quinta-feira, 21 de agosto de 2003

IRAQUE & OUTROS

A partir de um texto inicial - onde julgo, perdeu por completo a fina auto-disciplina intelectual que o caracteriza - perfeitamente "assassino" a propósito do acto vil, cobarde e hediondo lançado em Bagdad por terroristas, FJV lança palavras como metralha, para todo o lado, sem que se entenda o que quer dizer. Sabe-se o que lhe vai na alma, não fosse “o tempo um robusto deus castanho, taciturno, selvagem e intratável” (Eliot). E estes tempos assim são. Desconhece-se, porém, em que é que se baseia para indagar a outros a "verdade" das coisas, questionar o ensandecimento generalizado que a todos acomete, ou, mesmo, o que pretende afirmar quando se refere aos "idiotas úteis em todas as circunstâncias". De facto, a questão da cobarde invasão do Iraque, à revelia da condição humana e da sua inteligência, porque apregoada através de mentiras mil vezes repetidas, foi o golpe de misericórdia na luta legal e democrática contra o terrorismo, conduzindo a registos conflituosos. Aqui está um deles. Nunca tamanha e brutal submissão aos interesses de uma súcia de criminosos de um país com interesses geopolíticos e económicos evidentes, foi defendida em nome da santa liberdade. Alguns vêm nas críticas à "fascista" (Paul Auster) administração dos EUA, a nostalgia do vivido anti americano. O "bricoleur" (Lévi-Strauss) que tem essa estranha monomania é mais para a rapaziada liberal de extrema-direita, que para pessoas decentes, civilizadas e lúcidas. Quem se der ao trabalho de ler todas as argumentações a favor ou contra a invasão e colonização do Iraque, encontrará rapidamente respostas. Muitas e copiosas. Mas basta uma só, a saber: a ideia que a liberdade de um é a liberdade de todos. E não é isso que se trata no Iraque, perante a nossa vergonha.

Por outro lado, não está claro em que consiste essa "armadilha interpretativa" de que fala JPP. E, parece, que em questões de teor interpretativo, nomeadamente no que se refere à questão iraquiana, quem tem de explicar muita coisa (aos seus leitores, claramente) é o próprio JPP. Algumas nuances avançou no seu blog, mas foi curta a colheita para ser estimulante, face à trepidação dos factos recentes. Fica-se, assim, na espera da configuração dessas "qualidades" como a "firmeza" e a "persistência", chave que preconiza para "resistir" no Iraque. E já agora, é conveniente, à cause de ambiguidades possíveis, dar a interpretação do que entende por "resistir" a quê, a quem e como? Como diria EPC, de facto, "nenhuma leitura é inocente", e algumas, diremos nós, bem perigosas. Aguardemos.

POESIA EXPERIMENTAL - NOTA FINAL


"É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer mundo em vez de dizer homem ..."

[Mário Cesariny]

"Toda a palavra começou por ser experimental. Toda a crítica começou por ser experimental. Toda a arte começou por ser experimental. Deveremos admirar-nos se agora nos vêm propor uma "poesia experimetal" - nós que, aliás, vivemos num tempo que se quer, como nenhum outro se quis, de purificações, de redescobertas, de restituições, de progresso, de aventura?" [Arnaldo Saraiva]

"Um poema concreto é para ver mais que para ler, no sentido convencional do verbo ler" [Melo e Castro]

" (...) vivemos numa época de investigação. E não é só isso: os resultados dessa investigação são objectivados pela experiência. É, pois, também uma época experimentalista. Ora a poesia tem de reflectir essa mentalidade, tem de ser experimental, entrar mais pelos sentidos que pelo sentimento. É precisamente esse o fim desta poesia. Preocupa-se do poema como objecto (...) Todo o processo poético tem de ser submetido a um despojamento de tudo o que é acessório. Assim a poesia experimental ergue-se contra a poesia convencional (...) O poeta convencional só se apercebe do espaço que o rodeia. O poeta experimental ocupa o espaço com a sua poesia, sendo muitas vezes o próprio poema quem faz a definição do próprio espaço que ocupa (...)" [Maria J. Mota Fonseca]

[Anotação] Cronologia pós período 1962/1969:

1973 - Antologia da Poesia Concreta em Portugal, Assírio & Alvim (14 autores + entrevista a Haroldo Campos, com prefácio de Melo e Castro e José Alberto Marques) // Exposição de Poesia Concreta Internacional, organizada pelo Goethe Institut, com uma secção portuguesa

1977 - Alternativa Zero (trabalhos de Ana Hatherly, Melo e Castro e Salette Tavares] // Anima – espectáculo-acção de textos visuais na SPA // Representação da Poesia Experimental (sob direcção de MC) na XIV Bienal de São Paulo

1978 - Ana Hatherly participa no 'Graz Meeting of Artists and Art Critics' // Série de programas sobre arte de vanguarda na RTP (19 programas) com realização de Ana Hatherly

1980 - Exposição Colectiva de Poesia Experimental na Galeria Nacional de Arte Moderna // Presença na Bienal de Veneza

"O meu trabalho começa com a escrita – sou um escritor que deriva para as artes visuais através da experimentação com a palavra. A Poesia Concreta foi um estádio necessário (...)" [Ana Hatherly]

"O utente do poema que se aperceba das informações de que for capaz. Por isso e para isso aqui se experimentam os objectos e as pessoas em actos vulgares muito simples deliberadamente fora do seu contexto organizado, quotidiano - redescobrindo o caos com as vossas mãos - experimentando" [Melo e Castro]

[in, PO-EX textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa, Ana Hatherly & E. M. de Melo e Castro, Moraes, 1981]

quarta-feira, 20 de agosto de 2003

SIGUR RÓS


SIGUR RÓS a banda Islandesa, que esteve já em Portugal, está de volta ... com novo album. Até lá, continuemos a ouvi-los.

AINDA ... SOBRE A POESIA EXPERIMENTAL

"Experimentais somos todos nós
ou ainda menos" [Mário Cesariny]

Alguma cronologia que marca a poesia experimental em Portugal : [in, PO-EX textos teóricos e documentais da poesia experimental portuguesa, Edições Moraes, 1981]

1962 – Ideogramas (E.M. de Melo e Castro - MC) // Objecto Poemático de Efeito Progressivo (idem)
1963 – Poema Primeiro (António Aragão) // Poligonia do Soneto (M.C.) // Plano de uma publicação de Poesia Experimental Colectiva, de Aragão e Herberto Helder
1964 – Electronicolírica (Herberto Helder) // Poesia Experimental 1 (colaboração de H.H., Aragão, António Ramos Rosa, MC, Salette Tavares, António Barahona da Fonseca)
1965 – Exposição VISOPOEMAS, em Lisboa (com Aragão, MC, ST, HH, ABF) e publicação das intervenções no Jornal do Fundão.
1966 – Exposição de Poemas Cinéticos (MC), na Galeria 111, Lisboa
1967 – Conferência Objecto (Galeria Quadrante, Lisboa), com a introdução de José Augusto França e participação de Ana Hatherly, MC, José Alberto Marques e Jorge Peixinho
1969 – Publicação de Hidra 2, na Galeria Quadrante

"(...) Em principio, não existe nenhum trabalho criativo que não seja experimental, nesse sentido de que ele supõe vigilância sobre o desgaste dos meios que utiliza e que procura constantemente recarregar de capacidade de exercício. A linguagem encontra-se sempre ameaçada pelos perigos de inadequação e invalidez. É algo que, no seu uso, se gasta e refaz, se perde e ajusta, se organiza, desorganiza e reorganiza – se experimenta. Como diria um poeta, essa é a própria lição das coisas (...)" [Herberto Helder]

" (...) Verlaine inventa novas ordenações em favor da musicalidade, ou seja,
destrói as ordenações existentes em proveito da música do poema.
Rimbaud modifica formas e sintaxes
Mallarmé, Paul Válery, Reverdy e muitos outros, estabelecendo novas
relações estruturais, intensificaram a palavra poética.
o surrealismo através da destruição e do automatismo desordenou
as palavras e o seu discurso (...) [António Aragão]

"a poesia começa onde o ar acaba. é qualquer coisa para depois da própria respiração. como o respirar é muito uma maneira nossa e (pre)vista da condição humana a que somos condenados, a poesia surge a partir desta condenação. mais justo ainda, a partir de toda a condenação. deste modo, só nos resta a queda no irremediável: a vertigem sem apelo, o jogo sem olhos, a ausência impecável de nós. (...) [António Aragão]

" (...) A mesa está pronta. Esta é a grande messe. Cada qual pode servir-se à vontade; intervir é possuir. As coisas que um faz pertencem a todos. Todos se comprometem nelas, usando-as e intervindo, tornando-as suas, indefinidamente (...) [António Aragão]

" (...) O poeta constrói os seus Poemas de materiais, tendo como fulcro as palavras. É pois necessário que sons e imagens (os materiais) se impliquem mutuamente, e se encontrem correlativamente nas palavras em que se articulam. Por seu turno as palavras surgem por imposição múltipla do jogo sonoro e rítmico e do fluxo imaginístico que o Poeta desperta e conduz dentro de si (...) [E. M. de Melo e Castro]

" O que pode ser mostrado não pode ser dito". [Wittgenstein]

[a continuar]

terça-feira, 19 de agosto de 2003

SÉRGIO VIEIRA DE MELLO



... um cidadão do mundo, que trabalhou e lutou em defesa dos refugiados, do cidadão sem terra e sem alma, na defesa dos Direitos Humanos, morreu hoje em Bagdade vítima de um cobarde e vil atentado terrorista. O seu exemplar e brilhante trabalho em defesa do processo democrático de Timor Leste foi a sua última batalha, ganha por todos os amantes da liberdade e do respeito pelos direitos do Homem. Doutorado em Filosofia e Ciências Sociais pela Sorbonne, SVM foi um exemplo de um trabalho que a ONU pode e deve fazer, sem vassalagens, nem tibiezas, com todo o espírito de tolerância. Que descanse em paz!

"Yo diría que el primero es hacer una agenda de derechos humanos que no divida los pueblos, los estados, sino una que los una. El tema de derechos humanos no puede generar separación entre pueblos y estados. Al contrario, los debe unir. Lo que conocemos como "Derechos Universales". No es materia fácil. Desafíos más específicos...hay muchos. El problema de los derechos económicos y sociales, en otras palabras el problema del desarrollo, de la pobreza, el fenómeno de las migraciones, que está causado por la pobreza, el problema de los derechos de la mujer...importantísimo y de la violencia contra la mujer; el problema de la discriminación racial; de las nuevas formas del antisemitismo que es un monstruo que siempre reaparece desgraciadamente y esta nueva tendencia a raíz de lo que pasó el año pasado, que yo llamaría de "Islamofobia," de generalizar y de acusar a priori grupos, sociedades, religiones, y muchos más. Lo que tendré que hacer es priorizar porque existe el peligro de diluir la atención y los pocos recursos de los que disponemos".

"Hay que recordar que lo que pasó el 11 de septiembre fue un acto abominable. Entonces la lucha contra el terrorismo es una necesidad y hay que respaldarla. Eso no debe llevar a ciertos excesos como por ejemplo el de definir cualquier forma de oposición, cualquier forma interna de distensión hasta de resistencia como terrorismo. En otras palabras, generalizar el concepto de terrorismo e incluir en él cualquier forma de divergencia de opinión política. Y en segundo lugar las medidas que se tomen para combatir el terrorismo, no deben nunca afectar lo que hemos alcanzado en estos últimos siglos en términos de democratización de nuestra sociedad porque es eso lo que los terroristas quieren: destruir las estructuras de los estados democráticos"

[Entevista da CNN a Sérgio Vieira de Mello, 20 de Agosto 2002]

"Até as guerras têm suas leis. Ninguém deve ser privado arbitrariamente da vida. Ninguém deve ser detido arbitrariamente e não se deve submeter ninguém à tortura. Todo indivíduo tem o direito à presunção de inocência" [Sérgio Vieira de Mello]

HORROR EM BAGDADE

O atentado terrorista que atingiu a sede das Nações Unidas no Iraque, é um acto bárbaro sem qualquer justificação e merece a mais viva repulsa. Sérgio Vieira de Mello e os seus companheiros têm toda a solidariedade de qualquer cidadão do mundo. O cobarde acto terrorista que atingiu a delegação das Nações Unidas, num país em perfeito desespero pela miopia política e a revanche criminosa da actual administração americana depois do 11 de Setembro, demonstra que o terrorismo não se combate meramente com estratégias militares e de ocupação, à revelia dos direitos humanos e da cidadania mundial. Ocupar um país nunca foi um política seria e honesta e só a estratégia belicista e imperial Bushiana não quer ver tal. Como bem disse Rohan Gunaratna ao Publico do dia 17 de Agosto último, "a luta contra o terrorismo tem de ser multidimensional, travada por múltiplas agencias e múltiplos países", sendo necessário "usar meios políticos, ideológicos, económicos, sociais e meios de informação" para esse combate. Dentro do respeito pelas diferenças de cultura, pela defesa da participação democrática e na mais estrita obediência aos princípios do humanismo e do direito internacional, afinal tudo aquilo que os EUA e a clique dos seus amigos não fazem nem pretendem seguir.

A POSSE



de repente
no país do
bacharel de cananéia
dos bacharéis de canudo e
anel no dedo e dos
doutores de borla e capelo
no país dos
coronéis
latifundiários de baraço
e cutelo (melhor
dizendo de serrote elétrico
corta-homens)
de nobres na curul e
pobres no curral
um
metalúrgico (sem
anel de grau sem
toga doutoral sem
sabença de papel passado) um
torneiro mecânico
formado na
universidade da vida
(severina) assoma
no altiplano de
brasília e toma
posse
da república numa
apoteose de povo
dando novo sentido à palavra
pátria

[Haroldo de Campos, A Posse, Folha de S. Paulo, 19/01/2003]

IN MEMORIAM HAROLDO DE CAMPOS [1929-2003]



No passado dia 16 de Agosto morreu o poeta, ensaísta, tradutor Haroldo de Campos. Funda (com Augusto de Campos e Décio Pignatari) em 1952 o Grupo Noigandres, de poesia concreta, que influencia a corrente concretista e experimental portuguesa, em especial E. M. de Melo e Castro [vidé PO-EX textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa, Ana Hatherly & E. M. de Melo e Castro, Moraes, 1981], e depois trabalha "como tradutor, crítico e teórico literário, além de Professor Titular do curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Literatura na PUC/SP" [Ver]. "O grupo formado por Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari usou pela primeira vez a expressão «poesia concreta» no Festival de Música de Vanguarda do Teatro Arena em 1955. No ano seguinte, o movimento Concretista seria definido com uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo." [idem]. Traduz Joyce, Dante, Mallarmé, Ezra Pound, Maiavóski ...

Morre aos 73 em São Paulo. Uma vida intensa de crítica ás ditaduras, uma resistência estética e literária exemplar. "Extemporâneo, nunca cedeu. Perspassou a média e a mediocridade dominante. Internacionalizou a literatura brasileira, ao tomar para sí, e reativar os valores da antropofagia rebelde de Oswald de Andrade, posta à margem, pelos mesmos epígonos sectários de sempre. Sem vacilos ou recuos, arriscou-se na continuidade, consciente, seguindo nas experiências e experimentações, do percurso desbravado antes pelo 'patriarca' de nossa modernidade literária. Comprou briga com tudo que era passado de todas as épocas e na rasteira deste combate, foram 'redescobertos' Sousândrade, Pedro Kilkery ,Gregório de Mattos,Mallarmé, Joyce , Maiackóviski, com Décio Pignatari e o irmão Augusto e Velimir Klebinikóv em parceria com Aurora Fornomi Bernadini. (...) Instigante, revolucionário, vigoroso na demolição de ranços e rancores incrustados em nossa literatura." (Thaelman Carlos 16/08/2003, CMI Brasil).

sábado, 16 de agosto de 2003

EPICUR Nº35


Acaba de sair a revista dirigida por Alfredo Saramago. Algumas dicas: entrevista com o enólogo Virgílio Loureiro (capa), onde nos fala do branco Quinta de Cabriz 99 e dos vinho em geral; a Garrafeira Soares - Albufeira oblige; um curioso texto de Saramago sobre Acúcares; um teste ao Upmann, Magnum 46, cubano claro!; uma bolsa dos puros; texto sobre cachimbos, por Carvalho Fernandes; a ganadaria de Francisco Romão; carros e relógios; um belo texto de Jorge Silva Melo, com excelentes fotos de Fernado Lemos; e um texto de Fernando António Almeida sobre a Citânia de Sanfins e Santa Luzia. A não perder.

PARA O S*


Saiu-me em oferta generosa alguns livros. Um de João Paulo Freire (Mário) intitula-se, "8 Dias de Liberdade ... Condicionada. Estarreja-Porto-Viana do Castelo de Relance". Edição da Sociedade Cooperativa "O Lar Familiar", Porto, 1945. Ora, é conhecido o autor pela obra vasta, camiliana até, que apesar de qualidade mediana é uma fonte excelente de pistas para trabalhos futuros. Neste seu livro há algumas notas sobre Estarreja, Avanca, Salreu, Murtosa, e arredores, que foram objecto de visitação na época, dando-nos um quadro curioso de impressões dessas terras e dos seus habitantes.

Assim há algumas notas a reter: a fábrica em Avanca, de Avelino Dias da Costa; a amizade com o Dr. Manuel Figueiredo, dr. António Pires Machado, dr. António Tavares Afonso e Cunha, dr. Alberto Vidal, o dr. António Madureira, dr. Francisco Moura; o cicerone ao Hospital Visconde Salreu, de nome Joaquim Marques Freire, que segundo JPF foi um dos sobreviventes da "Revolução de Setembro", era tipográfo e gráfico distinto (p. 56).

Surge referência a alguns topónimos, e para o seu esclarecimento cita o autor, além de A. Tavares Afonso e Cunha (familiar de José Tavares, que falamos em post anterior), o padre João Domingos Arêde, abade de Couto Cucujães, o padre Miguel de Oliveira (natural de Valega) - ver De Talóbriga a Laucóbriga pela via militar romana, Coimbra Editora, 1943.

LOJA DAS COLECÇÕES - MUDANÇAS D'AGOSTO


A Loja das Colecções, à rua da Misericórdia, desceu alguns prédios e refastelou-se em excelentes instalações no nº 115. O seu lugar primitivo (nº 147) foi ocupado pela Livraria Bizantina, do amigo Bobone, que aliás lançou o seu catálogo nº 61, com preços assombrosos.

Assim, cada vez mais, fica aquela zona bem fornecida de antiquários-alfarrabistas (Barateira, Camões, Mundo do Livro, Américo Marques, Antiga do Carmo, Santiago, Arquimedes, Artes e Letras, Histórica Ultramarina, Trindade), o que juntando os conhecidos restaurantes da zona, permite um dia feliz.

NÃO SEI QUE MUNDO É O VOSSO


... meus caros bloguistas! Nesta hora insana onde o fogo tudo consome, com os "lucros e perdas" do exercício de reflexão a ficar para as Calendas, por motivos, aparentemente, estético-políticos, a blogosfera portuguesa roça a insensibilidade pueril.

Quando não se exige explicações e responsabilidades sobre a miséria que se abateu em tantas famílias, que o fogo e o desleixo do Homem originaram, é porque não a reconhecemos como tal. A inteligência politica nunca foi o nosso forte, quando se trata de coisas simples e reais. E, por isso, nunca tantos se engolfaram em pego que não saberiam voltarem. Fazemos incontáveis posts sobre arte, literatura, cinema, amores e desamores, paixões e afectos, guerra e paz, registos em espírito varonil com demandas e vigílias aos profanos, ou grandes canseiras poéticas que o coração permite. Temos facilidade em escrever, com paixão, sobre a "textura de um lábio", o sorriso da miúda do lado, a quietude de um lugar. Mas somos incapazes de comentar o horror que nos invade a alma, a incomodidade do tédio dos discursos oficiais, a vertigem da sociedade de espectáculo, a incapacidade de quem organiza e decide; somos todos cúmplices nesta enorme amnésia social de não haver culpados de coisa nenhuma; em nome da sedução intelectual, anulamos o pensamento da revolta face as assombrosas afirmações proferidas por governantes castrados, que nestas ocasiões aparecem, de todos os lados.

Esquecemos que "há mundo para além do círculo que se vê com os vossos óculos de teatro; há mundo maior do que os vossos sistemas, mais profundo do que os vossos folhetins; há universo um pouco mais extenso e mais agradável sobre tudo do que os vossos livros e os vossos discursos" (Antero de Quental). Por isso continuamos como se nada houvesse existido. E quando o espanto nos atraiçoa a crueldade dos tempos, refugiamo-nos numa melancolia do politicamente correcto, numa pretensa revolta encurralada - concha dos céus. Quando nos dizem que "os bons annos nam os dá quem os deseja, senão que os assegura", debatemos num charivari medonho, e as causas morrem sempre solteiras. Não temos emenda. Nunca!

«O MAIS BELO ESPECTÁCULO DE HORROR SOMOS NÓS.
Este rosto com que amamos, com que morremos, não é nosso; nem estas cicatrizes
frescas todas as manhãs, nem estas palavras que envelhecem no curto espaço
de um dia. A noite recebe as nossas mãos como se fossem intrusas, como se o
reino não fosse pertença delas, invenção delas. . Só a custo, perigosamente, os
nossos sonhos largam a pele e aparecem à luz diurna e implacável. A nossa miséria
vive entre as quatro paredes, cada vez mais apertadas, do nosso desespero. E essa
miséria, ela sim verdadeiramente nossa, não encontra maneira de estoirar as paredes.
Emparedados, sem possibilidade de comunicação, limitados no nosso ódio e no nosso
amor, assim vivemos. Procuramos a saída - a real, a única - e damos com a cabeça
nas paredes. Há os que ganham a ira, os que perdem o amor
».

[António José Forte, Antologia Surrealismo/ Abjeccionismo]

«Alma! Eis o que nos falta. Porque uma nação não é uma tenda, nem um orçamento um bíblia. Ninguém diz: a pátria do comerciante Araújo, do capitalista Seixas, do banqueiro Burnay. Diz-se a pátria de Herculano, de Camilo, de Antero, de João de Deus. Da mera comunhão de estômagos não resulta uma pátria, resulta uma pia. Sócios não significa cidadãos». [Guerra Junqueiro, Pátria]

domingo, 10 de agosto de 2003

QUE FAZER?


[Algures perto de Almodovar] A serra é de uma visibilidade estranha, fantasmagórica, mágica. "Aquilo que se vê não se aloja nunca naquilo que se diz" (Deleuze). Há decerto uma "disjunção" entre o que se vê atrás da serra e o que para além dela se diz. O Algarve nunca é mostrado, mas sabe-se que a sua luminosidade está por detrás daquele monte, que ao longe se vê. Muitos o dizem, velhos e novos, homens e mulheres, que partiram há muito pela estrada fora. Nada os retém no tempo que lhes resta. Eu tenho dúvidas, mas compreendo essa felicidade que lhes foi negada. Lembro-me como as noites serranas eram de uma acalmia arrebatadora, de um silêncio comprometido. Lembro-me ... Mas que valeu isso, se hoje tudo é memórias. Tal como uma personagem de Antonioni, que dizia que "não temos ideias, apenas memórias", também estes homens e mulheres gastaram há muito projectos, esperanças, cuidados. Debandaram todos.

[Portimão] Não fora convite estimável e irrecusável, não iria para estes lados. Não que fosse diferente de outro Algarve qualquer, mas apenas porque seria dolorosa a lembrança de antanho. Lamentavelmente, as coisas estavam, ainda, pior que supunha. A Praia da Rocha não existe, há muito que lhe limparam o corpo e o espirito. Fiquei lá em baixo, na Marina, longe da civilização e da alegria do veraneio. Ao barcos não se abatem, pensei eu. Seria "uma gaiola à procura de um pássaro". É certo que, por uma vez, não fui razoavelmente prudente. Quando dei por mim na piscina do Marina-Hotel, no meio das "tias", acabadas de chegar da festa da Kadoc, já era tarde. Bem sabia eu, que o mar seria de tormenta. Não tive coragem de lhes dizer que a tarde não se previa "estupenda". Acobardei-me. Zarpei imediatamente, com mil e uma desculpas, para o barco, pois sabia que é "no mar que a dor acalma e os alicerces da alma esquecem". Fui sensato.

quarta-feira, 6 de agosto de 2003

ALMOCREVE A CAMINHO

Mais para sul. Beja aqui tão perto. A estrada é de tormenta, mas Beja será retemperadora. Almodovar ali ... mesmo. Fim de tarde a lembrar as muitas da infância. Que será feito de ... ??!

"Por entre casas brancas
Sol e distância
Por entre oliveiras e vinhedos
Ânsias e medos
Por entre espigas e bolotas
A espuma dos olhos
Na terra seca e no calor
O sabor a suor
Nas almas sem mistério
A luz apenas como refrigério
E na dor das horas imoladas
Silêncio e nada."

José A. Palma Caetano

JOÃO PULIDO VALENTE [4 DE AGOSTO DE 2003]

Em Abril de 1964, surge a CMLP, fundada por João Pulido Valente, Francisco Martins Rodrigues e Rui d'Espinay, principalmente. Três meses antes tinha aparecido a FAP, resultante de uma cisão no PCP. Questão complicada, na doxa marxista-leninista, o existir a Frente sem o partido que a dirija. Foi sempre esse o ponto nodal de todo o movimento m-l, antes do 25 de Abril, no combate à ditadura.

Foi a partir desse debate que mil e umas organizações foram aparecendo e desaparecendo na textura politica de então. De entre as figuras marcantes, figura João Pulido Valente. O mito quase perfeito do verdadeiro combatente, que não se vergava à polícia politica, não era de trair os companheiros, mantendo-se, como então era dito, como "um revolucionário". Alguma juventude de então, sabia-o bem. E teve, sempre, enorme ternura e respeito por ele.

João Pulido Valente, poderia ter sido isso tudo, mas era tão só um homem singular, pela sua irrequietude, seu voluntarismo quasi anarquista, sua extrema ironia, e, principalmente, com um grande desejo de viver.

Até sempre João!.

terça-feira, 5 de agosto de 2003

CONTEMPLANDO NAS COUSAS DO MUNDO ...

Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa.
O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
[Gregório de Mattos e Guerra]

MACGUFFIN - O PROF.


No dia 4 deste mês, o putativo MacBloguerGuffin pensou durante um jantar, esta extraordinária, mas acertada pérola de Nelson Rodrigues, o guru:"Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio. Há toda uma massa de frases feitas, de sentimentos feitos, de ódios feitos". É bom durante repastos assim, tão confabulativos, pensar (suspirar) em Nelson Rodrigues.

MacGuffin o bloguista não é desses que fala Nelson. Nada disso. MacGuffin tem sempre opiniões sólidas, apessoadas, não assistenciais. Por vezes foge-lhe a chinela intelectual para esses pequenos ódios de estimação que existem dentro de cada um de nós. Mário Soares é um deles, como podia ser a viúva-alegre ou o Antunes da mercearia, é bom de ver. Nada de extraordinário. O que é espantoso são as tiradas a favor da corrente do liberal MacGuffin. Tomemos nota.

- "(...) tenho sérias dúvidas que em Portugal, um país que viveu durante 34 anos sob a doutrina castradora, proto-socialista e paternal de um homem de Santa Comba Dão (...)" [um verdadeiro incêndio literário, é bom de ver]

- "O que será, então, o Dr. Mário Soares? Depois de consultar vários compêndios, achei: o Dr. Mário Soares é um "quisto sebáceo". [uma reprimenda anatómica verdadeiramente liberal, claro]

- "Cara Maria Manuela: foi um prazer ler a sua carta e perceber que existe gente com espírito conservador, tal como eu o imagino. (...) O dogmatismo e a presunção de uma certa esquerda - sempre pronta a catalogar e fazer uso dos 'slogans' - não escolhe idades." [a arqueologia do tédio no pensamento MacGuffiniano]

- "Este ano já arderam 80.000 ha, dos quais 54.000 «apenas» na última semana. Leram bem: oitenta mil hectares. Ontem, combatiam-se 522 incêndios, espalhados um pouco por todo o país. Leram bem: quinhentos e vinte e dois." [a elegante matematização no seu esplendor filosófico]

PÃO & LIVROS

Agradeço a matinal sugestão de JPP. Pão & livros in matinas é sempre boa escolha. Não conhecia o livro [Among the Gently Mad Perspectives and Strategies for the Book-Hunter in the Twenty-First Century], nem o autor [Nicholas A. Basbanes].

Fiz a devida pesquisa no google, e, helás, lá encontrei uma referência que em tempos tinha lido num newsgroups da livraria Kosmos, mas que não dei qualquer relevância. Tratava-se (como agora posso dizer pela consulta) de "Patience & Fortitude"".. E é bem curiosa a biobibliografia do autor, e quem sabe se o seu último volume sairá em português, mesmo que no Brasil. Seja como for, já tomei nota.

Eis para que serve, também, um blog. Thks!

FOGO NA NOITE ESCURA

Não é o livro de Fernando Namora. É a situação indescritível do país, varrido pelo fogo. É a noite escura do nosso desassossego perante o que nos é dado ver e ouvir. É a população mais pobre, mais uma vez, a ser atirada para o guetto, de onde nunca saiu. É o politicamente correcto de alguns políticos, que não assumem responsabilidades. Que aparecem em discursos déjà vue, manhosos, quase todos por encomenda, sem pudor. Quem ouviu hoje, debate da RTP1 entende. Porque não podem ser ouvidos, com atenção, homens como o (salvo erro) Galacha. Acaso a etiologia desta doença dos fogos é irreal? É falso o que ele disse? Tenham vergonha. E sejamos solidários com as vitimas deste terror.

domingo, 3 de agosto de 2003

FOGOS & NOTAS VÁRIAS

- É sempre a mesma coisa todos os anos. Chega-se a Julho e Agosto, e de repente parece que fomos atirados para um outro país. Quem ouve o inefável ministro Figueiredo Lopes a dar ordens ao abrigo de um plano inexistente (ou que só na sua cabeça existia) fica na dúvida em que raio de país estamos. É que, afinal, fazem mil e umas leis, normas e planos que invariavelmente nunca são aplicados, ou quando o são imediatamente são colocados de lado para uma nova reformulação. Este ministro diz a mesma coisa que os seus anteriores diziam. E seguramente que os vindouros dirão a mesmíssima coisa. Triste país este, que é governado por tamanha gente.

- O Ministro da Defesaestá atirado para lume brando. E, de facto, merece-o. Nem se compreende como alguém com o perfil ético e político de Portas, conseguiu, um dia, ser ministro de alguma coisa. Não tem idade mental, estirpe democrática e humanidade para o desempenho do cargo. Quanto muito no Independente poderia mandar em alguma coisa, porque são todos bons rapazes. Mas no governo de um país, valha-nos Deus. Enfim, como diria Joyce"como não podemos mudar de país, mudemos de assunto".

- Estes dias em férias são óptimas para compras de livros, há muito esgotados ou desaparecidos. Não há concorrência nesta época do ano. A praia é um trabalho infinito e que requer tempo, mesmo para os mais audases. Ainda bem, para nós, que também somos praiantes de barriga ao sol, mas estamos atentos e cuidadosos sobre as insolações estivais. Et pour cause ...

Algumas das aquisições nestes dias de Agosto. [brevissima anotação]

* Catalogo da Valiosa e Interessante Livraria que pertenceu ao Ex.mo Snr. Dr. Pedro Augusto Ferreira (Continuador do Portugal Antigo e Moderno) por elle dispendiosa e pacientemente adquirida em leilões e vendas particulares, desde 1864 e que será vendida em Leilão, pelas 6 horas da tarde do dia 7 e seguintes no proximo mez d'Abril no Bazar de António Freitas, Rua de Passos Manoel, 199 - Porto s/d [Nota: contem todos os preços da arrematação, enc.]

* Catalogo // das // Obras mais raras, valiosas e estimadas // da // Livraria // do bem conhecido e afamado bibliophilo // Agostinho Vito Pereira Merello // ex-corretor do Numero da Bolsa. // Bibliotheca Particular a mais importante do paiz, constando 12:358 lotes // Catalogada por seu filho // Julio Roque Pereira Merello // Agente de leilões da Praça de Lisboa // Seguido de um catalogo dos valiosos quadros, estampas e jornaes // Precedido de um breve prefacio por // Theophilo Braga // Lisboa // Typographia da Companhia Nacional Editora // ... // 1898, VII-337 pgs

"Habent sua fata libelli. É este um antigo aphorismo em que está implicita toda a historia litteraria; os livros têm a sua sorte, e não é menos dramatica a série de peripecias que constituem a sua historia externa, como a dos conflictos theoricos ou doutrinarios que levantaram, actuando na corrente da civilização. O livro é um prestigio (...) Quem ousará condemmar a bibliomania, se é ella um meio indirecto de conservar muitas riquezas do passado que fatalmente se perderiam na voragem do tempo! Sem essa preoccupação de enthezourar todas as raridades e especialidades bibliographicas, seria impossivel construir a Historia litteraria, a grande creação entrevista no seculo XVII por Bacon (...)

A livraria, que esteve sempre occulta como um thezouro cubiçado, é conhecida emquanto á sua importancia pelo fervor, sacrificios e constancia com que o proprietario se batia em todos os leiloes e pesquizas para alcançar as mais invejaveis preciosidades litterarias e artisticas. Desde 1844 a 1895 gastou Pereira Merello a ajuntar livros, capitalisando na sua Bibliotheca a melhor parte dos seus rendimentos provenientes das sua funções de Corrector do Numero da Praça de Lisboa. (...) Pereira Merello, de origem italiana, cultivou as letras na sua mocidade; escreveu artigos sobre economia e commercio em alguns dos mais importantes jornaes de Lisboa (...) Começou a a collecionar livros, quando ainda andavam em dispersão as bibliothecas dos conventos, e prosseguiu, quando ao correr do martello do leiloeiro se espatifavam as livrarias pacientemente formadas como a de Pereira da Costa. Foi n'este campo de combate que Pereira Merello se encontrou com Innocencio Francisco da Silva (...) É certo que tornaram-se inimigos inconciliaveis; Merello fechou a sua livraria com os setes sellos do Apocalypse, e elle mesmo levado pela preoccupação do livro chegou ao ponto em que já se não dominava, tornando-se elle proprio victima de uma como vesania. Para adquirir as obras mais raras já não olhava a dinheiro (...) todo o seu capital adquirido foi gasto com enthusiasmo em livros, quadros e em curiosidades de bric-à-brac. Faz lembrar por vezes essa figura mysteriosa e sympathica do Cousin Pons do romance de Balzac. Os livros custavam-lhe o melhor do seu sangue, o dinheiro e odios profundos com os outros bibliomanos; guardava-os com as mesmas etiquetas dos leilões, em sacos e em caixas, de forma que perdia o conhecimento d'elles. Daqui resultava o tornar a comprar muitos exemplares do mesmo livro, tal como aconteceu com outro acerrimo bibliophilo do Porto o Dr. João Vieira Pinto (...) Ao fim de quarenta annos de trabalho estava formada esta grandiosa Bibliotheca particular (...)"

[Theophilo Braga, A Livaria de Pereira Merello, pag. V/VI]

* Catálogo de Quatro Importantes Livrarias que serão vendidas em Leilão sob a direcção de João Vicente da Silva Coelho organizado por José dos Santos e com um prefácio de Gustavo de Matos Sequeira. ... constituindo o fundo das livrarias que formam do Conselheiro Anselmo José Braamcamp, do dr. JoãoForjaz, do dr. José Pereira de Paiva Pita e da família Cunha Sotomayor. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925, 354 pag. [Trata-se de catálogo onde participam o dono da Livraria Coelho de Lisboa, José dos Santos da Livraria Lusitana (Lisboa) e com prefácio do bibliófilo Gustavo de Matos Sequeira.]

"Nenhuma terra de Portugal possue como Coimbra a característica inconfundível da sua tradicional cultura erudita, artística e literária. (...) Abastada de livrarias, a cidade do Mondego marca assim esse logar e a cada uma que se dispersa outra se forma. Estas que agora se vão vender em almoeda reflectem bem nitidamente a feição originária, o ar erudito, na abundância de clássicos, na escolha castigada dos melhores autores e na variedade dos assuntos.
A primeira, que pertenceu ao estadista Anselmo José Braamcamp, recheada de curiosidades clássicas e de bons livros de sciência política, (...) Segue-se a livraria do dr. João Forjaz, de Bemcanta (...) Mais copiosa e mais variada do que as anteriores è a biblioteca que foi do lente dr. Paiva Pita abundantíssima de obras jurídica de mérito e de clássicos dos melhores como (...) Áparte estes excelentes livros mencionados, enriquecem a livraria uma porção considerável de manuscritos que forma pertença do bispo Azeredo Coutinho, que foi de Elvas e Pernambuco, manuscritos entre os quais se destacam alguns de interesse capital para a história eclesiástica e geral destas duas cidades, mormente de Elvas. (...) A última biblioteca que foi da família Cunha Sotomayor, de Coimbra, (...)"
[Gustavo de Matos Sequeira]