quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006


[Para Sempre]

"Curiosa coisa, a propósito. Há entre nós nos jornais os grandes proprietários do mal-dizer e que não menciono para não dizer mal. Agora, de todo o modo, o curioso é que nunca vi que nenhum deles dissesse mal dos outros. Donde a conclusão (provisória) de que impropério é característico de uma raça ou de uma casta" [Vergílio Ferreira, Conta-Corrente 3]

"Há homens que não suportam a ideia da amizade por verem nela apenas uma submissão ao de quem são amigos. E a forma de lutarem contra tal submissão é traírem. Há homens em quem a traição é assim a forma inata de afirmarem uma independência que não têm" [V. F., Conta-Corrente 4]

"Hoje o Expresso trazia uma nota assinada por F.B. (Francisco Belard?) a propósito da publicação de Para Sempre, em que se dizia que eu não tinha o hábito de me pôr na ponta dos pés, etc. Gostei. É que na realidade dá-me nojo, asco, vómitos, o sujeito (normalmente um medíocre para equilibrar a mediocridade) que chateia os jornalistas para falarem dele, lambe os críticos para dizerem bem, amola os livreiros para lhe exporem os produtos, cultiva sobejamente relações para o ampararem, consegue ir à TV sempre que dá um traque mais audível, mói-nos a paciência com a farrapada das sua edições, diz bem de toda a gente para ninguém dizer mal dele, põe cinta nova nos livros sempre que há nova edição, rapa os restos do prato dos outros para fingir o alimento que não tem, mobiliza a imprensa se abichou algum prémio, tem um tom augusto de quem chegou ao empíreo, faz tudo para ir a académico - faz tudo para se não esquecerem dele e consegue por fim ser monumento nacional e chamar invejosos aos que lhe atiram tudo à cara ..." [idem, ibidem]