segunda-feira, 22 de dezembro de 2003
DEO GRACIAS
O Almocreve vai de saída. Após salutar descanso e pequenos trabalhos, espera vir mais prendado para fazer mandas aos profanos. Deo Gratias.
Felicidade e Boas Festas
"TEMOS AGORA UMA OUTRA ETERNIDADE..."
"Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou ..."
[Fernando Pessoa]
domingo, 21 de dezembro de 2003
"DAS PETAS O ALMOCREVE ..."
"Das Petas o Almocreve é obra tua.
Bem se vê, Daniel, na frase e gosto:
Adiça três de Abril ou seis de Agosto,
É de quem vende rimas pela rua..."
[Bocage, numa "farpa" a José Daniel Rodrigues da Costa, autor do Almocreve das Petas]
BARBOSA DU BOCAGE (MANUEL MARIA) [1765-1805]
Morre a 21 de Dezembro de 1805
"Quando completamos atentamente o retrato de Bocage (...) em que as feições estão vigorosamente acusadas: quando reparamos na testa espaçosa, em que a luz do estro parece circular ainda, e nos olhos azuis e rasgados, que tanto deviam cintilar quando a inspiração baixava, revela-se-nos o carácter do poeta e a índole do seu engenho, pelo exame de reflexão (...) Pela pálida tristeza das faces percebemos que o homem foi pouco ditoso: que o vate estremeceu com as sensações do orgulho e dos triunfos, e que, não se embriagando com as seduções das honras e da opulência, pagou o tributo que em todos os tempos tornou cruel ao génio a sua glória, embora o console depois a crença na justiça da posteridade (...)
Magro e trigueiro, de estatura mediana e curva, o corpo parecia pesado de mais para as extremidades: mas nesta constituição defeituosa havia contudo o que quer que fosse que o não deixava confundir. Os cabelos compridos desalinhados e o movimento maquinal dos dedos, aumentando-lhe a miúdo a desordem, eram outra feição natural dele. O sorriso pouco acudia a animar-lhe as faces macilentas. Melancólico até no meio das cenas de maior alegria, ainda conservava a tristeza no rosto e já o delírio tripudiava em torrentes de versos picantes e maliciosos."
[Luís A. Rebelo da Silva, in Memoria Biográfica e Literária acerca de Manuel Maria Barbosa du Bocage e ...]
"Magro, de olhos azues, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.
Incapaz de assistir n'um só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura,
De zelos infernaes lethal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) n'um só momento,
E sómente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Sahiram d'ele mesmo estas verdades
N'um dia em que se achou mais pachorrento.
[Bocage, Retrato Próprio, In Sonetos, 1915]
ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XIII)
* Loja Philadelphia (1844) - O Conimbricense refere que a partir da revolução de 8 de Março de 1844, houve perseguição feroz contra ao mentores do partido progressista. Este partido entendeu criar um jornal para reagir às "prepotência da autoridade", tendo sido estabelecida a respectiva imprensa na Rua de Coruche, hoje Visconde da Luz, no edifício da Misericórdia, e a publicação saiu a 9 de Julho. Ora, em Junho estava instalada no mesmo edifício a Loja Philadelphia, de onde provinha a direcção do jornal. Coube a José de Castro Freire a incumbência de instalar a Loja em Coimbra. Pertenciam à Loja Maçónica, entre muitos, o Venerável, Dr. Agostinho de Moraes Pinto de Almeida (Ir. Sócrates), António José Duarte Nazareth (Ir. Camillo Desmoulins), Dr. António Luiz de Sousa Henriques Secco (Ir. Viriato), António Augusto Teixeira de Vasconcellos (Ir. O’Connell) e que era o orador, Padre António de Jesus Maria da Costa (Ir. Sieyés) como tesoureiro, Francisco Henriques de Sousa Secco (Ir. Giraldo), José Maria Dias Videira, Manoel Joaquim de Quintella Emauz, Dr. Joaquim Augusto Simões de Carvalho (Ir. Danton), Dr. Joaquim Júlio Pereira de Carvalho (Ir. Condorcet), Dr. José Teixeira de Queiroz (Ir. Aristides), Luiz Parada da Silva Leitão, José Henriques Secco de Sousa e Albuquerque (Ir. Diógenes), J. F. Mendonça Castello Branco (Ir. Washington), Abílio Roque de Sá Barreto (Ir. Lafayette), etc. Refira-se que o jornal se publicou até 24 de Setembro, dia em que foi suspenso pelas autoridades, tendo-se mudado para outra casa e sido retirados os objectos da Loja, levando-os para a Quinta que o Padre António de Jesus Maria da Costa tinha em Coselhas. As reuniões da Loja faziam-se em casa do Padre António, em Coimbra, na Calçada, hoje Rua Ferreira Borges, com entrada pelo Arco de Almedina. [in, Conimbricense, 1905]
* Associação Nova Especulação (1845) [ibidem]
* Sociedade do Theatro do Pateo da Inquisição (1846) [ibidem]
* Sociedade do Theatro da Rua do Norte (1847) [ibidem]
* Assembleia Académica de Coimbra (1848) – Antes Assembleia Philarmónica de Coimbra [ibidem]
* Assembleia Philarmónica de Coimbra (1848) – Pequeno teatro na Rua do Norte, pertencente ao Cabido. Como o espaço era demasiado pequeno, fundou-se outro no celeiro do mesmo Cabido à Sé Velha. Mais tarde conseguiram obter o espaço da Igreja de S. Cristóvão. [ibidem]
sábado, 20 de dezembro de 2003
"É TÃO DIFÍCIL ..."
É tão difícil guardar um rio
Sobretudo quando ele corre
dentro de nós
[Jorge de Sousa Braga, O Guarda-Rios]
ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XII)
* Loja Segredo (1843) - O Conimbricense refere, que no ano lectivo de 1983/84, Luiz Carlos Pereira, estudante do 3º ano de Direito, fundou em Coimbra, uma Loja Maçónica, a que foi dado o nome de Segredo e de que ele foi Venerável. As reuniões faziam-se na primeira casa no princípio da Rua das Fangas, depois Fernandes Thomaz. A Loja estava arredada completamente da política e funcionava como apoio a estudantes e pessoas "que se achassem desvalidas". Quase todos os Ir. eram académicos, e habitantes da cidade eram apenas três. O litografo Luiz Augusto de Parada e Silva Leitão, foi quem abriu o selo da Loja e quem litografou em cetim branco os diplomas dos Ir.. A revolução de 8 de Março de 1844 fez terminar a Loja. [in, Conimbricense, 1905]
* Sociedade de Alegre Viver (1844) – Foi fundada por quatro rapazes, todos estudantes: António Fernandes Thomaz (direito), Jacintho Alberto Pereira de Carvalho (medecina), José Adolpho Trony (direito e lente, posteriormente), José Maurício de Carvalho (direito e teologia), Ricardo José Pimentel Baptista, José Ildefonso Pereira Carvalho, Daniel da Veiga Saraiva e Augusto Ernesto de Castilho e Mello. [ibidem]
* Assemblea Philarmonica de Coimbra (1844) [ibidem]
* Caixa Económica de Coimbra (1844) [ibidem]
CATÁLOGO Nº17 DE LUÍS P. BURNAY
Saiu o Catálogo nº 17, de Luís Burnay, Calçada do Combro, 43-47, Lisboa, com algumas curiosidades e obras estimadas.
Algumas referências: Nobiliário de Famílias de Portugal, por Felgueiras Gaio, Braga, 1938-42, de 13 vols (raro) / Terra Portuguesa, Revista ilustrada de Arqueologia artística e etnográfica, dir. Vergílio Correia, 1916-27, 7 vols / Poesias de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, 1853, 6 vols / Actas das Sessões da Câmara dos Deputados na 1º legislatura depois da promulgação da Constituição Politica da Monarchia Portugueza, 1939 / Almanak Portuguez para 1852, s/ direcção de M. M. de S. Bruschy, 1851 (raro) / As Orações a Israel, de Moses Bensabat Amzalak, 1927 / Arquivo do Distrito de Aveiro: Índice Alfabético dos Autores, Aveiro, 1992 / Israel: notas várias, por Adolfo Benarus, Lisboa, 1924 (curioso censo da população judia espalhada pelo mundo, historia, tradições e espírito do judaísmo) / Boletim Oficial do Grande Oriente Lusitano – Supremo Conselho da Maçonaria Portugueza, Nov. 1906 / Vários opúsculos sobre a polémica Bom Senso e Bom Gosto / Tratado da Agrimensura, no qual se propõe o Preciso para hum medidor de campos, de Cabral Estêvão, 1795 (raro) / Discurso pronunciado na Câmara Electiva em sessão de 23 de Março de 1850 sobre o projecto de Lei repressivo dos abusos de Liberdade de Imprensa pelo Presidente de Legislação ... José Bernardo da Silva Cabral, Lisboa, 1850 (raro) / A Questão Académica de 1907, por Natália Correia / Topónimos e Gentílicos, de I. Xavier Fernandes, Porto, 1941, II vols / A Rebolação: resposta ao folheto "A Reacção" do sr. Brito Camacho, por Frey Gil (aliás pseud. de Artur Bívar), 1932 (raro) / Grande Oriente Lusitano Unido – Supremo Conselho da Maçonaria Portugueza: Rito Escocês Antigo e Aceito para Portugal e Colónias, 1920 / Alma Errante, poesia de Eliezer Kamenezly, c/ pref. de Fernando Pessoa, 1932 / A Bomba Explosiva: depoimentos de diversos revolucionários (28 de Jan. 1908 a 5 Outubro 1910), por José Maria Nunes, 1912 (rara obra sobre os movimentos revolucionários) / Exordio em prol da filantropia & educação física (paginas desconhecidas), por Fernando Pessoa, Porto, Edição Petrus / Vinho de Pasto, por Batalha Reis (vinicultura), 1894 / Ritual do Gr. de Ap. do Rito Francez ou Moderno, GOLU, 1909 / O Couto de Aguim: subsídios para a sua historia, Anadia, 1959 (monografia estimada) / Escriptos Diversos, por Augusto Filipe Simões, Coimbra, 1888
sexta-feira, 19 de dezembro de 2003
ALEXANDRE O'NEILL [1924-1986]
Nasce em Lisboa, a 19 de Dezembro de 1924
"O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angustia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omite-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada …)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
Mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse ..."
[Alexandre O'Neill, Auto-Retrato]
OS FILHOS DO "DELGADO"
"Cada gota de saliva que se liberta da conversação transforma-se em ouro" [Tristan Tzara]
Vão, rapazes! Que está o Luís Delgado na T.V. a esclarecer os indígenas lusitanos. Reparai na boca fina e piedosa do comentarista, mesmo quando o esgar urbano e respeitável o martiriza e o traço maledicente se manifesta. Estais de orelhas atentas, sabemos bem. Vós, a quem a felonia nunca incomodou, pois tendes razões secretas que a recita conservadora vos enterneceu e a gravidade democrática vos perturba, estais esta semana excessivamente sentimental. O Delgado, entre o tédio do défice e o riso ministerial, fez-vos partir à desfilada contra os fantasmas costumeiros. Espevitem bem as orelhas que o Bolo-Rei, desta semana, saiu no Iraque. Estava alapado numa toca qualquer, algures, no assombroso triângulo sunita. O mesmo onde vocês, bravos combatentes de sofá, outrora caminharam civilizacionalmente contra os tenebrosos xiitas, os infames curdos, os demónios iranianos, os pérfidos comunistas iraquianos. Com a mão no peito pela Humanidade, com a América por generosidade, pela Europa por determinação, por todos nós. Graças Senhor nessa Santa Hora. E graças, ainda, pelo Bolo-Rei oferta Bush para todos os guerreiros da imaculada cruzada neoconservadora, nesta quadra natalícia. Abri os vossos portáteis e postai.
Postai até que o torpor da volúpia, as comoções da vertigem do fim-de-semana, o espectro daquele homem-de-barbas vos ensine que "sobre o mais belo trono do mundo nunca se sentou senão um rabo" [bem nos dizia Montaigne].
ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XI)
* Loja Restauração (1842) - O Conimbricense refere, que posteriormente à restauração da Carta Constitucional, em 27 de Janeiro de 1842, a maçonaria em Coimbra representante do partido Cartista, "viu-se triunfante, tendo por si o apoio do governo". Ora o administrador geral do distrito, José Maria Cardoso Castello Branco foi substituído pelo Visconde da Graciosa, e posteriormente, por decreto de 8 de Outubro, foi nomeado Governador Civil, António de Oliveira Lopes Branco.
Diz o Conimbricense que uma das coisas que teve em vista foi reorganizar a maçonaria na cidade e em todo o distrito, lançando mão nos elementos da Loja maçónica do Arco da Almedina, fundando uma outra. Assim, foi na casa onde outrora foi refeitório dos frades (no Claustro do Pilar) de Santa Cruz que se estabeleceu a Loja Restauração, nº 27 ao Or. de Coimbra. Pertenciam um grande número de pessoas, não só da cidade, mas quase todos os administradores do concelho e do distrito, párocos e regedores. É referido uma ocasião onde foi iniciado um "cavalheiro do concelho de Anadia", em que estava presentes 150 Ir., vindos dos diferentes concelhos, seguido de um "magnifico banquete". C
Como Lopes Branco foi eleito deputado, pelo colégio eleitoral do Douro, ficou Venerável da Loja, José António de Amorim. Curiosamente, o deputado Lopes Branco tendo passado da maioria para a oposição, dirigiu de Lisboa para Coimbra, e à Loja Restauração, uma prancha com "o fim de a fazer passar para a oposição". Após reunião, a Loja deliberou que como Lopes Branco não a tinha consultado para passar para a oposição, esta não se obrigava a segui-lo na sua carreira política. Depois da remessa da prancha da Loja para Lopes Branco, este aparece em Coimbra anunciando a necessidade de convocação da Loja. Sabedores de tal facto, vários elementos da Loja dirigiram-se à casa da Loja, desmancharam tudo e fizeram "abater colunas", impossibilitando Lopes Branco de fazer a projectada reunião. Desde então a Loja nunca mais funcionou. [in, Conimbricense, 1905]
* Sociedade de Socorros Mútuos (1843) [ibidem]
* Sociedade Philarmonica Conimbricense (1843) [ibidem]
quinta-feira, 18 de dezembro de 2003
ROBERT BRESSON [1901-1999]
Morre a 18 de Dezembro de 1999
"Filmar é compreender, mas compreender não no sentido de explicar ... No sentido de amar, de provar" [RB]
"La cinématographie est une écriture en mouvement avec des images et des sons. Si l'on tient à trouver une analogie, il faut chercher du côté de la musique et non du côté de la peinture car on aboutirait à la carte postale." [RB, in Le Figaro - 6 Mai 1983]
Locais: Robert Bresson / Robert Bresson / Robert Bresson 1901-1999 / Filmography / Robert Bresson: Depth Behind Simplicity / El cine Robert Bresson, una escritura de pies a cabeza
"LAICIDADE" E "FÁBRICA DE VÉUS"
"O corpo desenha o espaço como a água desenha o vaso" [El-Hakim]
A posta de André Belo, pelos considerandos aí referidos, sobre o comprometimento do Estado na defesa da laicidade da Escola, sugere curtas anotações, a saber:
- é possível que a noção de "laicidade", lugar central no discurso mass-mediático francês, seja objecto cientificamente re-analisável, no seguimento do que Edgar Morin assume pelo aparente contraditório entre "laicidade", "doutrinarismo" e "democracia". É, porém, razoável que no termo "laicidade" se encontre lugar para uma pratica contra o totalitarismo, o dogmatismo ou o monopolitismo da verdade. Como conciliar, tudo isso, no território e cultura escolar, aberto e plural, eis a questão que André Belo questiona.
- o espaço escolar é atravessado, sabe-se, por processos sociais, políticos e simbólicos que se ramificam no campo discursivo do poder. Isto é, a Escola é encruzilhada de diferentes discursos verbais e não verbais, "mercado" alucinante de signos-mercadorias, afloração de saberes, ambiente de aprendizagem activa, lugar de escolha e clarificação de valores e comportamentos, espaço privilegiado da produção e reprodução social. Estamos disso crentes. Assim entendida, sabemos que a Escola se estrutura a partir de regras formais (além de outras), dando lugar a um "locus de reprodução e produção normativa", consubstanciada numa cultura de identidade assente em realidades não homogéneas (evidentemente), mesmo que a dissidência seja esse espaço de cumplicidade ou percurso de todos os afectos e seduções.
- o espírito da "laicidade" pretende, a partir de um conjunto de regras comuns mínimas, estabelecer um espaço "conversável" no tecido escolar, afinal garantia de liberdade, e portanto, um espaço "protegido" pelo Estado, para além do direito à diferença que na esfera privada se reconhece. Não se trata de dar lugar a um qualquer guetto, mas tão só assumir que a "laicidade" contribui para a nossa liberdade, até pelo sentido que, se se permitisse que as regras fossem estabelecidas pelo diversos clientes escolares porquê então a aprendizagem? Que lugar do pedagógico como "trabalho" de compreensão e aceitação da diversidade e do multiculturalismo?
quarta-feira, 17 de dezembro de 2003
PARACELSO [1493-1541]
Paracelso [1493 - 1541]
Nasce em Einsiedeln (Suiça), a 17 de Dezembro de 1493
"Embora a historia conhecida da filosofia hermética remonte aos primeiros séculos da era cristã, cabendo à tradição mágica, gnóstica e alquímica um papel de relevo (...) pode dizer-se que a historia da medicina hermética se desenvolve sobretudo a partir de Paracelso e dos inúmeros paracelsistas que proliferaram na Europa do seculo XVI e XVII. Ao contrário do que se possa julgar, em Portugal não se vivia alheado destas novas correntes.
Já a Pedro Hispano, o Papa João XXI são atribuídos inúmeros tratados herméticos, entre eles o Tractatus mirabilis aquarum ... onde se descreve a agua de vida, o elixir dos alquimistas [A Maria Helena Rocha Vieira se deve o estudo da obra medica de Pedro Hispano ...]. E na «Rellação» da livraria de Frei Vicente Nogueira (1586-1654), confiscada pela Inquisição, descobrem-se, entre muitos tratados as obras de Paracelso, o que demonstra a sua circulação entre nós (...)
A alquimia oferece um corpo doutrinal específico, que não pode deixar de ser do agrado do homem renascentista. Nascida, como diz Festugière, da pratica egípcia da ourivesaria e da filosofia grega de Platão, misturada com sonhos e visões místicas, revelam-se nela três fases sucessivas: alquimia como arte, alquimia como filosofia, alquimia como religião ..."
[Yvettte K. Centeno, in "Madeira Arraes e o Vitríolo dos Filósofos", prefácio-apresentação de "Tratado dos Óleos de Enxofre, Vitríolo, Philosophorum, Alecrim, Salva, e da Água Ardente" de Duarte Madeira Arraes, Edições Salamandra, 1993]
Locais: Biografie di alchimisti / A Rosa de Paracelso (Jorge Luis Borges) / Paracelso - Sabedoria, Presunção e Misticismo / O Movimento Rosacruciano No Tempo de Damião de Góis / O discurso alquímico: um imanentismo transcendente? (José Augusto Mourão) / Subsídio para o Catálogo da Tratadística Antiga ... (Manuel Gandra) / Alquimia em Portugal (Manuel Gandra) / V Colóquio Internacional "Discursos e Praticas Alquímicas"
domingo, 14 de dezembro de 2003
«MORAIS SARMENTO, C'EST MOI»
"Além de ministro já ninguém quer ir
Aquém de ministro já ninguém quer estar." [Pedro Oom]
Esta semana, o extraordinário Morais Sarmento deu um colossal uppercut no Código Cooperativo, maltratando vários artigos e, num assomo de cérebro em fogo, teve tempo de aplicar um golpe de olhos fechados (apoiado majority draw pela governação) à Fundação Espírito Santo, Fundação Calouste Gulbenkian e à Fundação de Serralves.
Pelo caminho ficaram estendidas várias outras Fundações invocadas no combate de retórica politica, pareceres do Instituto Cooperativo António Sérgio e da CNAVES. Sendo certo que o swing do Ministro não é de desprezar na chicana técnica-jurídica, acontece que, fora o Professor Marcelo (esta noite falará na TVI sobre o facto politico: «Aconteceu-me uma Fundação»), meia dúzia de taxistas de Lisboa, um sabido comentador de futebol, a minha funcionária a dias e os amigos do Bloco Central, todos num shadow boxing a celebrar o sapiência de experiência feita e iluminada de Morais Sarmento, na restante populaça ilustrada o mutismo foi total, exemplar. Contrariamente, pois, aos que prescrevem melhor protagonismo explicativo das politicas governativas, bastou alguém aparecer - braço dado com antigos inquilinos do Bloco Central - dizendo: «Morais Sarmento c’est moi», para todos meterem uma resma de Códigos "entre as pernas" e velozmente partirem (Ferro Rodrigues deu o Amem) para outro peditório político. Estamos conversados.
ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (X)
Associações de Coimbra (X)
Loja Maçónica Cartista (1837) - O Conimbricense refere que "Quinta de Revelles, que pertencera ao Mosteiro de Santa Cruz foi estabelecida no ano de 1837 a Loja Maçónica Cartista", cujo Venerável era o dr. Vicente Ferrer Netto Paiva, tendo permanecido nesse local até 1939. Passaram a fazer as reuniões no Colégio dos Militares, onde antes funcionava a Loja Urbonia. Tinha três entradas, a porta principal, a de um beco próximo e a que "faz frente para o Colégio de S. Bento". Esta última, era a preferida, dado não terem vizinhos. Parece que numa ocasião, quando José da Silva Carvalho veio a Coimbra presidiu a uma reunião. De outro modo, foi nesta Loja iniciado o académico e oficial da Secretaria do Reino, José Joaquim Coelho de Campos. Passou a Loja, do Colégio dos Militares para o Arco de Almedina em Julho de 1840. "Abateu colunas" em 1841, mas posteriormente, quando o partido Cartista subiu ao poder, o Governador Civil Lopes Branco, alguns dos seus elementos fundaram a Loja Maçónica Restauração nº 27. [in, Conimbricense, 1905]
Sociedade de Theatro da Rua do Corpo de Deus (1838) [ibidem]
Loja Audácia (1938) – "De 1838 a 1839 deu-se princípio em uma casa da Rua da Alegria a uma Loja, que tomou o nome de Audácia". Em 1840 mudou-se para a extremidade da Rua da Sofia, para o Colégio de S. Pedro, mais conhecido por Colégio das Borras, onde então morava o sr. João António Marques do Amaral Guerra. Regularizou-se a Loja debaixo dos auspícios do Gr. Or. Lusitano, de que era Gr. M. o Barão de Vila Nova de Foscôa.
No ano de 1843, o Gr. Or. Lusitano tinha debaixo da sua direcção: Loja Rectidão, Amizade, Amor da Pátria, Vigilância, Desterro (todas em Lisboa); Loja Audácia (em Coimbra); Loja Decisão (Faro); Loja 3 de Julho (Portalegre); Loja 21 de Julho (Elvas); Loja Lealdade (em Goa); Loja Luz Africana (em Luanda). Funcionou a Loja Audácia em Coimbra, até Março de 1844. [ibidem]
Nova Academia Dramática (1838) [ibidem]
Companhia Exploradora das Pedras Litographicas em Coimbra (1839) – "O académico José Victorino Damásio, 4º ano de Filosofia, fundou uma colecção de minerais unicamente para se exercitar na prática das regras de classificação" [ibidem]
Instituto Dramático da Nova Academia Dramática de Coimbra (1839) [ibidem]
TEIXEIRA DE PASCOAES [1877-1952]
Morre a 14 de Dezembro de 1852
"Pois tudo, tudo há-de passar, enfim,
O homem, o próprio mundo passará,
Mas a Saudade é irmã da Eternidade"
[TP, in Marânus]
"... a Saudade é (...) o amor carnal espiritualizado pela Dor ou o amor espiritual materializado pelo Desejo; é o casamento do Beijo com a Lágrima; é Vénus e a Virgem Maria numa só Mulher. É a síntese do Céu e da Terra; o ponto onde todas as forças cósmicas se cruzam; o centro do Universo: a alma da Natureza dentro da alma humana e a alma do homem dentro da alma da Natureza.
A Saudade é a personalidade eterna da nossa raça; a fisionomia característica, o corpo original com que ela há-de aparecer entre os outros Povos (...) A Saudade é a manhã de nevoeiro; a Primavera perpetua «a leda e triste madrugada» do soneto de Camões. É um estado de alma latente que amanhã será Consciência e Civilização Lusitana ..." [TP in Revista Águia, vol. I, 2ª série, Fev. 1912]
sábado, 13 de dezembro de 2003
JOÃO CÉSAR MONTEIRO
[J. César Monteiro - in Morituri Te Salutant] [in Bibliomanias]
Homenagem d'A Atalanta Filmes a César Monteiro, "com exibição de todas as suas longas-metragens em Lisboa, no Cinema King, de 12 de Dezembro a 1 de Janeiro, e no Porto, no Cinema Nun'Álvares, de 2 a 8 de Janeiro". A não perder
GONZALO ROJAS
Gonzalo Rojas - Prémio Cervantes 2003
Gonzalo Rojas nasceu em Lebu (Chile) a 20 de Dezembro de 1917. Obteve este ano o Prémio Cervantes, instituído pelo Ministério da Cultura de Espanha, que antes tinha distinguido Jorge Guillén, Cabrera Infante, Camilo José Cela, Vargas Llosa, entre outros. Gonzalo Rojas frequentou direito e pedagogia, trabalhou como alfabetizador nas minas de Atacama, licenciado em Filologia Clássica, fez parte da Geração de 38, do grupo surrealista Mandrágora entre 1938-1941 (grupo fundado por Braulio Arenas, Teófilo Cid e Enrique Gómez Correa), é chefe da redacção da Revista Antártica (Santiago), foi professor de Teoria e Estética Literária na Universidade de Concepción - de onde foi exonerado, tendo no seguimento do golpe de Pinochet (em 1973, encontrava-se como embaixador em Havana) partido para o exílio, na Alemanha e Venezuela (trabalha na Universidade Simón Bolívar), regressando ao Chile em 1979, assumindo em 1991, de novo, a cátedra da mesma Universidade -, recebeu inúmeros prémios e distinções, entre as quais o Prémio Rainha Sofia (1992), Prémio Nacional de Cultura Chileno (1992), Premio Walt Whitman, Prémio Octavio Paz de Poesía e Ensaio (1998).
"Eléctricas, desnudas en el mármol ardiente que pasa de la piel a los vestidos,
turgentes, desafiantes, rápida marea,
pisan el mundo, pisan la estrella de la suerte con sus finos tacones
y germinan, germinan como plantas silvestres en la calle,
y echan su aroma duro verdemente" [Gonzalo Rojas]
Obras
Locais: Biografia / Gonzalo Rojas / Gonzalo Rojas: letras no relâmpago / Gonzalo Rojas: una poética de restauración / El Oscuro y El Alumbrado / Cartas poéticas de Gonzalo Rojas
ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (IX)
Sociedade do Theatro de S. Boaventura (1836) - O Conimbricense refere a sua existência no antigo refeitório do Colégio de S. Boaventura, na Sofia [in, Conimbricense, 1905]
Academia Dramática (1836) - Teve lugar, com a chegada a Coimbra de uma companhia de ginástica (dirigida por Mr. Henriot), a construção de um teatro no refeitório do extinto Mosteiro de Santa Cruz, "onde esta agora a Associação de Artistas" [ibidem]
República do Carmo (1837) - Eis como era designado um grupo de estudantes que residiam no Colégio do Carmo, Rua da Sofia, que se tornaram conhecidos pela sua perversidades, com inúmeros espancamentos e, mesmo, mortes que a eles foram assacados. Consta que eram demasiado temidos, sendo referido a história seguinte: quando passavam pelo Quartel da Graça, onde ficava o Batalhão de Caçadores 3, e a sentinela lhes perguntava, «quem está aí?», invariavelmente respondiam: «A República do Carmo». E logo a sentinela os deixava passar. [ibidem]
Associação ou Companhia para o Fornecimento publico de pão e carne em Coimbra (1837) - Foi apresentada a proposta por José António Rodrigues Trovão. [ibidem]
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