segunda-feira, 14 de junho de 2004


A Pau com o Futebol

"Num mundo reinvertido, o verdadeiro é um momento do falso" [Guy Debord]

O crítico profissional da bola, atrevidamente alapado no sofá, lança o olhar melancolicamente mundano à bandeira que exibiu com devoção extremada. A agonia da lamentação pós-desaire da nossa selecção resta uma amargura sem fim. O crítico de sofá acha o incidente miserável. A tragédia (grega ?) vai de revolta. O pastoreamento da equipa uma idiotice sem perdão. Scolari falhou no exercício escolar, dizem uns. É um treinador de má fé, rezam outros. Com felicidade ainda não o apelidaram de "mouro". Faltam 72 horas para saber. O Norte tem sempre essa delicadeza poética de se expressar. Ou não sejam os alexandrinos de Carlos Magno, esse portuense exuberante, de grande efeito psico-futebolisticamente falando. A onda alastra entre o público.
A dimensão do auto de denúncia que se seguiu ao jogo com a Grécia é, verdadeiramente, leviana. O homem tenta manufacturar um team com pragmática e as endoxa (à maneira de Aristóteles) configuram a questão: Portugal é excelente, um ganhador harmonioso, um talento de bem jogar. Só Scolari não o sabe e daí opções medíocres, linha de jogo inexistente, táctica absolutamente lírica. Pudéssemos por a jogar 11 Decos ou, mesmo, outros jogadores do covil do Dragão - que como se sabe são, evidentemente, "os melhores do mundo" - e o cenário era outro. Não sendo assim estaremos condenados a ficar pelo caminho, perdidos na bruma do Europeu. Mas fiquem sabendo todos os amantes do futebol, críticos de bancada, meninos e meninas deste país que um dia ... um dia seremos grandes. Deo Gratias!