Mariano Gago e o caso UnigateUm animado
Mariano Gago consumiu a sua (há muito esperada)
conferência de imprensa com factos
confusos quando não
obscuros e proclamou aos indígenas, sob uma encantadora indignação muito fora de prazo, um provisório
encerramento compulsivo da
Universidade Independente. A vexatória questão
Unigate, a desvergonha do funcionamento (financeiro, curricular e pedagógico) daquela instituição de ensino privado e a solenidade do acto público, assim o exigia. Muito bem.
Porém, mesmo que a imaginação de quem respeitosamente o ouviu seja piedosa, parece que as piores das circunstâncias
permanecem. O formidável trabalho de expurgação sobre a situação irregular da
Universidade Independente, levado a cabo pela conferência de imprensa de hoje, e, do mesmo modo, a clarificação sobre o balbúrdia que foi a
Universidade nos tempos idos de
1995/1997, rendeu muito pouco. A vassourada de
Mariano Gago não foi higiénica, nem produziu efeitos. A questão, longe de se dissipar,
permanece e agrava-se mesmo, tais as contradições presentes e, principalmente, a repugnante
ousadia do Ministro em defesa de um ensino sem qualidade sustentado em certificados ou no esperançado canudo, sem que se prescreva a
necessidade de esforço, de trabalho, de rigor e validade científica e pedagógica. E,
aqui, reside a questão central em todo este caso
Unigate. Aliás, pode dizer-se mesmo, de
todo o ensino privado e público, do básico ao secundário, do superior ou cooperativo.
Não nos ocupamos, pois, do caso da
credibilidade (ou não) do senhor
primeiro-ministro, por muito respeitosos possam ser os admiráveis argumentos de
Mariano Gago ou mesmo se tal provoca qualquer "
regozijo" na canalha partidária. Convenhamos, apenas, que o discurso utilizado por
Mariano Gago não é
rigoroso nem
justificado. Bastará referir a necessidade da existência de um
continuidade curricular e pedagógica numa Universidade recém aberta (o que não se verificou entre 1995/97) e atender ao facto que as
irregularidades existirem há muitos anos atrás, sem que o
controle por parte da
Inspecção-Geral da Ciência e do Ensino Superior tenha detectado qualquer falta séria.
Assim, o facto de a
UNI passar, de um momento para outro, de uma instituição a funcionar
normalmente para registar, depois, um "
calamitoso" e "
lastimoso" estado de degradação, só ornamenta a frontaria de quem quer. O que é evidente é que uma
Inspecção Geral de Ensino que está
dependente da tutela, por muito que os senhores inspectores consigam a proeza de terem estatuto de independência e autonomia,
não pode apresentar nunca o vigor e a energia que se pretende e que, eles mesmo,
exigem e
aspiram. Saber que na velha
Inglaterra a inspecção de ensino está afecta à Rainha, fora do
compadrio partidário e da
caridade política, diz muito e explica, também por aqui, a situação do ensino e da educação na paróquia. Vai-se seguir tal exemplo de idoneidade, ou irá continuar esse sentimento de indiferença e de imoralidade? Que o diga
Mariano Gago, se para tal estiver interessado.