quinta-feira, 26 de julho de 2007


O Almocreve vai de partida

"O caminho é por aqui,
dirá quem vier depois ...
" [Joaquim Namorado]

Para satisfazer os prazeres da carne e o desvario livresco – fonte de toda a luz – vamos de partida para o outro lado da pátria. A ventura da doçura de Salvador da Bahia, o cuidado feminino desse lugar fidelíssimo, o clima poético ou abençoado, a bondade da Livraria Brandão et al, a felicidade das Irmandades ou tesouros de sabedoria, faz-nos caminhar. Há afazeres abençoados. Vamos, por isso, andar com "as mãos na água" e a "cabeça no mar". Desnecessário dizer que voltamos outro. Tal como os dias. E a paixão.

Bom dia. Bom descanço. Sois encantadores!

Vida

"Calados, mudos,
no buraco metidos,
sem coragem de nos mexermos,
de medo transidos,
sempre despertos os cinco sentidos
não cheguem lá fora os ruídos
do mastigar das migalhas
das mesas caídas;
a vida cobarde a toda a hora agradecida,
como esmola recebida ...
isto não, não é vida!"

[Joaquim Namorado, in Incomodidade]

Alegre(s) Devaneios

"Não há grandeza que baste / Quando a desgraça é tamanha!" [Joaquim Namorado]

O cansaço que o cidadão comum tem face à miséria da sua vida, o desprezo que nutre pela política caseira, a gargalhada feita aos talentos mirrados dos homens dos partidos, é um sentimento forte mas atribulado. A perda de dignidade, a descrença no futuro e o testemunho de insegurança, é um pesado luto para todos. Estamos mais mortos que vivos.

Alguns, porém, não só carecem de honra e memória, mas tudo fazem, num descaramento vil e inusitado, para não perder uma qualquer ocasião para a exaltação pífia. Sempre houve homens assim. Os dos obséquios, dos salamaleques, do discurso gratulatório. A moral bovina é nesta paróquia uma filosofia de vida. O emprego uma admirável piedade que o expediente da governação protege. No velho regime impunha-se o silêncio. Apelava-se à delação. Pagava-se emprego com favores. Nada mudou. Se até à chegada de Sócrates se observava isso sem espanto de maior, a partir daí o atrevimento e a intolerância chegam sem reservas. Mas o que há de novo em tudo isto é a mentira, a falsidade e o desprezo intelectual com que, agora os novos "feitores", nos brindam.

Com os indígenas à beira da ruína e mais preocupados com o dia-a-dia e as contas ao fim do mês do que com a vida política e os partidos; com alguma imprensa em lamúria de felicidade rosa e a opinião pública esclarecida em orgasmos pelo debate sobre estratégias e tácticas políticas (leiam-se os jornais e blogs para confirmar essa sublimação pós-modernista); com um movimento sindical inútil, velho de ideias e pantanoso (veja-se a obsequiosidade e a presteza da UGT); com um raminho de enturvados intelectuais em remedos de exortação fascizante (caso particular da desastrada Inês Pedrosa, a tal da cidadania de miséria à boa maneira salazarista) ou em vaidade de escrita (onde o arq. Saraiva tem lugar de honra); em suma, com tudo isso assim disposto, o que nos resta? Pouco, para consolação. Algum colunista sem metafísica de míope e com “espinha vertical” (que os há, admiravelmente, no jornal Público), um Vasco P. Valente para desopilar, algum Pacheco Pereira, uma mão cheia de bloguistas independentes, e pouco mais.

Por isso o opinioso protesto de Manuel Alegre (Contra o medo, liberdade) neste naufrágio de mentiras que é a vida social e política portuguesa, mesmo que tenha sido “um clássico” como o sr. Sócrates assim considera, é uma pedrada no charco. Um testemunho histórico. Vindo de onde vem, não salva almas mas faz luz. Pode-se dizer tudo do Manuel Alegre, mas não se lhe negue as virtudes próprias de um verdadeiro cidadão. Que tardam entre todos nós.

terça-feira, 24 de julho de 2007


SIBS & CGD: colisão tecnológica

"O sol levantou-se cedinho e de bom humor" [Erik Satie]

Um sujeito perde-se em distinta converseta com uma amiga, descrevendo a dissoluta governação da paróquia e a novíssima subsistência do dr. José Júdice, esquecendo que a providência da SIBS, ou melhor, a ampulheta do dr. Vítor Bento bondosamente está de vigia. O carinho com que as caixas ATMs velam pela conta bancária do indígena vexa qualquer "choque tecnológico". Na verdade, estaríamos gratos pela operação de segurança concebida pelas Caixas Multibanco e o seu sofisticado padrão tecnológico - que em impulso defensivo retira para as suas profundezas o dinheiro pedido em caso de se ter ultrapassado o tempo da operação pretendida - se a celeridade do retorno contabilístico do nosso dinheiro fosse aceitável.

Acontece que não é. O pobre do sujeito fica pelo menos 1 (um) mês, e até ver, desprovido da posse do seu pecúlio. Que, entretanto, levita contabilisticamente e tecnologicamente entre a CGD (sim! ... o estabelecimento do austero sr. Proença de Carvalho, do sr. Maldonado Gonelha e da bavardeuse Celeste Cardona) e a secreta SIBS. Inútil pedir explicações. Escusado dramatizar a coisa ou dar largas à virilidade lusa. O saldo será reposto quando tiver de ser. E, geralmente, segundo os sábios da CGD, confirmado pelos mercadores da SIBS, anda à volta de 1 (um) mês. Se tiver cabedal para curar a desdita, até pode trocar impressões pitorescas com o nosso tutor de conta bancária ou via telefone secreto com a SIBS e tudo lhe será indiferente. Mas se estiver laboriosamente à canga do douto Governo, decerto descobrirá ali a gula virulenta do sr. Teixeira dos Santos. Digam o que se disser!

O apetite depravado pela incomodidade, o vicioso preceito da incompetência, a afronta voluntária pela acomodação e a singular falta de respeito pelo cidadão, vencem sempre.

Cá na paróquia é sempre assim.

quarta-feira, 18 de julho de 2007


Boletim Bibliográfico da Livraria Moreira da Costa

Saiu o Catálogo do mês de Julho da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30 – Porto). Com uma estimada e curiosa Camiliana, História da República, Monografias, Literatura e muito mais.

A não perder. Consulta on line.

Algumas referências: A Revolução Portuguesa. O 31 de Janeiro, de Jorge de Abreu, 1912 / As Prisões da Junqueira ..., por José de Sousa Amado (2ª ed.), 1882 / Homenagem a Camilo no seu Centenário (1825-1925), de António Baião, 1925 / Cem Cartas de Camilo, coord. L. Xavier Barbosa, s.d. / Questões da Actualidade, por João Bonança (2ª ed.), 1868 / Cartas de Camilo a Vieira de Castro (Anteriores às publicadas na Correspondência Epistolar), pref. Júlio Dias da Costa, 1931 / Mosteiro de Celas. Índex da Fazenda. Ms de Fr. Berbardo d'Assunpção, publicado por J. M. Teixeira de Carvalho, Coimbra, 1921 / Protesto contra a supposta filha de Camillo Castelo Branco, por Nuno Castello Branco, 1890 / Annos de Prosa, de Camillo C. Banco, 1863 / Correspondência Epistolar entre José Cardoso Vieira de Castro e Camillo Castelo Branco, 1847, II vols / Esboços de Apreciações Litterarias, de Camilo C. Branco, 1865 / Theatro Cómico. A Morgadinha de Val d'Amores entre a flauta e a viola, de Camilo C. Branco, 1871 / Vaidades Irritadas e Irritantes, de Camilo C. Branco, 1866 / Camillo Castelo Branco (Noticia da sua vida e obras), por José Cardoso Vieira de Castro, 1862 / Catalogo da Preciosa Livraria do eminente escritor Camillo Castello Branco, Lisboa, 1883 / Eleusis. Revista Mensal Ilustrada de Cultura Filosófica. Orientalismo. Religiões. Teosofia. Sciencias. Ocidentalismo [Director: Dr. João Antunes. Nº 1 (Janeiro de 1927) a nº 11 (Março 1928), 11 fascículos] / Camillo Castello Branco e as Quadrilhas Nacionaes. Cartas Inéditas (Com os três mais feios retratos de Camillo), por João Paulo Freire (Mário), 1917 / Historia da Povoa de Varzim, por Cândido Augusto Landolt, 1913 / Memorias e Trabalhos da Minha Vida, por Norton de Mattos, 1944 [IV vols, com falta do IV] / Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, Portucalense, 1944-45, VII vols / Crátilo, de Platão, 1963 / Camilliana. Descrição bibliográfica d'uma valiosa colecção do genial ... Camillo Castello Branco ..., por José dos Santos, 1916.

Almanaque Republicano – Actualização

O Almanaque Republicano ainda aqui está. Admirável de frescura, saudoso de um antiquíssimo cantar e já com ventura respeitável, continua o anúncio e a dedicação ao quadro e pedra republicana. Dado à lux por dois cavalleiros livres e devotos da Alma Lusitana & sob protecção do Arcanjo de Portugal, o Almanaque Republicano conversou desde Junho, sobre

O 75º Aniversário da morte de D. Manuel II, A. H. de Oliveira Marques (1933-2007). Mostra Documental na B. N., Alfredo Pimenta e o "Testamento Político de Mussolini", O Algarve no contexto da 2.ª Guerra Mundial, Azedo Gneco, Cartofilia Republicana, o Centenário de Camões (1880), o Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas, o Congresso das Associações Comerciais e Industriais (1914), o "Clero Maçónico" transcrito do Jornal A Luz, as Efemérides Mensais, uma foto do Corpo Expedicionário Português, a História do Regímen Republicano em Portugal (anotação), a “História é Importante”. Circular da APH, Joaquim Felizardo de Lima, a Imprensa Republicana no Distrito de Aveiro, a Imprensa Republicana no Distrito de Beja, a Imprensa Republicana no Distrito de Braga, a Imprensa Republicana no Distrito de Bragança, a Imprensa Republicana no Distrito de Coimbra (a continuar), Jornal A Luz - editado pelo Grémio Luso-Escocês, Jornal Bandeira Vermelha, Jornal O Comunista - Semanário e porta-voz oficial do PCP (1921), Jornal Revolução - diário nacionalista da tarde, a Loja Maçónica Fraternidade de Faro (1822), o Livro da Primeira Classe, Luís da Câmara Reys e a Seara Nova, o “Luto Português por Hitler” publicado no Times em 1945, o Major David Neto, o Museu da República em Aveiro, o Manifesto do Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas (1872), Nota Sobre a Imprensa Republicana até ao final da Monarquia, José Veríssimo de Almeida, a Paródia, Raul Proença - Páginas de Política (anotação), o Regicídio, a Revista Estudos do Século XX, O Sonho - Venite Ad Me. Quadro de António Baeta, as Tertúlias da Revista História, Revista Portugal na Guerra, “Salazar modesto cidadão de Coimbra” no Notícias Ilustrado.

A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!

Saúde e fraternidade.

segunda-feira, 16 de julho de 2007


Catálogo 16 da Livraria D. Pedro V

Saiu o Catálogo do mês de Julho da Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16 – Lisboa). Com peças literárias curiosas e há muito esgotadas.

Algumas referências: Situação Clara. Carta Aberta ao Cidadão Manuel d'Arriaga, por António José d'Almeida, 1907 / A Morte da Mãe, de Maria Isabel Barreno, 1970 / Directa, de Nuno Bragança, 1977 / As Maravilhas Artísticas do Mundo ou a Prodigiosa Aventura do Homem Através da Arte, de Ferreira de Castro, 1959, II vols / Jornal de Domingo. Revista Universal, Ano I, nº1 (20 de Fev 1881) ao Ano III, nº52 (30 Jan 1887). Dir. Manuel Pinheiro Chagas / Casas Pardas, de Maria Velho da Costa, 1977 / De Fora para Dentro (Portugal). Col. Antologia das Ed. Afrodite, de Ribeiro de Mello, 1973 / Exortação à Mocidade, por Carlos Malheiro Dias, 1924 / O Riso Dissonante (Poemas), por Mário Dionísio, 1950 / Ronda de África, de Henrique Galvão, Editorial Jornal de Notícias, II vols / Encyclopedia Portugueza Illustrada Dicionário Universal, publicado sob direcção de Maximiano Lemos, s.d., XI vols / Aldeias Portugueses, de Gustavo de Matos Sequeira, 1939 / Politica Nova. Ideias para a Reorganização da Nacionalidade Portugueza, de Alves da Veiga, 1911

Parabéns Lisboa

"O futuro é uma pescadinha de passado na boca" [Edgar Xavier]

A carreira regular para as honrarias & benesses da Câmara Municipal de Lisboa acabou. Os encarregados dos toques do recinto conhecem-se. Tudo gente boa e risonha. Como se sabe, os srs. Costas & Carmonas foram os vencedores, atrás dos demais putativos hóspedes. Fagueiro de emoção, a sábia dupla arremessou-nos com os seus 29 e 16 por cento de peso eleitoral, entre outras pérolas soit-disent. Entre o arvoredo do Altis, o virtuoso eng. Sócrates sorria. Sorria e gritava sempre. O pé de boi, capaz de felicidades domésticas, virá depois. O circo continua. Vai continuar. Os senhores Salgado, Júdice & Sanches, reservaram o palco. Esperem para ver.

Os buliçosos indígenas da capital lusa, entre comichosa e divertida acção de propaganda televisiva, tiveram ainda ocasião de assistir às palavras & ao choro desvalido do dr. Portas, encanto da garotada do PP. Ao que diz, os seus rústicos instintos liberais estão por um fio. Está abalado. Cansado, mesmo. Enfim, já não há cargos como antigamente.

Curiosamente, a delicada operação de cosmética eleitoral fez, pitorescamente, arribar à capital da paróquia raminhos de servos da província. O perfume do campo e a vibração da canalha foram a tratamento espiritual. Simpáticas idosas e idosos de Cabeceiras de Basto e Famalicão, sempre muito entusiasmados pela festa da União Nacional, perdão, do sr. Costa, olhavam com indescritível fagueiro de emoção a festa, a luz e o dr. Almeida Santos. Não houve bailarico, não cantou o rouxinol, mas a visita de estudo era de pasmar. À nobre comissão de festas, o nosso bem-haja.

Glória a Lisboa! Um dia será.

domingo, 15 de julho de 2007


Os saloios ... de Lisboa

"Quem não vê Lisboa, não vê coisa boa" [popular]

Dizem os atilados do regime que as eleições para a Câmara de Lisboa estão em banho de "reflexão". Como tal, não podem os putativos candidatos ao pregão eleitoral e os "parolos" nativos de Lisboa ser apoquentados na sua miséria política. A lei democrática & presuntiva civilizadora entende, na maior das exaltações nacionais, que Lisboa é o país e o "resto é paisagem". A nobre CNE e o cajado do senhor Santos Silva – o António Ferro da rosa – estão de vigilância. As ordenações da paróquia cumprem-se.

Não espanta que nessa missão pedagógico-eleitoral de reflexão pátria os jornais ditos de "referência" – curiosa nome – não dediquem uma linha, um assunto, um simples paladar ao costumeiro exorcismo da política caseira. Por uma vez, os parolos de Lisboa vão para as praias ou shoppings sem notícias do pagode. Grande dia. Excelente!

Boa noute!


Publicidade pouco ou nada enganosa

"... as palavras
que usamos
têm a idade que aparentam ...
"

[José Sebag]

quarta-feira, 11 de julho de 2007


Nos dias de Julho ... é que se sacha!

Estamos no campo. Generosos, agasalhados e instruídos. Tudo isto é um bálsamo estranho. Uma ode à vida. Um remanso de ordem que deve ser evitado por cavalheiros incómodos e tumultuosos. Devemos confessar que o linguarejar público do ocioso sr. Jaime Silva, não faz parte dos nossos pensamentos. É só olhar à nossa volta para compreender a estrumação feita pelo fiel empregado da PAC. O arejamento & vadiagem que praticamos, não esquece o lamento íntimo do indígena local. Como poderia?

Sem causar murmúrios ou incómodos ao admirável mundo, descansamos, arruamos & acomodamos tudo e todos. Obrigações admiráveis as nossas: sachamos, podamos e abrimos pinhas. Entretanto lemos, alterados, antigos & doutos "Almanaque das Aldeias" ou o "Lunario e Prognostico Perpetuo". Santa paz!

Mais: dizem alguns profanos que se "a água correr em pedra aberta, costuma esta ter as juntas encruzadas". Nada mais sábio. Porém, nada mais imprudente. A mostra de água por aqui é pitoresca, erótica mesmo, mas o assunto carece de confirmação. Estamos confundidos, qual sagaz Vitrúvio. Este dizia, com a elegância de um provado arquitecto:"... para se conhecerem os lugares onde existe água, convém, um pouco antes de se levantar o sol, deitar-se sobre a barriga, tendo a barba apoiada sobre a terra, no sitio em que se procura a água, e observar ao mesmo tempo a campina em toda a sua extensão". É o que temos, ingenuamente, feito. E do sentencioso Vitrúvio, o trabalho nem vê-lo. O rio Teixeira desconhece a tipografia.

Como se espera, estamos com olhos encovados de tanto enxergar. E só as donzelas roliças, que têm sido a nossa cruz e nos tem consumido a alma - afinal o achamento proveitoso de Julho - nos impedem de sair deste acomodado lugar. Deo gratias!

segunda-feira, 2 de julho de 2007


Hermann Hesse [n. 2 Julho de 1877]

"Aquele que quiser viver durante muito tempo tem de servir. Todavia, aquele que quiser dominar poderosamente, não vive muito tempo"

[Hermann Hesse, in Viagem ao País da Manhã]

domingo, 1 de julho de 2007


In-Libris - Catálogo do mês de Julho 2007

Saiu o Catálogo da In-Libris (Porto) do mês de Julho. Apresenta um conjunto de peças estimadas sobre/de Agricultura, Culinária, História, Agostinho da Silva, Alexandre Cabral, André de Resende, António Osório, António Ramos Rosa, Ezra Pound, Fernando Echevarria, Fernando Lopes Graça, Fernando de Mello Moser, Fernando Pessoa, Herberto Helder, Joel Serrão, Gastão Cruz, Gomes Leal, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Ferreira Gomes, Jorge Amado, Jorge Sousa Braga, Matias Aires, Miguel Torga, Rebelo da Silva, Salette Tavares, Visconde de Vila-Maior, W. H. Harison.

A consultar on line.

sexta-feira, 29 de junho de 2007


O Estado sou eu!

O administrador da saúde indígena esmaga-nos de lições democráticas. O dr. Correia de Campos, para aliviar o espírito sentimental de funcionário zeloso de todos os paroquianos, entende sem qualquer reserva mental que ele próprio é o Estado. E com tal pensamento régio na alma, o portentoso Ministro, com obsequiosidade quixotesca, declara formalmente que todos e cada um dos seus subordinados têm que higienicamente e a bem da Nação prestar-lhe vassalagem.

Concordamos absolutamente com o "tom jocoso" com que o sr. Ministro nos brinda. E prometemos, doravante e para todo o sempre – nós, que até já entrámos, atordoados, num SAP e de lá saímos enfastiados – não mais vociferarmos durante o expediente, nunca mais grasnar sobre o misérrimo estado das instituições de saúde e, com paixão fervorosa, transportarmos na carteira de todos os dias, a foto de sua Excelência o dr. Correia de Campos. A felicidade de trazermos essa colossal figura no bolso de trás das calças é, seguramente, uma emoção inolvidável. E, se for caso disso, estamos dispostos, mesmo em horas de serviço, a encher o Terreiro do Paço, em desagravo ao sr. Ministro, como nos bons e saudosos tempos do dr. Salazar. De muita memória!

... Ainda a Educação!

São conhecidas as inenarráveis trapalhadas produzidas pelo Ministério da Educação de Maria de Lurdes Rodrigues. É penoso acompanhar toda a tragédia que se abateu sobre a educação e o ensino. Nem mesmo a turba dos fiéis seguidores da sra. Ministra (em troca de quê, resta saber) a consegue silenciar. Quando se fizer a história da educação neste período, conseguiremos ver melhor as razões porque as corporações com assento nalgumas ESE e, principalmente, no ISCTE, derrubaram abundantes lágrimas de prazer pelas espantosas medidas tomadas e as práticas exercidas. É que, para além do abraço partidário (de que muitos se afastam por vergonha pedagógica e democrática), ainda assim compreensível num país atrasado e subserviente, resta pouco para explicar a não ser a cumplicidade carreirista (ou outra) que lhe pode estar ligada.

Eis, portanto, um excelente começo de trabalho para o curioso & empenhado Miguel Abrantes, sempre tão lesto e extremoso contra as vaidosas corporações que tudo invadem. E como conhece, como poucos, o espírito elevado desse raminho de fiéis defuntos da educação e do eduquês, decerto teremos um alumiado produto de cidadania para os indígenas.

Regressemos à educação e ao seu ministério. Será fastidioso enumerar os erros, o desvario e a insensibilidade das medidas tomadas por este ministério. Desde a controversa revisão do ECD, que desorganizou - como nunca se tinha visto - o poder científico e pedagógico dos docentes; passando pela ruinosa gestão curricular (encetada pelo suspiroso e vaidoso David Justino); continuando pela inconstância das medidas a tomar face à autonomia das escolas e à sua gestão (sinal disso é a inaudita tentativa de passagem do corpo não docente para a autoridade das câmaras, ficando os docentes debaixo da supervisão do órgão de gestão ou da tutela. Não deixa de ser curioso o assumir a existência de dois poderes dirigentes paralelos na escola, o que revela que o ministério não compreende a especificidade do território e da cultura escolar); até a impressionante trapalhada dos exames, com a culpa a morrer solteira (logo neste ministério tão célere em punições aos putativos "prevaricadores", como no caso Charrua) e com a maior falta de respeito pelos alunos e encarregados de educação.

Tudo isso questiona a linha orientadora, o rigor e os métodos de trabalho do ministério. Até quando tais estratégias de implosão das escolas e do sistema educativo irão permanecer, será pura adivinhação. As corporações têm o seu ciclo de vida próprio, enquanto a estratégia político-partidária obedece ao movimento das sondagens de opinião e às diversas clientelas. Saber e conhecer as relações de poder que neste momento se perfilham nesta atmosfera conflituosa, é um exercício intelectual atractivo mas, convenhamos, não muito estimulante. Até lá, a sobrevivência da instituição escola não é de grande tranquilidade.

Uma última nota. Entre as numerosas "dissidências" face ao discurso governamental observado, que tem deixado sequelas várias no campo dos especialistas em educação registemos pela sua importância esta. O dr. José Manuel Silva é de grande seriedade e competência no debate sobre o sistema educativo e, por isso mesmo, será conveniente seguir o que nos vai dizendo.

quarta-feira, 27 de junho de 2007


E o dr. Mega Ferreira ... fica-se?

O comendador Berardo anda irritado, porém muito satisfeito. Deslumbrado pelo amor filial com que os indígenas lusos o afagam, o ex-amigo de Pieter Botha, julga até que já chegamos à antiga África do Sul. Comichoso como poucos, Joe Berardo, o génio que nasceu pobre e pobre de espírito morrera, emporcalhou em poucos minutos o bom-nome de Mega Ferreira. Que - diga-se desde já - andava a pedi-las. As ridículas companhias da área da governação com que é visto e por quem servilmente bajula lugares e tachos levam, quase sempre, a cenas deprimentes. Como é o caso. E o dr. Mega Ferreira nem precisava de se meter com gentinha dessas, para fazer o que sabe bem: escrever.

Mas, aparecer agora o putativo visionário Berardo em despautérios brejeiros, ultrapassa a mera irritação de um qualquer mortal. Joe Berardo é rico e mal agradecido. O ser portador de algum génio obscuro ou ter a inteligência de xico-esperto, não lhe permite a retórica soez com que brindou o dr. Mega Ferreira ontem aos microfones da SIC. Mega Ferreira pode ser pouco cerimonioso, pode andar espalmado entre os dedos do dr. Costa, pode mesmo ser uma bisonha figura, mas não consta que precise de tratamento psiquiátrico, como o estridente Berardo insinuou. O mesmo não se dirá do comendador, que todas as semanas cria factos políticos e sociais retumbantes, para ver e ser visto. O senhor Berardo esquece que nesse papel, o eng. Sócrates & Cia é bem melhor. Alguém - um qualquer spin doctor acofiado – o deveria esclarecer. Porque em matéria de educação e gosto, ou falta dele, sobre Berardo estamos conversados.

Nisto tudo, fora a maldade que corre, a questão é só uma: o dr. Mega Ferreira ... fica-se? Poderá ser?

Tony Blair ... acidental

Por capricho cego de um denominado Quarteto - composto pelas almas penadas do irmão americano e a autorizada ONU, mais a inexperta UE com a encostada Rússia de permeio - o sr. Tony Blair, agora "desempregado" da Downing Street, irá ser "nomeado enviado especial para o Médio Oriente, com uma missão centrada na reforma económica e política palestiniana”. Sabe-se bem como em política do Médio Oriente, o companheiro Tony sabe enfiar bem o pescoço na trela daqueles indígenas. O Iraque, o prova. Fica, deste modo, feita a homenagem para a aposentação do criado de quarto do sr. Bush & Barroso.

Pelo que dizem, o camarada Putin reconhece as virtudes do homem. E, a União Europeia, por efeito óptico barrosista, jura pelos bons costumes civilizacionais, que o criminoso de guerra Blair será prestimoso e servil. Esperem só o olhar materno - amanhã no Público – da sra. Teresa de Sousa para imaginar o idílio que por aí virá.

Com toda esta mediação, os socialistas portugueses comovem-se. Na falta de assunto ou agenda política interna para debate, qualquer Tony os fertiliza. Ou fecunde, que dá no mesmo. Quando as flores murcham aqui na paróquia e o envasamento democrático roça a perfídia, qualquer Tony parece assombrá-los. Esquecem que, na verdade, cá pelo burgo temos, também, o nosso pequeno Médio Oriente. Inexplicavelmente ... anda clandestino. Até ver!

segunda-feira, 25 de junho de 2007


Júlio Pereira - Faro Luso [Geografias]

Max Stirner [m. 25 Junho de 1856]

"Canto porque ... sou um cantor. Mas uso-vos para isso, porque ... preciso de ouvidos" [Stirner]

"A publicação de O Único e a sua Propriedade em 1844 caiu como um relâmpago no meio da agitação de Berlim. O seu autor, Max Stirner, faz aí o anúncio de que Deus morrera, segredo que se procurava manter oculto a toda a custa e que Nietzsche repetiu estentoricamente, com bem mais sucesso. Mais grave ainda, como Sade antes dele avisa que, desaparecido o Senhor dos senhores, já não reconhece mais nenhum. A euforia que se seguira à revolução estava a ser dissipada pela seriedade do Estado, do povo ou da humanidade. Radicalizando o contrato moderno Stirner não reconhece outra soberania que não a do único, que se nega a cedê-la ou transferi-la para o Estado. Não é loucura pôr-se em pé de igualdade com o Estado ou a Humanidade, confrontá-los numa guerra de corpo a corpo?

(...) Durante muito tempo Stirner só foi lido clandestinamente. Uma espécie de maldição assinalou este livro. A censura da época bem hesitou, sem saber que fazer dele. Para o primeiro censor, que proibiu a sua publicação, era uma obra de barbárie, que atacava todos os valores, e se arrogava direitos absolutos sobre a propriedade e a vida. Criminoso, portanto. Para o Ministro que autorizou a publicação era um livro 'demasiado absurdo para ser perigoso'. Louco, portanto. Acima de tudo é um livro que sempre resistiu à leitura, que parecia exceder a todas. Quando a revolução se tornou questão de futuro opõe-lhe a revolta permanente para impedir que a que já tinha ocorrido se estabiliza e estiole. Quando o Estado liberal se procurava implantar timidamente, faz uma crítica demolidora do direito. Quando o comunismo de Marx começa a demolir o liberalismo, sustenta que a comunidade perfeita e o 'Homem' são a forma culminante da servidão. Para Stirner são tudo formas de dominação. Stirner descobre que a dialéctica hegeliana do senhor e do servo mais do que chegar ao fim, tornando todos senhores, desembocou antes numa dominação psicotrópica, em que são os próprios indivíduos que ficam obcecados, fascinados, entusiasmados, com os espectros que os possuem. Muito antes da análise das perversões por Freud, da crítica do espectáculo ou da economia do entretenimento já Stirner estava a construir as primeiras armas para o combate ..."

[José A. Bragança de Miranda, in Acerca de Stirner - sublinhados nossos]

sábado, 23 de junho de 2007


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V. Excia gostaria de dar cânticos de idolatria ao camarada eng. Sócrates, tão bem como os faz o outorgado Joe Berardo, mas vacila no sortimento do som que V. Excia quer harmonioso e preparado? V. Excia que não distingue a modulação criativa de um Augusto Santos "Chávez" do efeito de surdina de um Silva Pereira, mas gosta do ritmo e métrica do sr. Teixeira dos Santos e está enlevado pelo som de circunstância do eng. Mário Lino e a sinfonia instrumental do sr. Van Zeller? V. Excia ainda se recorda dos bons tempos em que o camarada Alberto Martins trauteava melodias anti-fascistas, mas pretende habilmente reconverter-se ao liberal-socratismo e ao novo totalitarismo, esse noviciado virtuosismo socialista tão de agrado da canalha lusa, entrando no Canto Coral do Largo do Rato? V. Excia tem erecções democráticas com instrumentos de sopro e alucinações colectivas quando ouve o Canticum Sacrum Socratis ad honarem Socialismus nominis, mas teme a técnica dodecafónica do sr. Manuel Alegre e não vocaliza com a harpa do jogral Soares-pai?

... então não hesite. Os novos acessórios para coligir reportórios à governação, rapsódias ao dr. Cavaco e serenatas intocáveis no Largo do Rato estão chegando: Columbia "a que vence e convence". Não haverá guitarreiros tão afinados como V. Excia. Compre já!