quinta-feira, 15 de maio de 2008


Pássaro solitário

"... As condições de um pássaro solitário são cinco:

que ele voe ao ponto mais alto;
que não anseie por companhia nem a da sua própria espécie;
que dirija o seu bico para os céus;
que não tenha cor definida;
que tenha um canto muito suave ..."

[San Juan de la Cruz]

In-Libris – Catálogo

A In-Libris (Porto) apresenta on line um Catálogo de livros estimados, entre os quais: Gravura Chimica nas Illustrações (de Marques Abreu), Equitação e Hippologia (pelo Conde de Fornos d’Algodres), uma edição especial do Cristo Cigano (de Sophia M. Breyner), peças de Al Berto, o procurado Curiosidades Estéticas de António Botto, o Quadro Elementar da Historia Natural dos Animais (Cuvier, trad. port.), os Esteiros (de Soeiro Pereira Gomes), a excelente e estimada Historia Completa das Inquisições de Itália, Espanha e Portugal; e muitos mais.

A consultar on line.

Os fumos de Bettencourt Resendes

Mário Bettencourt Resendes & Luís Delgado são dois comentadores com insígnias governamentais. Vigiam - quase sempre pela calada da noute - o corpo, o rosto e os lábios dos ministros e de outras obscenas figuras nativas. Na paróquia ninguém, com zelo, os bate. Quase sempre, o indígena, em prostração intelectual, fica confidente. E a canalha, fatigada na sábia leitura de Sousa Tavares filho, deslumbra-se. Por outro lado, os governantes domésticos – esses missionários da coisa pública - temem-nos. E o sermão político agradece, no seu estranhar.

Delgado & Resendes – por singular heresia - nunca aparecem desprevenidos. Uma declaração de Bettencourt sobre o fato ou toillette do primeiro-ministro é inatacável. Qualquer exposição do Luís sobre a almofada ou leito (político) de um ministro é a estupefacção geral. O País conhece-os, tal como os seus putativos punhos. E a descompostura, conforme a época festiva.

Delgado é da direita circunstancial. Resendes é da esquerda filológica. O Luís é frugal na palavra e no gesto. Bettencourt apresenta a melhor frase de ouvido e é mais etnográfico nos gestos. Delgado vende bagatelas. Resendes troca pedantismos. Excelentes pavões, exibem sempre aquele aspecto feliz, como se estivessem a iniciar um conselho de ministros. Não há anemia política ou indigestão fatídica, que não sejam diagnosticadas. A isto chamam: a arte de comentar.

Ontem, na SIC-N, o pastoreamento do fumo do eng. Sócrates e do casto dr. Pinho ficou para a posteridade. Disse o sr. Resendes, crente na virtude e no bom humor do sr. Sócrates, que o "passamento" tribal & governativo verificado e adaptado às notícias não está provado ser improcedente. E, pelo habitual desconhecimento legislativo dos governantes, é absolutamente normal. E gracioso, atrevemo-nos assinalar. O bentinho Resendes fez, a propósito das passas do eng. Sócrates e à maneira de introdução, o "histórico" da coisa. Aliás - pelo que nos diz – Bettencourt Resendes inicia sempre a prática da coisa, pelo histórico. Valente!

E o histórico - qual fresco cor-de-rosa - foi "bufar" que aquelas fumaradas eram absolutamente habituais em todas as viagens, quer sob patrocínio do governo quer da presidência da república. Como tal, tudo regular. Ficámos todos mais descansados. E agradecidos ao sr. Resendes. Bem-haja!

domingo, 11 de maio de 2008


Constança Cunha e Sá

"Um ministro é uma página de publicidade" [Seguèla]

Deixei de ouvir e ver a sra. Maria de Lurdes Rodrigues (MLR), por uma questão de sanidade intelectual, por imputação ideológica e em resguardo & exercício de graça sociológica. Falta-nos paciência e pudor, muito pudor. Confesso que ainda prevarico (mea culpa) nos dizeres do sr. João Freire, "anarquista" aposentado e tutor da senhora ministra MLR, dados os trabalhos domésticos em curso. Mas só por isso! Assim, as opiniões de MLR sobre o ensino, a educação ou querer saber (ou entender) dos seus novíssimos afazeres doutrinários contra a escola pública, o ensino e os professores, são matérias que tento evitar e faço desabrigar para os mais ditosos. Limito-me às redondilhas do eduquês, por evidente prudência.

Aconteceu, porém, que um pedido caridoso de visionamento da "entrevista" que MLR exercitou na TVI, com a "romântica" Constança Cunha e Sá, ingloriamente me levou a aceder ao presuntivo pastiche que esperava assistir. Sou dado a encher a alma de tédio, que querem!?

De facto, dispensaria tal perda de tempo, mas convenceram-nos da bondade e, já agora, do fôlego da entrevistadora. Aquela de "jornalista de combate", em plena ortodoxia socrática, não deixava de ser curioso. Debalde! A ex-professora (só podia) Constança, enfiada no politicamente e televisivamente correcto, não só reprimiu os seus putativos instintos (como nos confessou a nossa anfitriã) como foi uma lástima na sua energia jornalística. Não houve, nunca, "Cartas na Mesa". Simples simulacro. Nem uma "desobediência" mediática, daquelas plenas de realismo liberal, se viu. Nada!

A sra. MLR fez, portanto, uma entrevista-exibição, inútil decerto para nós, mas digna de nota. Nunca se tinha assistido à desordem de um actor político desdizer-se tão saudavelmente, em todas as matérias em debate. Não há memória de coisa assim. Para reconstrução da imagem, não foi nada mal. E até o conhecido acofiado António Ribeiro Ferreira, no seu proverbial disparate, atribuiu logo a coisa à pujante "personalidade" da ministra da educação. Personalidade é o que não tem o Ferreira. Curioso seria fazer a listagem das divas espirituais do dito A. R. Ferreira, onde – e não merece discussão – decerto se encontrará a Sra. Thatcher, a cariciosa Ferreira Leite & outras com os mesmos arrufos. Coisas para tratar no sofá do dr. Freud, sem dúvida.

E assim vai a mediacracia, a que temos direito. Mas não havia necessidade de ser assim tão trauteada. Falta-nos frescura e libertinagem. Entre muitas outra coisas.

quinta-feira, 8 de maio de 2008


Livraria Histórica e Ultramarina

A estimada Livraria Histórica e Ultramarina (em Lisboa), do profundo conhecedor do livro antigo José Maria da Costa e Silva (Almarjão), até hoje sitiada ao Bairro Alto, mudou de instalações. Mantêm, porém, o costumeiro fascínio da sua abonada livraria, a par do bom gosto, profissionalismo e da inexcedível simpatia com que sabe receber. As novas instalações ficam na Rua José Lins do Rego, nº 2B, ali para os lados da Av. Brasil ao Campo Grande.

No seu site (simples mas de fácil leitura) apresenta catálogos temáticos, em especial uma curiosa Judaica, um conjunto interessante de Alvarás sobre o Brasil, folhetos e livros de Genealogia e Heráldica, um conjunto estimado de monografias e literatura das ex-colónias, entre muitos outros assuntos.

A consultar on line.

terça-feira, 6 de maio de 2008


Les fleurs du mal

"Toi, vêtue à moitié de mousselines frêles,
Frissonnante là-bas sous la neige et les grêles,
Comme tu pleurerais tes loisirs doux et francs,
Si, le corset brutal emprisonnant tes flancs,
Il te fallait glaner ton souper dans nos fanges
Et vendre le parfum de tes charmes étranges,
L'oeil pensif, et suivant, dans nos sales brouillards,
Des cocotiers absents les fantômes épars!"

[Charles Baudelaire]

Bibliofilia

"De loin vous en flairez l'arome avant-coureur;
Vous contemplez, ravi, sa date reculée;
Vous caressez du doigt sa marge immaculée,
Et de sa rareté vous pronez la valeur.

Vous en animez la tranche a la vive couleur,
La nervure du dos, ou svelte ou protelée,
La robe au blanc satin, d'um filet dentelée,
Le noir changrin, brodé par le fer du doreur"

[François Fertiault, in Sonetos de um bibliophilo, aliás, in Neves de Antanho (1918), do Conde de Sabugosa]

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Olha o 1º Maio ... ó freguês!

Para os nossos leitores de Maio, sem insónia ou fraqueza excessiva, e para promover a cura e combater o tédio - quanto possível -, expulsando a moléstia destes dias-a-dias de suores copiosos e palestras muito chãs e dissolvidas em cavaquês, temos o prazer de apresentar

L'Internazionale – Area



P.S.: Curiosamente a parte artística deste 1º de Maio, ou poesia dos trabalhadores (os que o são), teve as trovas & o lampejo do proleta da UGT, o sr. João Proença. Sabe-se que nós, por mero acaso, não somos de excursos suaves. Mas assistir ao folclore do sr. Proença neste 1º de Maio, enquanto nas vésperas (ou nos amanhãs que cantam) lambe liberalmente as mãos do patrão Sócrates (como antes do casto Bagão Félix), ou aos seus pomposos quanto hipócritas discursos, é demais mesmo se a pregação é mais do mesmo. Como diria o povo na sua sageza: "Um burro sobre um animal / à maneira de Portugal".

Voltámos em Maio!

"Em Mayo vai, e torna com recado" [popular]

Fomos de dar pousa ao bloganço. Obtivemos licenças & outras mercês. E, entretanto, fizemos o quê? Como nos dizem em Moncorvo:"Era uma vez um cesto e uma canastra /para conto já basta". Esclarecidos!? Nós também não.

Ao que nos dizem, corre por aí que a sra Ferreira Leite, economista arruinada pelo deficit e tremenda em moléstias políticas, abandonou as xícaras e o tricot dos barões do PSD e promete, com alguma gravidade, ser primeira-ministra num dia imaginário qualquer. Cruzes, canhoto! É, por demais evidente, que a sra Ferreira Leite não é remédio para coisa nenhuma e que a sua candidatura é tão só o resultado da enfermidade que reina por aqueles lados da rua de São Caetano à Lapa. Dizem-nos que irá, abundantemente, fornecer carácter e respeitabilidade ao PSD. Que é "credível", segundo a própria e irrepreensível conforme os comentadores. Ora, pois! Fazer da candidatura de Ferreira Leite uso e porte de respeitabilidade política é coisa que não lembra a ninguém. A senhora é tão respeitabilíssima como incompetente. E os dois dotes – como se sabe – são, por junto, demais. E o povo eleitor (se ainda existe) do PSD não vive de tais predicados e desses pasmos de fama. A palavra "respeitabilidade" nunca soube ser bem pronunciada pelos lábios da clientela laranja. Estão aí Santana Lopes, Marco António, Rui Gomes da Silva, Alberto João e outros tantos, para o provarem.

Por outro lado, o eng. Sócrates, em vigilância atenta aos media e sempre em arraial eleitoral, proporciona-nos uma variante curiosa de náusea, de que não é estranho aquela maneira esquisita de falar e a modo rasteiro que tem de tentar explicar aquilo que todos há já muito entenderam: o país vai de carrinho, mesmo antes de expirar. A paróquia para Sócrates é um comício constante. Uma escola à moda da dr. Lurdes Rodrigues. Começa a ser preocupante esta intromissão (quasi salazarenta) sem jeito nos negócios dos ministros. Não há dia de tragédia pátria que não nos venha vender um putativo plano caridoso para salvar o país. Cuida o dr. Sócrates que a sua solitária fronte é uma virtude de felicidade instantânea. Dura ilusão! Já não há paciência para o ouvir e ver. Para burlesco basta-nos o meu Benfica. Ó horror!

Boa noite!

segunda-feira, 21 de abril de 2008


Leilão de Livros, Manuscritos e Obra Gráfica - 22 e 23 de Abril

A novíssima Leiloeira "Renascimento" põe à venda – amanhã dia 23 de Abril, seguindo dia 24 – um estimadíssimo rol de livros, manuscritos e obras gráficas, de invulgar e rara oportunidade para bibliómanos. Do Catálogo, elaborado por José F. Vicente e que é composto por importantíssimos peças literárias, destacam-se um conjunto apreciável de revistas literárias e obras únicas (e raras) de quase todos os maiores e mais admirados escritores e poetas lusos.

Esta invulgar colecção que vai à praça – na rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro), nº 20, pelas 21.30 horas -, pela sua riqueza literária, marca o aparecimento desta nova leiloeira e traz a felicidade dos amantes dos livros e obras raras.

A não perder. Ver Catálogo aqui.

Uma entrevista lamentável

O inefável António Ribeiro Ferreira [ARF], desocupado da lide informativa, entendeu apadrinhar uma entrevista zelosa à senhora Ministra da Educação. O sr. ARF deu à luz um conjunto de disparates, com o conúbio de Maria Lurdes Rodrigues [MLR], sobre o sistema educativo, a organização escolar e o trabalho de professores e alunos, inenarrável. A declaração de interesses final do senhor jornalista é elucidativa. Sem o mínimo estudo, instrução e percepção sobre o assunto, o sr. ARF faz mau jornalismo, como quase todos os que se metem nessa aventura de opinar sobre a educação e o ensino – e são já muitos, desde os putativos comentadores dos jornalecos indígenas àqueles que, largamente, militam fantasiosamente na blogosfera.

Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores que tricotam admiráveis prosas sobre o ensino, que os professores são meros funcionários administrativos - seres desprezáveis e de vida fácil – sem labor profissional, cultural ou intelectual. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores de testada altiva, que os cursos e diplomas que os professores (orgulhosamente) exibem e nos diversos ramos do saber, não lhes servem para nada. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem soluçar, jubilosamente, autorizadas apreciações sobre a docência, o ensino e a educação pública, sem nenhum contraditório. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores investidos de idiotas toleimas, que os professores são meros papagaios transmissores/reprodutores do conhecimento cientifico, sem discurso, exercício e acção pedagógica visível e que, na sua natureza educacional, só debitam aquilo que (presumidamente) na folclorização das faculdades aprenderam. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem, em piramidal discursata e em aleluias de ruído gratuito, passar atestados de imbecilidade a docentes, que ao longo da sua profissão têm feito inúmeros (e, por vezes, inenarráveis) investimentos culturais, formativos e pedagógicos, conforme a tutela e a administração escolar muda de humores. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os ofegantes comentadores afectados pela "inteligência" ministerial, que o debate e o conflito que reina e persiste no ensino público e na educação não vai deixar sequelas insanáveis entre docentes (ofendidos e injuriados que estão a ser) e os seus grosseiros detractores. Cuidam – caso curioso -, mas enganam-se!

Da lamentável entrevista ficam aqui, apenas, duas singelas questões, que persistem no enrodilhar da argumentação ministerial. Dado o alvoroço revelado na entrevista e pela montra das adulterações feitas no que se disse, não tínhamos, nem espaço nem paciência para mais. Sobre a funcionalização da função docente e a verticalização da sua carreira, mecanicamente e abusivamente tomada de experiências teóricas de outras profissões e a que a professora MLR denomina, com imensa graça sociológica, de novo "paradigma", falaremos um dia.

A primeira questão é simples: a senhora ministra da educação, na sua cegueira teórica, considera que via o desditoso antigo ECD, a progressão da carreira fornecia professores "mais experientes, mais graduados e melhor remunerados mas [que] isso não correspondia a nenhuma responsabilidade", mas ao mesmo tempo no seu novo e santificado ECD coloca, justamente, tais docentes como professores-titulares, ao abrigo do que prosaicamente denomina "meritocracia", num concurso duvidoso e insano. Estamos conversados!

A segunda questão é tão simples como curiosa: a senhora ministra da educação entende (não por experiência própria, como se sabe) que as "nossas escolas tinham um défice dessa responsabilização individual, dessa exigência de trabalho de equipa" e assegura que com a nova organização da administração escolar, com a nova avaliação dos docentes, tal facto é superado. Ora está provado que o que existia, de facto, nas escolas era um trabalho colectivo e em equipa. Do processo ensino-aprendizagem, com as planificações feitas em grupo curricular e validadas em sede de Conselho Pedagógico, até ao trabalho na chamada Escola Cultural e/ou informal, era visível o esforço em equipa dos docentes. Evidentemente que a professora MLR desconhece o que é um projecto educativo, a dimensão organizativa da escola e a construção de uma escola democrática. Não era do seu tempo tais modernices. E que agora pense, com o processo avaliativo (e competitivo) que defende e face ao maior caos curricular que aprontou nas Escolas, que o trabalho pedagógico em equipa sairá reforçado, só revela desconhecimento e falta de consideração pelos professores. De facto, é preciso ter atrevimento. Muito atrevimento!

segunda-feira, 14 de abril de 2008


O Tribunal Constitucional ou o limite do elogio

"Não é sisudo o juiz que tem jeito no que diz e não acerta no que faz" [popular]

O espírito de cobrança política que, em curiosos Plenários, os ilustres conselheiros do Tribunal Constitucional [T.C.] coligem, via apreciação de pedidos de inconstitucionalidade requeridos por grupos de indígenas, não granjeia boa estimação. Que o dr. Cavaco, ou o cérebro do dr. Vitorino, entendam, seguindo com os olhos a beca e o colar dos ilustríssimos conselheiros, que o Palácio Ratton não se deixa "envolver na espuma conjuntural da conflitualidade político-partidária", não só não é boa doutrina como carece de fundamento.

Conhecendo-se o Acórdão nº184/2008 do T.C., onde surge fundamentada a improcedência do pedido de inconstitucionalidade do artigo 46.º, nº3 do ECD, assim como as normas contidas nos artigos 10.º, nº8 e 15.º, do DL nº15/2007, e atendendo, em tese, que o chorado dos conselheiros do Palácio Ratton pode, se devidamente confrontado, estar conforme os preceitos que o direito autoriza, fica sempre a dúvida, por força da redacção dada e face aos vícios materiais aí existentes e não considerados, que a garantia de constitucionalidade observa o "jogo político" ou "direito de estratégias" do receituário constitucional. As curiosas, excessivas e disparatadas (re)interpretações dos doutos conselheiros sobre "meritocracia" ou "cultura de excelência e qualidade", como constam no Acórdão, parecem sair directamente da boca do sr. Sócrates, tal o meticuloso ânimo aí revelado pelos dignos pares.

Não está em causa a legitimidade (por indirecta que seja), nem (talvez) o "modus de escolha" dos conselheiros, mas tão só a ideia que o sentido normativo da Constituição está (como no caso acima referido) ausente, havendo lugar apenas às estratégias políticas dos diversos clientes.

De facto, são tão evidentes as violações dos princípios constitucionais da proporcionalidade (porque excessiva e desproporcionada face aos resultados assumidos) no que o caso diz respeito ao artigo 46º., n.º3 do ECD; é de tal forma visível a arbitrariedade de diferenciações de situações (tomadas) iguais; é tão escandaloso a omissão de averiguações (ex officio) conducentes a entender o que os doutos conselheiros ex abundanti referem como a "avaliação externa das escolas" (sem nunca compreenderem do que se trata e como será feita) , tão só único e putativo referencial para a atribuição da percentagem máxima (de Muito Bom e Excelente) a atribuir aos docentes (que curiosamente os doutos conselheiros consideram de igual formatação aquela que ocorre à avaliação de desempenho dos demais trabalhadores da Função Pública, o que não sendo verdadeiro é demasiado grave para um Tribunal); que ilustra bem a insensatez de tão ilustrados juízes.

Com tudo isto, o precioso trabalho do Tribunal Constitucional embaraça, definitivamente, a jurisprudência nativa, por muitos que sejam os encómios e os discursos ataviados do dr. Cavaco e do sábio Vitorino. Vós o sabeis!

In-Libris – Catálogo

A In-Libris (Porto) apresenta on line um curioso Catálogo de livros de "Cultura Portuguesa", entre os quais: a reprodução fac-similada do Real Teatro de S. Carlos de Lisboa (de Francisco da Fonseca Benevides), a Farsa de Raul Brandão, o estimado Guia Histórico do Viajante no Bussaco (por Augusto M. Simões de Castro), A Selva e os Emigrantes de Ferreira de Castro (ed. comemorativa do 50 anos da vida literária do escritor), a rara separata da revista Ocidente "A Doçaria de Beja na Tradição Provincial" (de Castro e Brito), a obra de B.C. Cincinato da Costa "L’Enseignement Supérieus de l’Agriculture en Portugal" (1900), a colecção de Estudos Nacionais do Instituto de Coimbra (19 vols), literatura infantil (com desenhos de Stuart Carvalhais), o livro póstumo de Augusto Gil "Rosas desta Manhã", a estimada edição da História do Regimen Republicano em Portugal, o Inquérito ao Livro em Portugal de Irene Lisboa, o curioso livro de Adão A. Nunes "Peixes da Madeira" (1953), a revista literária Renovação (1925-26), a colecção completa dos Cadernos da Antologia Sociológica de António Sérgio e as suas Cartas de Problemática.

A consultar on line.

terça-feira, 8 de abril de 2008


O embaraçado da moleza dos dias ficou

Dizem-nos que não existe mais o pregão da "mulher do mingau", ali na Bahia ao romper do sol. Que o "ofício de janelar", que as mocinhas na sua infinita ventura observavam, anda disfarçado entre a vadiagem da noite e a (des)graça da vidinha. E que, até mesmo, as Caponas, mulheres sábias da velha cidade, já não respondem ao chamamento. Enfim, parece que já ninguém gosta de esperar na própria alcova.

Andar a "ruar" (perigoso termo entre os nossos respeitáveis indígenas), já não dá em desaforo. Andar a vagabundar, sem errar nunca (lá dizia o Barão de Itararé) sempre foi a parte "mais gostosa". Mais trabalhosa.

E, meus amigos, em verdade vos digo: na Bahia o mundo ainda não ruiu de todo.

Para os nossos pacientes ledores

António Nóbrega - Truléu, Léu, Léu, Léu, Léu


Bom dia!

domingo, 30 de março de 2008


Arreganhar o dente

"O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente"

Ana Hatherly

José Miguel Júdice: o teorizador

O dr. Júdice, enlevo da rapaziada do sr. Sócrates e seu estimado caudilho, teve uma vida na mocidade (presumidamente) agitada no nacionalismo-revolucionário e continuada, após Abril 74, no requinte enternecido do MDLP. Com o retrato – quando jovem - de Primo de Rivera em décor empolgante, Júdice, que é um abismo de mistério, enfastia-se agora do mundo e reclina-se no cómodo sófa da vidinha indígena. Hoje ergue o báculo democrata, ensaia graciosas cenas com o sr. António Costa e expõe opiniões na TV (com o benevolente dr. António Barreto). O seu talento político de continuidade é de uma meticulosidade obscena. Mas a fé ideológica, essa que adquiriu outrora, mantêm-se. O gentio letrado - como se sabe - nunca se aborrece.

"... Não havendo em Portugal uma tradição nacional-revolucionária (quando muito o nacional-sindicalismo poderá ter tido, o que é discutível, alguns ingredientes esparsos) e mesmo que houvesse – dado o carácter especifico das posições nacionalistas revolucionarias – a grande tarefa actual parece ser a reformulação de uma doutrina adequada às necessidades actuais e próximas da sociedade portuguesa.
A função de um jornal político nacional-revolucionário terá de ser enquadrada neste condicionalismo (…)

Tem faltado à 'Política' [nota: revista de doutrina e acção, dirigida por Jaime Nogueira Pinto, I Série, Ano I, nº1 (Novembro 1969) à II Série, nº 24-25 (Fevereiro 1974), com a colaboração de José Valle de Figueiredo, António Pinheiro Torres, Goulart Nogueira, António Marques Bessa, Pacheco de Amorim, Miranda Barbosa, José Miguel Júdice, Cazal Ribeiro, Rodrigo Emílio, entre outros] uma inequívoca linha ideológica interna que obste à incorrecta identificação por largos sectores da opinião publica da 'Política' com a extrema-direita, reaccionária e conservadora (...)

Quanto ao trabalho teórico de crítica do capitalismo, nas suas várias formas, e do pensamento marxista, é confrangedoramente diminuto. Como consequência disto os desviacionismos teóricos (sobretudo no ataque a formas neo-capitalistas pela defesa inconsciente de outras formas capitalistas) que impedem o desempenho de um papel de 'organizador colectivo' que se impunha.
Claro que muitos destes vícios são mascarados pelos 'contrapontos', onde Jaime Nogueira Pinto exprime o melhor que a 'Política' tem (...)

De um mal sofre ou tem sofrido a actividade nacionalista: mais agarrada aos princípios do que a realidades (...)
Resulta daqui, que a maior parte dos que se confessam nacionalistas não tenha qualquer ideia sobre a resolução dos problemas concretos do dia-a-dia (...)

Se há divórcio entre o País Real e o País Legal – como há; se há divórcio entre a classe política e o país – como há – assume importância grave que essa separação exista também entre o nacionalismo e os problemas nacionais,
Mais grave ainda é que não tenha havido uma rotura – urgente – entre aqueles elementos nacionalistas que têm uma visão revolucionária da vida nacional (e internacional) e haja ainda quem ande a reboque de personalidades ou notáveis ou conservadores ou patrioteiros do seu (e nosso) capital (...)"

[José Miguel Júdice, "Política em questão", in revista Política, nº 24-25, 15 de Janeiro a 15 de Fevereiro de 1974, p. 4-6 - sublinhados nossos]

Leilão de Biblioteca - 31 Março e 1 de Abril

Sob direcção do livreiro-antiquário José Manuel Rodrigues (Livraria Antiquária do Calhariz, Largo do Calhariz, 14, Lisboa) vai à praça uma "valiosa e variada Biblioteca composta de Livros e Manuscritos, com destaque para Obras de Literatura Clássica e Modernista, Camoneana, Queirosiana, Descobrimentos, Porto, Teatro, África, Religião, Arte, Ex-Libris, etc." amanhã, dia 31 de Março e no dia seguinte (1 de Abril), na Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca, 20, Lisboa), pelas 21.00 h.

Algumas referências para o 1º dia: revista Acção Realista (1924-1926) / revista Alma Nacional (1910, 34 nms) / Obras de Almada Negreiros / Lote de livros e opúsculos de Moses Bensabat Amzalac / o raro nº único da revista Anathema (1890) / Lote de livros sobre Angola / Obras de João de Araújo Correia / Obras de J. C. Ary dos Santos / a estimada Bibliotheca Lusitana de Barbosa Machado / Obras do Padre Manoel Bernardes / a colecção completa e rara d’O Bibliophilo (1849) / a invulgar publicação Boletim da Academia de Ex-Libris (33 nms) / publicações de Bordallo Pinheiro (A Paródia e a Comedia Portugueza) / a colecção completa da revista Cadernos de Literatura (Coimbra) / uma estimada Camoneana / obras de A. Feliciano de Castilho / várias peças raras de M. Cesariny de Vasconcelos / obras procuradas e esgotadas de João Chagas / a reimpressão da colecção dos nms do Velho Liberal do Douro (1833) / a colecção completa da publicação do Congresso do Mundo Português (19 vols) / Obras de Jaime Cortesão / obras para o estudo do Direito em Portugal / Lote importante e curioso de Documentos e Memórias para a História do Porto / um conjunto de peças de Fernando Emygdio da Silva (com dedicatória do autor) / várias pastas de arquivos contendo Ex-libris / obras de Ferreira de Castro / a revista Folhas de Arte (1924) / obras conhecidas e valiosas de Henrique Galvão (et al) / a gazeta miguelista Gazeta de Lisboa (1829) / gravuras diversas / peças várias de História do Porto.

A não perder.

quarta-feira, 26 de março de 2008


Mudança - por João Paulo Guerra

"O Diário de Notícias de ontem publicou uma interessante comparação entre a legislação laboral tal como os socialistas a defendiam, enquanto oposição ao governo PSD/CDS, e aquilo que o PS agora preconiza na qualidade de governo.

O que pode concluir-se da comparação é que diversas medidas do Código Laboral de Bagão Félix, então criticadas na declaração de voto dos socialistas, são agora ultrapassadas em diversos aspectos anti-laborais pelo próprio PS.

O que é que mudou nestes cinco anos? O carácter das relações entre o capital e o trabalho, as regras dominantes da economia, a relação entre poder económico e político? O que mudou foi o PS. Aliás, vários acontecimentos da vida política centraram-se nestes últimos cinco no supremo desígnio de liquidar o PS que havia.

Em muitas questões essenciais, o actual PS e o PSD são gémeos separados à nascença. Mas há um aspecto fulcral que os distingue: o PS tem mais facilidade em fazer a vida negra ao mundo do trabalho que a direita propriamente dita. Ou seja: o PS liquida direitos laborais em nome dos trabalhadores o que, por razões históricas e de registo de patente política, condiciona a contestação às suas políticas. Na oposição, o PS capitaliza a contestação às mesmíssimas políticas que, uma vez no governo, põe em prática. Esta regra teve um hiato excepcional durante a liderança de Eduardo Ferro Rodrigues, "ministro dos pobres" no governo e contestatário consequente da política laboral da direita na oposição. Arrumado politicamente Ferro Rodrigues, mais nenhum obstáculo se levantou a que o PS faça no governo igual ou pior que aquilo que critica à direita quando está na oposição. Chamem à mudança "cabala" ou outro palavrão qualquer"

[João Paulo Guerra, in Diário Económico - sublinhados nossos]

In-Libris – Mais livros do mês de Março

A In-Libris (Porto) apresenta on line, um conjunto curioso de livros, entre os quais a rara revista Athena, a edição fac-similada da Presença, o Cours d’Architecture que comprend les ordres de Vignole ..., o Almanaque do Palco e das Salas (1926), o Canto da Nossa Agonia (de Casais Monteiro), o estimado livro de B. C. Cincinnato da Costa e Luiz de Castro "Le Portugal au point de vue agricole" (1900), o Atlas de Botânica de António Xavier Pereira Coutinho, a procurada monografia "No Alto Minho. Paredes de Coura" de Narciso Alves da Cunha, poesia de Afonso Duarte, António Nobre, Ana Hatherly, José Régio, Pedro Homem de Melo (O Rapaz da Camisola Verde, 1954), António Correia de Oliveira, Luis Guedes, David Mourão Ferreira, um Guia de Turismo de Guimarães, a rara monografia "Quatro dias na Serra da Estrela" de Emídio Navarro e uma outra monografia "Serra do Gerez" de Tude Martins de Sousa.

A consultar on line.

terça-feira, 25 de março de 2008


Maria Lurdes Rodrigues

"...Maria de Lurdes Rodrigues não pode ficar à espera de receber outra vez o apoio do primeiro-ministro. Depois disto, é seu dever sair do cargo. E não é, como diz constantemente, a mais fácil das soluções. É a medida necessária para que haja soluções. A saída da ministra é, viu-se agora, uma questão de segurança nacional. É a mensagem necessária para a comunidade escolar, alunos e professores, entenderem que o relaxe, a desordem e o experimentalismo desenfreado chegaram ao fim. Que não há protecção política que os salve já da incompetência do Ministério, da DREN e de tudo o mais que nestes três anos nos trouxe à vergonhosa situação que o vídeo do YouTube mostrou ao país e ao Mundo ..."

[Mário Crespo, in Jornal Notícias, 24/03/08 (ler aqui) - via Ramiro Marques]

"... O professor hoje, em Portugal, vive com dificuldades de vida e com medo, esse terrível medo que se apoderou da quase totalidade da população portuguesa. Tenho já o tempo de vida bastante para poder ter observado, durante mais de 20 anos, a evolução duma certa corporação científica, e ter verificado nela a instalação e o alastramento desse processo de destruição progressiva do professor português. E é preciso registar que, a despeito de casos isolados de resistência heróica, esse processo de destruição tem produzido os seus efeitos.

A coisa vai mesmo mais longe – a política do medo não atingiu apenas uma determinada camada social ou profissão. Não, essa política foi a todos os sectores da vida nacional e a todos os núcleos de actividade privada e pública, procurando transformar-nos num povo aterrado, reduzido à condição deprimente de passarmos a vida a desconfiar uns dos outros. Mas o que é curioso, nesta questão, é que, ao fim e ao cabo, não se conseguiu apenas que os pequenos tenham medo uns dos outros e dos grandes, ou os indivíduos tenham medo das instituições. O próprio Estado foi vitima do seu jogo e acabou por ser tomado de medo dos cidadãos ..."

[Bento de Jesus Caraça, in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, 1978, p. 203 - via Almanaque Republicano]