sexta-feira, 7 de novembro de 2003
O SENADO DA VERGONHA E OS DRIBLES DE SEABRA DOS SANTOS
"Um pé na margem direita, outra na margem
esquerda e o terceiro no rabo dos imbecis" [J. Prevert]
Entre a romagem ao portal de S. Bento, abandonadas as aulas bafientas, e a miséria da vida quotidiana na Universidade de Coimbra, fiquemos pela excitação do seu Senado Universitário, tomado agora como altar de piedosos exercícios democráticos. Cante-se, pois, os inesquecíveis dribles de Seabra Santos perante o domesticado quórum do Senado, que a bola nunca esquece e o futebol é que educa. E anote-se este novo milagre cívico de votações à sorrelfa, pois que a paixão da educação tudo permite e a pedagogia assim o exige. E diga-se: se Coimbra é uma lição, o seu Senado é a oração sapientíssima, o compêndio do cidadão; e como redil doutoral, só pode encantar pelas liturgias nostálgicas do passado. Para que um dia vos lembreis.
Na vida admirável do estudante, "o ser mais universalmente desprezado" depois de colunista, deputado, futebolista e bloguista, a crise da universidade reside na sempre eterna poeira das propinas, um recreio de grande excitação. Incapaz de propor algo de perfeitamente noviciado, a actividade radical do estudante universitário assenta nesse moinho de vento do "não pagamos", o pronto a carpir do estudantariado. Julgando-se tanto mais livre quanto maior o simulacro das suas preces e clamores, o estudante cede às grilhetas da autoridade e "chega tarde demais a tudo".
É, pois, com admirável condescendência e uma ingenuidade enternecedora que, amortalhados entre as quatro paredes da sala de aulas, atentos e veneradores ao desfiar da cultura dos mestres, nunca ousam denunciar o enorme tédio das inenarráveis aulas dadas por cavalheiros que tem do pedagógico a noção de um discurso às mulas da parada.
Em paga dessa respeitabilidade, eis o declarado desprezo dos Seabras Santos no seu Senado e as pragas dessa eminência parda da Nação que dá pelo nome de José Manuel Fernandes. Para que um dia vos lembreis.