quarta-feira, 26 de março de 2008
Mudança - por João Paulo Guerra
"O Diário de Notícias de ontem publicou uma interessante comparação entre a legislação laboral tal como os socialistas a defendiam, enquanto oposição ao governo PSD/CDS, e aquilo que o PS agora preconiza na qualidade de governo.
O que pode concluir-se da comparação é que diversas medidas do Código Laboral de Bagão Félix, então criticadas na declaração de voto dos socialistas, são agora ultrapassadas em diversos aspectos anti-laborais pelo próprio PS.
O que é que mudou nestes cinco anos? O carácter das relações entre o capital e o trabalho, as regras dominantes da economia, a relação entre poder económico e político? O que mudou foi o PS. Aliás, vários acontecimentos da vida política centraram-se nestes últimos cinco no supremo desígnio de liquidar o PS que havia.
Em muitas questões essenciais, o actual PS e o PSD são gémeos separados à nascença. Mas há um aspecto fulcral que os distingue: o PS tem mais facilidade em fazer a vida negra ao mundo do trabalho que a direita propriamente dita. Ou seja: o PS liquida direitos laborais em nome dos trabalhadores o que, por razões históricas e de registo de patente política, condiciona a contestação às suas políticas. Na oposição, o PS capitaliza a contestação às mesmíssimas políticas que, uma vez no governo, põe em prática. Esta regra teve um hiato excepcional durante a liderança de Eduardo Ferro Rodrigues, "ministro dos pobres" no governo e contestatário consequente da política laboral da direita na oposição. Arrumado politicamente Ferro Rodrigues, mais nenhum obstáculo se levantou a que o PS faça no governo igual ou pior que aquilo que critica à direita quando está na oposição. Chamem à mudança "cabala" ou outro palavrão qualquer"
[João Paulo Guerra, in Diário Económico - sublinhados nossos]
In-Libris – Mais livros do mês de Março
A In-Libris (Porto) apresenta on line, um conjunto curioso de livros, entre os quais a rara revista Athena, a edição fac-similada da Presença, o Cours d’Architecture que comprend les ordres de Vignole ..., o Almanaque do Palco e das Salas (1926), o Canto da Nossa Agonia (de Casais Monteiro), o estimado livro de B. C. Cincinnato da Costa e Luiz de Castro "Le Portugal au point de vue agricole" (1900), o Atlas de Botânica de António Xavier Pereira Coutinho, a procurada monografia "No Alto Minho. Paredes de Coura" de Narciso Alves da Cunha, poesia de Afonso Duarte, António Nobre, Ana Hatherly, José Régio, Pedro Homem de Melo (O Rapaz da Camisola Verde, 1954), António Correia de Oliveira, Luis Guedes, David Mourão Ferreira, um Guia de Turismo de Guimarães, a rara monografia "Quatro dias na Serra da Estrela" de Emídio Navarro e uma outra monografia "Serra do Gerez" de Tude Martins de Sousa.
A consultar on line.
terça-feira, 25 de março de 2008
Maria Lurdes Rodrigues
"...Maria de Lurdes Rodrigues não pode ficar à espera de receber outra vez o apoio do primeiro-ministro. Depois disto, é seu dever sair do cargo. E não é, como diz constantemente, a mais fácil das soluções. É a medida necessária para que haja soluções. A saída da ministra é, viu-se agora, uma questão de segurança nacional. É a mensagem necessária para a comunidade escolar, alunos e professores, entenderem que o relaxe, a desordem e o experimentalismo desenfreado chegaram ao fim. Que não há protecção política que os salve já da incompetência do Ministério, da DREN e de tudo o mais que nestes três anos nos trouxe à vergonhosa situação que o vídeo do YouTube mostrou ao país e ao Mundo ..."
[Mário Crespo, in Jornal Notícias, 24/03/08 (ler aqui) - via Ramiro Marques]
"... O professor hoje, em Portugal, vive com dificuldades de vida e com medo, esse terrível medo que se apoderou da quase totalidade da população portuguesa. Tenho já o tempo de vida bastante para poder ter observado, durante mais de 20 anos, a evolução duma certa corporação científica, e ter verificado nela a instalação e o alastramento desse processo de destruição progressiva do professor português. E é preciso registar que, a despeito de casos isolados de resistência heróica, esse processo de destruição tem produzido os seus efeitos.
A coisa vai mesmo mais longe – a política do medo não atingiu apenas uma determinada camada social ou profissão. Não, essa política foi a todos os sectores da vida nacional e a todos os núcleos de actividade privada e pública, procurando transformar-nos num povo aterrado, reduzido à condição deprimente de passarmos a vida a desconfiar uns dos outros. Mas o que é curioso, nesta questão, é que, ao fim e ao cabo, não se conseguiu apenas que os pequenos tenham medo uns dos outros e dos grandes, ou os indivíduos tenham medo das instituições. O próprio Estado foi vitima do seu jogo e acabou por ser tomado de medo dos cidadãos ..."
[Bento de Jesus Caraça, in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, 1978, p. 203 - via Almanaque Republicano]
segunda-feira, 24 de março de 2008
Almanaque Republicano – Actualização
"... a instrução pública é um arroteamento" [Alexandre Herculano]
Saber ler, escrever e contar, uma instrução pública popular – como direito e obrigação do Estado – e uma educação cívica de homens livres, estiveram sempre na alma socializante e romântica do republicanismo. Mesmo se o "saber ler, escrever e contar" fosse condição de uma técnica de aquisição, a doutrina republicana era entendida como "a entrada da vida" ou o "pão de espírito" que a educação portuguesa necessitaria e a administração republicana assim o exigia.
Na luta contra o analfabetismo, com a "instrução pública" função e domínio do Estado e, ao mesmo tempo, garantia do cidadão, em tal tarefa generosa e educativa, estão sempre presentes os princípios estimados do republicanismo: municipalismo, federalismo e associativismo. Para os republicanos "abrir uma escola, era fechar uma prisão", por isso a educação, no sentido de formar vontades, mentalidades ou "integração na civilização" [Bernardino Machado], era uma tarefa prioritária do ideário republicano (...)
Num momento particularmente difícil - como o de hoje - em que o ensino público e a educação são objecto da mais subversiva e assustadora contra-reforma, num estranho conúbio entre um economicismo doentio & as trapalhadas e os negócios da educação com interesses corporativos, o Almanaque Republicano - feito por dois professores devotos da instrução - irá publicar um conjunto de textos, documentos e memórias, acompanhadas de notas bio-bibliográficas, de pedagogos e professores que, com entusiasmo, participaram na causa comum da instrução pública republicana.
Saúde e fraternidade
in Almanaque Republicano - Dossier A Instrução Pública e a República
A Ministra e o Código da Estrada
Como responso à "insolência" de uma herege jornalista - a propósito da real eficácia desse seu "estimado" código (o Estatuto do Aluno) no caso particular do deplorável acontecimento passado numa escola do Porto -, a senhora ministra da educação retorquiu-lhe com a sábia interpelação:"O Código da Estrada impede os acidentes?".
Entende Maria de Lurdes Rodrigues, via sua "alma falante", que o ensino e a instrução se comparam, na sua natureza psico-pedagógica, com um serviço de estradas, a carecer de formalidades, licenças e "passes" válidos. E que mesmo assim sendo, tendo as licenças de trânsito passadas, a DGV, perdão, o Ministério da Educação não se responsabiliza com a duvidosa conduta dos seus utentes.
Há, lamentavelmente, um equívoco em tudo isto. É que não consta que a dra. Maria Lurdes Rodrigues conduza ou tenha licença de condução. Ao que se diz, foi viajante, com despacho e transporte de bagagens, desse inefável anarquista aposentado, João Freire. E não se lhe conhece, até a carreira parar na 5 de Outubro, nada de substantivo no campo teórico & prático em "condução" pedagógica, "radares" curriculares ou em "acidentes" educacionais. Quanto muito estudou o regulamento temporário dos engenheiros e outros residentes da profissionalização. Mas foi tudo!
Mas ficará, na sua gloriosa biografia & para o murmurar de futuras retóricas governamentais, o seu contributo para a lexicologia política. Decerto a estudar em qualquer escola de sociologia, que se preze e onde se estude.
domingo, 16 de março de 2008
In-Libris – Livros de Março
A In-Libris (Porto) apresenta para este mês de Março, um conjunto de folhetos [sobre a República, Norton e Matos, etc.] & peças raras ou obras esgotadas de merecida estimação de Abranches Ferrão, Agostinho de Campos, Alberto de Serpa, Alexandre O’Neill, Almada Negreiros, Ana Benavente, Anselmo Vieira, António Sérgio, Augusto Gil, Bento Carqueja, Botto Machado, Carlos Bento da Maia, Cunha Leal, D. António Bispo do Porto, Dante, Eça de Queiroz, Eugène Pelletan, Fernando Pessoa, Ferreira de Castro, Gabriel Gkisley, João Baptista de Castro, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Costa, Jorge de Sena, Leopoldo Berchtold, Lúcio d’Azevedo, Luiza Neto Jorge, Mariana Alcoforado, Mário Azevedo Gomes, Mário Ventura, Miguel Torga, José Cardoso Pires, José Jobim, José Régio, Mário Domingues, Paulo Gaspar Ferreira, Pasteur, Pedro Veiga (Petrus), Rousseau, Samuel Johnson, Vieira Transtagano.
A consultar on line.
Quem se mete com o PS ...
... leva com 7.000 (sete mil) almas, que graciosamente viajaram de "Elvas, Resende, Reguengos, Montalegre, Idanha-a-Nova, Guimarães, Castelo Branco” de lábios abertos e olhos entaramelados para a cidade do Porto, no comício dos 3 anos de governo.
A energia desses validos da União Nacional, contou ainda com a presença rija de altos funcionários do Governo, como a laureada Maria Lurdes Rodrigues (exterminadora da escola pública), o sr. Manuel Pinho (enternecido ministro da coisa económica), o irresistível Augusto Santos Chavez (restaurador do conchego democrático), o cintilante padrinho Almeida Santos (génio da civilização indígena), o vigário par(a)lamentar Alberto Martins (astro da pia Assembleia Nacional), o alevantado José Lello (sábio pensador do futebol) & outras inclemências da rosa.
Consta que foi imponentíssima a recepção, com o brilho e o aparato de antanho. As caprichosas toilettes da estação, em louvor do sr. Presidente do Conselho, colheram grande luzimento e apreço, principalmente entre o corpo da blogosfera acreditado junto do governo e que vem comentando com brilho e inexcedível competência técnica a situação da nação.
Do grupo excursionista, registe-se a eloquente prelecção, com que deliciou o espírito da canalha, feita pelo sr. Jorge Coelho – e que nos disse não têm "qualquer cargo político ou partidário" sendo "um cidadão que trabalha e vive do seu trabalho" -, que após trepidante fugidela da consultoria da Mota & Engil, e ainda ofegante de vitalidade e talento, excedeu com as suas impressões inapagáveis o espírito dos fiéis. O auditório aplaudiu freneticamente, em especial quando o sr. Coelho fez a oração de louvor à defunta educação. Por último o eng. José Sócrates disse qualquer coisa, decerto importante que, seguramente, o sr. José Miguel Júdice esclarecerá e o sr. Henrique Monteiro ilustrará no seu jornal.
Eis tudo!
sábado, 8 de março de 2008
In Memoriam de Maria Gabriela Llansol [1931-2008]
"Maria Gabriela Llansol nasce em 31, de um pai bibliófilo, de uma mãe extremosa e de um avô que intentona, e é deportado. Estudos de Direito. Advocacia rejeitada, para se vir encontrar num dos lugares filosóficos decisivos: viver com miúdos” [in Depois de os pregos na erva ..., 1973]
"... Escondeu-se para escrever; mas, antes, começou por ler no livro em que possuía a sua infinita felicidade
permanecia no princípio mas não tinha princípio; era o próprio princípio e, por consequência, não havia princípio; um no outro estava como o amado no seu amigo; e este amor que os une tem o mesmo valor que num e noutro, a mesma igualdade ...
Leio um texto e vou-o cobrindo com o meu próprio texto que esboço no alto da pagina mas que projecta a sua sombra escrita sobre toda a mancha do livro. Esta sobreposição textual tem por fonte os olhos, parece-me que um fino pano flutua entre os olhos e a mão e acaba cobrindo como uma rede, uma nuvem, o já escrito ..." [in O Livro das Comunidades, 1977]
"... Era uma vez um animal chamado escrita, que devíamos, obrigatoriamente, encontrar no caminho; dir-se-ia, em primeiro, a matriz de todos os animais; em segundo, a matriz das plantas e, em terceiro
a matriz de todos os seres existentes ..." [in Causa Amante, 1984]
quinta-feira, 6 de março de 2008
O insulto do dr. Vital Moreira!
O artigalho – em tom arrogante, grosseiro, sem brilho, nem substância – do impudentíssimo dr. Vital Moreira no jornal Público [4/03/08], intitulado “Os Professores”, é uma desafronta e um evidente insulto aos docentes (de todos os graus de ensino), aos cidadãos contribuintes e suas famílias, à classe governativa e, curiosamente, é injurioso face à obra intelectual do saudoso professor Vital Moreira. A propósito da atitude & crítica fundamentada, persuasiva, de vigilância necessária e séria dos (diversos) docentes à desastrosa e infeliz política (des)educativa do governo, o dr. Vital Moreira insiste num panfleto que é mais uma sensaboria em torno das virtudes governamentais. O discurso (inqualificável) revela, entre uma curiosa e zelante psicose conspirativa, uma angústia pouco esclarecida e não resolvida sobre o problema (e importância) da educação, do ensino público, da Escola e da classe docente, do mesmo modo que está sempre oculto o "encargo da prova" feito pelos docentes (desde o início), em toda esta questão.
O expediente insidioso do dr. Vital Moreira [VM], ao considerar que a putativa "luta" [VM dixit] dos docentes se centra "na defesa de interesses profissionais", ou não fossem para VM as pouco cariciosas corporações um caso nefando pátrio, é um costumeiro e intratável pregão, com "boa" escola mas de muito atrevimento. Picarescamente, o sábio VM deixa de fora dessa arrazoada funesta, e sem a mínima reserva, a confraria dos empregados da política, as luminárias dos partidos e sua indiscreta clientela.
O piedoso VM, nesse presuntivo enxurro corporativo (em que o "arrumo" ou o critério de leitura está ausente), estabelece uma curiosa "dissidência" entre as ditas corporações (docentes, médicos, juízes, funcionários públicos em geral) e a população ou canalha. Esta, ajoelhada e vergada às "corporações" - "forças de conservação e de reacção [mais] do que mudança" (tese afinal "que não é em geral verdadeira", como se estuda em qualquer manual de história ou direito) -, veria espantada "passar" as tradicionais "reformas" (pelo que se presume, nunca consumadas), das quais eram directamente (e unicamente) "beneficiárias". Esta pouco meticulosa quanto desaprumada (o contexto field-dependent da medida argumentativa, não aparece nunca) especialidade na argumentação de VM terá os seus encantamentos entre a boçal classe política, em especial a juventude partidária, ou em algum raminho de comentadores até, mas não colhe o génio entre aqueles que estudam, conhecem e vivem a realidade do ensino e da educação em Portugal.
A composição do dr. VM, portanto, não identifica os problemas presentes da educação; não define os objectivos educacionais do governo e as metas a alcançar com a putativa "reforma"; não compreende o que é a escola, o seu espaço escolar e a comunidade envolvente; não distingue a especificidade da profissão docente entre as suas congéneres; não reconhece a importância dos muitos estudos sobre a autonomia e gestão das escolas, a avaliação de professores e alunos ou o estatuto da carreira docente; não avalia a justeza da argumentação técnico-pedagógica usada pelos professores para explicar o seu mal-estar; não é sensível à humilhação pública da classe docente; não justifica os métodos e procedimentos autistas, arrogantes e anti-democráticos praticados pelo ME; não relaciona essas práticas autoritárias e humilhantes com a ignorância existente sobre todas essas supracitadas matérias, por parte do grupo residente no ME; nem aceita a responsabilidade do seu comportamento em toda esta questão.
O dr. Vital Moreira esforça-se por saber admirar a lide da governação. Mas não basta. Tem de estudar mais, ser mais convincente, mais verdadeiro e menos injurioso. E exibir mais respeito pelos docentes deste país, alguns dos quais foram seus alunos. Para que seja ouvido e lido, com estima e consideração. Se então o merecer!
[Foto retirada do blog do meu caro amigo Ademar Santos, com a devida vénia]
domingo, 2 de março de 2008
Hoje ... estivemos assim ... assim!
Andamos em curiosa arrumação musical. Entre o monte de lixo da vida política indígena, abrimos a luz e a suavidade das noutes ... com música. Também as fechamos, mas isso é glória nossa que não queremos ver aqui delapidada. Estamos, por isso mesmo, quase cantadores de feiras & discos piratas. Valha-nos a santa Asae!
Para finíssimos & requintados ledores, eis
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V. Excia - evidentemente com autorização governamental - anda atulhado na vidinha, com pouca vibração para a avaliação do vizinho(a), tosse com frequência quando depara na TV com a Sra. Ministra da Avaliação ou o dr. Jorge Coelho? V. Excia - evidentemente com autorização governamental - recorre ao cardápio de moléstias quando sente afrontamentos e tonturas ao ouvir o sr. Albino Almeida falar dos "nossos filhos", caindo em abatimento prolongado, que nem os banhos de mar o aproveitam? V. Excia - evidentemente com autorização governamental – corre ao cozimento de figos ou a um chá de sabugueiro, quando um calafrio irrompe por todo o seu corpo quando, em caridade cristã, ouve o sr. Valentim Loureiro fazer copiosos elogios à Sra. Ministra da Avaliação? V. Excia, que não frequenta as "moutas" da literatura nem ornamenta a livraria - evidentemente com autorização governamental – tem arremedos de manifesta coqueluche todas as 3ª feiras da semana, na prelecção do sr. M. Sousa Tavares, e corre a aplicar um chá da Índia ou mesmo um cataplasma de mostarda nos pés, para o desejado tratamento?
... então não hesite. Contra o cansaço doloroso, sono agitado, calafrios insidiosos ou insónia Cavaco Silva - em casa, no escritório ou na escola -, eis que chegou: "O Xarope São João - o melhor para a tosse, bronchites e constipações". O único que não sugere comentários a V. Excia, aos comentadores e ao país. Compre já!
Typos Lvsitanus: o chefe par(a)lamentar
Arrasta consigo uma freguesia ardente, amanuense ou não, ainda dos bons tempos do Quartier Latin à Porta Férrea (Coimbra me mata!). As alegres criaturas que lhe cobiçam o lugar (olhem o sr. Vitalino Canas a sorrir), invejam-lhe a barba, a pose, a voz e as medalhas. Porém, a historiografia é o seu infortúnio. É que noutros tempos, o chefe par(a)lamentar fez brejeirices anti-fascistas com os camaradas de luta. A ocasião era, evidentemente, dos românticos. E, o nosso typo par(a)lamentar deixou de praticar há anos, quando contraiu a doença da maturidade. Traz atestados de bom porte democrático e distribui-os diariamente aos indígenas. Quer homenagem! Um pedestal no Largo do Rato e estátua na aldeia que o viu nascer. Confuso, admira-se por os seus exercícios venatórios da mocidade lhe caírem aos pedaços entre os amigos, conhecidos, simples cidadãos. Há coisas que não se esquecem! Tomem nota.
Ontem, durante o debate par(a)lamentar, o chefe par(a)lamentar vestiu a sua bela farda de chefe par(a)lamentar para interpelar o senhor Presidente do Conselho de Ministros, sugerindo que sua Excelência enchesse a boca de promessas de obras públicas indígenas. O engenheiro, nada mouco, após considerar que estava perante uma sábia pergunta, não se fez rogado. E zás, perfumou a paróquia de estradas macadamizadas, avenidas à beira-mar, autoroutes ligeiras, trens de aluguer. Tudo isso acompanhado pelo olhar de rara cobiça do sr. Mário Lino.
Eis como está a garagem política nativa. Um must!
Aviso à navegação
Aos varios estaminés, sujeitos muito bem ornamentados, blogs de passe & outros estabecimentos afins, queremos dizer - doucement - que nós por cá somos assim.
"Não ser de nenhuma seita e de nenhum partido, de nenhum club, de nenhum grémio, de nenhum botequim e de nenhum estanco, não ter escola, nem irmandade, nem roda, nem correligionários, nem companheiros, nem mestres, nem discípulos, nem aderentes, nem sequazes, nem amigos, é possuir a liberdade, é ter por amante a rude musa aux fortes mamelles et aux durs appas, cujo beijo clandestino e ardente põe no coração a marca dos fortes, mas requeima nos beiços o riso dos engraçados" [in Ramalho Ortigão, Farpas, VI tomo]
Inútil insistirem. Nós somos o dono da nossa manada. Façam, portanto, a fineza de encaixar as V. cabeças para onde foram talhadas.
Agradecido!
sábado, 1 de março de 2008
Os sapatos de Manuel Pinho
Manuel Pinho - o extraordinário ministro da Economia - foi à feira internacional de calçado de Milão e, pelo que espirituosamente nos diz, às compras de sapatos italianos. Presume-se que o "biqueiro" ministro estava com o fito de catrapiscar algum Prada sport línea, talvez um Ferragamo, quiçá um Gucci, ou até mesmo uns clássicos (os nossos preferidos) Dolce & Gabbana. Temos de lhe gabar o gosto, à falta de outros abonos. No intervalo das esmeradas compras, Manuel Pinho tinha ainda tempo de arrazoar sobre o calçado lusitano, levantando a tenda indígena em terras italianas. Fica sempre bem, para mais tarde recordar, afirmativas tresvariadas como estas:
"Eu vinha cá comprar sapatos italianos, mas fiquei tão impressionado com a qualidade dos sapatos portugueses que vou levar sapatos portugueses. Vinha comprar sapatos italianos porque têm um óptimo nome em termos de design".
Calamitosos tempos ... estes, para ministro! Passo!
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
A Manifestação
Os senhores professores acudiram à chamada da honra e da dignidade do seu trabalho e manifestaram-se em plena rua, às claras, sem ocultação. Não houve lugar a manobras ou tempos de substituição. Eram eles próprios.
Os senhores professores desafiaram sua excelência o eng. Sócrates, a cabeça intelectiva de Maria de Lurdes, a "ordem" estabelecida e a sabatina pretensiosa do sr. M. Sousa Tavares. Não foi demais!
Os senhores professores conhecem bem, porque conhecem, todos essas autorizadas figuras que (agora) tão sabiamente falam em educação e ensino. Na altura havia rigor, esforço e trabalho, existiam faltas e, pasme-se, até alunos e professores. Conhecem-nos, por isso - a todos esses antigos estudantes -, muito bem.
Os senhores professores e, presume-se, os cidadãos de Portugal, estão proibidos de se reunirem na via pública sem a devida autorização para tal. Muito bem! Mais de 3 (três) indígenas – a lembrar outros tempos – será, certamente, uma curiosa e honrada manifestação de indignação que não acolherá decerto o bom humor policial e a gramática do sr. Sócrates, mas dará certamente valor ao empenho e à dignidade de quem trabalha. Podem estar certos disso.
A SEDES
A nova (velha) SEDES, nascida nos seus tempos ociosos de 1970, acordou do leito onde dormitava repetindo os mesmos pensamentos e pesadelos de antanho. Quem pousa os olhos na última "tomada de posição" com que brindou os indígenas, tem a convicção que os srs. Rui Vilar, Miguel Gaspar, Morais Leitão, Artur Santos Silva, Ferreira do Amaral, João Proença (cof!cof!) e outras luminárias desta burilada epopeia da modernidade Sócratista, andavam muito folgados e necessitar de "movimento". O ar santo com que frequentavam a sinecura governativa era, afinal, um ilusório disfarce, uma roupagem desalentada, uma caluniosa deturpação. Os da nova SEDES nunca, jamais, lograram cair no erro, na cegueira, na má fé e na fábula de um Portugal desenvolvido, moderno & fraterno, a acreditar na magia ministrada pelo eng. Sócrates.
A rapidez com que os seus autores foram admoestados pelo inefável Vitalino Canas, seguido de perto pela comissão dos bons costumes do reyno, diz-nos bem do estado calamitoso ou o "difuso mal-estar" em que nos encontramos. Mas não era necessário. Porque tal evocação é coisa que em qualquer localidade, empresa, instituição, largo ou romaria, é sentida e dita à boca cheia. Mas, é evidente, que os senhores da SEDES não frequentam esses antros de má vida. E fazem bem! Que os deuses os salvem!
O Tolo
"... Tolo bom é aquele que faz o que lhe mandam, que é bem inclinado mas que, tirado desta carreira, tem cabeça de pedra e cal e nada mais compreende. Sempre muito metido consigo, pede o que necessita, não faz prejuízo aos outros e alguns há que até se condoem da pobreza alheia (...)
Tolo manso é aquele que não só não faz mal mas até nada faz; foge de tudo, de nada entende; come se lho dão; tudo para ele é novo; não tem na terra pena nem glória e, finalmente, vive reduzido ao pasmo de uma criança de dois anos (...)
Tolo por arte é o que tem mais juízo, porque justamente vive no mundo como a espadana na borda do rio que, quando é mais forte a corrente de água, dobra-se para ir com ela e quando esta não lhe chega, novamente se endireita e torna ao seu antigo estado (...)
Tolo presumido é o que morre nas mãos da sua vaidade, cuida que em toda a parte mata caça mas como não conhece o alvo, gasta debalde toda a sua pólvora. Em tudo fala, em nada acerta e até é tão confiado que presume saber o que lhe é vedado a ele e aos mais homens (...)
Tolo que em tudo se mete, tem a cabeça como uma selha de eirozes vivas. Andam-lhe as ideias sempre a ferver e a saltar. Se tem a mania de Picador é pouca a cerveja preta que vem de fora para as quedas que dá. Se presume de valente leva mais maçadas do que leva o milho na eira (...) Fala muito e sempre a quebrar o fio do falamprório, como linha podre quando se dobra (...)"
[José Daniel Rodrigues da Costa, in O Espreitador do Novo Mundo, 1802 (?), aliás, in O Almocreve de Petas, Lisboa, Estúdios Cor, 1974]
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Leilão Biblioteca Jorge de Brito - 19, 20 e 21 de Fevereiro
A ex-Colecção Comandante Ernesto Vilhena, Biblioteca Jorge de Brito, vai a leilão nos próximos dias 19, 20 e 21 de Fevereiro, pela nova firma "A Leiloeira" (Rua Agostinho Lourenço, 20 C - ao Areeiro, Lisboa). Trata-se de mais um notável leilão dessa valiosa e (quase) infindável colecção do Comandante Ernesto Vilhena, actual Biblioteca de Jorge de Brito.
O Catálogo para o leilão, que tem a pena do livreiro José Vicente (consultor da leiloeira para os livros e manuscritos), com peças raras e muito estimadas, pode ser consultado aqui.
A não perder.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
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