domingo, 12 de junho de 2005
Vasco Gonçalves - Militar de Abril [1921-2005]
"a Vasco Gonçalves
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esses eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias lábios, tudo ardia."
[Eugénio de Andrade, O Comum da Terra, 14/5/76, in Companheiro Vasco, Inova, Set. 1977]]
"... A paixão de Vasco Gonçalves não é para esquecer. Ninguém poderá esquecer a enorme dignidade deste Homem, a sua transparência, a força que o seu mirrado corpo irradiava: Desfeito, desgrenhado, coberto de escarros, caluniado e traído; Vasco Gonçalves cumpriu-se até ao fim, sem um desvio, sem uma quebra, inteiro, igual a si mesmo, simples e generoso, exemplar ..."
[Bernardo Santareno, A Paixão, ibidem]
"... Gonçalvismo serve para referir a um só homem o que de mal sucedido (?) ou canhestro terão feito os nossos militares, os nossos economistas, os nossos políticos, os nossos diplomatas. Serve para fazer de Vasco Gonçalves o bode expiatório do evitável e do inevitável, assim amnistiando os que, ao abrigo duma concepção maniqueísta, continuam a desejar fruir o estatuto de bons. Manejo do termo gonçalvismo: variedade de racismo transposto para a esfera politico-ideológica, velha receita (depois de tantos outros ismos que correram mundo...) para colocar o irracional ao serviço da politica, pois dizer gonçalvismo é convidar a não pensar, a não analisar, é produzir uma espécie de choque eléctrico ..."
[Jacinto do Prado Coelho, Vasco Gonçalves e o Gonçalvismo, ibidem]