sábado, 24 de janeiro de 2009
José Sócrates e o caso Freeport
A caricatura política posta a correr pelo actual primeiro-ministro sobre uma presumida cabala em "ano de eleições", levada a cabo pelos seus adversários políticos (só pode!), em torno do incidente do Freeport é ridícula, pouco prudente e politicamente imperfeita.
1. É ridícula, porque a alusão feita por Sócrates pronuncia uma emblemática desonestidade (instrumentalização) da parte da PJ e do Ministério Público, atoarda ou eco costumeiro da classe política nestas questões paroquiais. Tal maquiavélico intento de duas instituições basilares no estado de direito democrático, nunca justificado nem fundamentado, mede a honra de quem as profere e surpreende vindo de um primeiro-ministro de um país civilizado. E surpreende, de outro modo, a mansidão da resposta (!?) dos dirigentes que dirigem as instituições difamadas. O incorrigível estado do país explica-se muito pela pouca dignidade e dever de consciência que (todas) essas personagens manifestam.
2. É pouco prudente, porque o figurino do despacho do processo de licenciamento do Freeport (14/03/2002) revela uma atribulada engenharia administrativa, onde as dúvidas técnicas & políticas surgem naturalmente. O que os jornais profusamente nos dizem, instalam a perplexidade e consagram a possível existência de irregularidades. Trata-se, não de mera carpintaria politico-partidária, mas da simples consagração do direito à informação. Como tal, o reparo feito por Sócrates neste caso e a cegueira habitual dos apaniguados íntimos, é uma recreação pouco inteligente e original.
3. É politicamente imperfeita, porque se de facto ninguém tem culpa da sua família de origem, nada irresponsabiliza quem quer que seja até ao total apuramento da verdade, até mesmo (ou por isso mesmo) o principal governante de um país. Ora o que se espera de um governante não é que impugne putativos adversários (ditos) políticos nesta contenta, mas que reconheça a gravidade dos factos apontados e defenda a sua honra pessoal e política em sede própria, a que tem necessariamente direito. Dramatizar e concitar o favor do gentio nesta ocorrência é, como estratégia, uma refalsada argumentação de autoridade. Só alicia quem inverosimilmente consente.