segunda-feira, 22 de março de 2004

... mais le bateau s'en va

Lá no alto contempla-se a planície sem fim e tudo são pedras cinzas e nada. A espingarda queima-nos, as costas ardem e o sol está a pique, aqui no barrento sem umbigo ventre deste rio. Esquisito gotejar. Leve corres pela água. O homem veio do mistério, dizes, que não se pode ir contra a natureza. Cantas Bernardim:

Dizem que havia um pastor
antre Tejo e Guadiana,
que era perdido de amor
per ua moça Joana


e há em cada instante teu essa animalidade que sempre nos desconcerta e o pudor na ilusão dum olhar prometido. Que faz sonhar. À cautela, entre dentes, dizemos:

"Conhecem-me os cavalos e a noite e os desertos
traiçoeiros e a guerra e as feridas e o papel e a pena
" [Herberto, com certeza]