quinta-feira, 6 de janeiro de 2005
Santos com vida ou vida de santos
"Cogitationes meae ... torquentes cor meum" [Job XVII.V.II.]
Movidos por letargia para o sofá, que a vida está fantasiosamente sonolenta, confessamos, vergonhosamente, que não sucumbimos ab lib aos abraços de Morfeu, esta segunda-feira última. Caso curioso, diga-se. Tudo isso porque uma epidemia de economistas e politólogos encartados protestou piedosas súplicas na venerável TV, já o dia estava alto e convidativo à poeira da livralhada.
Meus amigos: a fala de esperança e caridade de César das Neves, quando confrontada no dificultoso diz-kurso positivo de Nogueira Leite, ou com os exercícios espirituosos de Luís Campos, ou até mesmo nos terríveis golpes atenazantes de Paulo Rangel, sem esquecer a habitual penetração intelectual da funcionária pública Fátima Bonifácio, fez-nos ver claramente visto. O santo César era um adorno de eloquência, no invés de um caturra saloio.
Empalidecemos. Claramente surge que o nosso affaire d'honneur entre lúbricos papéis seria a nossa desgraça. Assim despojados do terrível alívio de ver o César entre iguais, ficámos tão sensíveis e arrebatados que o nosso horizonte só podia raiar com a leitura das listas de candidatos a deputados. O que fizemos. Imediatamente nos rebolamos no sono dos justos, em merecido descanso. A natureza está sempre disponível a aparecer na ocorrência de uma desgraça. Eis uma boa virtude.