quinta-feira, 22 de novembro de 2007


Boletim de Novembro da Livraria Moreira da Costa

Saiu o Boletim de Novembro da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto). Peças raras, estimadas e curiosas de/sobre Camilo, Revistas Literárias, Monografias, História, Literatura, etc. Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Diccionario Exegético que Declara a Genuína, e própria significação dos vocábulos da LINGUA PORTUGUEZA, adoptados unicamente pelos Sabios da Naçaõ ..., por Francisco Luiz Ameno, 1781 / O Aristarco Portuguez. Revista Annual de Crítica Litteraria. Coimbra, Impr. Univ. 1868 / Homenagem a Camilo no seu Centenário, de António Baião, 1925 / O Século e o Clero, de João Bonança, 1872 / Camillo Homenageado. O Escriptor da Graça de da Belleza, Famalicão, 1920 / O Mosteiro de S. Marcos, de J. M. Teixeira de Carvalho, 1922 / O Romance d'um Homem Rico, de C. C. Branco, 1861 / Cidade Nova. Rev. Coimbra, I série, nº1 (Set. 1949) à VI série, nº1, (1959) / Os Ratos da Inquisição, de António Serrão de Castro, 1883 / Iniciação à Bibliofilia, por João José Alves Dias, 1994 / Camilo e as Caturrices dos Puristas, de Eduardo José Pinheiro Domingues [João Curioso], Rio de Janeiro, 1924 / Camillo Castello Branco e Silva Pinto, ..., Lisboa, 1918 / A Astronomia Moderna e a Questão das Parallaxes Sideraes, por Henrique de Barros Gomes, 1872 / L'Illsustration Horticole. Journal special des Serres et des Jardins, ..., 1855-1869, XIII vols / Journal des Jornaux de La Comune, ..., 19 Mars au 24 Mai 1871, Paris, Garnier Frères, 1872, II vols / Dolos, Homens & Bestas, de Joaquim Madureira [Braz Burity], Porto, 1931 / Essai sur la Tactique de L'Infanterie, ..., por Gabriel Pictet, Geneve, 1761, II vols / Codigo Pharmaceutico Lusitano ou Tratado de Pahrmaconomia, ..., por Agostinho Albano da Silveira Pinto, Coimbra, Impr. Univ., 1841 / O Professor Maximiano Lemos, por Alberto Saavedra, Porto, 1923 / O Pensamento de Salazar, Ed. SNI, 1944-1966, XXX fasc. / D. Miguel I, obra anónima [António Ribeiro Saraiva] c. pref. José Agostinho Macedo, Lisboa, 1829 / Iniciação. Cadernos de Informação Cultural, de Agostinho da Silva, 1940-43, XI fasc.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O TRABALHO

 
"- Como está a sair o trabalho?

- Uma merda!, diz o escritor-que-detesta-escrever com a náusea de quem está positivamente farto da amante.

Mas não está.
"

[Alexandre O'Neill, Achegas para a compreensão do caso de o-escritor-que-detesta-escrever, in "Uma Coisa em Forma de Assim", Presença, 1985]

quinta-feira, 15 de novembro de 2007


In-Libris – Livros de Novembro 2007

Mais livros disponíveis este mês na In-Libris (Porto).

Apresenta obras estimados de literatura, monografias portuguesas, culinária, gastronomia e tabaco, revistas, apresentando curiosas peças de Al Berto, Alexandre O’Neill, Aquilino Ribeiro, Camões, Cruzeiro Seixas, Dante Alighieri, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Sena, Júlio Dantas, Leite de Vasconcelos, Luiz Pacheco, Ovídio, Rebello da Silva, Trindade Coelho, Vergílio Ferreira, Vicente Aleixandre, etc.

A consultar on line.

A comissão política reunida

"A democracia seria ideal se não tivesse sovaco; tudo! tudo, menos tal cheiro de suor honrado" [Paula Ney]

Conforme rezam alguns escribas mais afoitos, parece que hoje reuniu a Comissão Política Nacional dos amigos do sr. Sócrates. Os bravos e alegres folgazões que adornam tal comissão de festas andavam muito folgados: há três meses que não aliviavam o espírito socialista do sr. Presidente do Conselho de Ministros.

Os nativos andavam, por isso, pesarosos. Com muita razão. Nestes dias passados não se ouviu mais o riso do dr. José Lello – puro, cintilante e vicioso – o que dá sempre matéria para qualquer croniqueta proveitosa. Não voltámos a conhecer o génio venatório do sr. Vitalino Canas (até agora) e nem mesmo brotou (salvo ... seja!) qualquer invulgar suspiro da dr. Edite Estrela, evidentemente para enobrecer os indígenas filiados na agremiação. Enfim, três santos meses em que não se ouviu tartamudear nenhum "bem-haja! sr. Presidente do Conselho de Ministros".

Adivinhou-se, portanto, neste encontro festivo, a ocasião (assim consta, pelo gorjeio de Vitalino Canas) para cintilar a tremenda luz operária do sindicalista João Proença. Até mesmo se pode antever o ecoar da voz possante de Marcos Perestrello, coisa que terá encantado, decerto, os infaustos comissionistas; do mesmo modo, amanhã saberemos o efeito do ardente eco político dessa inolvidável figura que é Miranda Calha. Ou humedeceremos com a presuntiva lição oratória do ex-estudante Alberto Martins, agora a banhos no seio socrático, que não se negará à empolgada assistência.

Entretanto nas soçobradas Concelhias, sem o arrimo de outrora e convulsas de terror socrático, alguém apontará a impostura daquilo tudo. Mesmo que o dr. Vítor Ramalho se afadigue em juras públicas socializantes, sente-se e ouve-se por todo o lado vitupérios sem fim. O vernáculo regressa em força, pois o hálito da rosa anda fétido. E ninguém correu a avisar o dr. Jorge Coelho. Não há direito. Ingratos!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007


1º Boletim Bibliográfico da Livraria Antiquária do Calhariz

Saiu o 1º Boletim Bibliográfico da Livraria Antiquária do Calhariz, de José Manuel Rodrigues (Largo do Calhariz, 14, Lisboa). Peças estimadas e raras (muitas referentes ao Brasil) de História, Genealogia, Poesia, Romance, Ensaio, Monografias, um conjunto de curiosos Alvarás brasileiros do sec. XIX, revistas literárias & muito mais.

Algumas referências: Engomadeira, de J. Almada Negreiros, 1917 / Poezias de Pedro de Andrade Caminha, Lisboa, 1791 / Árvore. Folhas de Poesia, 1951-53, V vols / Adereços Endereços, de J. Carlos Ary dos Santos, 1965 / Estado Actual das Pescas em Portugal, Lisboa, IN, 1891 / O Capitalismo Moderno e as suas origens em Portugal, por Bento Carqueja, 1908 / Os Jardins ou a Arte de Aformesear as Paisagens, trad do poema de Mr. Delille por Barbosa Bocage [ed. Impr. Régia do Brasil], 1812 / Motivos de Beleza, de António Botto, 1923 / História de D. Pedro II, por Pedro Calmon, Rio de Janeiro, 1975, V vols / Os Caminheiros e Outros Contos, de J. Cardoso Pires, 1949 / Obras invulgares e raras de C. C. Branco [A Filha do Arcediago1854; Archivo Bibliographico, nº1, Jan 1895 ao nº14, Fev 1896, XIV numrs; Esboços e Apreciações Litterarias, 1865 / O Caleche, por C. C. Branco (raro), etc.] / Revista de Ex-Libris Portuguezes, dir. Castro e Solla, 1916-1927, VI vols / Alguns Mitos Maiores, de M.C. Vasconcelos, 1958 / Conversa de Rotina, de Rui Cinatti, 1973 / O Criacionismo, por Leonardo Coimbra, 1912 / Colecção de Opúsculos relativos à Historia das Navegações ..., Lisboa, Acad. Real Sciencias, 1944 e 1955 / Contraponto. Cadernos de Critica e Arte (nº1 de 2 numrs), 1950 / Critério. Revista mensal de cultura, 1975-76, VIII numrs / Tanto, de Saul Dias, 1932 / Fel, por José Duro, 1898 / O Manuscrito na garrafa, de Daniel Filipe, 1960 / Graal, rev dir. Couto Viana, 1956-57, IV numrs / Apresentação do Rosto, de Herberto Helder, Ulisseia, 1968 / Pecado, de Pedro Homem de Mello, 1942 / Alma Errante, de Eliezer kamenezky, 1932 / Erro Próprio, de A. Maria Lisboa, 1962 / Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jerry, de A. Maria Lisboa. s.d. / Litoral, rev mensal cultura, dir. Carlos Queiroz, 1944-1945, VI vols / Variedades sobre objectos relativos às Artes, Commercio e Manufacturas, por José Accursio das neves, 1814-17 / Revista Oceanos, nº1 ao nº 49 / Obras várias de Luiz Pacheco / Apenas uma Narrativa, de António Pedro, 1942 / Historia de Portugal nos sec. XVII e XVIII, por Rebello da Silva, 1860-71, V vols

sábado, 10 de novembro de 2007


Norman Mailer [1923-2007]

"Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um enorme presente" [N. Mailer]

Nascido em New Jersey nos tempos idos de 1923, Norman Mailer, ao longo da sua vida de controvérsia, de rebeldia e, ao mesmo tempo, de curiosa boémia, fez de tudo um pouco, enchendo de assombro os desarvorados indígenas americanos (e não só).

Este auto-intitulado "conservador de esquerda", engenheiro industrial, jornalista ou contador de estórias (no que dá no mesmo), tropa nada embaraçado no II G. M., estudante da Sorbonne, comentador político (do american way of life) sem pasmo mas de riso civilizacional (coisa que entretanto desapareceu na bruma do politicamente correcto), chauvinista militante e femeeiro encartado, novelista ácido, biógrafo de altos astrais, violento no trato e no corte-e-costura cavalheiresco ["Once more, words fail Norman", disse uma vez Gore Vidal, depois de ser agredido por Mailer, que lhe tinha chamado isso mesmo ... "violento"], ensaísta e romancista, bebedor sempre virtuoso, teatrólogo e escriba de roteiros fílmicos, morreu hoje, com 84 anos. Intensos, eloquentes, brutais. Como deve ser.

Até sempre Mailer!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007


Leilão de Livros e Manuscritos – dias 12,13 e 14 Novembro

Vai a leilão um conjunto de Livros e Manuscritos valiosos e muito estimados nos dias 12, 13 e 14 de Novembro (sempre pelas 21 horas) - no Amazónia Lisboa Hotel (ao Jardim das Amoreiras), em Lisboa -, organizado pelo livreiro & leiloeiro Pedro Azevedo.

O magnífico e luxuoso Catálogo publicado por Pedro Azevedo para o leilão revela um conjunto assinalável de peças raras de Bibliografia, Folhetos vários, História, Genealogia, Literatura, Revistas e Periódicos, bem como um lote de importantes Manuscritos. E, como sempre, os lotes vêm descritos no Catálogo com notas biobibliográficas preciosas, que fazem a felicidade do amador de livros.

Um leilão notável e a não perder.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007


Almanaque Republicano - Primeiro Aniversário

"Alma! Eis o que nos falta. Porque uma nação não é uma tenda, nem um orçamento uma bíblia". [Guerra Junqueiro]

Faz hoje um ano que lançámos o Almanaque Republicano. Exemplar único da Alma Republicana, na blogosfera indígena. Pouso de genuína "ascendência portucalensis". Lugar dum tempo de antiquíssima saudade, e que em boa hora retomámos em merecida ventura. Eis, passado um ano, o canto, a gesta e a demanda admirável de uma "geração sonhadora, generosa e messiânica", como aqui dissemos.

(…)

Na nossa incursão à Alma Republicana surge, por isso, um abraço humílimo, restaurado, ao antiquíssimo cantar do "espírito lusitano" que a tradição fez sorrir. Os "nossos antigos" [Antero] não morreram, mas ainda não estão. Por isso continuamos em "velada d'armas". O Édito dessa anunciação ainda é o rasto do nosso versejar. Ainda é o alento que rompe sombras, "pois não há sono no mundo" [F. Pessoa].

E por isso temos tenção de continuar. Entretanto um abraço.

in Almanaque Republicano

quinta-feira, 1 de novembro de 2007


Anúncio completamente grátis

V. Excia anda irritadiço com a sua situação financeira e os situacionistas da União Nacional, sente arrepios de frio socrático correndo na espinha quando depara na TV com a bestial figura de Jorge Coelho e vocifera em espirituosa abundância na leitura das ordenanças da Sra. Ministra da Instrução? V. Excia sente-se advertido, por amor da Europa e pela pia caridade do sr. José Miguel Júdice, com as prevaricações por si feitas ao Exmo. Senhor Presidente do Conselho de Ministros e teme pelo seu mísero lugar e dos seus, tanto como se comove com um discurso do sr. Alberto Costa? V. Excia sente um frémito de medo a invadir-lhe o escritório e a casa, pressentindo o roçar do espectro do agente do SNI, o dr. Augusto Santos "Chávez", que sobre as janelas misteriosamente voa? V. Excia, agora apático, titubeante e um pouco madraço, faz tenção de deambular em liberdade e sem tristes lembranças pela sua própria casa, sem ser incomodado pelos espias da governança e o horror de ouvir a voz e o suspiro do sr. M. Sousa Tavares?

... então não hesite. Contra olhares errantes, fugidios, insidiosos ou contra a propaganda do governo ou do DN, em sua casa ou na da vizinha, eis que chegou: "Stores Confortâble". Os únicos que dão felicidade a V. Excia e ao país. Compre já!

Temos andado ... assim!

... a cavalgar o mundo, perdidos nas distâncias e nas almas. Parecemos lobos em deserto puro. Mas não muito! Fugimos à nova noite negra política que se instalou definitivamente entre nós. Não temos nada a dizer, não temos nada a contar. Não adormecemos ainda mas também não vemos o sol. Estamos cansados de estar cansados. De nós, todo "o destino é insuportável". A canalha já pouco nos importa e as manobras de todos vós não deixam de ser um raminho de dia de defuntos. Podem ser assunto civilizador mas o relógio da vida está parado. Sempre, e continuadamente, parado. Quisemos descansar de tanto palavreado inútil, de tanta propaganda pífia, de tanta soberba. Por isso só nos ocorre esse lugar-comum quanto exacto: temos a vida e os governantes que merecemos.

Mas estamos de volta. Para o que der e vier.

Bom dia!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


João Camossa [1926-2007]

"João Carlos Camossa de Saldanha era advogado e uma figura pública de grande encantamento. De raiz "anarco-comunalista" porque gostava de ser "senhor de si mesmo", professava a dissidência espiritual ou não fosse possuído de vasta e copiosa memória cultural. Era monárquico mas dos que prezam a liberdade e a vida. Repudiou sempre aqueles que, comprometidos com o salazarismo e o fascismo, eram (são) situacionistas. E, por isso, ficou cada dia mais só, esquecido, incompreendido, maltratado ..."

[ler mais no Almanaque Republicano]

domingo, 14 de outubro de 2007


Fausto Correia

O saudoso café Trianon, sitiado à esquina da Nicolau Chanterenne na bela Coimbra, lugar consumido pelas insónias por tantos de nós, onde as impressões, as (in)confidências, os arrufos políticos ou literários, o gozo daqueles olhares que tudo prometiam antes da partida para as festividades noctívagas, a noite de Coimbra que tremula no tempo mas que teima em resistir na nossa memória, perdeu um dos seus (dos nossos) melhores amigos: Fausto Correia. Quem por lá passou nesses tempos de oiro, jamais esquecerá a figura serena, tolerante, de rara generosidade e desmedida bondade, como sempre será lembrado Fausto Correia.

O tributo e o preito de homenagem que a sua cidade, ontem, lhe prestou, dizem isso mesmo. Porque esta Coimbra estima sempre quem lhe quer bem. E o Fausto é exemplo iluminado dos melhores que a exaltaram.

Até sempre, Fausto!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007


5 de Outubro de 1910 – uma evocação

"A Pátria é um princípio de solidariedade colectiva. A Pátria é uma religião" [Sampaio Bruno]

Sob o tempo dos 97 anos passados, o dia 5 de Outubro, como outros tantos que testemunham a nossa história, converteu-se em mera jornada de lazer e esquecimento, da qual muitos, ironicamente, desconhecem a causa próxima ou o seu fausto. Percorridos os anos à "sombra das almas", de melancolia em melancolia, e consumidos os dias sem qualquer devir nacional (material, cultural ou espiritual), o dia em que os "arautos da nova ideia" saíram à rua repousa silenciosamente em antigos, quanto iluminados, estandartes que a Saudade consagrou. Um mundo, assim, não findou, mesmo que se aceite, com F. Pessoa, que "portugueses, deixaram de haver". Um mundo, assim, é intemporal. A Demanda, sabe-se, é por vezes "sombra e nevoeiro".

O Almanaque Republicano, como é mister, associa-se a esse retorno à alta glória, de sonho tão puro, onde a nossa gente levantou "o esplendor de Portugal". E muitos foram.

Nos próximos dias daremos aqui, e como temos vindo a fazer, fé disso mesmo. A narrativa republicana, paixão antiga e sacra, será sempre entre nós uma "cantiga de amigo". Que não acaba nem começa. Vive, apenas!

[via Almanaque Republicano]

terça-feira, 2 de outubro de 2007


Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos

Conforme, aqui e aqui, dissemos a preciosa Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos, organizada com o cuidado extremo de Manuel Ferreira, vai a leilão na Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto, Porto) amanhã (dia 3) e segue até ao dia 11, do corrente mês, sempre pelas 21 horas.

Alguns periódicos e outros órgãos de informação deram a devida atenção à riqueza bibliográfica da biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos. E, ao que nos sugerem, mais que um mero produto de luxo era, de facto, uma fonte e ferramenta de trabalho para o seu possuidor e outros estudiosos. O que marca, também, uma evidente diferença entre alguns dos nossos mais conhecidos bibliófilos.

Algumas referências na imprensa: Livros, jornais e revistas raríssimas de Alfredo Ribeiro dos Santos em leilão no Porto [RTP] / Louco por revistas [Luís Miguel Queirós, Público, P2, dia 2/10/2007] / Memórias inéditas. Leonardo Coimbra, um caso de arrebatamento [Ana Sofia Rosado, O Primeiro de Janeiro - notas de uma entevista ao dr. Alfredo Ribeiro dos Santos / Durante a reviravolta: uma família [continuação]

Foto: retirada do jornal Público, com a devida vénia

[em actualização]

quinta-feira, 27 de setembro de 2007


"A Revista História com fim perto" - Petição on line

"A revista 'História' está a ver o seu fim anunciado. Acaba de editar agora o seu número 100 e corre o risco de não sair mais nenhum. Este encerramento da revista "História" deve-se a um corte orçamental que apesar de mínimo para quem apoiava a revista é extramente importante para assegurar a sua existência. A revista 'História' é já uma revista de referência no panorama cultural e editorial português e um caso único qualitativo. É importante não deixar acabar mais esta revista no nosso país com um já tão pobre mercado editorial de qualidade"

Petição:"A Revista História com fim perto" - aqui on line.

[ler mais no Almanaque Republicano]

Fermosa Estrivaria

"... pelos pinotes, as absurdas e ridículas loucuras em que eles passam o seu tempo" [Cavaleiro de Oliveira, aliás Francisco Xavier de Oliveira]

O inefável editor Ricardo Costa, expert em mixordices políticas, convidou o sr. Santana Lopes ao púlpito da SIC-Notícias, ontem à noite, para falar nas eleições no PSD. Para surpresa dos espectadores, ainda a entrevista de Ana Lourenço nem ia a meio, já o emproado Ricardo Costa interrompia o seu convidado, a pretexto do rebate de José Mourinho no aeroporto de Lisboa. O insulto feito a Santana Lopes pelo editor da SIC, nem perfeito foi. Embora haja gostos para tudo, nada nos autoriza a pensar que olhar o sr. Mourinho entrar num automóvel pela calada da noite seja tão excitante quanto Ricardo Costa presume. Mas a afronta e a canalhice, por uma vez, não ficaram sem resposta. Santana Lopes – sim ele, mesmo – levantou-se e saiu. Que faça escola, é o que se deseja.

Festividades de Fátima

A Irmandade do Centro Desportivo de Fátima teve, ontem em Fátima e para a Taça de Portugal, esse milagre de inteligência de levar a equipa de futebol do sr. Pinto da Costa à marcação de grandes penalidades. E, depois, caridosamente enviou-os para o recesso das Antas, onde faz carreira escolar Jesualdo Ferreira, conhecido por "O Professor".

Ao mesmo tempo, com espírito elevado e civilizador, a Irmandade em Fátima teve ensejo de conceder luz ao sr. Duarte Gomes e fê-lo marcar um penalty (lindo) para o nosso Glorioso, ali para os lados da Reboleira. Não expulsou o prevaricador, para não estragar as festividades.

Infelizmente, não teve a nossa estimada Irmandade lisonja suficiente para fazer sair do meio das sombras o sr. Bruno Paixão, conhecido árbitro formado pelo Papa Pinto da Costa. E tal a cegueira estava possuído Bruno Paixão que o não fez ver um penalty luzente e inequívoco, do guarda-redes dos lagartos contra um jogador do grande Vitória de Guimarães. Não se deu provimento, decerto na penhorada benevolência da Irmandade, à qualidade dos três Fés: Fátima, Futebol e Fado. Mas fica adiado para o próximo sábado. Pois já dizia Horácio: bis repetita placent.

terça-feira, 25 de setembro de 2007


André Gorz: um longo diálogo

André Gorz, tal como foi referido aqui, é principalmente (re)conhecido pela atenção dada às questões relacionadas com "o trabalho", a "produtividade", "relações de trabalho" e "exclusão social", "industrialização" e "acumulação", "capitalismo”" e "novas tecnologias". Retoma, por isso mesmo, o "velho" debate sobre a "produção/reprodução de trabalho", "a teoria do valor trabalho", a questão da sua "apropriação" e a problemática dos "modelos de crescimento económico". A partir daí, é evidente na sua obra a critica à doxa marxista ["O marxismo está em crise porque há uma crise do movimento operário. Rompeu-se, ao longo dos últimos vinte anos, o fio entre desenvolvimento das forças produtivas e desenvolvimento das contradições de classe”, in “Adeus ao Proletariado", Gorz, 1987]. Nesse sentido, polemizou à esquerda, quer por entender que o "trabalho imaterial" era crucial para a análise do capitalismo moderno, quer por pensar que "o proletariado" não era já uma "classe revolucionária", nem tinha o "valor profético", que invariavelmente está presente em toda a literatura marxiana. Tal preceito, então ousado, fez virar contra si os sindicatos e toda a "esquerda clássica".

Alguns conceitos com que trabalhou versando a problemática da "economia do saber" ou "do conhecimento", resultante do mundo tecnológico e das suas "estruturas", têm hoje um lugar central no debate sobre a globalização e a "sociedade do futuro" (pelo menos nos países mais desenvolvidos). O construído das redes de comunicação e os efeitos das novas tecnologias, pelo impacto que têm no sistema económico, na organização do trabalho e no próprio trabalho, convergem necessariamente para a urgência de um outro olhar da/para a ciência económica (que Gorz referia sempre).

A putativa ilusão de perda da "centralidade do trabalho" e o "fetichismo tecnológico" e cultural nas sociedades actuais, aliado à ideia de derrota da "luta" anticapitalista, levaram a que o filósofo convergisse para o campo da ecologia política e conceptualizasse o "socialismo pós-industrial", bem à maneira da utopia marcusiana. O legado de Gorz permanece intacto. Resta esperar pelas suas profecias.

Locais: A Humanidade, a natureza e o trabalho [Carlos Lucena] / André Gorz, le philosophe et sa femme [Le Monde] / Aux noms de l'amour / Entrevista com André Gorz / La disparition d'André Gorz

André Gorz [1923-2007]

"Nous nous sommes dit que si, par impossible, nous avions une seconde vie, nous voudrions la passer ensemble" [André Gorz, in Histoire d’un amour, Setembro 2006]

André Gorz [aliás Gerard Horst] nasceu em Fevereiro de 1923, em Viena. Refugia-se na Suiça, com os pais, na II GM. Forma-se em engenharia química, em Lausanne. Parte (1949) para França onde trabalha [assinando textos no "Paris-Presse" com o pseudónimo de Michel Bosquet e mais tarde como jornalista económico no "L'Express"], estuda economia, sociologia, filosofia.

Radicado em França [naturaliza-se francês em 1954], em 1961 aparece como co-director da revista "Les Temps Moderns", de Sartre & Simone de Beauvoir. Data desse tempo a sua ligação à fenomenologia e ao existencialismo. Sai do "L'Express" em 1964 para fundar [com Jean Daniel e outros mais] a importante revista "Le Nouvel Observateur". Torna-se amigo de Herbert Marcuse [da chamada Escola de Frankfurt, de que fizeram parte Horkheimer, Adorno, Habermas], cujo pensamento (e o da Escola de Frankfurt) o influenciou. O Maio de 68 marca-o decisivamente. Nessa altura aproxima-se das teses sobre educação de Ivan Illich [do qual publica alguns livros]. Dissidências com os seus colaboradores na revista "Les Temps Moderns" [em parte pela "linha maoista" então seguida pela revista e em desacordo com o numero saído sobre o grupo radical italiano "Lotta Continua", que curiosamente teve textos e manifestos publicados em Portugal pós-1974, com algum sucesso] levam à sua demissão da direcção e saída após a morte de Sartre (1980).

Aproxima-se, entretanto, da noviciada corrente da ecologia radical [sai em Portugal, em 1978, pela Editora Vega, o seu livro "Ecologia e Liberdade" (publicado inicialmente em 1975), repositório de textos saídos 25 anos atrás, com o seu pseudónimo Michel Bosquet] e, em 1973, ingressa na revista "Le Sauvage", onde a “problemática ecológica” tem lugar central. Em 1980, após a publicação do seu livro "Adieux au prolétariat" [ver, "Adeus ao Proletariado: para além do socialismo", Rio de Janeiro, 1987], onde a reflexão sobre a perda do "valor profético" do proletariado e a crítica ao marxismo tradicional está presente, a polémica irrompe (de novo) e a CFDT, onde de algum modo estava ligado, repudia-o. Em 1983, sai também do “Le Nouvel Observateur”. E retira-se para a sua casa em Vosnon.

Nesta segunda-feira soube-se que André Gorz e sua mulher Dorine [com quem casou em 1949] se suicidaram, consumando o que Gorz no seu último livro, “Lettre à D., Histoire d´un amour”, deixava escrito:"Nous aimerions chacun ne pas survivre à la mort de l’autre. Nous nous sommes dit que si, par impossible, nous avions une seconde vie, nous voudrions la passer ensemble". O pacto ficou, para todo o sempre, selado.

domingo, 23 de setembro de 2007


Almanaque Republicano – Actualização

"A Direcção Geral de Arquivos colocou on line, via Torre do Tombo, três pastas do processo da PIDE relativo ao escritor e cidadão Aquilino Ribeiro. Curiosamente, ao fim de poucos dias deixou de estar acessível. Como agora, no momento em que se escreve. O "choque tecnológico", delicado e piedoso, afoitamente recolhe-se à noite. Os indígenas – sabe-se – comemoram as letras na virtude e encanto do leito. Aqui e por todo o Mundo. A Torre do Tombo on line, também ela, emudece. O "documento do mês" afinal era de parcos dias. E lá ficou o homenageado Aquilino Ribeiro, fechado outra vez." [ler mais aqui]

O Almanaque Republicano recebe a lux e a claridade do tempo & alma republicana. Continua prendado como na primeira vez. Celebra festas e pregações para fugir à modéstia dos dias. No vale de lágrimas e delírios desta semana, a coberto do mau-senso e mau-gosto de alguns, fervorosamente exibido na homenagem a Aquilino Ribeiro, o Almanaque Republicano, imprudente de vaidade, continua a anunciação e a dedicação ao quadro e pedra republicana. Dado à lux por dois cavalleiros livres e devotos da Saudade & sob protecção do Arcanjo de Portugal, o Almanaque Republicano conversou desde Julho, sobre

a Imprensa Republicana no Distrito de Coimbra, lembrou Bulhão Pato no Largo das Cortes, apresentou as Efemérides Mensais, evocou Miguel Bombarda e Cândido dos Reis, chamou a bio-bibliografia de Norton de Mattos em III notas breves, o mesmo de Trindade Coelho (ainda em III partes), idem para José Carrilho Vieira (jornalista, editor, livreiro e fundador da Internacional Operária), do mesmo modo apresentou notas bio-bibliográficas de Fernão Botto Machado (IV partes), lembrou a Tertúlia da Revista História, fez homenagem a Aquilino Ribeiro apresentando algumas sugestões bibliográficas sobre o cidadão e militante republicano.

A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!

Saúde e fraternidade.

Nota Póstuma [24/09/07]: Hoje, semana de trabalho e, presuntivamente, de leitura e estudo, a Direcção Geral de Arquivos disponibilizou on line, de novo, parte do Arquivo Aquilino Ribeiro. Ninguém deve estranhar tal expediente. A generosidade da Torre do Tombo, como de outras instituições indígenas [a Biblioteca Nacional e a Hemeroteca de Lisboa são casos raros em eficiência tecnológica], não lhes permitem o exercício de actividades ao fim-de-semana, ou, se quisermos, de corrigir o que está (supostamente) a correr mal. Fim-de-semana é para descanso pátrio. E para recolhimento. Temos de ter paciência. E esperar pela longa jornada da semana. Aplausos!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007


Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos

"Tenho muito gosto - e honra - em prefaciar o catálogo da importante Biblioteca de Alfredo Ribeiro dos Santos, ilustre médico portuense, cidadão impoluto, lutador anti-fascista, homem de cultura e grande bibliófilo. Por três razões, essencialmente: pela personalidade ímpar de Alfredo Ribeiro dos Santos, que conheço desde os tempos do Movimento de Unidade Democrática (MUD), há mais de sessenta anos e cujo percurso segui, sempre com muito apreço, afecto e admiração; porque conheço a sua valiosíssima Biblioteca, rica em revistas e obras literárias e histórico-políticas; e ainda porque tenho seguido a qualidade do trabalho do antiquário livreiro Manuel Ferreira - e de seus filhos - de quem tenho sido, algumas vezes, mais espaçadamente do que gostaria, cliente e cuja competência profissional posso testemunhar.

Alfredo Ribeiro dos Santos, com uma vida já longa e uma magnífica lucidez, deixou sempre, por onde passou, um rasto de simpatia, de humanidade, de aprumo pessoal e cívico e de respeito, verdadeiramente invulgares.

Vivendo no Porto, onde nasceu, em 1917, tirou o liceu e fez estudos de Medicina, em que se formou, em 1943, sempre conviveu, desde muito novo, com intelectuais e artistas, como Sant'Anna Dionísio, José Marinho, Agostinho da Silva, entre outros, tendo como mestres e referências Leonardo Coimbra, Abel Salazar, Jaime Cortesão e Teixeira de Pascoais, os homens da "Renascença Portuguesa" (e da Revista "A Aguia ") que, muitas décadas depois, haveria de reeditar (numa nova série) com o saudoso José Augusto Seabra.

Frequentador de tertúlias literário-políticas, colega, amigo e camarada, do incansável conspirador anti-fascista do Porto, do Dr. Veiga Pires, com o qual estagiou no Hospital de Santo António, foi ele que também o introduziu no Movimento de Unidade Anti-Fascista (clandestino 1942-49) e no MUD (paralegal), criado no post-segunda guerra mundial. Desde então, encontrei-o em todos os grandes momentos da Oposição Democrática, nas candidaturas dos generais Norton de Matos e Humberto Delgado, nas manifestações de protesto, como no funeral de Abel Salazar, onde foram presos o velho e prestigiado médico Eduardo Santos Silva e Ruy Luís Gomes, em reclamações e abaixo-assinados contra a Ditadura, nas denúncias contra as pseudo eleições, nos períodos chamados de "liberdade suficiente", que se realizaram entre 1945 e o 25 de Abril de 1974. Igual a si próprio, Ribeiro dos Santos continuou, numa linha de coerência cívica exemplar, durante toda esta nossa conturbada II República, que, apesar de tudo,já conta o dobro dos anos da I República (1910-1926), até hoje.

Além de médico de grande proficiência, na sua especialidade, e humanidade, Alfredo Ribeiro dos Santos teve sempre uma actividade de intelectual interveniente na vida da grei - organizador de iniciativas culturais, de exposições e tertúlias, tendo publicado vários livros, de interesse histórico-político inegável, e proferido inúmeras conferências sobre diferentes temáticas. Assinalo, entre muitas outras, as que proferiu sobre Jaime Cortesão, Abel Salazar, Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoais e a tertúlia em que participou do engenheiro José Praça, um ilustre portuense e grande resistente contra a Ditadura, que esteve, no começo dos anos trinta, deportado no forte de Angra do Heroísmo, nos Açores, onde foi companheiro de cárcere do meu Pai.

A biblioteca de Ribeiro dos Santos constitui um verdadeiro retrato de um homem culturalmente orientado, meticuloso e de vasta erudição e cultura. Constitui um raro e precioso acervo de livros, jornais e revistas, altamente representativos do século XX português, obviamente orientado numa perspectiva republicana, socialista e laica.

A leitura do catálogo, organizado pelo antiquário-livreiro Manuel Ferreira, é disso a demonstração. O destino das grandes bibliotecas é dispersarem-se, mais tarde ou mais cedo. Algumas vezes, mesmo, quando se integram em instituições públicas. O catálogo, quando é cientificamente organizado, como é o caso, é um marco que permanece, ajudando a perpetuar a memória do seu amoroso fundador. Por isso, eu, como modesto bibliófilo, há anos que ganhei o hábito de coleccionar também os catálogos dos leilões das grandes bibliotecas. Dizem muito sobre os coleccionadores originários e sobre os alfarrabistas que com tanto profissionalismo organizam os catálogos”

[Mário Soares, Vau, 16 de Agosto de 2007 – pref. Catálogo da Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos. Organizada para Leilão por Manuel Ferreira, vol I, Outubro 2007 - sublinhados nossos]

Leilão - Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos

A importante e valiosa biblioteca, composta por 3561 peças de extraordinário valor, do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos [que referiremos depois], conhecido bibliófilo e "ilustre médico portuense", por seu desejo expresso, vai à praça entre os dias 3 e 11 de Outubro, na Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto, Porto).

A estimada biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos apresenta um notável conjunto de obras literárias, uma raríssima e vasta colecção de revistas e jornais do século XX, patenteando um gosto e erudição bibliófila invejável, que fazem desta singular biblioteca uma das mais interessantes e magnificas dos últimos anos.

A descrição bibliográfica desta magnifica biblioteca (que daremos nota depois), elaborada pelo ilustre livreiro Manuel Ferreira, de rara competência profissional, é apresentada em dois volumes magníficos. O catálogo da biblioteca, cujas observações e notas são criteriosas e exigentes, revela o bibliófilo Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos e a sua paixão pelos livros mas também, pela sua leitura aprazível, honra o seu catalogador. Apresenta, ainda, um prefácio pelo dr. Mário Soares, na qualidade de amigo do dr. Alfredo Ribeiro dos Santos (que conheceu desde os tempos do MUD) e como se sabe também fervoroso bibliófilo.

[Os pedidos para o leilão podem ser feitos para Manuel Ferreira, Rua Dr. Alves da Veiga, 89, Porto (tel. 225363237)]

terça-feira, 18 de setembro de 2007


Aquilino Ribeiro

"... Olhem sempre em frente, olhem o Sol, não tenham medo de errar, sendo originais, iconoclastas e anti, o mais anti que puderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do Restelo. Cultivem a inquietação como fonte de renovamento"

[Aquilino Ribeiro, palavras que proferiu na homenagem que lhe foi prestada na Sociedade Portuguesa de Escritores – citado por António Valdemar, Expresso-Actual, 15 de Setembro 2007, p. 12 - sublinhados nossos]

segunda-feira, 17 de setembro de 2007


Charivari do bom nativo

Depois de ataviados gorjeios & prosas dos indígenas lusos – esses talentosos “bárbaros”, presentes nas lascivas historietas do dr. Rui Ramos aos genuínos Ingleses –, por ora muito consumidos pelo caso Maddie, mansamente animados pela disputa eleitoral no PSD e exaustos pela divertida propaganda política do governo, eis que lhes cai em cima do ego, para amor e civismo pátrio, o estupendo caso Scolari. Para durar.

De caso em caso, de expedição em expedição, de novidade em novidade, não há pavor algum ou pranto que tire o bom nativo do sério. A vigília do dr. Moita Flores, o génio (very british) de Rui Ramos, o dom educador do sábio Rui Santos, o intelecto de José Miguel Júdice, o cântico redentor do sr. Sócrates ou a aparição da figura indulgente do dr. Cavaco, transforma-os de rudes ignorantes em sábios. De tudo e de nada! Eis uma boa pista a seguir pela dr. Maria Lurdes Rodrigues, agora que está tão volteada para o “choque tecnológico” e o sucesso das criançolas. Colocar aquele raminho de notáveis no aconchego das escolas e universidades, era o sucesso escolar garantido e uma bênção para a União Europeia. Haja inspiração!

Depois, o bom nativo teve ocasião de acompanhar a argumentação lavrada, ad nauseaumcomo é óbvio”, do sr. Luis Amado sobre a visitação do Dalai Lama a Portugal. A ousadia e o disparate dessa formidável figura deleitou tanto os spin doctors que até o dr. João Paulo Gorjão (nos braços da SIC) teve ensejo de registar, ao "piedoso" auditório e para os vindouros, a "espuma" e as "atitudes adolescentes" dos nossos transviados paroquianos, evidentemente pouco dispostos a ver a natural "realidade" de não se "ganhar" nada em receber o Dalai Lama, não vá a democrática China incomodar-se com essa questão (de pormenor) dos direitos humanos. Esses episódios másculos ficam sempre bem quando dirigidos a Cuba ou à Venezuela (leia-se formulário aqui). O bom do erudito português tem sempre, como se sabe, os tomates muito bem escaldados. Não convém abusar. E assim vai esta "fermosa estrivaria". Nada de espantos.

Boletim Bibliográfico 35 da Livraria Luís Burnay

Saiu o Catálogo do mês de Setembro da Livraria Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa). Peças estimadas e raras de Culinária, História, Colónias, Monografias, Caça, Almanaques, Literatura, Revistas e muito mais.

Algumas referências: An Account of several late Voyages and Discoveries ..., London, 1711 / Archivo Pitoresco, 1857-1868, XI vols / Athena. Revista de Arte, 1924-25, V numrs / Culinária Portuguesa, prol. Albino Forjaz de Sampaio, Ed. autor (194?) / Diccionario de Glossologia Botânica ..., de António A. da Fonseca Benevides, 1841 / Da Caça. Palestras Cinegéticas, por António Bomfim, 1946 / Historia da Luzitania e da Ibéria (vol I e único publ.), de João Bonança, 1887 / A Inquisição e os Professores do Colégio das Artes, de Mário Brandão, 1948-1969, II vols / De Benguella às Terras de Iácca, por Capelo & Ivens, 1881, II vols / De Angola à Contra-costa, idem, 1886, II vols / Ou eu, ou Elles, por António Feliciano de Castilho (opusc. raro), 1849 / Historia da Revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891, de João Chagas & ex-Tenente Coelho, 1901 / A Choldra. Semanário republicano de combate e critica à vida social (raro), 1926, XXI numrs / Manual Político do Cidadão Portuguez, de Trindade Coelho, , 1908 (2ª ed.) / Contemporânea. Revista Mensal (rara revista sob. Dir. José Pacheco), 1922-26, XIII numrs+ nº14 / Diana. Revista de caça, Hipismo e Pesca, 1948-1975, 256 numrs / Guesto Ansures, quadros da vida neo-gothica, pelo Visconde de Figanière, Livraria Ferreira, 1883 / Folheto de Ambas Lisboas (periódico olisiponense raro), nº1 (Junho 1730) a nº 26 (Agosto 1731), XXVI numrs / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão et al, s.d., II vols / Inventário Artístico Portugal (Aveiro e Santarém) / Peregrino, de Armando Martins Janeira (homenagem a Wenceslau de Moares – peça de colecção), 1962 / Almanach de Caricaturas para 1874 (e 1875) de Rafael Bordalo Pinheiro, II vols / Portugaliae Monvmenta Cartographica, 1960, VI vols / Presença: folha de Arte e Critica, 1927-28, 54 numrs (rara)

domingo, 9 de setembro de 2007


Eliezer Kamenezky - uma biografia

"... Começa a frequentar a escola aos 6 anos. Desde que é expulso do liceu, passa por vários empregos e vicia-se no jogo. Lê romances de aventura que lhe despertam anseios por outras paragens. Grande desgosto com a morte da mãe e, depois, de um irmão mais novo. Foge, acompanhando um grupo italiano de ópera [I - Abrindo asas / The shaping of my mind]

(...) Vende batatas, trabalha em bares; frequenta a Biblioteca Russa, participa em reuniões do Círculo Socialista. Vive ao sabor das circunstâncias, que o fazem cair na tentação do furto. Em Boston, apanha um barco para Liverpool, onde se hospeda na Pensão dos Judeus. Entra na festa do Sukess. Deseja voltar à Rússia [VI - De Nova York a uma fronteira da Rússia / Good and Evil - reprodução da B.N.]"

[in Ivo de Castro et al, "Eliezer ascenção e queda de um romance pessoano", Revista Da Biblioteca Nacional, nº 1, 1992]

Eliezer Kamenezky

No passado 7 de Setembro, 119 anos atrás em Lugansk (Rússia), nascia Eliezer Kamenezky. Esta personagem curiosa, de vida plena, exuberante e voluptuosa, sempre vivida de rebeldia e sarcasmo - qual cidadão do mundo -, com obra e espólio a merecer atenção, foi especialmente conhecida pela sua ligação ao vate Fernando Pessoa.

De tal modo era a (re)criação e a familiaridade entre os dois que até deu lugar a uma viva polémica (que "morreu" logo à nascença), quando em 1991 um artigo de Luciana Stegagno-Picchio publicado no jornal Repubblica anunciava a descoberta de um romance (em inglês) de Fernando Pessoa, e até então desconhecido entre os pessoanos, com o subtil título de "Eliezer". A putativa descoberta de um inédito de Pessoa foi objecto de tratamento e avaliação pelos membros da equipa pessoana (prof. Ivo Castro e outros investigadores), que depois de analisarem os argumentos, e pelo muito que conheciam de F. P., fizeram gorar tal hipótese.

Afinal, tratava-se não de mais um inédito da arca de Pessoa mas da tradução, feita pelo poeta e amigo, da biografia de Eliezer Kamenezky.

[ver sobre o assunto, Ivo de Castro et al, "Eliezer ascenção e queda de um romance pessoano", Revista Da Biblioteca Nacional, nº 1, 1992]

Livraria Olisipo

Ali em Lisboa, bem ancorada no largo Trindade Coelho e entre a Artes & Letras e a Bizantina, fica a Livraria Olisipo. Peregrinação sempre obrigatória. Agora, para encantamento de todos, está mais próximo do amador de livros, de gravuras ou da simples converseta sobre papéis & outras artes. Mestre José Vicente, muitos anos levados na arte e gosto do livro antigo, iniciou-se via net, com invejável vantagem para nós e vós.

O seu estimado estabelecimento está aqui, para nos servir. Graças!

sábado, 1 de setembro de 2007


In-Libris – Catálogo do mês de Setembro 2007

Saiu o catálogo do mês de Setembro da In-Libris (Porto).

Apresenta peças estimadas de Almeida Garrett, António Osório, António Ramos Rosa, Armindo Rodrigues, Bento Carqueja, E. M. de Melo e Castro, Egito Gonçalves, Eugénio de Andrade, Fernando Echevarria, Fernando Pessoa, Ferreira de Castro, Fiama Hasse Pais Brandão, Hélder de Macedo, Herberto Hélder, Maria Teresa Horta, Mariana Alcoforado, Mário Sá-Carneiro, Vitorino Nemésio e outras obras, como: o Centenário de Gil Vicente, Companhia de Jesus, o Porto na Época dos Almadas, o estimado Diccionario Bibliographico Portuguez de mestre Inocêncio F. Silva, a rara revista Unicórnio & Bicórnio, Tricórnio, Tetracórnio, Pentacórnio (5 numrs), livros sobre Arte, Filosofia, História, Poesia, Teatro, Religião, Monografias várias e um curioso (e raro) "Estudo da Localização do Novo Aeroporto de Lisboa" (do Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, 1972).

A consultar on line.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007


E.P.C. – um inventário de afectos

"Traz-me a planta que nos transporta
ao lugar onde surgem as douradas transparências
e a vida se evapora como um perfume;
traz-me o girassol enlouquecido de luz
"

[Eugénio Montale, citado por E.P.C. in "Tudo o que não escrevi", Diário I, 1992]

"Se estes versos [os de Montale] me comovem imensamente, é (também) porque através deles imagino, com assustadora nitidez, o meu modo de fazer a travessia da escrita. Nenhum sistema a construir, nenhuma mensagem fundamental para a humanidade (...)

O que fica? Apenas algumas indignações, o meu apego à linha de fronteira, o gosto das demarcações essenciais, meia dúzia de coisas que me importa defender (cada vez mais), algumas palavras ciciadas de ternura e amor, um inventário de afectos. E isto basta ... [E.P.C., idem]

Foto de Daniel Rocha, para a capa do jornal Público de 26 Agosto 2007

quarta-feira, 22 de agosto de 2007


É proibido ter memória!

"Um censor alucinado, maliciosamente alojado no ISCSP e a coberto de um presuntivo iletrismo informático, apagou o valioso e estimado acervo do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP) laboriosamente lavrado pelo professor José Adelino Maltez.

O lugar (CEPP) que tão bem soube agasalhar um infindável rol de personagens que são pertença da nossa história; esse abundante inventário, ordenado e minuciosamente classificado de homens, mulheres e eventos da nossa memória colectiva; esse conjunto de verbetes únicos sobre o pensamento político português; os valiosos quadros cronológicos facultados; tudo o que era uma fonte de consulta obrigatória para estudiosos, leitores atentos ou simples curiosos, lastimosamente se esfumou da rede. O "reservado", onde tantas e tantas vezes recorremos para trabalhos biográficos ou simples iniciação, foi extraviado.

Essa biblioteca virtual, que com mérito e generosidade o professor José Adelino Maltez construiu e nos honra, sofreu um rude "apagão" às mãos da ignorância, da irresponsabilidade e da arrogância de "mandarinatos universitários" (citando Vital Moreira), que ontem como hoje têm da cultura, do trabalho e do ensino um insaciável desprezo. Que esses fantasiosos académicos, neste país de "muita vergonha", habitem o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) e a Universidade Técnica de Lisboa, surpreende pela sua gratuidade e impressiona. Não sabem dignificar a instituição, revelando, bem à maneira do que diz o vate Pessoa, que a cegueira voluntária é o pior dos atestados e defeitos da vida mental portuguesa. E que é proibido ter memória"

[in Almanaque Republicano]

segunda-feira, 20 de agosto de 2007


Folclore Pornográfico da Figueira da Foz

Reeditado pelo livreiro-antiquário Miguel Carvalho, saiu em edição fac-similada o raríssimo "Folclore Pornográfico da Figueira da Foz", publicado anonimamente em 1914. Esta curiosa peça de conteúdo popular e brejeiro, de costumes, imprecações, superstições e modas do povo da Figueira da Foz, apresenta saborosas quadras, adágios e contos que fazem parte (ainda) do cancioneiro popular humorístico local.

Sob chancela "Debout Sur L'Ouef - De Pé Sobre o Ovo", pertença de Miguel Carvalho, esta edição fac-similada (de 200 exemplares) foi apresentada na centenária livraria figueirense "Casa Havaneza", pelo próprio Miguel Carvalho e pelo professor António Tavares (antigo director do jornal Linha do Oeste), e é vendida pitorescamente (tal como outrora o foi, mas por outros motivos) por "debaixo do balcão", na venerável livraria da Figueira da Foz.

Na altura da sua apresentação, Miguel Carvalho, secundado por António Tavares, sublinhou que "tudo indica que os autores [do livro] serão Cardoso Martha e Augusto Pinto". Referem que terá sido o "Folclore Pornográfico da Figueira da Foz" como que um complemento ao estimado trabalho "Folclore da Figueira da Foz" (datado de 1910), produzido por ambos e editado pela "Tipografia, Livraria e Papelaria Esposendense, Rua Veiga Beirão, 7 a 9, Esposende", no ano de 1911 e 1913 (trata-se de II vols). E devem estar certos.

Na verdade, conhecíamos (via Miguel Carvalho) a obra. Não havia (para nós) referência alguma sobre ela, a não ser a sua presença num catálogo (... de livros raros e curiosos que pertenceram a um Distincto Bibliophilo, à venda na Papelaria Serra & Cª., Rua do Ouro, 72, lote 222, p. 26), onde aparecia juntamente com a citada obra de Marta & Pinto, "Folclore da Figueira da Foz". Surpreendentemente é atribuída ao "Folclore Pornográfico" a sua edição em Esposende (lugar onde foi editado o trabalho primitivo). Trata-se, possivelmente, de um erro do organizador do catálogo, porque na edição na posse de Miguel Carvalho não há referência ao lugar de impressão. Existe, ainda, uma breve alusão ao "Folclore Pornográfico" nos "Subsídios para a bibliografia da história local portuguesa", de António Mesquita de Figueiredo, ed. B.N., 1933 [onde é dito que se trata de um 8º de 16 por 11,5, 25 p., s.l.].

domingo, 19 de agosto de 2007


In-Libris – Especial Monografias

Saiu um catálogo de Monografias pela In-Libris (Porto). Apresenta um conjunto de peças estimadas sobre Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Matosinhos, Felgueiras, Paços de Ferreira, Évora, Porto, Lisboa, Vila da Feira, Oliveira de Azeméis, Póvoa de Lanhoso, Vila Nova de Gaia Aveiro, Covilhã, Santo Tirso, Valongo, Valença do Minho, Melgaço, Algarve, Minho, Trás-os-Montes, Alentejo, Beiras, Açores e Madeira, entre outras de carácter regional.

A consultar on line.

Diário de Um Quiosque

A Figueira da Foz tem um respeitável número de blogs, que animam a vida dos indígenas locais. Não é possível conhecer a agitação política e social figueirense sem acompanhar a vitalidade e as iniciativas de alguns dos seus blogs. Numa terra onde os seus paroquianos estremecem de cultura, sem a compreender e praticar, fica bem registar a "movida" bloguística local.

No Jornal de Noticias d'hoje, pela pena de José Luís de Sousa, ficámos a conhecer o curioso blog "Diário de Um Quiosque", onde se narra as (des)aventuras de "um espaço de seis metros quadrados" com ledores fidelíssimos. Sereno, junto ao monumento a Fernandes Tomás na Praça 8 de Maio, Pedro Silva, ardina por paixão, não está de sentinela aos seus leitores mas com prazer e estima consulta-os. Que o "comércio" intelectual e o gozo da escrita assim o exigem. E a Figueira agradece.

Seu Eugénio Dutra Jr.

O amor e o gosto ao livro têm na Papiro marca pessoal. Habitualmente os seus visitantes e clientes sabem-no. Seu Eugénio – ali, em cima, sorrindo-nos – tem o hábito de satisfazer as manias dos bibliófilos ou de simples curiosos do papel escrito.

Inteligente e de muita simpatia, Seu Eugénio, fala sobre a literatura e arte brasileira, enquanto, com visível satisfação, comenta obras de Camilo, Eça, Saramago ou Vitorino Nemésio. Leitor compulsivo, o que é raro nesse negócio dos livros, tem o entusiasmo de um amador de livros, revelando no trato a proverbial alma do povo da Bahia, que aliás conhece bem.

Axé!

Sebos da Bahia - Livraria Papiro

Fica perto da estação da Lapa, em Salvador da Bahia. Na Av. Vale do Tororó, 28, um sebo bem curioso que nos deixa recordações carinhosas. Com um acervo farto, que vai da literatura à história, da arte ao livro jurídico, económico e didáctico, o sebo sitiado perto da Lapa, é local de peregrinação obrigatória. Há sebos assim: hospitaleiros, generosos e vivos, porque respiram a memória dos livros. A visitar.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007


Terreiro de Gantois

Jorge Amado foi um dos doze Obás da Bahia [conselho de doze ministros do culto de Xangô - Obá é título honorífico no ritual nagô. Obá, "ministro de Xangô" ou "homem sábio", participa na administração do terreiro. Jorge Amado era Otun Obá Arolú (cf. Bahia Todos os Santos, 1945)].

Entre eles estavam o invulgar artista Carybé, o fotógrafo Pierre Verger, o pintor Genaro de Carvalho e o cantor Dorival Caymmi.

[Caymmi nasceu em Salvador no dia 30 de abril de 1914, na rua do Bângala, no bairro da Mouraria. Para Jorge Amado, Caymmi "cresceu na praia de Itapuã, nas malícias do Rio Vermelho, nas ladeiras da cidade antiga, na pesca, na serenata, na festa de bairro, no samba de roda, nos terreiros de santo, vivendo cada instante de sua cidade e de sua gente, alimentando-se de sua realidade e de seu mistério preparando-se para ser seu poeta e seu cantor". Caymmi foi Obá de Xangô do Terreiro Axé Opô Afonjá. Também, em 1973, cumpriu a cerimônia de assentamento de santo no Candomblé de Mãe Menininha do Gantois – ver aqui]

Jorge Amado, como se disse foi obá de Xangô, e frequentou o Terreiro Axé Opô Afonjá, da mãe-de-santo Aninha [Eugênia Anna dos Santos, m. 1938]

Antes mesmo, Jorge Amado tinha sido nomeado Ogã (protetor) pelo pai-de-santo Procópio. Dos muitos "títulos" honoríficos que teve no candombé, foi Jorge Amado, ainda, Ogã de Iansã no candomblé da Goméia [do pai-de-santo Joãozinho da Goméia, aliás chamado Jubiabá, iniciado no candomblé de versão "Angola". Joãozinho da Goméia teve uma vida curiosa e foi “espiritualmente” bastante polémico]

Dorival Caymmi - Oração De Mãe Menininha


Foto: "Jorge Amado (em 1972) pede a bênção à grande Ialorixá da Bahia, no Terreiro de Gantois"

quinta-feira, 16 de agosto de 2007


Bahia de Todos os Santos

"- Você já foi à Bahia, nêga?
- Não!
- Então vá ...
" [Dorival Caymmi]

... O baiano que faz da amabilidade uma verdadeira arte, que é arguto até não mais poder, que é cordial e compreensivo, descansado e confiante. Que desmorona com uma piada agressiva todo um edifício de retórica. Escondendo sob o fraque solene um coração jovem. Gostando de rir, de conversar, de contar casos.

Eis uma cidade onde se conversa muito. Onde o tempo ainda não adquiriu a velocidade alucinante das cidades do Sul. Ninguém sabe conversar como o baiano. Uma prosa calma, de frases redondas, de longas pausas esclarecedoras, de gestos comedidos e precisos, de sorrisos mansos e de gargalhadas largas. Quando um desses baianos gordos e mestiços, um pouco solene e um pouco moleque, a face jovial, começa a conversar, se fechardes os olhos e fizerdes um pequeno esforço de imaginação, podereis distinguir perfeitamente distinguidos o seu remoto ascendente português e o seu remoto ascendente negro, recém-chegado outro das florestas da África. De quem é esta gargalhada clara e solta se não de negro? De quem é esta solene consideração para com o doutor, que é salafrário personagem da historia que ele conta, se não do português imigrante, rude admirador dos mais sábios? Essa mulataria baiana, essa mestiçagem onde o sangue negro entrou com uma boa parte, não produziu o clássico mulato espevitado, pernóstico, egoísta, adulador e violento com os inferiores (...)

Iemanjá tem cinco nomes e muitos títulos. É a rainha e princesa do mar, é a mãe-d'água, é Nosso Senhor dos Navegantes e é a Nossa Senhora da Boa Viagem. Tem cinco nomes e por todos eles atende aos seus filhos bem-amados, os marítimos dos grandes navios, os mestres dos pequenos saveiros, os canoeiros que renovam diariamente a aventura da travessia da Barra em busca dos portos do rio Paraguaçu. Sua festa no Rio Vermelho, no mês de Fevereiro, não é a única que lhe dedicam os homens do cais da Bahia. Ela é festa também na Gameleira, na ilha de Itaparica, na Ribeira em Plataforma. Porque ela possui diversas moradas no mar que banha a cidade. Vive em sua pedra no Dique, vive na Ribeira, mora no Rio Vermelho. É múltipla como os seus nomes. É a lenda mais bela dos negros da Bahia (...)"

[Jorge Amado, in Bahia de Todos os Santos. Guia das ruas e dos mistérios da cidade do Salvador, Livraria Martins Editora, Setembro 1945 (aliás, 8ª ed., 1961) - sublinhados nossos]

terça-feira, 14 de agosto de 2007


Remigração

"Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar, nem tu" [Cecília Meireles]

Após clamores das musas da venerável Bahia (que a magia é um trabalho iluminado) tomamos o pouso. Agora, e de novo, regressamos aos termos dos Campos do Mondego ... mar ao fundo. E digo-vos: atravessar de margem a margem o mar é uma "mareada" tal que nem um "aluá", feito por uma grande ialorixá, olvidaria. Enquanto isso, o humor caprichoso da bela Oxum sumiu-nos de vez. E Iemanjá foi para o mar. Não mais oferendas a podem acolher. Mas, ainda assim, a "água corre fazendo o ruído dos braceletes de Oxum". O tempo passou. O "despacho" com que cultivamos o olhar foi matéria de feitiço. E o poema, a espera da hora.

Sobre a Bahia de Todos os Santos cumpriu-se o prenúncio de Seu Jorge Amado:"eu te mostrarei o pitoresco mas te mostrarei também a dor". Ali tudo é gente acostumada, que a caminhada é sempre longa e saudosa. O fado do povo da Bahia uma labuta pesada, tortuosa, sofrida. E ao mesmo tempo alegre e intensa. A prosa, essa, é comprida, segura, balançada, sensual. As histórias, lindas! O protesto do mar vadio foi, para nós, uma simples malandragem. Ah, e o povo do candomblé, capoeiristas & outras irmandades um assombro de ternura. Mirámos a eternidade sem levantar a cabeça. Não foi pouco ...

Axé