sexta-feira, 25 de março de 2011

IN MEMORIAM DE TARCÍSIO TRINDADE 1931-2011


"Acorda-me de manhã
Ao nascer do sol
Canta uma cantiga
Em cada estação
" [Tarcísio Trindade]

O livreiro (e bibliófilo) Tarcisio Trindade (ou Tarcísio Vazão de Campos e Trindade - ver AQUI) partiu de entre nós, decerto para conversar com "os sinos e os anjos meninos", no passado dia 15 de Março. Apaixonado pelos livros que "descobria" e atravessavam séculos, autorizado e competente livreiro-alfarrabista, conversador cativante e animador de tertúlias bibliófilas na sua casa de livros antigos da Rua do Alecrim, Tarcísio Trindade sempre mereceu as maiores estimas quer do aprendiz a dar os primeiros passos na bibliofilia quer dos nossos mais ilustres (ou encartados) bibliófilos.

O respeito pelo livro antigo e moderno, a generosidade (que era verdadeira), a "modéstia" e o aprumo invulgar no trato e afeição que só uma inteligência superior possui, a "convivialidade e empatia com os seus clientes" são, por demais, conhecidas e aceites. Tarcísio Trindade foi um dos mais reputados, completos e respeitosos alfarrabistas da nossa praça. Mas também, como cidadão íntegro e fraterno, como poeta (que muito prometia), como curioso antiquário ou como político em defesa do município onde nasceu e que tanto amava, Tarcísio Trindade será sempre evocado. Era - como disse António Ventura - "um Príncipe do Mundo dos Livros". Um Amigo! E amigos assim nunca serão esquecidos.

À sua família, e em especial ao Bernardo, o nosso sentido pesar.

SOBRE TARCÍSIO TRINDADE: ler o Catálogo-Homenagem AQUI ONLINE [clicar na foto do Catálogo], com os seguintes títulos/autores:

"O Menino e as Quatro Estações" [Bernardo Trindade] / "Tarcísio Trindade Perfil Cultural e Cívico" [António Valdemar] / "Tarcísio Trindade ou a Cultura e a Modéstia de Mãos Dadas" [Artur Anselmo] / "O Meu Querido Amigo Tarcísio" [Luís Bigotte Chorão] / "Damião Peres e o Padre Casimiro ou a Evocação Amiga de um Príncipe do Mundo dos Livros" [António Ventura] / "O Meu Amigo Tarcísio Trindade" [António Pedro Vicente].

Foto retirada do jornal Região de Cister, com a devida vénia.

LEILÃO DA BIBLIOTECA DO DR. JOSÉ DE SÁ MONTEIRO DE FRIAS – UMA VALIOSA CAMILIANA EM PRAÇA



DIAS29 de Março a 1 de Abril (21 horas) e 2 de Abril (15,30 horas)
LOCALJunta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto), Porto
ORGANIZAÇÃOLivraria Manuel Ferreira (Porto)
CATÁLOGOVolume I / Volume II.

A Livraria Manuel Ferreira (sob esmero de Herculano Ferreira) organiza um importante e valioso Leilão de Livros, pertencentes à rica Biblioteca do Dr. José de Sá Monteiro de Frias, no próximo dia 29 de Março e seguintes. São 1910 peças bibliográficas (de Literatura e História) de muita valia e raridade que são colocadas à venda, com uma importante, valiosa e rara Camiliana (em praça nos dias 29 e 30 de Março), com registo de cerca de 282 espécies devota e criteriosamente coleccionadas. A Biblioteca do dr. Monteiro de Frias, agora vazada em precioso Catálogo, de dois tomos, é de sumo valor, de invejável preciosidade e grande merecimento.

Façam favor de consultar AQUI e AQUI o seu inventário. E sejam felizes, porque não perdem o trabalho de erudição e a sua utilidade bibliográfica. De grande alimento para o espírito. E bem precisamos ...

quinta-feira, 24 de março de 2011

CENA ABERTA OU ENSAIOS DE MARCAÇÃO



"Life, as we know it, does not exist" [S. Mhakhaphi]

A paróquia assistiu (assiste) ao mise-em-scène da "morte" política anunciada do sr. Sócrates. A encenação foi corretamente composta, passe o facto de o palco ter dimensões curtas. O sr. Sócrates implantou a cena, fez as marcações e assinalou o ritmo. O estilo - o curioso-dramático estilo tão copiosamente caracterizado pelos doutos politólogos indígenas -, de facto, não é importante: há muito que a cenografia & a iluminação da governança do sr. Sócrates eram uma extraordinária estapafúrdia, um vaudeville, que nem um padre-nosso (a existir!) salvífico nos emprazava das bengaladas atrevidas da fuhrer Merkl ou da benzina milagrosa do sr. Sarkozy. A sopa dos pobres, pitoresco expediente paroquial & tão de agrado da clientela partidária do bloco central, está para durar, sempre insinuante e terna. A continuar!

Ontem a questão era simples - porém complicada de se lhe seguir como tragédia -, a saber: Sócrates ou Nós. Demasiado simples! Na verdade, o roteiro Socrático foi (e será) um desastre completo. A ruína financeira (que nos tem cativos), a afrontosa ditadura do merceeiro Teixeira dos Santos, a capitosa inconsciência social, a fraude & a mentira intolerável (o valor real do défice, não aqui é um simples pormenor), o despotismo corrosivo da cidadania e a alucinação que tudo destrói, trouxeram ruína à acomodatícia ruína do país. O negrume destes anos (e dos que se lhe vão seguir) é um sério aviso ao cidadão livre e fraterno. Por isso, as palminhas grupais que os serviçais do sr. Sócrates - essa infernal facção política que liquidou a honra do Partido Socialista e arruinou o país - vão fazendo cair, em fingimento nas redes sociais e nos seus enlevos partidários, é perigosa mesmo que seja uma caricatura. Ontem a questão era simples, a saber: por fim à fraude, à demagogia, à falta carácter revelada pelo sr. Sócrates & amigos. Porque um país não pode viver na mentira, na incerteza, na falta de esperança de futuro, em campanhas de ódio permanente. A chantagem política e a incompetência tinham de ter um fim.

Que do claro-escuro desta peça nos surjam galãs cómicos (o sr. Portas & garotos amestrados), até um contra-regra no Palácio de Belém agora em ensaios constitucionais primaveris, ou, principalmente, um novo encarregado do palco, um sr. Coelho espingardeando demagogicamente velhas urdiduras do ex-assinante sr. Sócrates, esclarece a tragédia cínica disto tudo e a pateada que se lhe vai seguir. O sr. Coelho (com os oráculos neoliberais à ilharga), como antes o "maravilhoso" sr. Sócrates, teima em salvar Portugal. O aranzel é conhecido: livrar-nos do Estado, deixar em rota livre o espírito pensador dos nossos empresários, que, como bem se sabe, são inteligentes, empreendedores, competentes e, curiosamente, até mesmo empresários. O resto (dizem) virá por especial simpatia e visão empresarial, qual graça ou solene te-deum de 800 anos de ex-votos pátrios. O défice subordinar-se-á, por fim, aos deveres do alheio, o exercício cívico será luminoso e logo observado, a economia será alavancada em grandiosidade nunca vista e os insubmissos especuladores (os tais… esses mesmos) serão domados, como num passe de mágica. E a Europa será nossa! Ecce filius tuum.

sábado, 12 de março de 2011

FOI BONITA A FESTA PÁ!




"Chamais-me, Cidadão? Eu aqui estou:
Alas à Liberdade!
Nunca mais pura cauda se arrastou
Nas lages da cidade!
" [Alexandre O’Neill]

Dia curioso e surpreendente. Inchado de liberdade, sonoridades vocais, de movimentos progressivos. Eis Lacan e o grito do recém-nascido, em pura metonímica. Da escuridão destes dias saíram ladrilhos de memorandos, mui ataviados de panfletos em letras redondas. Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Volumosa, autorizada. Cor unum et anima una. E dessas almas, naturalmente lúcidas, brotou uma nova itinerância para todos nós - os condenados às galés da fazenda. É preciso uma grande orgia. Porque foi bonita a festa, pá!

PS:Ah! os cultores corporativos do bloco central já capricharam pequenas maldades. Vieram espumar as suas mazelas, enriquecendo a lexicologia política. O sr. Sócrates justificou o grito da "canalha" com a sua contumaz imaginação cénica. O sr. Augusto SS, resignado, truncou o seu dia de trabalho precário. E o merceeiro Teixeira dos Santos, ao que parece, faz exercícios venatórios ao colo do governo colonial da fuhrer Merkl. Há ironia e malícia no ar. O dr. Coelhoatrevido no ímpeto e bisonho na praxis - ameaça fulminar qualquer acareação com o regente-engenheiro. Santo Assis ainda não rabujou, vindo do asilo parlamentar. Na verdade, não há vida além do mofo de S. Bento e do facebook do dr. Cavaco. Pelos colunistas, há advertências, sermões & tripas viradas. Há motins literários. A casta & reaccionária Helena Matos (Oh! Labii reatum! Oh! Geração do 69) arrufou, vaidosamente máscula, sumariamente caluniante. Rosariada de náusea (ou sexo de escrita) contra a vida e o seu linguarejar. O dr. Pacheco Pereira, leninista e sem lucidez, choraminga abruptamente contra os profissionais da TV. Não leu o discurso último do dr. Cavaco, um dos subscritores do PREC d’hoje. Valha-nos, ao menos, isso! No resto "enquanto os filósofos etiquetam, os relógios tiquetaqueiam". O’Neill … na porta!

quinta-feira, 10 de março de 2011

A TOMADA DE POSSE OU UM PRESIDENTE "À RASCA"


Da ociosidade presidencial, desabrigado nessa curiosa angústia no acto de falar claro, o sr. Presidente da República regressa encartado numa representação (nada) ingénua de defesa dos superiores interesses do país. É um clássico! A composição que dirigiu à Nação, muito em género epigramático, foi de facto "arrasador" para o regente desta nossa paróquia, que está a implodir em estrondo e vã glória. Ao mesmo tempo, esclarecendo o respeitabilíssimo auditório, o discurso do dr. Cavaco Silva é um mero & ratificado acto de contrição. Um ofertório a todos, e não são poucos, os que expiam as derivas económicas e políticas da fazenda, desde as promessas caricatas dos tempos & costumes do sr. Cavaco Silva, primeiro-ministro, ao drama e tragédia de hoje. Um sacrifício político pessoal inegavelmente alquebrado, mesmo que romântico. Há que gerir a carreira política. O oásis seguirá, portanto, dentro de momentos.

Na verdade, perante um comovente refúgio de "pecadores" & prestidigitadores da coisa pública, o sábio Cavaco Silva entende, porque entende, que estamos perante uma justificada "emergência económica e financeira", uma grave "situação de emergência social" e que desse submergido atoleiro há lugar a um devoto "sobressalto cívico" e, claro está, a um patriótico "despertar da letargia" indígena. Mais, o prodigioso dr. Cavaco, sem perturbação alguma, ilustrou o seu capitoso discurso com o reboliço de uma "grande mobilização da sociedade civil", porque "há limites para os esforços que se podem exigir do cidadão comum". Neste ponto o sr. Fancisco d’Assis, olhos fitos no futuro, fingiu não gostar do que ouviu. O Sr. Assis, que por educação não é um habitué da "mouta" governamental, faz tenção de arremessar o inefável Augusto S.S. para a desafronta. Há que vitimizar!

Deste modo, a narrativa epopeica do dr. Cavaco foi, de facto, agreste e demolidora, mesmo perigosa. O sr. Presidente da República - se nos lembrarmos do que ouvimos cinco anos atrás - considerou que o país está muito pior, que se perdeu cinco intermináveis anos, quiçá quinze, ou que na verdade, e por cortesia o dizemos, a trapalhada virá já desde 1985. Isto é, o dr. Cavaco reconheceu que foi incompetente no exercício da sua função presidencial, permitindo e apoiando um governo irresponsável e intelectualmente desonesto. Quem algum dia se lembrar das leis proscritoras dos "direitos autenticamente adquiridos", nos seus aspectos injurídicos, arremessados pelas corporações de interesses instalados na governação e no bloco central contra a "canalha", compreenderá a improbidade do discurso de tomada de posse e a sua problemática futura. Basta testemunhar, para contraditar, que no momento em que os docentes deste país fizeram ouvir a sua voz e exigiram na rua um civismo profissional rigoroso da parte do Estado, em legítima ambição meritocrática, o Presidente da República passeava fervorosamente com a sr. Maria de Lurdes, Ministra da Avaliação, expandindo-lhe a vaidade.

O clamor do sr. Presidente é, portanto, complicado de gerir politicamente no amanhã. Por último, quando - num imperdoável quanto audacioso silêncio - nada nos é dito sobre a União Europeia e a sua (des)construção, torna-se evidente a pouca inspiração económica e o desengano nesta sua nova magistratura activa. E sabe-se: verba volant, scripta manent