sábado, 7 de outubro de 2006
Luuanda, José Luandino Vieira & a PIDE
"Quando escrevi Luuanda eu estava preso, em 1961/62. (...) A minha mulher, Linda, a quem o livro é dedicado, dactilografou e mostrou a um amigo que era jornalista no ABC, que era o jornal dos democratas liberais portugueses. O Alfredo Bobela Motta, angolano, escritor e nosso amigo era, na época, 1963, chefe de redacção. E decidiu logo que se devia avançar e fazer o livro. O livro foi então composto na tipografia do jornal. E o tipógrafo tirou logo provas que depois circularam nos musseques de Luanda. Esta foi a edição que veio para Portugal para o concurso da Sociedade Portuguesa de Escritores. Noutra edição do Luuanda é que o título está a vermelho. A edição "brasileira". Essa é uma história incrível. A indicação é que se trata de uma edição feita em Belo Horizonte, mas a realidade é que essa edição foi feita à minha revelia, por dois agentes da PIDE, em Portugal, na tipografia Pax, penso eu. Com todo aquele escândalo, que envolveu a destruição da Sociedade Portuguesa de Escritores, o livro tornou-se muito procurado. Esses dois agentes fizeram o livro, em Braga, distribuíram e ganharam um bom dinheiro com aquilo. O meu advogado quis logo meter um processo em tribunal e isso deu uma outra história incrível. Resumindo, perdi o processo, porque não se conseguiu provar nada - embora tudo fosse evidente até pelo tipo de papel era fácil identificar a tipografia - e ainda tive de pagar as custas do processo ..."
[Rita Chaves, in Agência Carta Maior]
Mário Cesariny de Vasconcelos - entrevista ao semanário Sol
"... na primeira exposição que fizemos, em 1949, resolvemos fazer uma noite dos poetas, num aposento muito engraçado, todo forrado com figuras, que era da Pathé-Baby, ali ao pé da Sé Catedral. Lemos poemas do Victor Brauner, do André Breton, do Antonin Artaud e alguns nossos. Com uma certa encenação. Estilhaçámos uma data de vidros no chão e deitamos tinta. Mas a encenação, grande ou pequena, era só para nós, porque não foi lá ninguém, nem nós queríamos que fosse. Fechámos a porta à chave. E assim continuámos. A imprensa de Lisboa não dedicou uma linha à nossa exposição, mas a do António Pedro e do então Grupo Surrealista de Lisboa causou um escarcéu desgraçado. O António Pedro tinha muitos conhecimentos, assustava muita gente, nós não assustávamos ninguém ...
Nos fizemos uma revolução. Mas acho que implodimos, não explodimos. E andámos a sempre clandestinos por aí. Clandestinos no sentido lato: fazer uma coisa num sítio e desaparecer; depois aparecer noutro e desaparecer ... Até que houve as célebres sessões na Casa do Alentejo, em que fomos dizer ao povo o que era o surrealismo. E o que era o surrealismo? Éramos nós [risos]. Lemos textos, poemas, e uma declaração chamada Afixação Proibida. A assistência gostou muito (...)"
[a não perder - in revista Tabu, jornal Sol, 7/10/2006]
sexta-feira, 6 de outubro de 2006
Em nome da rosa
Bastava assistir ao alinhamento do jornal da noite de ontem (5 de Outubro) da RTP, estação pública, para entender, definitivamente, como as produções Sócrates & Silva Pereira anestesiam bem os indígenas lusos. Qual comemoração do 5 de Outubro, qual discurso do senhor Presidente da República, qu'é qu'é isso de manifestações contra o bom governo da Nação!? Podia lá ser!? Não era, jamais existiu, nunca haverá. Os homens da rosa da RTP, punho a meia haste e lágrima ao canto do olho, consideraram o discurso do dr. Cavaco (apenas um dos mais exemplares da sua vida) uma ebulição mental do chefe de Estado e a manifestação dos professores (cambada de malandros e iletrados, a passear na avenida, como todos os dias ... já se ouve, ao longe, a voz do inenarrável Jorge Pedreira) como picaresca e indigesta para o jantar.
O obsceno daqueles curiosos jornalistas-voyers da RTP, que num devaneio intelectual capricharam em nos dar 15 minutos de abertura noticiosa sobre um caso de instabilidade emocional e com um senhor dos GOE a explicar, delicadamente nos estúdios, o que se faz contra sequestros, é inolvidável. A RTP, qual governo rosa, anda muito cediça. E provocadora. Mas será bom que tenham atenção à plateia. Há encomendas que se pagam caro ...
Tunhas ... o operário em construção
"... Consequência maior do processo diluidor que a revolução é, a anulação da falsa dualidade entre produção artística e o meio social que intimamente a origina, estabelece, à margem de si, a metáfora de uma outra realidade própria do sistema, que lhe cabe aniquilar: a separação entre a vida privada e a vida em sociedade, permanecendo, representa o prolongar da ordem capitalista.
Inverter dialecticamente a cultura dominante, conjurar o seu fim, acabar definitivamente com esta excrescência mercantilista, é a tarefa de todos aqueles, para quem o desejo da revolução é a expressão individual da revolução proletária"
[Paulo Jorge Tunhas, Dezembro 1976, Caderno Arco Iris]
A arte de escrever ao povo
O direktör do Público expõe, em editorialho último, a sua imensa dor de persistir na sociedade portuguesa (actual & letrada) aquilo que considera ser "uma perniciosa tendência para resolver discussões complexas recorrendo a simplificações grosseiras" e "à demagogia simples". Na sua prosa "Debates Complexos", tenta persuadir os leitores, através da sua costumeira technê bem ornada, que os críticos da nova política da Segurança Social (made in partido socialista no governo) ou os maldizentes da extraordinária Convenção do Beato têm a "tentação para ver o mundo a preto e branco, para os dividir em bons e maus, para traçar linhas entre puros e impuros". Eis a arte de escrever ao povo.
Não faz por menos o sofista direktör, na sua declamação impressa. Mas ressalvando, evidentemente, que José M. Fernandes anda desmemoriado, tal as rapsódias políticas onde mete o bedelho, ainda assim a sua disputa erística (que é mais consigo mesmo, que com outros) é escandalosa. Patética! Abjecta!
Porque o fórum dos críticos da putativa "derrocada" da Segurança Social, do anedotário Compromisso Portugal ou da miserável guerra do Iraque (citado, sem pudor, pelo magnifico direktör), cada um à sua maneira e com a sua própria gramática, porque ninguém é de companhia, dizem exactamente o contrário do que lhes é apodado pelo senhor direktör. No fórum dos críticos não há uma única voz, um único caminho, uma única instrução, uma única utilidade política ou militar, um único acto consumado. E, contrariamente a JMF, há todas as dúvidas, salvo umas tantas, de que não desistem: a honra, o respeito por si próprio e pelos outros, a verdade contra a embuste, a civilização contra a barbárie, o exercício de uma cidadania solidária, pela economia ao serviço do homem e não o contrário, por um mundo livre e plural. Pormenores que não devem datar o senhor direktör e seus amigos. Porque, e como dizem muito emproados, "estamos em guerra". E decerto estão. Com eles próprios. O que, obviamente, se respeita. Mas não explica, por si só, a retórica habitual e a memória presente no artigalho de José Manuel Fernandes. Ele há receituários muito sórdidos.
terça-feira, 3 de outubro de 2006
BOLETIM BIBLIOGRÁFICO 32 DE LUÍS BURNAY
Acaba de sair Boletim Bibliográfico 32 (Setembro 2006) do Livreiro-Antiquário Luís P. Burnay (Calçada do Combro 43-47, Lisboa). Apresenta livros estimados, alguns raros, de história, arte, romance, poesia, jornais e revistas, entre muitos temas.
Algumas referências: Obras de Nicolau Tolentino de Almeida (pref. de Alexandre O'Neill), Estúdios Cor, 1968 / Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (sel., pref, notas de Natália Correia, ed. dita do Rio de Janeiro sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas) / Década 13 da História da Índia, composta por António Bocarro, 1876, II vols / O Brasil Mental, de Sampaio Bruno, 1898 / O Encoberto, por Sampaio Bruno, 1904 / Cadernos de Literatura, Coimbra, 1978-1986, 25 numrs / Obras de Luís de Camões (pref. do Visconde de Juromenha), 1860-1869, VI vols / O Campeão Portuguez em Lisboa, ou o amigo do Povo e do Rei Constitucional (semanário politico liberal, editado por José Liberato Freire de Carvalho), 1822 [nº1 ao nº XXV] / Lembranças para S. Tomé e Príncipe, por Ruy Cinatti, 1972 / Claro Escuro: revista de Estudos Barrocos, 1988-1990, V numrs / Registo Genealógico de famílias que passaram à Madeira, por Luís Peter Clode, 1952 / Cântico do país emerso, de Natália Correia, ed. Contraponto, 1961 / Diana: revista de caça, 256 numrs / Dicionário da Pintura Universal, Estúdios Cor, 1973, III vols / Esboço de uma bibliografia (exaustiva bibliografia enológica e da cultura do vinho), 1945 / Onde tudo foi morrendo, de Vergílio Ferreira, 1944 / Bancarrota: exame à escrita das agências divinas, por Tomás da Fonseca, 1950 / Antropófagos, de Henrique Galvão, 1947 / A Hora: Revista-panfleto de Arte, Actualidade e questões Sociais [raríssima publicação dirigida por Ferreira de Castro, c/ a col. de Raul Brandão, João Pedro de Andrade, Eliezer Kamenezky, Eduardo Frias e Bramão Almeida), 1922, VI vols [nº1, 12 Março 1922 ao nº 6, 23 de Abril 1922) / Istoria do cativeiro dos prezos d'Estado na Torre de S. Julião da Barra de Lisboa ..., por João Baptista da Silva Lopes, 1833-34, IV vols / Bibliotheca Lusitana, por Diogo Barbosa Machado, Coimbra, 1965-66, IV vols / D. Manuel II, de Rocha Martins, II vols / Historia do Regímen Republicano em Portugal, dir. Luís de Montalvor, 1930-35, II vols / Traços do extremo oriente, por Wenceslau de Morais, 1895 / Novo Cancioneiro (imp publicação de poesia, com poemas de Mário Dionísio, João José Cachofel, Joaquim Namorado, Carlos de Oliveira, etc.), Coimbra, VII (dos 9) vols / Oceanos: revista, 1989-2002, 49 numrs / Lusitânia transformada, de Fernão d'Alvares do Oriente, 1781 / O Passatempo: jornal de instrucção e recreio para ambos os sexos, 1839, III vols / A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz, 1888 / A Criação do Mundo, de Miguel Torga, 1937-1981 (completo)
Algumas referências: Obras de Nicolau Tolentino de Almeida (pref. de Alexandre O'Neill), Estúdios Cor, 1968 / Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (sel., pref, notas de Natália Correia, ed. dita do Rio de Janeiro sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas) / Década 13 da História da Índia, composta por António Bocarro, 1876, II vols / O Brasil Mental, de Sampaio Bruno, 1898 / O Encoberto, por Sampaio Bruno, 1904 / Cadernos de Literatura, Coimbra, 1978-1986, 25 numrs / Obras de Luís de Camões (pref. do Visconde de Juromenha), 1860-1869, VI vols / O Campeão Portuguez em Lisboa, ou o amigo do Povo e do Rei Constitucional (semanário politico liberal, editado por José Liberato Freire de Carvalho), 1822 [nº1 ao nº XXV] / Lembranças para S. Tomé e Príncipe, por Ruy Cinatti, 1972 / Claro Escuro: revista de Estudos Barrocos, 1988-1990, V numrs / Registo Genealógico de famílias que passaram à Madeira, por Luís Peter Clode, 1952 / Cântico do país emerso, de Natália Correia, ed. Contraponto, 1961 / Diana: revista de caça, 256 numrs / Dicionário da Pintura Universal, Estúdios Cor, 1973, III vols / Esboço de uma bibliografia (exaustiva bibliografia enológica e da cultura do vinho), 1945 / Onde tudo foi morrendo, de Vergílio Ferreira, 1944 / Bancarrota: exame à escrita das agências divinas, por Tomás da Fonseca, 1950 / Antropófagos, de Henrique Galvão, 1947 / A Hora: Revista-panfleto de Arte, Actualidade e questões Sociais [raríssima publicação dirigida por Ferreira de Castro, c/ a col. de Raul Brandão, João Pedro de Andrade, Eliezer Kamenezky, Eduardo Frias e Bramão Almeida), 1922, VI vols [nº1, 12 Março 1922 ao nº 6, 23 de Abril 1922) / Istoria do cativeiro dos prezos d'Estado na Torre de S. Julião da Barra de Lisboa ..., por João Baptista da Silva Lopes, 1833-34, IV vols / Bibliotheca Lusitana, por Diogo Barbosa Machado, Coimbra, 1965-66, IV vols / D. Manuel II, de Rocha Martins, II vols / Historia do Regímen Republicano em Portugal, dir. Luís de Montalvor, 1930-35, II vols / Traços do extremo oriente, por Wenceslau de Morais, 1895 / Novo Cancioneiro (imp publicação de poesia, com poemas de Mário Dionísio, João José Cachofel, Joaquim Namorado, Carlos de Oliveira, etc.), Coimbra, VII (dos 9) vols / Oceanos: revista, 1989-2002, 49 numrs / Lusitânia transformada, de Fernão d'Alvares do Oriente, 1781 / O Passatempo: jornal de instrucção e recreio para ambos os sexos, 1839, III vols / A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz, 1888 / A Criação do Mundo, de Miguel Torga, 1937-1981 (completo)
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
The Tragic Treasury: Songs from a Series of Unfortunate Events
The Gothic Archies, depois do The New Despair, estão de volta no próximo dia 10 de Outubro quando sair The End, o último dos 13 volumes de A Series of Unfortunate Events (escritos do curioso Lemony Snicket, aka Daniel Handler, dos Magnetic Fields). E com eles regressa Stephin Merritt, um caso raro de libertinagem musical, inteligência & de alegria no trabalho (cof! cof!). Ele há compositores assim.
E mesmo se depois do album 69 Love Songs, Merrith não mais foi o mesmo (o "curioso numero" 69, já dizia Mota Amaral, é fatal), a coisa promete pela genialidade do homem que cultiva tantos jardins "de flores do mal" [João Lisboa].
A não perder The Tragic Treasury: Songs from a Series of Unfortunate Events. Ouça e experimente:
- Scream and Run Away
- Crows
- Walking My Gargoyle
e porque o mundo anda socrático & mui perigoso temos
The World is a Very Scary PlaceCastpost
Boa ceia!
O osso & o livro
"Quando ouço ou leio a srª. ministra da Educação lembro-me, contra-vontade, da história do estudante de Medicina que, para estudar Anatomia, arranjou um osso, e lia no livro observava no osso, observava no osso encontrava no livro, e assim seguia todo contente até que, de repente, leu no livro e não viu no osso, releu no livro e não viu no osso. Intrigado, parou, pensou e concluiu: o osso está errado!"
[José Paulo Morgado, in Cartas ao Director, Público, 27/09/2006]
Livraria Manuel dos Santos
Vila Nova de Gaia não tem unicamente, por companhia, os obséquios milagrosos de Luís Filipe Menezes, o estágio anti-mouro do senhor Pinto da Costa ou as suas indescritíveis rotundas. Nada disso. Com afecto elevado e mil paixões dá-se ao respeito com uma ilustrada livraria alfarrabista: a Manuel dos Santos. Na rua Prof. Urbano de Moura, ao C. C. Vilagaia (loja 18), a vida anda cobiçosa. As variedades, com actualizações permanentes, são livros de poesia, romances & novelas, história, arte, monografias, manuscritos, revistas muitas ... tudo para sentimentos ricos e afortunados. A visão pode ser conquistada, aqui.
A consultar muitas vezes.
Recato nos olhos
"Prazer de olhar é uma coisa, avareza de olhos outra. Qualquer semelhança entre ambas, quanto a fins e intenções, é pura coincidência.
Nos países onde impera o namoro de rua torna-se evidente que o jogo dos olhares é um género de primeira necessidade, um ritual de maior importância no estabelecimento de idílios de futuro não-platónico (...)
'Recato nos olhos', recomendavam os escritores sagrados e com muitíssima razão. Se a Mulher de Loth não tivesse caído nas tentações do olhar não teria sido transformada como foi em estátua de sal. Mas a Mulher de Loth, senhora dos confusos tempos do Génesis não conhecia os escritores sagrados pela simples razão de que os não havia ainda nessa época. No entanto tinha o dever de dar ouvidos às recomendações do Criador e menos olhos ao mundo ..."
[Aviso prévio a respeito dos olhares, in Almanaque, Dez. 1960]
sábado, 30 de setembro de 2006
Livraria Letra Livre
Na Calçada do Combro, um grupo de virtuosos ex-livreiros da Ler Devagar, estenderam a novíssima Livraria Letra Livre. Com brilho e para felicidade nossa, possuem agora um site onde abundam livros há muito esgotados, novos & usados, estimados ou malditos (conforme o olhar), de importância para o pensamento literário, social e politico contemporâneo, a par de virtuosos fundos de editoras à revelia do mainstream habitual.
A consultar, com merecida atenção.
Calçada do Combro
"Esta rua histórica que divide o Bairro Alto do Bairro da Bica, unindo o Chiado a São Bento, foi, desde o século XIX, um eixo central do coração da cidade que ligava dois bairros populares onde os livros, os jornais e a luta política e social faziam parte do quotidiano.
Mas, se a importância dos jornais, das tipografias e das organizações sindicais e sociais cresceu significativamente a partir do começo do século XX, desde o século XVIII, estes bairros de Lisboa tinham uma forte ligação ao comércio livreiro e à indústria tipográfica como demonstra a Igreja de Santa Catarina, cuja responsabilidade cabia à Confraria dos Livreiros.
Lojas Maçónicas, choças Carbonárias, jornais sindicais, republicanos e anarquistas, bem como inúmeras tipografias espalhavam-se por ruas e vielas destes dois bairros, vizinhos do Chiado, mais tradicional e burguês. As tascas e cafés da Bica e do Bairro Alto, tal como as da Rua da Misericórdia, onde funcionava o famoso Café dos Anarquistas, praticamente ao lado da editora Guimarães, uma das mais importantes da época, eram locais de encontro de intelectuais e operários envolvidos, primeiro, na luta contra a monarquia e, depois, nas lutas sociais da Primeira República. A Greve, diário operário criado em 1908, funcionou na Rua Luz Soriano e a Casa Sindical, inaugurada em 1912, no Palácio do Marquês de Pombal na Rua do Século até à sua invasão pela polícia da república. Próximo, na Rua da Barroca, teve também sua redacção A Sementeira, a principal revista libertária feita por trabalhadores no começo do século XX. Mas inúmeras outras publicações, folhas volantes e editoras, mais ou menos duradouras, e as tipografias onde eram impressas dividiam o espaço comercial dos prédios destes bairros populares.
Na Calçada do Combro nº 38-A, onde já havia tido sede, em finais do século XIX, o jornal Revolução de Setembro de Rodrigues Sampaio funcionou, a partir de 1919, no antigo Palácio dos Castro Marim, depois conhecido por Palácio do Correio Velho, a sede da Confederação Geral do Trabalho, a CGT anarco-sindicalista, e do seu jornal A Batalha a principal publicação operária e sindicalista da Primeira República. Por este palácio circulavam, juntamente com centenas de trabalhadores de diversos ofícios, intelectuais como Ferreira de Castro, Pinto Quartim, Manuel Ribeiro, Campos Lima, Emílio Costa, Jaime Brasil, Mário Domingues e tantos outros colaboradores de A Batalha e dos seus suplementos literários. Encerrada, assaltada, pilhada pelos diferentes governos republicanos e, finalmente, proibida a CGT e A Batalha tiveram de abandonar definitivamente a Calçada do Combro com a Ditadura do chamado Estado Novo.
A Calçada do Combro foi assim nas primeiras décadas do século XX a via estratégica por onde passavam as manifestações operárias que após concentração na Praça de Camões seguiam até ao Parlamento em São Bento para reclamar ou protestar.
Com a ditadura desapareceu quase por completo a actividade política e social legal ou tolerada e inúmeros jornais, tipografias, bem como grupos, sindicatos, lojas maçónicas tiveram de encerrar as suas actividades. Permanecendo ainda, principalmente no Bairro Alto, inúmeras tipografias e jornais comerciais, que foram se transferindo a partir dos anos 70 para outros locais da cidade, não deixando, no entanto, de aqui se concentrar um número relevante das pequenas tipografias, editoras e livrarias alfarrabistas de Lisboa"
[in Livraria Letra Livre]
quinta-feira, 28 de setembro de 2006
CATÁLOGO DE OUTUBRO DA IN-LIBRIS
Catálogo de Outubro da In-Libris
Acaba de sair o Catálogo do mês de Outubro da In-Libris (Porto). Bastante curioso o conjunto de peças dedicadas à vinha e ao vinho. Apresenta, ainda, livros de Régio, dois raros livros de António Botto (Ciúme e Alfama), o raro e valioso livro do Pe. Joao Bautista de Castro (Mappa de Portugal // Antigo, e Moderno //...), uma importante e rara peça sobre artes gráficas (Nova Escola para aprender a ler, escrever, e contar,..., pelo Mestre Manuel de Andrade de Figueiredo), os 6 volumes (tiragem especial) dos Discursos de Salazar, a raríssima 1ª ed. do Diccionário de Milagres de Eça de Queiroz (1900), a importante, rara e valiosa Revista de Portugal, sob direcção de Eça de Queiroz (IV vols, 1889-1892), e ainda uma estimada 1ª edição de Eça (A Relíquia), uma difícil peça de colecção surrealista (Imagem Devolvida, de Mário-Henrique Leiria, 1974), o conhecido (já raro) e curioso opúsculo de mestre Luiz Pacheco, O Caso do Sonâmbulo Chupista (ed. Contraponto), o número único da comemoração do cinquentenário da revista Presença (Coimbra, Março, 1977) e o muito raro livro de Natália Correia "O Vinho e a Lira", edição de Ribeiro de Mello (à atenção do Ricardo Jorge).
Catálogo a consultar on line.
terça-feira, 26 de setembro de 2006
SÓNIA - "s.f. nome próprio de origem eslava, de que se conhecem alguns raros exemplares em Portugal. Dostoievski fez dela uma heroína sentimental, os romances de espionagem fizeram o resto ...
Sónia como oposição à Insónia é um mito. Entre uma coisa e outra pode existir antes uma aliança perversa na base do whisky e do gira-discos em privado. Sónia é portanto a Insónia sem profamina. E é sonho sem Freud"
[in Almanaque, Maio 1961]
Bom dia ...
Quadrante, nº 1, Julho 1958 ao nº 12, de Fevereiro 1963 (??). Publicação da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, dir. Orlando Neves, ed. J. Magalães Mota
Anotações:
Textos de Álvaro Lapa (nº1 - Kafka e a saudade da terra prometida), Almeida Faria (com Almeida Fernandes & Nuno Brederode dos Santos, nº 12, Autopsia do Ensino), Álvaro Cassuto, António Pedro de Vasconcelos, António Vilela, Armando de Carvalho (?) - (nº2, nº3 - Da arte da Guerra, nº 6), Carlos Moraes, Digo Freitas do Amaral (nº 9, Sobre o casuísmo nas leis), Fernando Barata , Francisco Ferreira Gomes, Helder Costa, J. C. Passos Valente (nº 5, Laicismo e Pedagogia), J. Pires de Lima, Joaquim Mestre (nº 3 - Teoria da Alienação), Jorge Pegado Liz, Jorge Sampaio (nº 9), Jorge Santos, José Augusto Seabra (nº1, 2, 3 - Apontamentos sobre a poesia portuguesa actual , 4, 7 - Temporalidade e actualidade de Fernando Pessoa), Levi Vermelho, Luís de Andrade Pina, Mário S. Mayor Cardia, Miguel Galvão Telles, Manuel Rio de Carvalho, Orlando Neves, Rui Namorado, Rui Neves, Pedro Ramos de Almeida, Sérgio Abreu e Moita, Prof. Vieira de Almeida, Vítor Wengorovius
Artigos sobre: André Gorz, André Malraux, Bergman, Camus, Fernando Pessoa (nº 7), Mário Eloy, René Clair, Saint-John Perse, Vergílio Ferreira,
Entrevistas a Carlos Candal (nº 9), Fernanda Botelho, João Esteves da Silva, José Gomes Ferreira, Marcello Caetano (nº 9), Miguel Reale, Rubens Teixeira,
Poesia: António Gancho, António Rego Chaves, Goulart Nogueira, Jorge Fernandes, José Augusto Seabra, José Cutileiro, Fernando Pessoa, Fiame Hasse Pais Brandão, Pedro Ramos de Almeida, Rui Namorado, Vasco Graça Moura,
[digitalizado pela Hemeroteca, aqui]
segunda-feira, 25 de setembro de 2006
Albarda da semana
"Munto gost' ê cá d'andar a caval' sem albarda...
- Oh, filh', iss' és tu qu' és novo. Agor' ê cá, se m' amontass' em osso, caía logo"
Esta semana, a bolsa de escribas indígenas, comentadores & condutores de artigalhos, teve gosto em demandar admiráveis empreitadas, serviços e fornecimentos curiosos. A praça pública, evidentemente em pastagens libertas e fecundas de fim-de-semana, andou pouco sensível à apalpação das circulares dos amanuenses, apesar de entender a digestão como grave. A coisa entre a canalha anda insidiosa e o bom governo da Nação, sorri. Sorri sempre! Lá para as bandas do Beato, Palácio Palmela, na EPUL ou no Rato, agora que o Gerez está mais perto e o dr. Cavaco anda feliz nos consensos, o riso é total. Gratuito. O gentio, porém, não entende tamanho esforço por tais delírios e nota que é simples "caturro da laringe". Ou, quanto muito, humor de olhos. Aliás o mesmo que tem vitimado o eng. do Tenta, ali para os lados da Luz.
A ver vamos. Por cá, com o assomar de novos escrivães à blogosfera lusa, entre os quais registe-se a pitoresca ameaça da aparição de um gracioso discípulo paleoliberal, a diversão promete durar. Será d'arromba. Ou como diria o infatigável mineiro das letras liberais - J.M. - em genuflexão teorética estimulante, "de ruim pano, muito bem saio". Absolutamente.
Quanto à albarda da semana, pela abastança do Dito & Feito na página de referência do Sol (Sol lucet omnibus) a modos que movendo admiração pelo zelo e caridade de pensamento, vai para o benevolente José António Lima. O abraço (solar) depositado em Souto Moura foi de grande inspiração. Para o bom do Lima, um sujeito, que por acaso é Procurador-Geral da Republica, ser amador no que faz, inábil e, principalmente, não cumprir com zelo as funções que lhe foram destinadas, não significa rigorosamente nada. Pelo contrário, tal sujeito, que por acaso é (ou foi) PGR, "colocou a justiça ao serviço da país". De tal modo que Lima, vindo do sepulcro da Justiça, considera que "nunca alguns poderes até então intocáveis haviam sido confrontados pela Justiça e (helás!) tratados em pé de igualdade com os restantes cidadãos". E acompanha a sublime exaltação judicativa, com referência ao caso da pedofilia, ao glorioso Apito Dourado, ao magnânimo caso Portucale, ao saudoso caso Fátima Felgueiras & Isaltino Morais, ao deduzido caso do Envelope 9, e por aí fora. Como se sabe, os resultados estão à vista. E no pensamento suspiroso do Lima, no "campo da justiça e da investigação criminal [somos] um país mais adulto, mais democrático e mais desenvolvido". Parabéns, pois, dr. Souto Moura. Muito agradecido. Encantados, ó Lima.
Trata-se, portanto, de chorar à memória de Souto Moura. E porque a sarabanda dos muitos Limas é livre de qualquer (auto)censura, medo, lisonja, subsídio ou perdição politica & para que não nos falte imperfeição alguma, enchemos o blog de
Tom Zé - Sem Saia, Sem Cera, CensuraCastpost
Como diria o M.E.C., "não fez mel? Não faz mal! / Amanhã vendemos tainhas!"
Bom dia.
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