domingo, 18 de janeiro de 2004

LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN [1743-1803]



n. a 18 de Janeiro de 1743

"Não temos deveres senão um - respeitar a integridade da personalidade humana, a nossa como a alheia. Isto quer dizer trez coisas: (1) para os fins fundamentaes da nossa vida, dispensar todo o auxilio alheio; (2) para os fins quotidianos da nossa vida, estabelecer uma exacta reciprocidade com os outros; (3) para as circunstancias da vida que são extranhas a uma cousa e outra, subordinar-nos à regra do ambiente, visto que ella nos não attinge (...) Estas trez grandes regras da vida superior, resumiu-as Saint Martin, servindo-se de um aspecto da formula dos Rosa Cruz, na phrase Liberdade, Egualdade, Fraternidade - independência dos outros (Liberdade) na vida superior e intima; reciprocidade com os outros (Egualdade) na vida normal que serve de base material a essa vida superior; conformação com os outros (F) nos phenomenos exteriores e insignificantes da vida [Fernando Pessoa 54-76 (dt), in Fernando Pessoa, Rosea Cruz, dir. Pedro Teixeira da Mota, Edições Manuel Lencastre, 1989]

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CATÁLOGO Nº 205 DA LIVRARIA ACADÉMICA


Saiu esta semana o Catálogo 205 da Livraria Académica, de Nuno Canavez (Porto), podendo ser consultado na sua homepage. De consulta obrigatória, enquanto outros catálogos em breve estarão disponíveis, entre os quais o correspondente ao leilão da segunda parte da Livraria de Luiz Forjaz Trigueiros, a cargo de José Manuel Rodrigues.

Algumas referências: Dia do Mar, de Sophia M. Breyner Andresen, 1947 / O Castelo de Monsanto, por Guilhermino Augusto de Barros, 1879 (II vols) / MANUSCRITO alusivo ao teatro, escrito num álbum e datado de Lisboa (24/01/1950) de 28x20 cm, de Raul de Carvalho / Compendio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra, no Tempo da Invasão dos Denominados Jesuítas ..., Lisboa, 1771 / Aquela Voz, de Alexandre da Conceição (Poema manuscrito, datado de Coimbra, 23 de Nov. 1881, 35x27 cm. O autor, natural de Ílhavo, foi fundador da Revista A Revolução (1877) e polemizou com Camilo tomando partido pela escola realista) / Os Descobrimentos Portugueses, de Jaime Cortesão, Arcádia, II vols / Carta Manuscrita de Liberto Cruz (c/ 2 pags A4, datada de Rennes 1969 e dirigida ao escritor Serafim Ferreira) / Estatutos da Universidade de Coimbra, Lisboa, 1772, III vols / Longe, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1921 (2º livro do autor) / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão et all, Ed. Primeiro de Janeiro, 1943 (II vols) / Gazeta Literária, Editor e Director Mário do Amaral (nº 1 Set. 1952 a nº 76 Dez. 1961) / Portugal Antigo e Moderno, por Pinho Leal, 1873, 12 vols / Mappa Genealogico, Histórico, Chronologico, Diplomático e Litterario do Reino de Portugal e Seus Domínios Antigos e Actuaes (s/d, sec. XIX, 1,10x75 cm) / Memorias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1792-1856, 8 vols / Carta Manuscrita de António Luís Moita a Serafim Ferreira, de 11 de Nov. 1970 (s/ a homenagem a Irene Lisboa) / Mundo Ilustrado, Revista semanal, dir. Eduardo Pimenta e Marques Abreu (nº 1, 7 Abril 1912 a nº 26, 29 de Set. 1912) / Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel,Coimbra, 1797, 5 vols / In Memoriam de José Régio, 1970 / Anno Histórico Diário Portuguez, Noticia Abreviada de Pessoas Grandes e Cousas Notáveis de Portugal ..., por Francisco de S. Maria, 1744, 3 vols / Dispersão de Mário de Sá-Carneiro, Coimbra, 1939 / Evolução do Culto de Dona Isabel de Aragão ..., por A. G. Ribeiro de Vasconcelos, 1915

sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

SER O QUE NÃO É



Na sequência do que Luís Carmelo refere em "Tragédia de um Esquecimento", a propósito da alusão da Rua da Judiaria sobre os "350 anos "sobre a chegada dos primeiros emigrantes judeus à colónia holandesa de Nova Amsterdão", é possível a partir do pensamento de Miguel Real (que cita), na sua obra "Portugal Ser e Representação" (Difel, 1998), ter em apreço aquilo que Miguel Real denomina como "tentativa de encontrar uma forma corporis do povo português", afinal uma demanda da característica dominante do português, e que configuraria um "ser o que não é" ou "estar onde não está", e que pode, de algum modo, levemente contribuir para as interrogações sugeridas no belíssimo texto de Luís Carmelo.

Assim, a partir de diferentes contributos - de Teixeira de Pascoaes a Eduardo Lourenço; de Agostinho da Silva a A. José Saraiva, ou com referências a autores como Fernando Pessoa, Álvaro Ribeiro, Antero, Dalila Pereira da Costa, António Vieira, Marcello Duarte Mathias, António Telmo, Pinharanda Gomes, etc - o autor de Portugal Ser e Representação refere os seguintes "traços":

- "habita-nos ... uma funda religiosidade, expressão actual de setecentos anos de domínio quase absoluto de códigos religiosos de comportamento, âncora histórica de uma cosmovisão bíblica que inundou a mentalidade cultural portuguesa até ao século XVIII. (...) O excesso desta visão religiosa portuguesa, ou talvez, a sua condensação numa ideologia, originou o messianismo providencialista português, a que nenhum grande autor nacional foi imune, pela positiva ou negativa ..." (pag. 181- 183)

- existência de uma "característica profundamente emotiva, apaixonada, sentimental, do comportamento dos portugueses em detrimento de uma visão racionalista, calculista, programada, técnica e cientifica da vida". Como consequência daí resultante: "ausência de um corpo coeso de obras cientificas e filosóficas; ausência de um espírito técnico e tecnológico de envergadura; predominância de uma mentalidade lírico-emocional que tem atravessado toda a nossa literatura" (pag. 184)

- "estar onde não se está" (...) Esta característica tem permitido ao português uma errância mental e física, ou, talvez melhor, uma plurivalência entre o que de facto é as mascaras ou as imagens por que se disfarça ora um jubilo se si, ora numa humilhação rendida, isto é, tem permitido ao português ser o que não é: religioso, mas herético; ortodoxo, mas heterodoxo (toda a filosofia portuguesa religiosa desde o sec. XIX); emigrante, mas não colonizador (miscegenização); aventureiro, mas radicado (...); pobre, mas generoso (comunitarismo); culturalmente atrasado, mas crente que possui um destino vanguardista (messianismo)" (pag. 185-186)

Concorde-se ou não com o autor, a obra é demasiado estimulante para passar despercebida, por isso aqui fica a sugestão da sua leitura.

VITTORIO ALFIERI [1749-1803]



n. a 16 de Janeiro de 1749

"... [Vittorio Alfieri] andou vagueando pela Europa, irrequieto, insatisfeito, dedicado à paixão do jogo e dos cavalos, e às mulheres, adquirindo ao mesmo tempo a experiência dos homens de das coisas: conheceu o continente desde a Rússia a Portugal, até que a leitura ouvida, em Lisboa, duma canção eloquente (a Alfa fortuna) do seiscentista Guidi, pelo amigo Tomaso di Caluso, lhe deu a consciência do seu destino de poeta" [Giuseppe Carlo Rossi, Breve História da Literatura Italiana, Cosmos, 115-116, dir. de Bento Jesus Caraça, 1946]

"[A Merope de Maffei teve como tradutor português Cândido Lusitano, que antepôs à versão (de 1751; conserva-se inédita em Évora) um longo prefácio, em que chama "talvez a melhor tragédia que tenha aparecido em teatro", e "fonte do verdadeiro bom gosto da poesia dramática". Há notícia de duas traduções brasileiras que também ficaram inéditas. Na tragédia de Maffei inspirou-se Garrett para a sua Mérope, como está narrado no prefácio desta útima; e tem relações com ela a Sofonisba espanhola de Zorrilla ..." [ibidem, pag. 193]

"... Foi português o primeiro amigo de Alfieri, confidente das suas ânsias amorosas e seu incitador ao estudo: D. José da Cunha, ministro em Haia. A obra alfieriana foi muito lida e traduzida em português. Familiarizou-se muito com ela, e dela se valeu para incitar os seus compatriotas às ideias da liberdade, o revalizador do teatro nacional, e editor de Gil Vicente, o então homiziado político J. V. Barreto Feio, que traduziu Orestes e os dois tratados literário-políticos fundamentais Del principe e delle lettere e Della tirannide... [ibidem]

Locais: Vittorio Alfieri / Vittorio Alfieri (1749-1803) / Vittorio Alfieri / Biografia / Vittorio Alfieri (biografia) / Vittorio Alfieri (Biblioteca) / La Polémica Antidogmatica dell'Alfieri / Progetto Vittorio Alfieri / Vittorio Alfieri da Asti-Conte di Cortemilia

quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

AS MENSAGENS DO PRESIDENTE



"O futuro é a única coisa que podemos mudar" [Robert Heinlein]

Nestes dias em que se assiste a uma incapacidade governativa total, embrenhados que estão, profundamente, na crise da crise que tanto procriaram, numa cultura politica a cair de sono onde a sucessão de fenómenos é o elixir para a sempre eterna sociedade de espectáculo, face à magnitude do caos económico que os fundamentalistas neo-liberais detonaram, as mensagens do Presidente da República são de uma perplexidade inquietante.

Os vários discursos de Jorge Sampaio desabam sistematicamente em arruaças político-partidárias por parte daqueles que administram o tédio, e longe de mobilizarem pedagogicamente a classe politica e os cidadãos para o exercício de combate à apatia e à indiferença da gestão política, social e cultural a que estamos condenados, remetem, numa ingenuidade encantadora, para um adormecimento angustiante, num quotidiano sem futuro nem desejo. Isto porque, as mensagens do Presidente são, invariavelmente, deixadas ao abandono entre os inenarráveis discursos parlamentares, que em simulacros vários debatem tudo menos os enunciados e as propostas presidenciais, perante a maior crise económico-social jamais vista.

A desarmonia é evidente. Hoje, nem se dignaram comentar as preocupações e as propostas feitas pelo Chefe de Estado. Foram execráveis. Eis, pois, a mais perfeita alucinação do poder. E, portanto, a questão começa a ser uma outra, a saber: até quando será possível a Jorge Sampaio manter esta estratégia de excessiva brandura face à governação caótica e irresponsável que tudo contamina? De outro modo, seria interessante que a maioria governamental e os seus acólitos fundamentalistas entendessem o dizer de Adorno: "ninguém tem direito, por orgulho elitista, de se opor à massa de que é apenas um momento". Que a aventura do poder não dura sempre. Podem crer!

LIVROS USADOS



"... Para onde foram os livros usados, os que tinham na capa esse visgo publicitário, as brochuras encardidas, as encadernações de pobre, os folhetos, as revistas do tempo de Rodrigues Alves? Tudo isso também é gente, na cidade das letras, e, como gente, ninho de surpresas: no mar de obras condenadas ao esquecimento, pesca-se às vezes o livrinho raro, não digo raro de todo, pois o farol do mercador arguto o escondeu atrás do balcão, e destina-o a Plínio Doyle, ao Mindlin paulista ou à Library of Congress, que não dorme no ponto ... mas, pelo menos, o relativamente raro, sobretudo aquele volumeco imprevisto, que não andávamos catando, e que nos pede para tirá-lo dali, pois está ligado a circunstâncias de nossa vida: operações de resgate, a que procedemos com alguma ternura. Vem para a minha estante, Marcelo Gama, amigo velho, ou antes, volta para ela, de onde não devias ter saído; sumiste porque naqueles tempos me faltou dinheiro para levar a namorada ao cinema, e tive de sacrificar-te, ou foi um pilantra que te pediu emprestado e não te devolveu? Perdão, Marcelo, mas por 5 cruzeiros terei de novo tua companhia ..."

[Drummond de Andrade, Sebo, in O Poder Ultrajovem]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVIII)


* Conselho dos 5 (1851) - O Conimbricense refere que foi formado por cinco estudantes, que tinham uma "espécie de governo de Coimbra", tendo a seu cargo a concessão de "diversas mercês civis e eclesiásticas". A sede era no Largo de Sansão (Praça 8 de Maio), em casa do sr. Francisco Martins da Rocha [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade de Instrucção dos Operários (1851) – Realizou-se a 4 de Outubro de 1851 a primeira reunião, sendo “nomeada uma mesa provisória assim composta: Presidente, Joaquim Martins de Carvalho; secretários, Carlos Ramiro Coutinho e Filippe de Quental; tesoureiro, Domingos Sebastião Sanches". [ibidem]

* Sociedade Gymnastica (1852) [ibidem]

* Sociedade para o Melhoramento dos Banhos do Luso (1852) [ibidem]

quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

LEWIS CARROLL [1832-1898]






















Morre a 14 de Janeiro de 1898


Locais: Lewis Carroll / Lewis Carroll / The Lewis Carroll E-text Collection / Works by Lewis Carroll / Alice's Adventures in Wonderland


"... Ao passar por um jardim vi um Mocho e uma Pantera
A repartirem uma empada.
À Pantera coube a carne, a massa e a geleia
E ao Mocho o prato e a colher.
Quando a empada acabou
A Pantera rosnou
E ainda ficou
Com o garfo e a faca
E o festim acabou ..."

[In Aventuras de Alice no País das Maravilhas, trad. Ernesto Sampaio]

THE CURE



The Cure - Join The Dots (1978-2001)

4 CD's espaçados no tempo, de 1978 a 2001, novas versões, remixes vários, homenagem aos The Doors, Jimi Hendrix, 76 paginas sobre a banda e, claro, Robert Smith, em raros trechos musicais, revisitações excelentes, a não perder, passe os sinais dos tempos ... enquanto lá para o Verão se espera o novissimo albúm com nova colheita. Somos sentimentais, evidentemente. Pois!

Locais: Seventy-one track rarities collection / The Cure: Join The Dots: B-Sides and Rarities, 1978-2001 (The Fiction Years)

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

VOX POPULI



[Dos Jornais] Causou impacto nos meios intelectuais do Correio da Manhã, novíssima Maria para taxistas e mulheres-a-dias, a antevisão do processo Casa Pia (Casa Pia, Últimos Episódios) pelo articulista Alberto Gonçalves. Consta que: um conhecido homem de leis aliviou-se em plena rua, com um sorriso nos lábios; um grupo de políticos, reunidos em local oculto, fulminou o autor com impropérios vários e ditos grosseiros; um liberal Eborense lembrou à edilidade que seja dado o nome de Avenida do Alberto-a-Dias, a uma artéria da cidade, substituindo a Rua Berlin; um popular activista Bolsista confessa que realizou avultados investimentos em acções CM; em reunião de comentaristas & Cia, foi debatido a excessiva verbosidade e a vulgaridade do texto, enquanto se ouvia um Audaces Fortuna Juvat proveniente da plateia popular, considerando-se que é caso para dizer, "não apalpes em casa de ferreiro, nem peças em botica bom mercado". Ó tempora, ó mores ... oh tempo das amoras!

[Novo Guia das Ruas de Portugal] Acaba de sair um precioso Guia (Edições Papelaria Laranja), onde se regista o local de todas as artérias das cidades portuguesas, com inclusão das alterações ultimamente feitas em vários arcos, arruamentos, azinhagas, bairros, calçadas, casais, estradas, jardins, largos, miradouros, paróquias, parques, praças, pracetas, ruas, residenciais, rotundas, sítios, travessas e vilas. Os autores agradecem penhorados ao major Valentim Loureiro as sugestões e contribuições apresentadas. Como curiosidade, registe-se as seguintes novidades: Travessa do Luís Delgado; Praça Bush; Azinhaga José Manuel Fernandes; Quinta Celeste Cardona; Residencial Tavares Moreira; Arco Ferreira Leite; Chalé Portas; Miradouro Marques Mendes; Circunvalação José Luís Arnaut; Escadinhas Bagão Félix; Mercado Dias Loureiro; Posto Morais Sarmento; Paróquia Telmo Correia; Rotunda Miguel Beleza; Vila Durão Barroso; Pátio Rebelo de Sousa; Cais Santana Lopes;... Bem Hajam!

JAMES JOYCE [1882-1941]



Morre a 13 de Janeiro de 1941

"Ele quis encontrar no mundo real a fraca imagem que sua alma, indefinidamente, contemplava. Ele não sabia onde ou como procurá-la. Mas uma premonição lhe disse que esta imagem iria encontrá-lo, independente do que fizesse. Os dois iriam se encontrar tranquilamente, como já se conhecessem, como já tivessem se encontrado antes, talvez em um dos portões ou em algum lugar secreto. Os dois estariam sozinhos, cercados pela escuridão e pelo silêncio. E em um momento de suprema ternura, ele mudaria. Se desbotaria em algo impalpável diante de seus olhos e, num breve momento, ele se transformaria. Fraqueza, timidez e inexperiência tombariam diante dele naquele momento trágico."

[J. J., in Retrato de um Artista Quando Jovem]

"(In) Gibraltar as a girl where I was a Flower of the mountain
yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used
or shall I wear a red yes
and how he kissed me under the Moorish wall
and I thought, well as well, him as another
and then I asked him with my eyes to ask again yes
and then he asked me, would I yes to say yes, my mountain flower
and first I put my arms around him, yes
and drew him down to me so he could feel my breasts all perfumed, yes
and his heart was going like mad and yes I said, yes I will, Yes." [J. J., in Ulysses]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

RUBEM BRAGA [1913-1990]



n. Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo), a 12 de Janeiro de 1913

"Braga é sempre bom, e quando não tem assunto então é ótimo. Disseram um dia do português Latino Coelho que era um estilo à procura de um assunto. Braga é o estilista cuja melhor performance ocorre sempre por escassez de assunto. Aí começa ele com o puxa-puxa, em que espreme na crônica as gotas de certa inefável poesia que é só dele. Será este o segredo de Braga: pôr nas suas crônicas o melhor da poesia que Deus lhe deu? Os outros cronistas põem também poesia nas suas crônicas, mas é o refugo, poesia barata, vulgarmente sentimental, que tanto pode estar ali como nos versos de... Bem, cala-te, boca! A boa poesia eles guardam para os seus poemas. Braga, poeta sem oficina montada e que faz poema uma vez na vida e outra na morte, descarrega os seus bálsamos e os seus venenos na crônica diária ..." [Manuel Bandeira]

Locais: Biobibliografia / Rubem Braga / Rubem Braga (1913-1990) / Textos na Folha de S. Paulo / Crónicas de Rubem Braga / Escritos Vários / Poesia / Ai de ti, Copacabana / Diário de um subversivo

sábado, 10 de janeiro de 2004

THE UNNATURAL AND THE STRANGE











"The unnatural and the strange
Have a perfume of their own –
That of human flesh, of change
Made corruption without moan;
The unnatural and the strange
Have a perfume of their own ..."

[Alexander Search (aliás F. P.), The Unnatural and The Strange, 1906]

ROMANCES POLICIAIS



"Um dos poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que ainda resta de intelectual na humanidade é a leitura de romances policiais. Entre o número áureo e reduzido das horas felizes que a vida deixa que eu passe, conto por do melhor ano aquelas em que a leitura de Conan Doyle ou de Arthur Morrison me pega na consciência ao colo.
Um volume de um destes autores, um cigarro de 45 ao pacote, a ideia de uma chávena de café - trindade cujo ser-uma é o conjugar a felicidade para mim - resume-se nisto a minha felicidade. Seria pouco para muitos, a verdade é que não pode aspirar a muito mais uma criatura com sentimentos intelectuais e estéticos no meio europeu actual"

[Fernando Pessoa, in Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação]

sexta-feira, 9 de janeiro de 2004

PROCESSO CASA PIA: A NOVA CABALA


"Uma gaiola ia à procura de um pássaro" [Kafka]

Stau Monteiro escreveu uma vez que "o espectador é por definição o homem que não sabe jogar". Nada mais exacto. Porém, hoje, no processo da Casa Pia, parece subsistir excessivos jogadores à volta da "mesa", e muito poucos espectadores.

A novíssima jogada conhecida, de admirável retórica diga-se, é de José Pacheco Pereira. O seu artigo publicado n'O Publico, curiosamente intitulado, "Anatomia de uma fuga do processo Casa Pia" mais não é que uma argumentação puramente de retórica politica ... contra a politização do processo, que configuraria motivações diversionistas e de ocultação dos crimes praticados. Em nenhum momento da análise desta nova cabala é questionado as razões técnico-jurídicas que evidenciam um constante mal estar nos registos processuais do caso, nem o papel desempenhado pelo Procurador Geral, Souto de Moura, na sua condução, defesa e praticabilidade. Apenas se faz a anatomia da cabala politica em curso, nova urdidura desviacionista, utilizando o discurso meramente político-partidário.

Afinal, o que nos confessa Pacheco Pereira é a impossibilidade de poder debater um caso concreto - Processo Casa Pia - a partir de enunciados técnico-jurídicos, da sua critica interna conceptual, a qual dado a sua especificidade, o cidadão não dominaria. Daí que o branqueamento das (não)orientações tomadas por Souto de Moura, em todo este, caso seja total. E que os jornalistas, por efeito boomerang, se arrisquem a serem tidos por perigosos delinquentes, no que resulta a sua necessária domesticação, nem que seja via reformulação da lei sobre liberdade de imprensa, como um deputado do CDS/PP no Parlamento assumiu. Ora, não é possível, aliás como muito bem Vital Moreira considera, que o papel desempenhado neste caso, e desde o seu início, por Souto de Moura seja menosprezado. Quem tal pensar está a aprontar o funeral da própria Justiça e a médio prazo a cooperar no descrédito das instituições democráticas. E sabe-se onde isso conduz. Ou não?

JOÃO CABRAL DE MELO NETO [1920-1999]















n. no Recife a 9 de Janeiro de 1920

"O esquadro disfarça o eclipse
que os homens não querem ver.
Não há música aparentemente
nos violinos fechados.
Apenas os recortes dos jornais diários
acenam para mim como o juízo final."

[Homenagem a Picasso, in Pedra do Sono]

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

FERNANDO PESSOA



" ... Ao homem vulgar, que queira entrar as portas do Occulto, diremos só uma cousa: não tentes! O occulto é que nos procura, não nos a elle: pois, desde a Queda, não há livre-arbitrio. Não somos nós que olhamos para a Materia: ella é que olha para nós. Collocando-se na passividade chamada mediunica podes julgar que atinges outros mundos; não fazes senão aprofundar a Illusão, que, como é contínua com o mundo, é para nós verdadeira ..."

[F.Pessoa, 53B-72 (m), in Rósea Cruz, por Teixeira da Mota, Ed. Manuel Lancastre, 1989]

PAUL VERLAINE [1844-1896]


















Morre em Paris, a 8 de Janeiro de 1896

"Sur votre jeune sein laissez rouler ma tête
Toute sonore encor de vos derniers baisers ;
Laissez-la s'apaiser de la bonne tempête,
Et que je dorme un peu puisque vous reposez
"

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"Sono escuro, enorme,
A cobrir-me a vida:
Dorme, esperança, dorme.
Tão apetecida!

Não vejo ninguém,
Já perco a memoria
Do mal e do bem ...
Ai que triste historia!

No fundo da vala,
O berço que sou
Alguém mo embala:
Caluda, calou!"

[Paul Verlaine, "Un Grand Sommeil Noir", trad. Jorge de Sena]

quarta-feira, 7 de janeiro de 2004

O PAINEL D'O PÚBLICO E A ELITE À LA ROSADO DE CARVALHO



O jornal O Público brinda-nos, cada segunda-feira, com um suplemento absolutamente extraordinário sobre economia. Esta semana, sob direcção desse inefável Rosado de Carvalho, estabeleceu um ranking das luminárias da governação com base num espantoso painel de inquiridos, aliás bem costumeiro.

Tais exegetas da coisa económica classificaram, com a proverbial certeza que guia sempre os que frequentam a quintarola do poder, positivamente (sem necessidade de ida à oral, é bom de ver) Ferreira Leite, Sevinate Pinto, Luís Filipe Pereira, Carmona Rodrigues e Bagão Félix, reprovando Celeste Cardona e Carlos Tavares. Registe-se que um inquirido do painel, em comovido esforço de amestração, atribuiu a nota máxima à senhora Ministra do défice, um brilhante 20 valores.

Outro, com menos segurança, pouco social, mas decerto com mais trabalho intelectual, classificou Bagão Félix com 19 valores. E até o desaparecido Carlos Tavares, obteve de um intelectual do painel um luminoso 17. Encantador. Curiosamente, só depois de percorrermos a listagem dos examinadores do douto painel, entendemos bem a sua capacidade avaliativa. Enfim, como diria o saudoso brasileiro Joãozinho 30, aqui se testemunha que "pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual".

INÊS DE CASTRO






















Morre em Coimbra, a 7 de Janeiro de 1355

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo o doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
..........
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
"Dos Amores de Inês", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água , e o nome Amores!"

[Camões, Os Lusíadas]

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

UM ÁRBITRO À ESPERA



"Não compreendo as leis; não tenho sentido moral, sou um bruto ..." [Rimbaud]

Aos 7 minutos de jogo tudo estava decidido no Estádio da Luz.

Pedro Proença, o árbitro dito de sensibilidade encarnada, determinou não atormentar o senhor Dias da Cunha e, num gesto avisado e pouco servil, contrariou as afirmações pífias do jornal Record, ao marcar um penalty inexistente a pedido de várias famílias do Horto de Alvalade. Nem interessa debater as assombrosas peripécias do jogo da Luz, que isso fica para os paroquianos dos jornais, mas tão só registar que o Record, mão dada com esse pródigo Dias da Cunha, venceu copiosamente o sempre glorioso Benfica. Isso é que ficará para a história. Parabéns Record. Avé Proença cheio de graça.

A RODA DOS ECONOMISTAS



"Quando se está metido até à garganta com crocodilos, é difícil reter na memória que o objectivo, no princípio, era secar o pântano" [anónimo]

Numa carta a sua mulher, Lydia Lopokova, Lord Keynes dizia: "o economista não é rei; é verdade. Mas devia de ser! É um governante melhor e mais avisado do que o general ou o diplomata ou o advogado notarial".

Dito deste modo, ficamos até com pena dos economistas de antanho, assim tão susceptíveis à paixão do jogo do poder. O mesmo não ocorre com os extraordinários economistas portugueses, a quem cedemos à força da sua infalível argumentação. Estes saltimbancos da economia politica dão invariavelmente no início de cada ano, fabulosas lições de gramática económica, sempre atestadas de adocicadas estatísticas, sempre deliciosos nas piedosas intenções de explicar os cenários macroeconómicos. A sensibilidade económica dos nossos putativos comentaristas é um padre-nosso que todos os anos se renova. E nem ofende que nunca acertem nas previsões, tão solenemente reveladas. Ou sequer lhes incomoda, que o que possam dizer hoje, poder ser negado amanhã. Afinal a ciência económica é um simples metanarrativa, um sermão gratulatório aos crentes indígenas. E estes bem sabem que "temos de trabalhar, senão por gosto, ao menos por desespero, pois, no fim de contas, trabalhar é ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].

Seja como for, o que os dignos eruditos da coisa económica desvelam é uma provinciana maneira de comunicar que a douta classe não tem autonomia científica, politica e ética no seu ofício. Senão que dizer da entrevista dada por Eduardo Catroga ou os artigos de Sérgio Rebelo, Miguel Frasquilho ou do inestimável João César das Neves? Ou será que os economistas são sempre mais belos que os nossos annus horribilis?

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVII)


* Sociedade Secreta S. Miguel da Ala (1851) - O Conimbricense refere que foi Joaquim Martins de Carvalho que "deu notícia desta sociedade, de que era Grão-Mestre El-Rei o Sr. D. Miguel, publicando os Estatutos, muitas noticias e vários documentos, o que na altura causou extraordinária sensação, quer na opinião pública quer no seio dos iniciados no segredo, ao serem assim publicamente denunciados".

A Sociedade S. Miguel da Ala propunha "promover por todos os modos a restauração do governo de El-rei o Senhor D. Miguel I". Rodrigo de Sousa Tudella (G.C. Fagilde), foi o encarregado de organizar os elementos revolucionários nos distritos de Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda e Castelo Branco, e "fazer a divisão territorial, para o Governo oculto da sociedade, composta de Governos Civis, Capítulos, nos quais posteriormente se organizaram Colégios". Do Governo Civil de Coimbra faziam parte os Capítulos 1º (comarcas da Figueira e Cantanhede), Capítulo 2º (comarcas de Soure e Lousã) e Capítulo 3º (comarca de Coimbra). Diga-se que em Coimbra havia dois Colégios sendo um exclusivamente académico. Quando acabavam a sua formatura, os seus elementos passavam para outro colégio que não aceitava estudantes.

Rezava assim os seus estatutos: art 1º - A ordem é essencialmente secreta, militante e politica; art. 2º - Tem por fim defender a religião católica apostólica romana; restaurar a legitimidade portuguesa; manter ilesa a integridade do território da nação; promover a união de todos os portugueses numa só família; ... O Colégio académico citado, era o do Bairro Alto, instalado no dia 22 de Fevereiro de 1851, assistindo à reunião Luís de Vasconcelos Azevedo e Silva Carvajal (Mem Rodrigues), António Tavares da Cunha Soares de Abreu (Afonso de Albuquerque), António Bernardino de Menezes (Massillon), João de Albuquerque Amaral Cardoso (Martim de Freitas), Luís Ribeiro de Souto Maior e Vasconcelos (Egas Moniz), Luiz Cândido de Figueiredo Oudinot e Gouveia (D. Nuno Alvares Pereira), José d'Araújo Cabral Montez de Champalimaud (D. Diniz), entre os mais. Além desse Colégio, existia outro, o Colégio do Bairro Baixo de Coimbra, organizado só em 1852, onde foram iniciados Dr. Francisco Raymundo da Silva Pereira (advogado e Chefe do Colégio, em casa do qual se fazia as reuniões), João Marques Perdigão, Francisco de Sousa Pinto, etc. [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade Philantropica de Coimbra (1851) [ibidem]

* Sociedade Philarmonica de João Alves (1851) [ibidem]

domingo, 4 de janeiro de 2004

MARIA ARCHER [1899-1982]



Nasce a 4 de Janeiro de 1899

Maria Archer, hoje injustamente esquecida, fez crónicas para jornais e revistas (Seara Nova) foi romancista e ensaísta, escreveu contos e peças de teatro, mas foi principalmente uma escritora que desvela a situação da mulher, pela interrogação da condição feminina do seu tempo, quer através da problemática social quer registando a irrupção do desejo sexual feminino. Adolfo Casais Monteiro (1944) diz-nos:«pode afirmar-se que escritora portuguesa alguma conseguiu, como ela, exprimir certas das mais fundas determinantes da psicologia feminina e da relação homem-mulher». Maria Archer teve, por isso, problemas vários com a censura e com a sociedade de antanho, sendo conhecido o episódio em torno do seu livro "Ida e Volta Duma Caixa de Cigarros" (Editorial Século, 1938) que foi retirado da circulação por ser considerado amoral e, mesmo, "pornográfico", o que era evidentemente falso. Saiu em sua defesa Mário Dionísio, n'O Diabo. Maria Archer viveu parte da sua vida em Africa, tendo escrito contos e ensaios de características antropológicas, e participou nos populares Cadernos Coloniais, de forte conteúdo documental e etnográfico.

"Duas novelas deste livro foram escritas sob deliberado propósito de contribuir para a revelação da mulher.
- Vão-te acusar de autobiografia, disse-me quem as leu no original.
- Que bom! Pensei eu, lembrando-me da razão porque Arnold Bennet fora acusado de fazer autobiografia quando descreveu a execução duma pena de morte (…)
A todos aqueles que, ao lerem as minhas novelas, se sentirem pris aux entrailles e me acusarem de ter feito autobiografia, eu confesso o meu lisongeado reconhecimento"

[Maria Archer, Introdução à "Ida e Volta duma Caixa de Cigarros", 1938]

Algumas Obras: Africa Selvagem / Sertanejos (Cadernos Coloniais) / Singularidades de um País Distante (idem) / Ninho de Bárbaros (idem) / Angola Filme (idem) / Colónias Piscatórias em Angola (idem) / Caleidoscópio Africano, 1938 / Três Mulheres (novelas) / Ida e Volta duma Caixa de Cigarros (idem) / Há Dois Ladrões sem Cadastro (idem) / Fauno Sovina (idem) / Ela é Apenas Uma Mulher (romance) / Aristocratas (idem) / Casa Sem Pão (idem) / Viagem à Roda de Africa (lit. infantil) / Roteiro do Mundo Português, 1940 / Memórias da Linha de Cascais (col. De Branca Colaço), 1943 / Filosofia duma Mulher Moderna (1939) / Eu e Elas (1945) / Herança Lusíada / Brasil, Fronteira de África (1963)

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVI)


* Sociedade do Teatro da Graça (1849) [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade Agrícola (1849) [ibidem]

* Companhia Agrícola e Comercial (1849) [ibidem]

* Sociedade de Beneficência da Typographia da Universidade (1849) - O Conimbricense refere que "só podiam fazer parte os operários e empregados da Imprensa da Universidade, sendo o iniciador o sr. José Pereira Júnior, antigo typographo" [ibidem]

* Sociedade Consoladora dos Aflitos (1849) [ibidem]

* Sociedade Philantropica Académica (1850) [ibidem]

* Monte-Pio Conimbricense (1851) - A 1 de Janeiro de 1851, por diligência de Joaquim Martins de Carvalho [ibidem]

sábado, 3 de janeiro de 2004

IN MEMORIAM EDUARDO GUERRA CARNEIRO [1942-2003]




[Via Aviz] "ADEUS. Morreu Eduardo Guerra Carneiro. Era um bom poeta, esquecido por todos nós, e um jornalista esquecido pelos jornais. Morava no mesmo prédio onde viveu Agostinho da Silva, ao Bairro Alto. Escrevia em caderninhos lisos e tinha canetas de tinta permanente. Gostou muito. Foi muito amado. Tinha um brilho nos olhos que se foi perdendo à medida que ia envelhecendo, mas nunca foi um ressentido. Bebeu muito. Leu bastante. Escreveu o suficiente. Alguns livros: Isto Anda Tudo Ligado, Como Quem Não Quer a Coisa, É Assim que se Faz a História, Contra a Corrente, Lixo ou Dama de Copas. Era boémio, mas não era da boémia. Sentava-se ao fundo dos bares caboverdianos. Gostava de mornas, da sua terra do Norte (Chaves), dos salgueiros ao longo da estrada nacional n.º 2, dos choupos do Douro e de poetas que sabiam calar-se. Uma pessoa escreve «era um bom poeta» e sente que alguém desconfia, como se fossem bons todos os poetas que desaparecem. Não. Ele era um bom poeta que raramente ficava contente com os seus livros. Não se dava muita importância. Brigou muito. Tinha bom feitio. Tinha mau feitio. Tennyson repetiria: «O selfless man and stainless gentleman.» Bebia cerveja. Acho que bebia tudo. Tinha uma bela voz. Eduardo." [Francisco José Viegas, in Aviz]

"O Eduardo nasceu em Chaves, em 42. Depois foi à vida: perdeu-se um vossa excelência (4º ano incompletíssimo de história), ganhou-se um poeta (...) Livros, amores, deambulações, vagabundagens, cervejolas, empregos vários, carolices (o & etc agradece, no que lhe toca): uma generosidade (arrebatada, lírica, desmedida) que lhe alimenta a poesia (dor mais funda, alegria em sol maior) e lhe dá cabo da gravata. Assim o Eduardo é um poeta visceral. Talvez que já não saiba (nem possa) ser outra coisa) ..." [in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"O desafio, afinal tão simples!, de prosseguir um texto, vendo bem perseguir, conseguir mesmo despir-me das pequenas e grandes vaidades, como já foi dito. Dizias: o texto. Eu pensava na intriga a construir, nos antigos manuscritos onde se falava de música, sinfonia, órgão, retábulos de igreja, o que se liga à então recente leitura de qualquer clássico. Órgãos do prazer: funções vitais em totalidade. Procuro a linha enredada na complicada teia de aranha que em volta de mim próprio enlacei: aqui está a razão do desafio; os nós a desfazer; a pontuação a assinalar um modo de avançar «todo» sem receio mais que o discurso baço, vago, maricas afinal (...)

Daí, daqui: os textos que perseguem e rasgam o próprio ventre para nascerem pelas suas próprias mãozinhas: impressão digital marcada a sangue. Direi. Um corpo em movimento; a infância da invenção; o salto mortal da literatura; a destruição (corrosão) dos vocábulos ..." [E.G.C., Uma Teoria (da) Prática, in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"Algumas palavras são mais que o som.
Soltam-se delas lâmpadas, por vezes gritos.
Palavras que demoram na boca
com o sabor da manhã de Outubro, o claro gosto
da terra húmida, castanha até doer
...
" [E.G.C., Zero, O Perfil da Estatua, 1961]

"Estamos no extremo ocidental de uma Europa gangrenada que teima ainda em conservar limpos os punhos e o colarinho, embora tenha podres nas meias e as cuecas estejam borradas de medo antigo, caca seca, agarrada aos Pirinéus, a montecarlos, montecassinos, urais ou andorras do báltico.
Estamos e continuaremos a estar até que a bomba rebente nos nossos tomates inchados, na goteira do sexo, nas moscas que teimam em disputar-nos a cerveja, nas putas que envolvem em dança os cromados dos bares de hotéis de gare. Poârto ou Parises; Tomar ou Bruxelas; Leiria ou Malmo: a mesma merda.
Estamos quase a rebentar as costuras deste maldito soutien com que nos apertam as mamas da invenção; quase a rebentar as cuecas com que nos espartilham os caralhos da revolta. De pé, ó vítimas da Europa decadente! Nuzinhos até Trancoso! Com pezinhos de lã até Almeida!.
Avançar assim, descobrindo novo discurso, importante porque me importa, também me faz bem, talvez te ajude, vos ajude, ajude afinal a acender o rastilho que vai fazer rebentar a bomba ..." [E.G.C., À Luz de Novembro, in Como Quem Não Quer a Coisa, & etc, 1978]

Algumas Obras: O Perfil da Estátua, Silex, 1961 / Corpo Terra, Ed. Autor, 1965 / Alguma Palavras, Nova Realidade, 1969 / Isto Anda Tudo Ligado, Cadernos Pensinsulares, 1970 / É Assim Que se Faz a História, Assírio & Alvim, 1973 / Como Não Quer a Coisa, & Etc, 1978 / Dama de Copas, & Etc, 1981 / Profissão de Fé, Quetzal, 1990 / Lixo, & Etc, 1993 / O Revólver do Repórter, Teorema, 1994 / Outras Fitas, Teorema, 1999 / A Noiva das Astúrias, & Etc, 2001

quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

OES MELHORES BLOGS PORTUGUESES | ESTRANGEIROS DE 2003


"As únicas coisas belas são as que a loucura dita e que a razão escreve" [Gide]

Temos este fado: registar, apreciar, catalogar, ordenar. Aprendemos os (per)cursos das coisas perenes, a doçura desta morada, factos, caminhos e rostos ... que são os da vida. Estamos decididamente prendados. É verdade. O nosso olhar sobre o fenómeno da blogosfera passa, naturalmente, pela sua avaliação. Somos, de facto, prudentes. Nesta apatia cultural que é a vida portuguesa a cair de sono, sabe bem o refúgio em leituras mil, orgulhosamente tempestuosas, delicadamente suaves. A blogosfera permite perseguir a palavra, inscrever a vertigem. Tudo nos encanta neste jardim celestial. A listagem da coluna da esquerda (sempre!) aí está para a douta prova. Aqui chegados, partimos para uma outra ordenação. A nossa proposta tem em conta critérios vários, a saber: o espaço temporal da participação do blog; o conteúdo que nos estimulou a "libido"; o construído estético, enquanto lugar de corporalidade textual; a "moral de prazer" do(s) diferente(s) sujeito(s); a interacção com os leitores e outros "criadores de circunstâncias"; a procura de uma (possível) especialização temática; linkagens e outros interstícios; cumplicidade afectiva e relacional. Não apreciámos, com pesar nosso, os blogs Coluna Infame, A Carta Roubada e a Formiga de Langton, dado terem terminado. De outro modo, ensaiámos agrupar blogs com os critérios considerados, por nós, do mesmo teor performativo. Registe-se na posição décima, um conjunto (pequeno) de blogs de características locais, que antecedem a próxima "explosão" da blogosfera lusitana. Não apresentamos qualquer fundamentação para a ordenação feita. Seria fastidioso tal, sendo conveniente referir, porém, que não seguimos altares iluminados ou iluminantes, mas tão só percorremos os critérios estabelecidos e ponderámos os blogs que conhecíamos. Mesmo sabendo que era muitíssimo pouco.

Eis, pois, os Melhores Blogs Portugueses de 2003 ou de companhia; assim se dizem coisas importantes, apaixonadas umas, ardilosas outras, deslumbrantes todas. De vós este é o fruto. Dos ausentes que a palidez os não atraiçoem. Amem!

1. Abrupto
2. Aviz
3. Janela Indiscreta / A Montanha Mágica / Um Blog Sobre Kleist
4. Blog de Esquerda / Homem a Dias / Dicionário do Diabo / Flor de Obsessão
5. Terras do Nunca / Barnabé / Mar Salgado / Mata Mouros / Grande Loja
6. Ângela Berlinde / There's Only Alice / Absurdo / Silêncio Digital
7. A Natureza do Mal / Klepsydra / A Memória Inventada / Rua da Judiaria
8. Reflexos de Azul Eléctrico / Latinista Ilustre / Miniscente
9. Avatares de um Desejo / Epiderme / Bomba Inteligente / Fumaças
10. Amicus Ficaria / Estarreja Efervescente / Poiares On Line / Estarreja Light

Os Melhores Blogs de Autores Estrangeiros de 2003

1. Letteri Café
2. Kafka em Belo Horizonte / Hotel Céline
3. Alexandre Soares Filho / Andrew Sullivan / The Agonist
4. The Cartoonist / Bibi Fonfon / Desnudas / Grafolalia
5. Prosa Caótica / Sub Rosa / Surrealismo dos Atos/ Mysterium
6. Esporas / Asakhira / DeFocused
7. Vigna-Marú /Giornale Nuovo / Un Que Passava
8. Beat Box/ Iconomy / Simon V / Disquiet
9. Marketing Hacker / Arts & Letters Daily
10. EconoBlog /Eschaton

terça-feira, 30 de dezembro de 2003

10 LIVROS PORTUGUESES DE 2003



1. Caderno de Caligraphia e Outros Poemas a Marga (Vitorino Nemésio, IN)
2. Respiração Assistida (Fernando Assis Pacheco, Assírio & Alvim)
3. A Boca na Cinza (Rui Nunes, Relógio d'Água)
4. Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo (António Lobo Antunes, Dom Quixote)
5. Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal (Fernando Pessoa, Assírio & Alvim)
6. Poesia / Dia do Mar / Coral / No Tempo Dividido / Mar Novo / O Cristo Cigano / Livro Sexto (Sophia Mello Breyner Andresen, Editorial Caminho)
7. Obra Completa de José Marmelo e Silva. Não Aceitei a Ortodoxia (Campo de Letras)
8. Conflito e Unidade no Neo-Realismo Português (António Pedro Pita, Campo de Letras)
9. Poesia da Presença (Adolfo Casais Monteiro, Cotovia)
10. Dicionário do Milénio Lusíada, vol. I (Manuel Gandra, Hugin)
  

10 Livros de Autores Estrangeiros de 2003 [colab. Bibliomanias]

1. Odisseia (Homero, trad. Frederico Lourenço, Cotovia)
2. Em Busca do Tempo Perdido (Marcel Proust, Relógio d'Água/ Círculo de Leitores)
3. Diário de Um Fescenino (Ruben Fonseca, Campo de Letras)
4. Pentesileia (Heinrich Von Kleist, Porto Editora)
5. Antologia da Poesia Anglo-Americana - De Chaucer a Dylan Thoma (Campo de Letras)
6. A Rainha do Sul (Arturo Pérez-Reverte, Asa)
7. A Douta Ignorância (Nicolau de Cusa, FCG)
8. Espinosa - Vida e Obra (Steven Nadler, Europa-América)
9. Winston Churchill - Uma Vida (Martin Gilbert, Bertrand)
10. Antologia Poética (Miguel de Unamuno, Assírio & Alvim)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

10 ÁLBUNS DE 2003

  

1. HoboSapiens - John Cale
2. North - Elvis Costello
3. Silver of Lead - Ursula Rucker
4. Mototronic - Ryuichi Sakamoto
5. Cuckooland - Robert Wyatt
6. Lead Us Not Into Temptation - David Byrne
7. The Mess We Made - Matt Elliott
8. The Raven - Lou Reed
9. Three Street Worlds - Two Banks of Four
10. Miles Davis In Person: Friday Night at the Blackhawk

ALVES REDOL [1911-1969]




Nasce em Vila Franca de Xira, a 29 de Dezembro de 1911

"Os mortos esquecem. Na nossa lembrança o tempo amarelece os seus retratos, também a nossa lembrança morre. São as obras duráveis, ficam como marcos de um caminho percorrido, como sinais que fluem no correr dos dias: podem apagar-se lentamente ou ganhar amplitude, significado e alcance. Homenagear os mortos é ainda uma forma de existirmos, de sermos vivos, de testemunharmos a vida que afirmamos.
O retrato que temos de Alves Redol, tão presente, desenha-se nítido nos anos de um convívio de ideias, na partilha de entusiasmos, de desgostos, de alegrias, de desesperos e, sempre, de certas e comuns esperanças. Podemos ler uma por uma as rugas do seu rosto, seguir as que a amargura vincou e as que nasceram do seu riso aberto, apontar as que forma cavadas pela preocupação e as que marcam uma firme e dura determinação. Somos capazes de ver nos seus olhos a imensa e humana ternura que os enchia e descobrir no fundo deles, como nos olhos de certos retratos de Gorki, o amargo limo das penas dos homens. Somos capazes de imaginar o gesto da mão que segura o cigarro, suspenso e sempre aceso no cliché, a apagá-lo, só fumado a meio, nervosa, no cinzeiro - essa mão de que sabemos o peso exacto quando fraterna se colocava no nosso ombro para ser amparo ou estimulo. A timidez que vemos no sorriso da sua boca ou o rictus que a fecha deixam-nos adivinhar o que ele disse ou, até, o que está pensando: o que talvez não merecesse a pena ficar gravado, coisas pequenas do dia a dia, triviais, e outras, expressão de um juízo meditado longamente, de uma opinião bem fundada, de uma afirmação categórica - como é na vida. Este retrato está nos nossos olhos, só os nossos olhos mortais podem vê-lo.
Um outro vai ser construído pelo tempo, pelos seus leitores futuros, que o encontrarão as paginas dos livros que escreveu, na imaginação física dos seus heróis, no perfil dos personagens que se vão amar e odiar, modelado nas situações vivas dos romances, temperado nas tragedias, nas alegrias, nas lutas, nas grandezas e misérias que descrevem. Essa será a sua verdadeira imagem, o seu retrato futuro.
Aos que hão-de vir deixou dito: «Vão encontrar belas coisas para fazer nessa altura, se o merecer, lembrem-se de mim»
Que o lembre quem mereça.

[Que o Lembre Quem Mereça, in Número Especial da Revista Vértice de Homenagem a Alves Redol, nº 322-23, 1970]

domingo, 28 de dezembro de 2003

OLAVO BILAC [1865-1918]






















Morre na Rio de Janeiro, a 28 de Dezembro de 1918


Locais: Olavo Bilac / Biografia / Olavo Bilac / Olavo Bilac / Poesias / Bilac em Dois Tempos / Antologia Poética / Poemas


"Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!"

[Olavo Bilac, Língua Portuguesa]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XV)




* Choça 16 de Maio (1848) - O Conimbricense refere que "para comemorar a vitoria da revolução popular contra o Cabralismo", na cidade de Coimbra, reuniram-se frente ao Colégio Novo, na subida da Couraça dos Apóstolos, a Choça 16 de Maio. Era presidente, António Marciano de Azevedo (B. P. Sidney); 1º assist. Augusto Pinto Tavares, sendo Orad. Joaquim Martins de Carvalho. Uma reunião memorável foi feita ao cimo da Rua do Cego, com frente para a Calçada (hoje, Ferreira Borges), onde se discutiu, dando cumprimento às instruções da Alta Venda, qual a forma de governo que deveria ser adoptada em Portugal. Após debate intenso, ganhou a proposta de um Governo Republicano. No seguimento da perseguição ao local de reunião, a Polícia assaltou a casa, tendo a Choça se reorganizado sobre o título de Segredo, sendo seu presidente Joaquim Martins de Carvalho. [in, Conimbricense, 1905]

* Choça Fraternidade (1848) - Era seu Pres. Joaquim António de Freitas. As reuniões eram feitas nas casas do Correio Velho, Rua das Fangas (hoje, Fernandes Thomaz). De referir, que se transportou para o local um bilhar para encobrir as entradas dos seus membros. [ibidem]

* Choça Liberdade (1848) - O Pres. era José António dos Santos Neves Dória. Reuniam-se, alternadamente, com a Choça Fraternidade. [ibidem]

* Choça Segredo (1848) - Como se referiu, após a descoberta da Choça 16 de Maio, houve a reorganização da Choça para Segredo, sendo feitas as reuniões no edifício do antigo Convento de Santo Amaro dos Olivais, aproveitando as tardes de Domingo, a pretexto de passeio. Uma vez, reuniram-se no coro da Igreja de Santo António dos Olivais, dado ter a chave o dr. António José Rodrigues Vidal, e quase eram surpreendidos em plena reunião por José Joaquim da Rocha, que ia levar alguns homens a visitar a Igreja. [ibidem]

sábado, 27 de dezembro de 2003

ALFONSO REYES [1889-1959]




Morre na Cidade do México, a 27 de Dezembro de 1959

Alfonso Reyes nasceu em Monterrey (México), formado em Direito, foi ensaísta, tradutor, escritor e poeta, membro da Academia Mexicana, diplomata em França (interessa-se por Proust, Mallarmé, Montaigne), Espanha, Argentina (onde conhece Borges), Brasil (1930 a 1937), colabora no El Imperial e El Sol (Espanha), dirige a sessão de Bibliografia da Revista de Filologia Espanhola, é director do Colégio de México (instituição de apoio aos exilados da Republica espanhola) , obtém o Premio Nacional das Letras.


"—Soy la Muerte— me dijo. No sabía
que tan estrechamente me cercara,
al punto de volcarme por la cara
su turbadora vaharada fría.
Ya no intento eludir su compañía:
mis pasos sigue, transparente y clara,
y desde entonces no me desampara
ni me deja de noche ni de día.
—¡Y pensar —confesé— que de mil modos
quise disimularte con apodos,
entre miedos y errores confundida!
«Más tienes de caricia que de pena.»
Eras alivio y te llamé cadena.
Eras la muerte y te llamé la vida.

[Visitación, in Obra Poética, 1952]

Locais: Alfonso Reyes / Alfonso Reyes / La Cena / Alfonso Reyes - Semblanza y Obra / Alfonso Reyes, anecdótico / Ifigenia cruel (fragmento) / Poemas / Conferencia Inaugural del Ateneo

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XIV)


* Alta Venda (1848) - O Conimbricense (18 de Julho de 1905) refere que "o General Joaquim Pereira Marinho, tendo recebido do estrangeiro autorização para poder estabelecer a Carbonária em Portugal, delegou poderes, em relação a Coimbra, no sr. Padre António de Jesus Maria da Costa (B. P. Ganganelli), para poder levantar choças em toda a parte onde julgasse conveniente regularizá-las, dirigi-las, uniformizá-las e relacioná-las entre si". Segundo os Estatutos da Carbonária Lusitana, existia três Câmaras: Alta Venda (Vendicta Coinimbricense), Barracas e Choças. O artgº 1º dos Estatutos rezava assim: «A Sociedade Carbonária é uma Ordem philantrophica, que tem por fim manter a verdadeira liberdade do paiz e o socorro mutuo dos seus consócios».

Em Coimbra, a 29 de Maio de 1848, deu-se inicio à Carbonária Lusitana, sendo eleito Sup. Cons. da Alta Venda, o referido Padre António Maria da Costa. A sua primeira reunião foi na Rua da Ilha. Além da Alta Venda, instalaram-se as Barracas: Egualdade e União; e as Choças, 16 de Maio (depois Segredo) e Fraternidade e Liberdade. Alguns dos carbonários iniciados foram, entre muitos: Abílio de Sá Roque (Robespierre), Adelino António das Neves e Mello (Napoleão), dr. António José Rodrigues Vidal (Odorico), dr. António Luiz de Sousa H. Secco (Cicoso), António Marciano de Azevedo (Sidney), Cassiano Tavares Cabral (Nuno Alvares Pereira), dr. Francisco Fernandes da Costa (Timon 2), João Gaspar Coelho (Archimedes), dr. João Lopes de Moraes (Dupont), José António dos Santos Neves Dória (Huffland), José de Gouveia Lucena Almeida Beltrão (Lamartine), dr. Raymundo Venâncio Rodrigues (Washington), etc. Aconteceu que em Outubro de 1848, reuniu-se a Alta Venda, na Quinta de Coselhas do Padre Maria da Costa, para eleições, tendo sido eleito Sup. Cons. o dr. Francisco Fernandes da Costa. Sucede que ficando "despeitado" o Padre Maria da Costa, entendeu guardar o livro da matricula e todos os documentos relativos à Carbonária, apesar dos esforços feitos para a entrega dos documentos, pelo que foi riscado do quadro da Ordem. Pelo que diz o Conimbricense, chegou a contar a Carbonária à volta de 500 membros, quase todos armados, dado até uma das condições de adesão à Ordem, ser "possuir os carbonários ocultamente uma arma com competente cadastro". [in, Conimbricense, 1905]

* Barraca Egualdade (1848) - Tinha por presidente o dr. António Rodrigues Vidal; secretário Joaquim Martins de Carvalho (B. P. Ledru Rollin) e por tesoureiro, o dr. José Gomes Ribeiro. A legenda desta Barraca era: Eripuit coelo fulmen sceptrumque tyrannus. Reuniam-se em diferentes locais e até uma noite se fez a reunião no Jardim Botânico, na casa da aula de Botânica, pegada à Estufa. [ibidem]

* Barraca União (1848) - Subordinada à Alta Venda, era presidida por Abílio Roque de Sá Barreto. [ibidem]

segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

DEO GRACIAS



O Almocreve vai de saída. Após salutar descanso e pequenos trabalhos, espera vir mais prendado para fazer mandas aos profanos. Deo Gratias.

Felicidade e Boas Festas

"TEMOS AGORA UMA OUTRA ETERNIDADE..."



















"Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou ..."

[Fernando Pessoa]

domingo, 21 de dezembro de 2003

"DAS PETAS O ALMOCREVE ..."





















"Das Petas o Almocreve é obra tua.
Bem se vê, Daniel, na frase e gosto:
Adiça três de Abril ou seis de Agosto,
É de quem vende rimas pela rua..."

[Bocage, numa "farpa" a José Daniel Rodrigues da Costa, autor do Almocreve das Petas]