quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Esta Noite ... estivemos (quase) assim!

"Antes do começo
Antes do nenúfar da origem ...
" [Ernesto Sampaio]



[descoberta feita por entre as "coléras da noite" e a "sombra dos olhos", via A.S.F.]

Ysabella ... Gracias

Boletim de Novembro da Livraria Moreira da Costa

Saiu o Boletim de Novembro da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto). Peças raras, estimadas e curiosas de/sobre Camilo, Revistas Literárias, Monografias, História, Literatura, etc. Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Diccionario Exegético que Declara a Genuína, e própria significação dos vocábulos da LINGUA PORTUGUEZA, adoptados unicamente pelos Sabios da Naçaõ ..., por Francisco Luiz Ameno, 1781 / O Aristarco Portuguez. Revista Annual de Crítica Litteraria. Coimbra, Impr. Univ. 1868 / Homenagem a Camilo no seu Centenário, de António Baião, 1925 / O Século e o Clero, de João Bonança, 1872 / Camillo Homenageado. O Escriptor da Graça de da Belleza, Famalicão, 1920 / O Mosteiro de S. Marcos, de J. M. Teixeira de Carvalho, 1922 / O Romance d'um Homem Rico, de C. C. Branco, 1861 / Cidade Nova. Rev. Coimbra, I série, nº1 (Set. 1949) à VI série, nº1, (1959) / Os Ratos da Inquisição, de António Serrão de Castro, 1883 / Iniciação à Bibliofilia, por João José Alves Dias, 1994 / Camilo e as Caturrices dos Puristas, de Eduardo José Pinheiro Domingues [João Curioso], Rio de Janeiro, 1924 / Camillo Castello Branco e Silva Pinto, ..., Lisboa, 1918 / A Astronomia Moderna e a Questão das Parallaxes Sideraes, por Henrique de Barros Gomes, 1872 / L'Illsustration Horticole. Journal special des Serres et des Jardins, ..., 1855-1869, XIII vols / Journal des Jornaux de La Comune, ..., 19 Mars au 24 Mai 1871, Paris, Garnier Frères, 1872, II vols / Dolos, Homens & Bestas, de Joaquim Madureira [Braz Burity], Porto, 1931 / Essai sur la Tactique de L'Infanterie, ..., por Gabriel Pictet, Geneve, 1761, II vols / Codigo Pharmaceutico Lusitano ou Tratado de Pahrmaconomia, ..., por Agostinho Albano da Silveira Pinto, Coimbra, Impr. Univ., 1841 / O Professor Maximiano Lemos, por Alberto Saavedra, Porto, 1923 / O Pensamento de Salazar, Ed. SNI, 1944-1966, XXX fasc. / D. Miguel I, obra anónima [António Ribeiro Saraiva] c. pref. José Agostinho Macedo, Lisboa, 1829 / Iniciação. Cadernos de Informação Cultural, de Agostinho da Silva, 1940-43, XI fasc.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O TRABALHO

 
"- Como está a sair o trabalho?

- Uma merda!, diz o escritor-que-detesta-escrever com a náusea de quem está positivamente farto da amante.

Mas não está.
"

[Alexandre O'Neill, Achegas para a compreensão do caso de o-escritor-que-detesta-escrever, in "Uma Coisa em Forma de Assim", Presença, 1985]

quinta-feira, 15 de novembro de 2007


In-Libris – Livros de Novembro 2007

Mais livros disponíveis este mês na In-Libris (Porto).

Apresenta obras estimados de literatura, monografias portuguesas, culinária, gastronomia e tabaco, revistas, apresentando curiosas peças de Al Berto, Alexandre O’Neill, Aquilino Ribeiro, Camões, Cruzeiro Seixas, Dante Alighieri, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Sena, Júlio Dantas, Leite de Vasconcelos, Luiz Pacheco, Ovídio, Rebello da Silva, Trindade Coelho, Vergílio Ferreira, Vicente Aleixandre, etc.

A consultar on line.

A comissão política reunida

"A democracia seria ideal se não tivesse sovaco; tudo! tudo, menos tal cheiro de suor honrado" [Paula Ney]

Conforme rezam alguns escribas mais afoitos, parece que hoje reuniu a Comissão Política Nacional dos amigos do sr. Sócrates. Os bravos e alegres folgazões que adornam tal comissão de festas andavam muito folgados: há três meses que não aliviavam o espírito socialista do sr. Presidente do Conselho de Ministros.

Os nativos andavam, por isso, pesarosos. Com muita razão. Nestes dias passados não se ouviu mais o riso do dr. José Lello – puro, cintilante e vicioso – o que dá sempre matéria para qualquer croniqueta proveitosa. Não voltámos a conhecer o génio venatório do sr. Vitalino Canas (até agora) e nem mesmo brotou (salvo ... seja!) qualquer invulgar suspiro da dr. Edite Estrela, evidentemente para enobrecer os indígenas filiados na agremiação. Enfim, três santos meses em que não se ouviu tartamudear nenhum "bem-haja! sr. Presidente do Conselho de Ministros".

Adivinhou-se, portanto, neste encontro festivo, a ocasião (assim consta, pelo gorjeio de Vitalino Canas) para cintilar a tremenda luz operária do sindicalista João Proença. Até mesmo se pode antever o ecoar da voz possante de Marcos Perestrello, coisa que terá encantado, decerto, os infaustos comissionistas; do mesmo modo, amanhã saberemos o efeito do ardente eco político dessa inolvidável figura que é Miranda Calha. Ou humedeceremos com a presuntiva lição oratória do ex-estudante Alberto Martins, agora a banhos no seio socrático, que não se negará à empolgada assistência.

Entretanto nas soçobradas Concelhias, sem o arrimo de outrora e convulsas de terror socrático, alguém apontará a impostura daquilo tudo. Mesmo que o dr. Vítor Ramalho se afadigue em juras públicas socializantes, sente-se e ouve-se por todo o lado vitupérios sem fim. O vernáculo regressa em força, pois o hálito da rosa anda fétido. E ninguém correu a avisar o dr. Jorge Coelho. Não há direito. Ingratos!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007


1º Boletim Bibliográfico da Livraria Antiquária do Calhariz

Saiu o 1º Boletim Bibliográfico da Livraria Antiquária do Calhariz, de José Manuel Rodrigues (Largo do Calhariz, 14, Lisboa). Peças estimadas e raras (muitas referentes ao Brasil) de História, Genealogia, Poesia, Romance, Ensaio, Monografias, um conjunto de curiosos Alvarás brasileiros do sec. XIX, revistas literárias & muito mais.

Algumas referências: Engomadeira, de J. Almada Negreiros, 1917 / Poezias de Pedro de Andrade Caminha, Lisboa, 1791 / Árvore. Folhas de Poesia, 1951-53, V vols / Adereços Endereços, de J. Carlos Ary dos Santos, 1965 / Estado Actual das Pescas em Portugal, Lisboa, IN, 1891 / O Capitalismo Moderno e as suas origens em Portugal, por Bento Carqueja, 1908 / Os Jardins ou a Arte de Aformesear as Paisagens, trad do poema de Mr. Delille por Barbosa Bocage [ed. Impr. Régia do Brasil], 1812 / Motivos de Beleza, de António Botto, 1923 / História de D. Pedro II, por Pedro Calmon, Rio de Janeiro, 1975, V vols / Os Caminheiros e Outros Contos, de J. Cardoso Pires, 1949 / Obras invulgares e raras de C. C. Branco [A Filha do Arcediago1854; Archivo Bibliographico, nº1, Jan 1895 ao nº14, Fev 1896, XIV numrs; Esboços e Apreciações Litterarias, 1865 / O Caleche, por C. C. Branco (raro), etc.] / Revista de Ex-Libris Portuguezes, dir. Castro e Solla, 1916-1927, VI vols / Alguns Mitos Maiores, de M.C. Vasconcelos, 1958 / Conversa de Rotina, de Rui Cinatti, 1973 / O Criacionismo, por Leonardo Coimbra, 1912 / Colecção de Opúsculos relativos à Historia das Navegações ..., Lisboa, Acad. Real Sciencias, 1944 e 1955 / Contraponto. Cadernos de Critica e Arte (nº1 de 2 numrs), 1950 / Critério. Revista mensal de cultura, 1975-76, VIII numrs / Tanto, de Saul Dias, 1932 / Fel, por José Duro, 1898 / O Manuscrito na garrafa, de Daniel Filipe, 1960 / Graal, rev dir. Couto Viana, 1956-57, IV numrs / Apresentação do Rosto, de Herberto Helder, Ulisseia, 1968 / Pecado, de Pedro Homem de Mello, 1942 / Alma Errante, de Eliezer kamenezky, 1932 / Erro Próprio, de A. Maria Lisboa, 1962 / Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jerry, de A. Maria Lisboa. s.d. / Litoral, rev mensal cultura, dir. Carlos Queiroz, 1944-1945, VI vols / Variedades sobre objectos relativos às Artes, Commercio e Manufacturas, por José Accursio das neves, 1814-17 / Revista Oceanos, nº1 ao nº 49 / Obras várias de Luiz Pacheco / Apenas uma Narrativa, de António Pedro, 1942 / Historia de Portugal nos sec. XVII e XVIII, por Rebello da Silva, 1860-71, V vols

sábado, 10 de novembro de 2007


Norman Mailer [1923-2007]

"Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um enorme presente" [N. Mailer]

Nascido em New Jersey nos tempos idos de 1923, Norman Mailer, ao longo da sua vida de controvérsia, de rebeldia e, ao mesmo tempo, de curiosa boémia, fez de tudo um pouco, enchendo de assombro os desarvorados indígenas americanos (e não só).

Este auto-intitulado "conservador de esquerda", engenheiro industrial, jornalista ou contador de estórias (no que dá no mesmo), tropa nada embaraçado no II G. M., estudante da Sorbonne, comentador político (do american way of life) sem pasmo mas de riso civilizacional (coisa que entretanto desapareceu na bruma do politicamente correcto), chauvinista militante e femeeiro encartado, novelista ácido, biógrafo de altos astrais, violento no trato e no corte-e-costura cavalheiresco ["Once more, words fail Norman", disse uma vez Gore Vidal, depois de ser agredido por Mailer, que lhe tinha chamado isso mesmo ... "violento"], ensaísta e romancista, bebedor sempre virtuoso, teatrólogo e escriba de roteiros fílmicos, morreu hoje, com 84 anos. Intensos, eloquentes, brutais. Como deve ser.

Até sempre Mailer!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007


Leilão de Livros e Manuscritos – dias 12,13 e 14 Novembro

Vai a leilão um conjunto de Livros e Manuscritos valiosos e muito estimados nos dias 12, 13 e 14 de Novembro (sempre pelas 21 horas) - no Amazónia Lisboa Hotel (ao Jardim das Amoreiras), em Lisboa -, organizado pelo livreiro & leiloeiro Pedro Azevedo.

O magnífico e luxuoso Catálogo publicado por Pedro Azevedo para o leilão revela um conjunto assinalável de peças raras de Bibliografia, Folhetos vários, História, Genealogia, Literatura, Revistas e Periódicos, bem como um lote de importantes Manuscritos. E, como sempre, os lotes vêm descritos no Catálogo com notas biobibliográficas preciosas, que fazem a felicidade do amador de livros.

Um leilão notável e a não perder.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007


Almanaque Republicano - Primeiro Aniversário

"Alma! Eis o que nos falta. Porque uma nação não é uma tenda, nem um orçamento uma bíblia". [Guerra Junqueiro]

Faz hoje um ano que lançámos o Almanaque Republicano. Exemplar único da Alma Republicana, na blogosfera indígena. Pouso de genuína "ascendência portucalensis". Lugar dum tempo de antiquíssima saudade, e que em boa hora retomámos em merecida ventura. Eis, passado um ano, o canto, a gesta e a demanda admirável de uma "geração sonhadora, generosa e messiânica", como aqui dissemos.

(…)

Na nossa incursão à Alma Republicana surge, por isso, um abraço humílimo, restaurado, ao antiquíssimo cantar do "espírito lusitano" que a tradição fez sorrir. Os "nossos antigos" [Antero] não morreram, mas ainda não estão. Por isso continuamos em "velada d'armas". O Édito dessa anunciação ainda é o rasto do nosso versejar. Ainda é o alento que rompe sombras, "pois não há sono no mundo" [F. Pessoa].

E por isso temos tenção de continuar. Entretanto um abraço.

in Almanaque Republicano

quinta-feira, 1 de novembro de 2007


Anúncio completamente grátis

V. Excia anda irritadiço com a sua situação financeira e os situacionistas da União Nacional, sente arrepios de frio socrático correndo na espinha quando depara na TV com a bestial figura de Jorge Coelho e vocifera em espirituosa abundância na leitura das ordenanças da Sra. Ministra da Instrução? V. Excia sente-se advertido, por amor da Europa e pela pia caridade do sr. José Miguel Júdice, com as prevaricações por si feitas ao Exmo. Senhor Presidente do Conselho de Ministros e teme pelo seu mísero lugar e dos seus, tanto como se comove com um discurso do sr. Alberto Costa? V. Excia sente um frémito de medo a invadir-lhe o escritório e a casa, pressentindo o roçar do espectro do agente do SNI, o dr. Augusto Santos "Chávez", que sobre as janelas misteriosamente voa? V. Excia, agora apático, titubeante e um pouco madraço, faz tenção de deambular em liberdade e sem tristes lembranças pela sua própria casa, sem ser incomodado pelos espias da governança e o horror de ouvir a voz e o suspiro do sr. M. Sousa Tavares?

... então não hesite. Contra olhares errantes, fugidios, insidiosos ou contra a propaganda do governo ou do DN, em sua casa ou na da vizinha, eis que chegou: "Stores Confortâble". Os únicos que dão felicidade a V. Excia e ao país. Compre já!

Temos andado ... assim!

... a cavalgar o mundo, perdidos nas distâncias e nas almas. Parecemos lobos em deserto puro. Mas não muito! Fugimos à nova noite negra política que se instalou definitivamente entre nós. Não temos nada a dizer, não temos nada a contar. Não adormecemos ainda mas também não vemos o sol. Estamos cansados de estar cansados. De nós, todo "o destino é insuportável". A canalha já pouco nos importa e as manobras de todos vós não deixam de ser um raminho de dia de defuntos. Podem ser assunto civilizador mas o relógio da vida está parado. Sempre, e continuadamente, parado. Quisemos descansar de tanto palavreado inútil, de tanta propaganda pífia, de tanta soberba. Por isso só nos ocorre esse lugar-comum quanto exacto: temos a vida e os governantes que merecemos.

Mas estamos de volta. Para o que der e vier.

Bom dia!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


João Camossa [1926-2007]

"João Carlos Camossa de Saldanha era advogado e uma figura pública de grande encantamento. De raiz "anarco-comunalista" porque gostava de ser "senhor de si mesmo", professava a dissidência espiritual ou não fosse possuído de vasta e copiosa memória cultural. Era monárquico mas dos que prezam a liberdade e a vida. Repudiou sempre aqueles que, comprometidos com o salazarismo e o fascismo, eram (são) situacionistas. E, por isso, ficou cada dia mais só, esquecido, incompreendido, maltratado ..."

[ler mais no Almanaque Republicano]

domingo, 14 de outubro de 2007


Fausto Correia

O saudoso café Trianon, sitiado à esquina da Nicolau Chanterenne na bela Coimbra, lugar consumido pelas insónias por tantos de nós, onde as impressões, as (in)confidências, os arrufos políticos ou literários, o gozo daqueles olhares que tudo prometiam antes da partida para as festividades noctívagas, a noite de Coimbra que tremula no tempo mas que teima em resistir na nossa memória, perdeu um dos seus (dos nossos) melhores amigos: Fausto Correia. Quem por lá passou nesses tempos de oiro, jamais esquecerá a figura serena, tolerante, de rara generosidade e desmedida bondade, como sempre será lembrado Fausto Correia.

O tributo e o preito de homenagem que a sua cidade, ontem, lhe prestou, dizem isso mesmo. Porque esta Coimbra estima sempre quem lhe quer bem. E o Fausto é exemplo iluminado dos melhores que a exaltaram.

Até sempre, Fausto!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007


5 de Outubro de 1910 – uma evocação

"A Pátria é um princípio de solidariedade colectiva. A Pátria é uma religião" [Sampaio Bruno]

Sob o tempo dos 97 anos passados, o dia 5 de Outubro, como outros tantos que testemunham a nossa história, converteu-se em mera jornada de lazer e esquecimento, da qual muitos, ironicamente, desconhecem a causa próxima ou o seu fausto. Percorridos os anos à "sombra das almas", de melancolia em melancolia, e consumidos os dias sem qualquer devir nacional (material, cultural ou espiritual), o dia em que os "arautos da nova ideia" saíram à rua repousa silenciosamente em antigos, quanto iluminados, estandartes que a Saudade consagrou. Um mundo, assim, não findou, mesmo que se aceite, com F. Pessoa, que "portugueses, deixaram de haver". Um mundo, assim, é intemporal. A Demanda, sabe-se, é por vezes "sombra e nevoeiro".

O Almanaque Republicano, como é mister, associa-se a esse retorno à alta glória, de sonho tão puro, onde a nossa gente levantou "o esplendor de Portugal". E muitos foram.

Nos próximos dias daremos aqui, e como temos vindo a fazer, fé disso mesmo. A narrativa republicana, paixão antiga e sacra, será sempre entre nós uma "cantiga de amigo". Que não acaba nem começa. Vive, apenas!

[via Almanaque Republicano]

terça-feira, 2 de outubro de 2007


Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos

Conforme, aqui e aqui, dissemos a preciosa Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos, organizada com o cuidado extremo de Manuel Ferreira, vai a leilão na Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto, Porto) amanhã (dia 3) e segue até ao dia 11, do corrente mês, sempre pelas 21 horas.

Alguns periódicos e outros órgãos de informação deram a devida atenção à riqueza bibliográfica da biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos. E, ao que nos sugerem, mais que um mero produto de luxo era, de facto, uma fonte e ferramenta de trabalho para o seu possuidor e outros estudiosos. O que marca, também, uma evidente diferença entre alguns dos nossos mais conhecidos bibliófilos.

Algumas referências na imprensa: Livros, jornais e revistas raríssimas de Alfredo Ribeiro dos Santos em leilão no Porto [RTP] / Louco por revistas [Luís Miguel Queirós, Público, P2, dia 2/10/2007] / Memórias inéditas. Leonardo Coimbra, um caso de arrebatamento [Ana Sofia Rosado, O Primeiro de Janeiro - notas de uma entevista ao dr. Alfredo Ribeiro dos Santos / Durante a reviravolta: uma família [continuação]

Foto: retirada do jornal Público, com a devida vénia

[em actualização]

quinta-feira, 27 de setembro de 2007


"A Revista História com fim perto" - Petição on line

"A revista 'História' está a ver o seu fim anunciado. Acaba de editar agora o seu número 100 e corre o risco de não sair mais nenhum. Este encerramento da revista "História" deve-se a um corte orçamental que apesar de mínimo para quem apoiava a revista é extramente importante para assegurar a sua existência. A revista 'História' é já uma revista de referência no panorama cultural e editorial português e um caso único qualitativo. É importante não deixar acabar mais esta revista no nosso país com um já tão pobre mercado editorial de qualidade"

Petição:"A Revista História com fim perto" - aqui on line.

[ler mais no Almanaque Republicano]

Fermosa Estrivaria

"... pelos pinotes, as absurdas e ridículas loucuras em que eles passam o seu tempo" [Cavaleiro de Oliveira, aliás Francisco Xavier de Oliveira]

O inefável editor Ricardo Costa, expert em mixordices políticas, convidou o sr. Santana Lopes ao púlpito da SIC-Notícias, ontem à noite, para falar nas eleições no PSD. Para surpresa dos espectadores, ainda a entrevista de Ana Lourenço nem ia a meio, já o emproado Ricardo Costa interrompia o seu convidado, a pretexto do rebate de José Mourinho no aeroporto de Lisboa. O insulto feito a Santana Lopes pelo editor da SIC, nem perfeito foi. Embora haja gostos para tudo, nada nos autoriza a pensar que olhar o sr. Mourinho entrar num automóvel pela calada da noite seja tão excitante quanto Ricardo Costa presume. Mas a afronta e a canalhice, por uma vez, não ficaram sem resposta. Santana Lopes – sim ele, mesmo – levantou-se e saiu. Que faça escola, é o que se deseja.

Festividades de Fátima

A Irmandade do Centro Desportivo de Fátima teve, ontem em Fátima e para a Taça de Portugal, esse milagre de inteligência de levar a equipa de futebol do sr. Pinto da Costa à marcação de grandes penalidades. E, depois, caridosamente enviou-os para o recesso das Antas, onde faz carreira escolar Jesualdo Ferreira, conhecido por "O Professor".

Ao mesmo tempo, com espírito elevado e civilizador, a Irmandade em Fátima teve ensejo de conceder luz ao sr. Duarte Gomes e fê-lo marcar um penalty (lindo) para o nosso Glorioso, ali para os lados da Reboleira. Não expulsou o prevaricador, para não estragar as festividades.

Infelizmente, não teve a nossa estimada Irmandade lisonja suficiente para fazer sair do meio das sombras o sr. Bruno Paixão, conhecido árbitro formado pelo Papa Pinto da Costa. E tal a cegueira estava possuído Bruno Paixão que o não fez ver um penalty luzente e inequívoco, do guarda-redes dos lagartos contra um jogador do grande Vitória de Guimarães. Não se deu provimento, decerto na penhorada benevolência da Irmandade, à qualidade dos três Fés: Fátima, Futebol e Fado. Mas fica adiado para o próximo sábado. Pois já dizia Horácio: bis repetita placent.

terça-feira, 25 de setembro de 2007


André Gorz: um longo diálogo

André Gorz, tal como foi referido aqui, é principalmente (re)conhecido pela atenção dada às questões relacionadas com "o trabalho", a "produtividade", "relações de trabalho" e "exclusão social", "industrialização" e "acumulação", "capitalismo”" e "novas tecnologias". Retoma, por isso mesmo, o "velho" debate sobre a "produção/reprodução de trabalho", "a teoria do valor trabalho", a questão da sua "apropriação" e a problemática dos "modelos de crescimento económico". A partir daí, é evidente na sua obra a critica à doxa marxista ["O marxismo está em crise porque há uma crise do movimento operário. Rompeu-se, ao longo dos últimos vinte anos, o fio entre desenvolvimento das forças produtivas e desenvolvimento das contradições de classe”, in “Adeus ao Proletariado", Gorz, 1987]. Nesse sentido, polemizou à esquerda, quer por entender que o "trabalho imaterial" era crucial para a análise do capitalismo moderno, quer por pensar que "o proletariado" não era já uma "classe revolucionária", nem tinha o "valor profético", que invariavelmente está presente em toda a literatura marxiana. Tal preceito, então ousado, fez virar contra si os sindicatos e toda a "esquerda clássica".

Alguns conceitos com que trabalhou versando a problemática da "economia do saber" ou "do conhecimento", resultante do mundo tecnológico e das suas "estruturas", têm hoje um lugar central no debate sobre a globalização e a "sociedade do futuro" (pelo menos nos países mais desenvolvidos). O construído das redes de comunicação e os efeitos das novas tecnologias, pelo impacto que têm no sistema económico, na organização do trabalho e no próprio trabalho, convergem necessariamente para a urgência de um outro olhar da/para a ciência económica (que Gorz referia sempre).

A putativa ilusão de perda da "centralidade do trabalho" e o "fetichismo tecnológico" e cultural nas sociedades actuais, aliado à ideia de derrota da "luta" anticapitalista, levaram a que o filósofo convergisse para o campo da ecologia política e conceptualizasse o "socialismo pós-industrial", bem à maneira da utopia marcusiana. O legado de Gorz permanece intacto. Resta esperar pelas suas profecias.

Locais: A Humanidade, a natureza e o trabalho [Carlos Lucena] / André Gorz, le philosophe et sa femme [Le Monde] / Aux noms de l'amour / Entrevista com André Gorz / La disparition d'André Gorz

André Gorz [1923-2007]

"Nous nous sommes dit que si, par impossible, nous avions une seconde vie, nous voudrions la passer ensemble" [André Gorz, in Histoire d’un amour, Setembro 2006]

André Gorz [aliás Gerard Horst] nasceu em Fevereiro de 1923, em Viena. Refugia-se na Suiça, com os pais, na II GM. Forma-se em engenharia química, em Lausanne. Parte (1949) para França onde trabalha [assinando textos no "Paris-Presse" com o pseudónimo de Michel Bosquet e mais tarde como jornalista económico no "L'Express"], estuda economia, sociologia, filosofia.

Radicado em França [naturaliza-se francês em 1954], em 1961 aparece como co-director da revista "Les Temps Moderns", de Sartre & Simone de Beauvoir. Data desse tempo a sua ligação à fenomenologia e ao existencialismo. Sai do "L'Express" em 1964 para fundar [com Jean Daniel e outros mais] a importante revista "Le Nouvel Observateur". Torna-se amigo de Herbert Marcuse [da chamada Escola de Frankfurt, de que fizeram parte Horkheimer, Adorno, Habermas], cujo pensamento (e o da Escola de Frankfurt) o influenciou. O Maio de 68 marca-o decisivamente. Nessa altura aproxima-se das teses sobre educação de Ivan Illich [do qual publica alguns livros]. Dissidências com os seus colaboradores na revista "Les Temps Moderns" [em parte pela "linha maoista" então seguida pela revista e em desacordo com o numero saído sobre o grupo radical italiano "Lotta Continua", que curiosamente teve textos e manifestos publicados em Portugal pós-1974, com algum sucesso] levam à sua demissão da direcção e saída após a morte de Sartre (1980).

Aproxima-se, entretanto, da noviciada corrente da ecologia radical [sai em Portugal, em 1978, pela Editora Vega, o seu livro "Ecologia e Liberdade" (publicado inicialmente em 1975), repositório de textos saídos 25 anos atrás, com o seu pseudónimo Michel Bosquet] e, em 1973, ingressa na revista "Le Sauvage", onde a “problemática ecológica” tem lugar central. Em 1980, após a publicação do seu livro "Adieux au prolétariat" [ver, "Adeus ao Proletariado: para além do socialismo", Rio de Janeiro, 1987], onde a reflexão sobre a perda do "valor profético" do proletariado e a crítica ao marxismo tradicional está presente, a polémica irrompe (de novo) e a CFDT, onde de algum modo estava ligado, repudia-o. Em 1983, sai também do “Le Nouvel Observateur”. E retira-se para a sua casa em Vosnon.

Nesta segunda-feira soube-se que André Gorz e sua mulher Dorine [com quem casou em 1949] se suicidaram, consumando o que Gorz no seu último livro, “Lettre à D., Histoire d´un amour”, deixava escrito:"Nous aimerions chacun ne pas survivre à la mort de l’autre. Nous nous sommes dit que si, par impossible, nous avions une seconde vie, nous voudrions la passer ensemble". O pacto ficou, para todo o sempre, selado.