quarta-feira, 22 de junho de 2005
A GREVE: A BOA E A OUTRA
As qualidades patenteadas no opinioso protestatório expedito pelos novos pastores do rebanho Socrático, contra a impura greve dos docentes do ensino básico e secundário, são de um espectáculo constrangedor que aniquila qualquer um. O tumulto que vai na alma desses jovens messiânicos de antanho, agora recostados nos maples do politicamente burguês & alapados na academia fleumática da vida, não é mais que um sermão gratulatório recitado aos indígenas que padecem desse insofrível incomodo de abraçar um funcionário público. Estão neste caso, os suspiros exalados pelos meus caros amigos, Vital Moreira e Paulo Pedroso, ou essa desdita da agonia dos docentes anunciada por João Gonçalves.
Tais pronunciamentos, pelas imprecações de teor político referidas e, principalmente, pela descomunal ocultação do procedimento administrativo ou (in)jurídico tricotado pela tutela, de cariz ilegal e politicamente reaccionário, são momentos que imortalizam a história pública lusa. Com a curiosidade de difundir no "rebanho" socialista a ideia que a "boa greve", iluminada e melodiosa, é aquela que for sempre contra a governação do que chamam (com graça admirável) a direita, autoritária ou nem tanto. O embuste de se aceitar manobras dilatórias jurídicas, que qualquer governante do Estado Novo aplaudiria sem rebuço algum, desvela que não só não se vive num Estado de Direito pleno (o poder disciplinar da tutela, sendo óbvio, ainda não lhe permite ser juiz em causa própria), como os seus intervenientes manifestam uma grosseira apetência pelo autoritarismo, que nada tem a ver com o que prosaicamente se chama socialismo.
E não se pense que temos metafísica de míope. Nem por isso! O facto de não acedermos com facilidade ao corpo reivindicativo (e à praxis) que é solicitado pelas organizações sindicais dos docentes para dar inicio à greve, não nos permite seguir aqueles maledicentes críticos para quem os vadios do funcionalismo público são a fonte de todo o mal. Tais alimárias pranteiam a defesa de um "igualitarismo" estulto em toda a administração pública, de baixo a cima, nivelando tudo e todos, a maior parte das vezes sem saber do que falam e, muitas vezes, tentando iludir quem avançou com as reformas que agora pretendem retirar. E se ligarmos a toda esta questão a renovada fúria e obsessão pelo défice, então, muito justamente, teremos de aceitar que as revindicações dos trabalhadores da administração pública são parte integrante das suas estratégias de sobrevivência. E como tal, são justas. Tal como as greves. Porque, para nós, a "boa greve" ... não é, sempre, uma outra qualquer.