segunda-feira, 28 de julho de 2003

ENTRE MARES E MARÉS

Entre mares e marés na busca
da coluna do equilíbrio, pormenores
e gestos são o dia da casa, olhos
passando pela linha das paredes.
Farás ainda um derradeiro sorriso,
esboçarás o lance da misericórdia
primeiro, o do rigor depois.
Na casa reparas como as coisas
são as tuas coisas, no vidro
um espelho de dois lados, o teu
domínio. É uma paz que vai
do chão ao ar e volta pelas
vértebras ao lado de fora da pele.


[Helder Moura Pereira, Fenda, Coimbra, 1982]

domingo, 27 de julho de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


* Pacheco Pereira e as "Criticas que (me) levam a pensar duas vezes" - Dizia Raul Proença que "na critica nunca vai um ataque a pessoas; divergir em ideias não é sentir a raiva no coração; é sentir a independência do nosso juízo". Nada mais exacto.

E ao ler o que um leitor do Abrupto (Carlos Queirós), citado no blog, considera em torno do comentário de JPP ao "caso Berlusconi", tive a certeza que essa independência de que fala RP não pode resultar em pessoas, que de modo mais ou menos subtil, "se entricheiraram num campo, e que ficam inibidas de pensar, ou de se expressar com total liberdade" (CQ). Como me parece ser o caso de alguns escritos de JPP. Do mesmo modo que CQ, também eu parti para a leitura do artigo tentando saber como é que JPP o ia defender. E, como em escritos de outros colunistas, "mete impressão" tal exercício. Pode ser estimulante, mas não devia acontecer.

Confesso que alguns articulistas fazem parte da "nossa" família. Acompanhamos as suas intervenções, estamos atentos ao que nos sugerem, seguimos-lhes o percurso, o jogo e a vida. Todas as semanas nos jornais, rádio ou TV. Os registos afectivos são sempre assim. Por isso os lemos. Não há nenhuma dedicação especial no facto, mas tão só a constância da presença de uma revelação comunicacional que desvela a gramática da vida: aquilo sobre que falamos com o outro. Que passa sempre por essa ponte sólida entre o saber e a liberdade. Ora, à primeira vista o horizonte de JPP esbate-se contra essa assumpção, mesmo que sugira um saber contra o(s) poder(es). O caso da invasão do Iraque e seus contornos imperialistas, que conduziu a administração americana a uma situação de violação total dos direitos e garantias do ser humano, mesmo no seu próprio país, foi o culminar dessa apologética argumentativa utilitarista que JPP esgrimiu, para nosso desprazer. Nem é preciso recorrer a exemplos da política caseira para afirmar a nossa preocupação relativamente a essa inibição de falar e (des)dizer em liberdade, que nos fala CQ, e que está presente em muitos dos nossos analistas. Basta saber quem são e do que falam.

Verdade seja dita que JPP é um caso à parte. Parece-nos existir dois JPP: um que é militante do PSD e outro que fala e escreve de coisas que gosta e ama, referidas com paixão no seu blog e nalguns textos de jornais. O que nos levou a sorrir, quando no penúltimo Expresso o vimos caricaturado daquele modo (e que não resistimos a publicar), em isolamento suspicaz, perante o anedotório de outras personagens. JPP é dos nossos, mas de qual falamos quando falamos de JPP?

[A ilustração de JPP é de António Martins (com Mário Ramires), retirada do Expresso, 19/07/2003]

"Sim, meus senhores, a Imprensa portuguesa, a grande Sacerdotisa, já não acha sabor algum neste verbo: orientar, o seu verbo hoje é outro; é seguir.
Seguir! Eis a grande descoberta que eles fizeram. Seguir, ser transportado no fluxo dos acontecimentos, como um folha que redemoinha ao vento. Não sentir dentro de si nenhuma espécie de resistência espiritual, nenhum centro de gravidade, nenhuma obstipação sagrada e profunda, mas ser como a pena que obedece ao sopro quási insensível dum bebé, e aí vai na atmosfera (...) Seguir, não ser autónomo, ser massa, prazer supremo, - ir na corrente que leva os outros ...
Não pergunteis, pois, aos jornalistas de grande «circulação» o que é que eles pensam. Eles não pensam - circulam. Circulam, vão com os outros, seguem. De aqui em diante não lhes pergunteis mesmo: «Como vai o senhor?», mas: «Como segue o senhor?». Porque na maneira de seguir é que está toda a higiene do espírito. Almas sem nenhuma espécie de profundidade, que passam a vida a fazer gestos vãos, cabriolas, retórica, lindezas, jogos de palavras, - almas sem paixão, almas sem existência séria, grave, profunda, almas áridas e pobres onde as ideias, os sonhos, as paixões não criaram raízes, - almas de contrabando, de prostíbulo, de quem-mais-dá, de aluguer, eles só possuem hoje um instinto: o do desfile; um prazer: o do acompanhamento; um espectáculo em que desejam colaborar e fundir-se: o da procissão. Nem por um só momento eles poderiam vislumbrar a pureza da atmosfera que respira uma rude alma solitária. Fundem-se os sinos, tocam os sinos - e ei-los na rua, à primeira badalada, a caminhar em série, a ir com os outros, a seguir. Neste sentido, que é o mau sentido da palavra, o jornalismo português é o mais «democrático» de todos os homens - quere dizer, o mais desprezível
."

[Raul Proença, O Ultra-romantismo politico do Diário de Noticias, Seara Nova nº 265, 1/10/1931]

sábado, 26 de julho de 2003

MONTE MAIOR



Tu, que ora vees de Monte maior,
tu, que ora vees de Monte maior,
digas-me mandado de mia senhor,
digas-me mandado de mia senhor,
ca, se eu seu mandado
non vir, trist'e coitado
serei, e gran pecado
fará se non val,
ca en tal ora nado
foi que, mão-pecado!
Amo-a endoado
E nunca end'ouvi al!


[Gil Sanches, citado na monografia "Terras de Montemor o Velho", de A. Santos Conceição, Coimbra, 1944. No dizer de Santos Conceição, trata-se da "mais antiga poesia que a Montemor se refere". Gil Sanches, "bastardo do Rei Povoador e da famosa Ribeirinha", "perdeu-se de amores por D. Maria Garcia de Sousa", que vivia em Montemor (pag.45)]

sexta-feira, 25 de julho de 2003

CITEMOR

Começou o CITEMOR. Oh! Montemor e o seu castelo altaneiro, e a Figueira ali tão perto. Não ir comer ao Ramalhão é imperdoável, mas se preferir dê um salto a Ereira, terra de Afonso Duarte, ao Bernardes, castigar uma marinada de lampreia. Ou mesmo ao Carrocel, na Gala, Figueira da Foz.

Se a proposta gastronómica fica por sua conta e risco, no que diz respeito ao 25º Festival de Montemor-o-Velho já está a perder. Começou ontem e vai até ao dia 14 de Agosto. Venha daí!

ADIVINHAÇÕES


1. Quantos Nokias, Siemens, Alcatel, Motorola, tem na pasta o Senhor Procurador-Geral da Republica?
2. Para onde vai trabalhar, proximamente, Emídio Rangel?
3. Onde está Pedro Roseta?
4. Porque é que a direcção do INE têm de levar palmatoadas do Governo?
5. Quantos GNR são aprovados na disciplina de Estudos Árabes?
6. Quem disse, pela milésima vez, que "não há nenhuma derrapagem orçamental"?
7. Quantas namoradas tem no cardápio, para a próxima semana, Pedro Mexia?
8. Porque é que Celeste Cardona não é ministra da Justiça?
9. Quantos canais de TV estão a soldo de Morais Sarmento?
10. Porque foi José Manuel Fernandes, o primeiro a escrever um editorial sobre os blogues?

LIVRARIAS NO PORTO


"A tornejar do Largo dos Lóios para a Praça Nova, situava-se a antiga livraria do francês Moré. Primava pelo luxo, nessa ocasião. No entanto, seria classificada de modesta se a compararmos ao aparato das modernas. Juntava-se aí, então, a fina flor dos literatos e sábios da época. Entre esses recordo: Camilo, visconde de Vilarinho de S. Romão, Pedro de Amorim Viana, Dr. Albuquerque, que então era rapaz; Eduardo Allen, Eduardo Sequeira, Gonçalo Sampaio, Sampaio Bruno, escritor republicano e de robusto talento; Dr. Magalhães Lemos, médico e enciclopedista; Alberto de Aguiar, Rocha Peixoto, Severo, etc. Ainda outros ali assentavam pousio, como o Arnaldo Gama, Júlio Dinis, Ricardo Guimarães, visconde de Benalcamfôr, Pedro Ivo, Coelho Lousada, Ramalho Ortigão, José Gomes Monteiro.
....................
Afora a livraria Moré, ostentavam os seus mostruários no Porto outras que foram das mais produtivas do país: a Chardron, mais tarde de António Leite, livreiro arrojado, homem honesto e patriota; a de Magalhães e Monis; a da Companhia Portuguesa Editora; a da Empresa Literária e Tipográfica, de Joaquim Antunes Leitão, alma cheia de luz e de bondade e que tão martirizadamente se finou. Algumas mais de que não me lembro a firma sob que giravam. Nessas livrarias, como sucedia na Moré, cavaqueavam, dissertavam, criticavam e mordiscavam os frequentadores.
" [continua]

[Eduardo Noronha - Escritores, Poetas e Jornalistas - O Primeiro de Janeiro, 4 Set. de 1942]

quinta-feira, 24 de julho de 2003

OS LUSÍADAS NO EXPRESSO


Temos Outono camoniano n'O Expresso, com a publicação de Os Lusíadas. Luiz Vaz em fascículos, debates e exposições. Com textos dos habitués nestas andanças, o que significa um enorme bocejo literário, o Expresso não esconde que o sistema funciona. Eis a perfumaria Balsemão a trabalhar para todos nós. Salvé!

"Ah Camões! Luiz Vaz, se visses
Como os vermes pastam a tua glória!
Por um que ame apenas a tua obra
Quantos te inventam a vida passada
Para explicar versos que não sentem
Ou sentem tão à epiderme
Que precisam doutra história
Que não a das palavras que escreveste!
"

[José Blanc de Portugal, in Camões 1980, Loreto 13, nº 6, 1980]

"Ai, Luiz Vaz, retrai-te. Querem fazer de ti um departamento de líricos, uma comissão nacional de épicos, um cortejo histórico de teses académicas, o imaginativo febril de uns quantos alucinados pela porta sagrada das vitalícias chamas."

[Armando Silva Carvalho, in Atado à Grão Coluna, Loreto 13, nº 6, 1980]

quarta-feira, 23 de julho de 2003

ARRUMAÇÕES E JORNAIS - GAZETA DO MÊS (cont.)

Referimos a existência de uma revista, a Gazeta do Mês. No primeiro número (Maio de 1980), a revista apresenta textos de:

- Fernando Belo (A Nova Aventura): «... As massas é que fazem a história, era um dos nossos slogans. As massas são os nossos corpos e desejos, é por aqui que temos de recomeçar a fazer história ... É disso que fala o discurso ecológico, o discurso das mulheres, o discurso do quotidiano ...»

- João B. Serra e José Manuel Sobral (A Política e a História): «... Assistiu-se, assiste-se, ao investimento da matéria histórica por duas vulgatas como guias de leitura preferenciais. Uma vulgata marxista, que desfigura o próprio marxismo, reduzindo-o a uma mera filosofia da história, válida "urbi et orbi". E uma vulgata literária, assente em interpretações que se fundam numa suposta transparência entre o literário e o social ...»

- Sérgio Campos (A Crise do Estado Keynesiano): «... importa não interpretar as "crises" do sistema como o produto de erros de gestão, ou insuficiências de natureza técnica, que bastaria prevenir, ou bastará suprimir, para fazer reentrar a "economia" nos bons caminhos do equilíbrio (tal é a visão liberal do fenómeno), nem como acto agónico, sintoma ou expressão do fim catastrófico do sistema (concepção digamos leninista). È provável que ganhemos em claridade se explorarmos interpretativamente a "crise" actual como o propõe Attali (...): processo complexo e violento de regeneração biológica, de "desordem criadora" (na acepção destes termos em termodinâmica), graças ao qual o sistema faz pele nova, líquida, na instabilidade, os pesos mortos do seu passado e rompe caminho à implementação de condições apropriadas - sociais, económicas, politicas - a uma lógica renovada de reprodução ...»

- João Martins Pereira (O Militantismo e os Movimentos Colectivos): «...Como lançar uma ponte sólida entre o saber muito localizado mas muito profundo (...) do militante popular e o saber globalizante mas "estranho" do militante politico?...»

- José António Salvador (No tempo em que os soldados falavam a liberdade dormia nas casernas): «Que se passa hoje entre os muros dos quartéis das forças armadas portuguesas? ...»

- Jorge Almeida Fernandes (Duas ou três coisas que eu sei do "República") [Notas sobre os acontecimentos no jornal "República"]

- José António Salvador (Anos de 1970)

- Adelino Gomes (RCP em auto-gestão ...) [reflexão sobre o Rádio Clube Português]

- Nuno Teixeira Neves (Aqui não se matam cobras): «... Se os democratas portugueses só tivessem indignação para opor aos reaccionários não mereciam vencer. A indignação tende a tirar realidade aos adversários, porque é a ditadura do Valor sobre o Real. Ora a primeira regra para vencer um adversário é aceitá-lo no espaço e tempo de uma batalha. A segunda é separá-lo da sua serpente, fazendo que ela venha para nós, de aliada. Mas um grande número de pseudolutadores fazem o contrário: deixam ao adversário a serpente dele e ainda lhe atiram, por projecção, a sua própria ...»

- Teresa Joaquim e Fernando Belo (Roland Barthes) [Na morte de Barthes]:

«... Estar com quem se ama e pensar noutra coisa: é assim que tenho os melhores pensamentos, é assim que invento melhor o que é necessário ao meu trabalho. O mesmo se passa com o texto: ele produz em mim o melhor prazer quando consegue fazer-se ouvir indirectamente; quando ao lê-lo, sou levado a levantar muitas vezes a cabeça, a ouvir outra coisa. Não fico necessariamente cativado pelo texto de prazer; pode ser um acto ligeiro, complexo, ténue, quase irreflectido: movimento brusco da cabeça, como o de um pássaro que não ouve o que nós escutamos, que escuta o que nós não ouvimos ...» [R. B., in, O Prazer do Texto]

- António Sena (A Arte Photográphica) [Texto sobre a Revista "A Arte Photographica", primeiro periódico na Península Ibérica no domínio da fotografia. Anos de 1884/1885, Porto, Photographia Moderna]

- Maria Carlos Radick (Nos nomes das ruas e dos heróis Nas estatuas, as escolas e nos mitos)

- Carlos H. Silva (A propósito do "Hitler" de Syberberg): «... o esteticismo romântico de muitas cenas, inegavelmente de extraordinária beleza, não chega a produzir a impressão singular dado a multiplicidade de acrescentos, ou então, a monotonia do próprio texto utilizado. E assim, Hitler vai-se esbatendo no próprio texto e o medo de tratar deste tema transforma-se em Syberberg no prazer de continuar dizendo ...»

- Augusto Abelaira (O Burujandu) [Fragmentos do romance "O Triunfo da Morte"]

terça-feira, 22 de julho de 2003

CHAVELA VARGAS


CHAVELA VARGAS

4ª feira - People & Arts. A não perder!

EUGÉNIO DE ANDRADE

Sei onde o trigo ilumina a boca.
Invoco esta razão para me cobrir
Com o mais frágil manto do mar.

O sono é assim, permite ao corpo
Este abandono, ser no meio da terra
Essa alegria só prometida à água.

Digo que estive aqui, e vou agora
A caminho doutro sol mais branco.


20.2.79

[Eugénio de Andrade, in Loreto nº4, 1979]

VOX POPULI



* Faz-se saber ao publico que José Manuel Fernandes prepara copioso ensaio, com prefácio desse exegeta blairiano Pedro Lombas, intitulado: "BBC não foi económica com a verdade ou as 3 Fontes". Á venda na Typ. Liberal.

* Avisam da Catedral da Luz que está em curso a subscrição a favor da compra do undécimo jogador para os necessitados de Alvalade. Basta de miséria!

* Top Posts - Foi o máximo o Top Posts do Valete Frates. 6 Posts 6 estimulantes. Como cortesia aqui deixamos pistas para próximas novidades: "Onde canta o bloguista, gagueja o jornalista"; "Força! Força companheiro Bush"; "Pedimos desculpa por este post, o blog sai dentro de momentos"; "Blair & Campbell com batatinhas fritas"

* Mata-Mouros pretende conhecer inconformistas liberais para troca de impressões sobre fadas, génios e encantamentos. Traz camionetas do país profundo.

segunda-feira, 21 de julho de 2003

DA PROVÍNCIA



Esta gente parece ter alma
Porque a música está a tocar


[José Gomes Ferreira, Cabaret, 1933]

sábado, 19 de julho de 2003

SEMINARE SEMEN



Como está admirável a blogosfera. Como são tão delicadamente militantes e de muita estimação, os nossos bloguistas. Não se trocam contra reclamações. Hoje rumei por todos eles. Cá no burgo e na estranja. Fomos bem aventurados. Ficámos com um rasto luminoso na alma. Fomos felizes.
Não nos apetece dizer o que quer que seja. Hoje ficámos com a "emoção presa na garganta". Presumimos, depois, que a hora era de companhia. Fomos cavalheiros.

Diremos sobre a blogosfera, tendo em conta o que o Aviz e o Abrupto incomodamente referiram, o que noutro contexto Herberto Helder escreveu:

"Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam
de um lado para o outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos
como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído.
E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque
são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom. E então a gente ama as mitologias
delas. À parte isso o lugar era execrável.
"

[Herberto Helder, in Revista Via Latina, Coimbra 1991]

sexta-feira, 18 de julho de 2003

ARRUMAÇÕES E JORNAIS - GAZETA DO MÊS

Começamos a limpeza e resguardo dos periódicos. Por mero acaso, a coluna de hoje de JPP no Público é um registo elucidativo de alguma apetência que alguns têm por guardar jornais e revistas. Dantes era usual recortar as noticias que se queria e cola-las em folhas de papel, que depois de encadernava modestamente. Tenho alguns volumes curiosos, desde as eleições de Norton de Matos, Arlindo Vicente, Humberto Delgado, vários Primeiro de Janeiro, Diário de Lisboa e um sem fim de jornais, que comprámos em bom tempo.

No cimo do monte, salta-nos a Gazeta do Mês, de Lisboa. Só possuímos 3 números. O primeiro data de Maio de 1980 e o 3º e suponho último, de Julho do mesmo ano. O director era o João Martins Pereira, chefe da redacção Jorge Almeida Fernandes. Alguns colaboradores do 1º número: Adelino Gomes, António Lima (gráfico), António Sena, Augusto Abelaira, Eduarda Dionísio, Fátima Bonifácio, Fernando Belo, Helder Moura Pereira, João Miguel Fernandes Jorge, João Santos, Joaquim Manuel Magalhães, José António Salvador, Leonor Pinhão, Mário Botas, Pedro Saraiva, Rodrigues da Silva, Rui Oliveira, Teresa Ferrand, Teresa Joaquim, Vasco. A propriedade era de José Manuel Cortês. Custava 60$00.

Nº1 : Capa: SOS Estarreja. Primeiro Caderno e Revista.

No 1º Caderno, na critica de Livros, temos: "Ligeiras coisas:objectos principais" de A. Franco Alexandre, por Helder Moura Pereira; Joaquim Manuel Magalhães escreve sobre Augustina Bessa Luís e o livro Conversações com Dmitri e outras Fantasias; Jorge Roza de Oliveira sobre Ruy Belo (Despeço-me da terra da alegria) e, curiosamente, João Miguel Fernandes Jorge, num bonito texto, fala-nos sobre Ruy Cinatti, Lembranças de S. Tomé e Príncipe, 1972.

" ... Ruy Cinatti neste seu goso pelas terras do português não nos dá um movimento, dá-nos uma direcção: S. Tomé e Príncipe é uma direcção que não pertence a ninguém, mas é de todos; é um pouco como nos contasse o ritmo próprio do português no mundo ...

«É preciso viver entre os vivos». A frase do começo deste pequeno guia a um livro de Ruy Cinatti destrói-se com esta pratica de Montaigne. Contradizer a aventura seria contradizer a vida. Vida e aventura são estes falares das ilhas atlânticas ...

Inauguro a ilha. Vivo-a inteiro
sem receio de me estar sonhando
navegador heróico de outras eras.
Os frutos que me oferecem desalteram.
Sinto-me capaz de endoidecer
Mas de alegria só, mas deslumbrado
............... "

[continua]

BARROSO E A ECONOMIA POLÍTICA


A prestação do PM na TV foi um enorme bocejo. Já se esperava ouvir tão melodiosa discursata, alias inserida numa «petição de princípios» (que corresponde a falta de argumentação, no dizer de Perelman) por um Portugal a recuperar da tanga em que foi metido, a caminho de novo oásis paradigmático. Para época de veraneio até não foi mal pensado. Ainda olhámos de soslaio para o faccis do nosso PM quando chamado a dar explicação para a aparente contradição entre a vacina da empresarialização contra o monstro insano referido por Cavaco Silva e a desbunda da gestão da Amadora-Sintra. Ou mesmo quando foi chamado à pedra para analisar a consolidação orçamental, ou o celebre PEC e a evasão fiscal. Atento, o nosso PM não foi na cantilena Juditiana. Afinal não estávamos na fase de open mindedness. Não havia riscos a correr. Barroso não é definitivamente uma open-minded person (H. W. Johnstone, Jr.). Eis o estilhaçar da teoria da argumentação, em todo o seu esplendor. Talvez José Bragança de Miranda nos possa elucidar sobre esta costumeira pragmática do discurso televisivo do poder. Por mim, essa personagem conceptual do governante em conversas ao país é mera ficção retórica.

Mas o que é preocupante são as afirmações sobre a performance económica do governo. Compreendemos que governar, hoje em Portugal, seja "alta competição", como refere o PM, mas que sobre a economia e os economistas nos atire com lapalissadas, é constrangedor. Se o PM se refugia numa exercício escolástico baseado em que "a economia não é uma ciência exacta" ou que "não há nenhum economista que possa prever" o que pode acontecer, então não se pode entender a sua convicção na prestação da politica económica e orçamental, nem se pode defender o cunho fundamentalista da senhora ministra das Finanças em torno da problemática do deficit. E muito menos se pode falar no putativo modelo económico escolhido, porque não se sabe muito bem o que isso representa. Não era esperado que o PM esgrimisse ideias em torno da controvérsia neoclássica versus pós-keynesianos. Nem que explicasse as diferenças substantivas entre o grupo constituído por Miguel Cadilhe, Silva Lopes ou Cavaco Silva, e o outro onde fazem parte Miguel Beleza, o inefável Tavares Moreira e Ferreira Leite. Não era obrigado a tal. Mas apenas que tivesse em conta que em "alta competição governativa" não ter em conta os dados estatísticos, manipulando-os conforme as estratégias, se pode pagar caro a ousadia. É que, quem se mete com a economia ... leva!

quinta-feira, 17 de julho de 2003

AY! HAVANA ME MATA!



Uma delícia o daiquiri com Compay Segundo sugerido pelo O Cozinheiro. Eu acredito que só pode ter sido um barman (Ribalagua) do El Floridita e não um engenhocas americano, a inventar o daiquiri. No Floridita ou na Bodeguita del Medio, a mesma perdição.

Lá dizia Hemingway: "My daiquiri in the Floridita and my mojito in the Bodeguita".

quarta-feira, 16 de julho de 2003

RAUL LINO (1879-1974)



Exposição "Raul Lino, Cem anos Depois" no Museu Machado de Castro em Coimbra. Até 14 de Setembro.

O CEDRO DE GUERNICA [sobre a Guerra Civil Espanhola]



No fragor da batalha
- que era como um troar de tempestade -
a árvore da metralhadora.
..............................
Todo o Euzcádi chorou
no cedro assassinado a morta liberdade.
..............................
Mas que importa perder o cedro de Guernica,
por momentos não ter ao sol o seu lugar,
Se a luta que travais, gentes de Euzcadi, implica
Que cada «pueblo» tenha um cedro de Guernica
Para não mais tombar?!


Novembro de 1938

[Álvaro Feijó - in, A Guerra Civil de Espanha na Poesia Portuguesa. Antologia por Joaquim Namorado, Centelha, Coimbra, 1987, pag. 41]

BREVES


*O Governo acaba de mudar, pela quarta vez em menos de dois anos, a sua orientação quanto à construção de um novo aeroporto internacional na Ota. Convenhamos que já é demais para não ser demasiado rude e acrescentar que já passámos da fase da trapalhada à da palhaçada (Nicolau Santos, EXPRESSO)

* [Nicolau Santos e o melhor Governo desde 1986 - Expresso]

PRIMEIRO-MINISTRO: Aníbal Cavaco Silva.
MINISTRO DAS FINANÇAS: Miguel Cadilhe
MINISTRO DA JUSTIÇA: António Costa
MINISTRO DA INDÚSTRIA - Mira Amaral
MINISTRO DA SAÚDE - Correia de Campos
MINISTRO DA EDUCAÇÃO - David Justino
MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - Jaime Gama
MINISTRO DAS OBRAS PÚBLICAS - João Cravinho
MINISTRO DA AGRICULTURA – Nenhum
MINISTRO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA - Dias Loureiro
MINISTRO DA DEFESA - Fernando Nogueira
MINISTRO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA - Mariano Gago
MINISTRO DA CULTURA - Manuel Maria Carrilho

* Artigo de Vital Moreira no Publico, com exigência de uma simples explicação, a saber: porque razão os bestiais belicistas portugueses, travestidos de jornalistas e/ou pensadores liberais, estão calados nesta patranha que foi a Guerra do Iraque? Um bloguista que por mero escapismo é jornalista avança com a sugestão de o mesmo Vital Moreira pedir desculpas sobre as suas (do Vital) mentiras. Extraordinário, este putativo jornalista. Aprendeu depressa as metodologias da administração neoconservadora americana. Temos homem!