiosas anotações ou dizeres sinceros, na sua passagem pela República, em eventos especiais, visitação ou por simples recordação. Bravos companheiros de viagem que o destino desirmanou mas que nunca foram esquecidos. E como poderiam? Sem a amizade e a veneração com que nos souberam honrar, a gesta da nossa Casa restaria sempre mais desventurada, menos saudosa. Daí que por obediência a uma memória que se quer luminosa, e que o tempo não apagou, AQUI deixamos algumas dessas eloquências, para que conste e possa ser vida. [ler AQUI]

Fundação: 27 de Janeiro de 1951

sábado, 24 de janeiro de 2009


José Sócrates e o caso Freeport

A caricatura política posta a correr pelo actual primeiro-ministro sobre uma presumida cabala em "ano de eleições", levada a cabo pelos seus adversários políticos (só pode!), em torno do incidente do Freeport é ridícula, pouco prudente e politicamente imperfeita.

1. É ridícula, porque a alusão feita por Sócrates pronuncia uma emblemática desonestidade (instrumentalização) da parte da PJ e do Ministério Público, atoarda ou eco costumeiro da classe política nestas questões paroquiais. Tal maquiavélico intento de duas instituições basilares no estado de direito democrático, nunca justificado nem fundamentado, mede a honra de quem as profere e surpreende vindo de um primeiro-ministro de um país civilizado. E surpreende, de outro modo, a mansidão da resposta (!?) dos dirigentes que dirigem as instituições difamadas. O incorrigível estado do país explica-se muito pela pouca dignidade e dever de consciência que (todas) essas personagens manifestam.

2. É pouco prudente, porque o figurino do despacho do processo de licenciamento do Freeport (14/03/2002) revela uma atribulada engenharia administrativa, onde as dúvidas técnicas & políticas surgem naturalmente. O que os jornais profusamente nos dizem, instalam a perplexidade e consagram a possível existência de irregularidades. Trata-se, não de mera carpintaria politico-partidária, mas da simples consagração do direito à informação. Como tal, o reparo feito por Sócrates neste caso e a cegueira habitual dos apaniguados íntimos, é uma recreação pouco inteligente e original.

3. É politicamente imperfeita, porque se de facto ninguém tem culpa da sua família de origem, nada irresponsabiliza quem quer que seja até ao total apuramento da verdade, até mesmo (ou por isso mesmo) o principal governante de um país. Ora o que se espera de um governante não é que impugne putativos adversários (ditos) políticos nesta contenta, mas que reconheça a gravidade dos factos apontados e defenda a sua honra pessoal e política em sede própria, a que tem necessariamente direito. Dramatizar e concitar o favor do gentio nesta ocorrência é, como estratégia, uma refalsada argumentação de autoridade. Só alicia quem inverosimilmente consente.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


Catálogo 75 da Livraria Bizantina de Carlos Bobone

Saiu o 75º Catálogo de Livros da Livraria Bizantina (Rua da Misericórdia, nº147, Lisboa), superiormente dirigida por Carlos Bobone. Com 501 peças, quase todas há muito esgotadas, de teor literário, colonial, mas principalmente histórico – com exemplares curiosos sobre a monarquia portuguesa ou de interesse para a história da I República, integralismo lusitano & seus "desvios" - , bem como apresenta alguns manuscritos (registe-se o curioso projecto de Alargamento do Caes do Esteiro d’Aldeia no Concelho d’Estarreja, de 15 Janeiro de 1898) e uma notável COLECÇÃO DE PRIMEIROS NÚMEROS DE JORNAIS DOS SÉCULOS XIX E XX (ver AQUI), sem dúvida uma cobiçada peça de colecção.

Consultar a Livraria – AQUI.

Foto: interior da Livraria Bizantina (espólio nosso).

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009


Blog: Gentes & Lugares - Toponímia

Manuel Carvalho, ancorado em terras de Aveiro (paixão nossa que o tempo libertou), oferece-nos um espaço vigorado de gentes & lugares, "porque sem gente não há lugares, mesmo que os haja". Satisfazendo os nossos desejos, afinal ventura dos que sorriem sempre, recorda em cada post homens & lugares, nomes inolvidáveis & pedras erguidas, venerando datas e páginas ilustres da nossa história. Nação gloriosa!

Tábua:JOSÉ ESTÊVÃO Coelho de Magalhães 1809-1862 (biografia) / JOSÉ ESTÊVÃO Coelho de Magalhães (bibliografia activa e passiva) / JAIME DE MAGALHÃES LIMA 1859-1936 (biografia) / ver tudo AQUI.

An American Moment

"Today I say to you that the challenges we face are real. They are serious and they are many. They will not be met easily or in a short span of time. But know this, America - they will be met. On this day, we gather because we have chosen hope over fear, unity of purpose over conflict and discord. On this day, we come to proclaim an end to the petty grievances and false promises, the recriminations and worn out dogmas, that for far too long have strangled our politics ...

Now, there are some who question the scale of our ambitions - who suggest that our system cannot tolerate too many big plans. Their memories are short. For they have forgotten what this country has already done; what free men and women can achieve when imagination is joined to common purpose, and necessity to courage ...

The question we ask today is not whether our government is too big or too small, but whether it works - whether it helps families find jobs at a decent wage, care they can afford, a retirement that is dignified ...

For we know that our patchwork heritage is a strength, not a weakness. We are a nation of Christians and Muslims, Jews and Hindus - and non-believers ...

America. In the face of our common dangers, in this winter of our hardship, let us remember these timeless words. With hope and virtue, let us brave once more the icy currents, and endure what storms may come. Let it be said by our children's children that when we were tested we refused to let this journey end, that we did not turn back nor did we falter; and with eyes fixed on the horizon and God's grace upon us, we carried forth that great gift of freedom and delivered it safely to future generations ..."

[notas do discurso de posse de Barack Obama]

Locais: Text of President Obama's inaugural address (Ledger-Enquirer) / Obama's Speech Annotated, Part I (The Atlantic) / Obama's Speech, Annotated, Part II (The Atlantic) / Editorial President Obama (N.Y.T.) / Rejecting Bush Era, Reclaiming Older Values (N.Y.T.) / The Best (and Worst) Lines in the Speech (Slate) / Blunt criticism of the past (Chicago Tribune) / Barack Obama's Speech: A Disappointing Hodgepodge (The New Republic) / Discurso de Obama: Novo Presidente pede uma "nova era de responsabilidade" (Público) / Is Europe Ready for a Barack Obama? (ABC) / The new president's first duty: Tell Americans the 'whole truth' (National Review) / Obama: We must change with the world (F.T.)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009


Pérolas ou Dicas para o Bloguista Instruído

- "Hoje em dia todos os professores chegam ao topo no final da sua carreira. Isto é injusto e não existe em qualquer outra classe" [José Sócrates, Público, 22/10/2006]

- "... é prática comum do grupo, todos os administradores quadros da CGD, quando deixam de o ser, atingem o nível 18 em termos de graduação interna" [in Público]

- "O jornalismo ... foi uma actividade que sempre fascinou Armando Vara" [in DN]

- "Greve [dos docentes] contou com 41% de adesão, diz ministério" [TSF]

- "Greve às aulas assistidas é «puro boicote» à avaliação, diz Jorge Pedreira" [in Sol]

- "Governo desautoriza votação [sobre a avaliação dos professores] na Assembleia da República" [diz o inefável Augusto Santos Silva, 1ª pág. Público de amanhã]

- "Banca pede à Sonae para evitar recorrer ao crédito" [in JN]

- "Estou de acordo com o plano anti-crise do Governo" [António Mota, da excelsa Mota-Engil, onde labuta o gestor Jorge Coelho, in Jornal de Negócios]

Pérola do dia: "A Confap [do sr. Albino] tomará medidas para que serviços como o refeitório e a guarda das crianças continuem a funcionar em futuras greves de professores, nem que para isso tenha de recorrer ao Tribunal Constitucional" [in Público]

PERFIL DO IDIOTA

O dia d’hoje – dia de greve dos docentes – fez aparecer, em sibilina fúria, o perfeito idiota. Aquele que, do governante ao comum dos mortais, intervém à espera que a sorte lhe sorria nas bandas da governação. O idiota é um rapaz estimável. Como o lacaio a quem o seu senhor manda entregar uma lembrança. O nosso perfeito idiota tem na literatura um excelente lugar. O seu segredo, que é a mesmo da congregação onde se matriculou, está há muito estudado.

Eis, como exemplo, um preceito para avaliação do perfil do idiota, pelo mestre Ernesto Sampaio, de sábia descrição:

"O IDIOTA é geralmente competente, moralmente irrepreensível e socialmente necessário. Faz o que tem a fazer sem dúvidas ou hesitações, respeita as hierarquias, toma sempre o partido do bem e acredita religiosamente nas grandes ficções sociais.

A incapacidade de relacionar as coisas, as ideias e as sensações transforma-a ele em forca, e como lhe escapam as causas e os fins do que lhe mandaram fazer, fá-lo com prontidão e limpeza, sem introspecções inúteis. Do mesmo modo, como vê no destino o único regulador da vida, acha que se uns dão ordens e outros obedecem é porque todos cumprem misteriosas injunções da providência, as quais é não só inútil, mas criminoso sondar.

O IDIOTA só pode ser bom. Para o mal, precisa-se de imaginação, inteligência discriminativa, espírito científico. (...) O IDIOTA é um bom cidadão. Sem ele, a sociedade entraria em curto-circuito, incendiada entre os pólos do dever e da desobediência revolucionária. (...)

Embora para um IDIOTA seja uma desvantagem não saber que o é, normalmente ninguém lho diz: segundo Brecht, «tornar-se-ia vingativo como todos os idiotas». Aliás, o mesmo Brecht diz que ser idiota não é grave: «É assim que você poderá chegar aos 80 anos. Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem. E então na política!» (...)

Para o IDIOTA, os sentimentos e as emoções são «uma boa», constituindo dados manipuláveis. Em si mesmo, não acha qualquer sentido ou valor, mas de qualquer modo são coisas que lhe podem trazer vantagens ou desvantagens: é preciso, portanto, avaliar-lhes as implicações e consequências. Ao lidar com sentimentos e emoções, os próprios e os alheios, o problema, para o idiota, consiste em controlá-los, guiá-los, desfrutá-los, e isso implica trabalho, cálculos complicados e a aprendizagem de técnicas nem sempre fáceis. (...)

O IDIOTA circula à volta do sucesso como a borboleta em redor da chama, agarrando-se como lapa ou mexilhão a quem o alcança. Espertalhão, agrada-lhe receber, mas dá o menos possível, e arranja sempre qualquer explicação ética para justificar este comportamento. Na realidade, a sua lógica, elementar como as suas poucas ideias e imagens, consiste apenas em receber sempre mais do que dá. (...)

Os IDIOTAS andam sempre juntos: consomem os mesmos produtos, frequentam os mesmos locais, lêem os mesmos livros e jornais, e têm uma habilidade notável para descobrir e evitar quem não é idiota. Graças a Deus! A política, porém, unifica o conjunto da sociedade sob o signo da idiotia: pessoas estimáveis, notáveis até nos diversos domínios do saber e da cultura, quando chegam a política tornam-se idiotas. Triunfam, quer-se dizer. Tornam-se, enfim, públicas".

Ernesto Sampaio, publicado no Diário de Lisboa, de 12/06/1987, e reeditado no livro "Ideias Lebres", Fenda, 1994, p. 133-36.

A todos uma boa janta!

GREVE

in ANTEROZÓIDE

COM OS PROFESSORES!

A miserável campanha de intimidação, movida pela equipa do Ministério da Educação contra os docentes e muito bem inspirada nas boticas partidárias de Homens perturbados e sem honra, não passará. Os professores são cidadãos sérios, corajosos e exemplares. A nobilíssima missão que profissionalmente desempenham e a travessia que fazem em prol da (saudade) democracia é incontornável. Por isso, nesta desordem educativa, têm o respeito do país de Homens livres. A defesa da honra, do bom-nome, do ensino de qualidade e da instrução pública, são exercícios honestos de cidadania que todos os dias assumem, seguros que estão da sua liberdade. A insubmissão (de todos eles) contra a prepotência e o obscurantismo representa um sentimento generoso de independência e emancipação. A greve de hoje assim o mostrará!



"Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
"

[Geraldo Vandré - Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores]

BOM DIA!

Acualização [13,00 h]: "Numa ronda por escolas da Grande Lisboa, a Lusa encontrou várias escolas fechadas e, na maioria dos casos, a funcionar com menos professores do que o habitual ..." - in jornal Público online.

- "Greve: pais ameaçam recorrer aos tribunais". Mas A Adesão Não Foi Muito Baixa? [in blog Educar]

sábado, 17 de janeiro de 2009


In Memoriam Tereza Coelho (1959-2009)

Faleceu ontem (dia 17) Tereza Coelho, excelente tradutora, uma notável jornalista literária (no Expresso de muita memória, no diário Público – onde dirigiu o estimado suplemento "Leituras" -, no jornal Independente, na revista feminina Elle e na revista "Livros"), e uma admirável e inesquecível mulher.

A Figueira da Foz, cidade que adoptou como sua e onde tinha muitos amigos (como não lembrar os tempos do então Festival de Cinema, ou o seu casamento com Eduardo Prado Coelho), deve-lhe muito. Assim a cidade a saiba evocar, condignamente.

Ler a notícia no jornal Público, no jornal Figueirense e no blog Da Literatura.

Foto: in Mário Cabrita Gil (A Idade da Prata)

domingo, 11 de janeiro de 2009


Leilão de Livros, Manuscritos e Gravuras – 12, 13 e 14 de Janeiro

No próximo dia 12, 13 e 14 de Janeiro (15h) no Palácio do Correio Velho (Calçada do Combro, 38 A - 1º, Lisboa), vai à praça (1034) livros, manuscritos e gravuras, de algum interesse e valor.

Algumas referências: Álbum de recortes de caricaturas (sec. XIX), uma Alcobacense curiosa, livros sobre o Alentejo e o Algarve, 2 vols do Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro, a estimada Luzitania Transformada de Fernão d’Alvarez, o estimado Trás-os-Montes de Francisco Manuel Alves (Abade de Baçal) a que se junta um tomo das suas Memórias Arqueológicas (t. IX), os Anais do Município de Tomar de Amorim Rosa, o Anuário Comercial de Portugal (1910), livros de Arqueologia e Arquitectura e Arte (invulgar conjunto), Missais Romanos, o Livro de Horas da Condessa de Bertiandos, lote de livros sobre a Ordem de Cristo, Monografias estimadas, 2 raros livros de Barahona da Fonseca, a Década Primeira de João de Barros (1628), um lote de bibliografia (especial nota para a esgotada Imprensa Periódica no Distrito de Bragança durante a 1ª República), biografias variadas, um curioso quinzenário Orgão dos Bombeiros Voluntários Portuguezes (O Bombeiro, 1889-92), a estimada História da Luzitania e da Ibéria de João Bonança, conjunto (parcial) da revista literária Caliban (Lourenço Marques, 1972) encerrada pela PIDE, o De Angola à Contra-Costa de H. Capello & R. Ivens, uma curta Camiliana, lote de livros de Direito, Filosofia, Folhetos Históricos (sec. XVIII e XIX), obras de História de Portugal, conjunto estimado de fotografias, a revista de caça Diana, várias peças de Equitação e Cavalaria, livros muito procurados de Henrique Galvão, um conjunto curioso de livros de Culinária, os Inventários Artísticos de Portugal, um conjunto (1922-24) jornais do Suplemento Cultural do D.N., vários lotes de Gravuras, Literatura portuguesa variada e de poesia, livros de Ferreira de Castro, Hernâni Cidade, Cinatti, Jean Cocteau (Le Coq et L’Arlequin, 1918, raro), Natália Correia, Sttau Monteiro, Vergílio Ferreira, O’Neill, diversos e importantes Manuscritos e Documentos.

Pode consultar o Catálogo online, AQUI.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Educação- Lídia Jorge
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EDUCAÇÃO: ponto da situação por Lídia Jorge

Nestes tempos de furor autoritário e de cárcere Sócratista, em que tudo e todos estão reféns da charamela do novo Partido Popular (moderado), é grato ler alguém que ouse ir contra essa bravata do “"grande reformador", que os zeladores da ordem e da situação apodam ao "grande educador" Sócrates. Os docentes foram, durante o ano que passou, a única "tribo" a repudiar tais teorias postas a correr por gente ignorante e sem escrúpulos, alguns com copiosos interesses no sistema e no pensamento único. E a única classe profissional a exercer, em plenitude, o exercício de cidadania.

A discrição do intelectual nativo, neste assunto da resistência da classe docente contra o fim da Escola Pública e da Educação, foi total. Não se ouviu do repertório intelectual indígena, curiosamente sempre alvoroçado em abaixo-assinados & outras ilustradas sentenças, nenhuma posição sobre os atropelos do Ministério da Educação contra a classe mais ilustrada do país. E que sempre, com elevada solidariedade, esteve ao lado dos que lutam contra o medo, pela democracia contra o despotismo, pela liberdade contra a ignorância. O desprezo de toda essa corja de putativos intelectuais pelos cidadãos, passado o tempo da ditadura e agora muito bem instalados na vidinha, explica em parte as décadas de atraso cultural (social e económico) deste malfadado país.

Por isso o desagravo da escritora Lídia Jorge [Público, 9 de Janiero de 2008, p. 38] soou alto, nesta miséria caseira. Por isso, o texto que corajosamente ofereceu a este colégio interno onde habitamos, foi generoso e até, mesmo, benevolente. E por tudo isso, merece ser lido e reflectido. E arquivado.

Nota: clicar no Fullscreen para ler tudo.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


And Now for Something Completely Different

Cada um ao nascer traz uma dose de amor
mas os empregos,
os salários
tudo isso, seca o solo do coração

Maiakovski

AZIA pela Blogosfera

Daniel Oliveira contraiu a doença de mestre-escola. Numa posta, que não é mais que um suplemento vigilante de exortação à pregação de um coio de jornalistas acofiados ao poder, pretende refutar os ditos de circunstância de José Pacheco Pereira sobre o jornalismo de clientela e o estado parodista da blogosfera. Sobre o exame desses pregadores caluniosos que pululam na imprensa e pela Blogosfera, onde apresentam esplêndidos compêndios reaccionários "pret-à-porter" e (decerto) com aprovação do senhor Sócrates & Cia, o vigilante Daniel Oliveira escreve um papel em branco.

O brevíssimo tratado de raiva anti-JPP é, desta maneira, um catecismo que em vez de dissecar as meditações pachecais dessa escolástica figura – desde a sua patologia (neo)liberal sobre o Estado à miséria da produção de exóticas teorias sobre a administração Bush, até ao imoral apoio ao business espectáculo do governo de Israel -, acompanha o labor da infâmia e a manipulação insidiosa de alguns jornaleiros e comentadores contra JPP, mas do mesmo modo contra os cidadãos (da esquerda ou da direita) que fazem da resistência e desobediência civil contra o autoritarismo, o insulto e a mentira um orgulho de cidadania e um trânsito democrático contra a alienação, e que histericamente tais espíritos jornaleiros combatem. De facto, o bloqueio ideológico que os Bettencourt Resende, Hermínio Monteiro, Fernando Madrinha, João Marcelino, Fernanda Câncio, José Leite Pereira, Sousa Tavares, Rui Ramos, Peres Mettelo, António Costa (D.E.), Santos Silva (e tantos mais corifeus sem ética, nem vergonha) exalam nos seus boletins paroquiais é para Daniel Oliveira totalmente indiferente, ou quanto muito rimadas e piedosas intenções apenas a suspirar.

Daniel Oliveira, como outros, não conseguindo dissimular a rusticidade de um activismo institucional comprometido (na blogosfera) e a obediência cega (quando não, submissão) às regras e à aporia da amizade, neste seu texto, desresponsabiliza os novos "democratas" (arrependidos!) que arribaram à blogosfera e cujo revisionismo militante é provocatório, senão mesmo fascizante. Compreende-se, assim, como o crítico Daniel Oliveira, intervenha bizarramente contra JPP, demonizando-o, deixando de lado alguns hóspedes que a blogosfera acolheu, absorvido que estava na defesa de causas fracturantes, e que, ingenuamente, lhe sussurravam serem de esquerda. A beata Câncio & seu grupelho, e alguns jovens maviosos que deram então serventia ao Blogue de Esquerda ou ao antigo Cinco Dias, estão por aí como exemplo. Tem, portanto, Daniel Oliveira muita análise política para se ocupar. Cocheiros do sr. Sócrates e rosas todo o ano são inestimáveis repastos que abundam por todo o lado. Assim queira o meu caro amigo Daniel surpreender os seus leitores e não sussurrar, apenas, a arqueologia do disparate.