terça-feira, 13 de janeiro de 2004

VOX POPULI



[Dos Jornais] Causou impacto nos meios intelectuais do Correio da Manhã, novíssima Maria para taxistas e mulheres-a-dias, a antevisão do processo Casa Pia (Casa Pia, Últimos Episódios) pelo articulista Alberto Gonçalves. Consta que: um conhecido homem de leis aliviou-se em plena rua, com um sorriso nos lábios; um grupo de políticos, reunidos em local oculto, fulminou o autor com impropérios vários e ditos grosseiros; um liberal Eborense lembrou à edilidade que seja dado o nome de Avenida do Alberto-a-Dias, a uma artéria da cidade, substituindo a Rua Berlin; um popular activista Bolsista confessa que realizou avultados investimentos em acções CM; em reunião de comentaristas & Cia, foi debatido a excessiva verbosidade e a vulgaridade do texto, enquanto se ouvia um Audaces Fortuna Juvat proveniente da plateia popular, considerando-se que é caso para dizer, "não apalpes em casa de ferreiro, nem peças em botica bom mercado". Ó tempora, ó mores ... oh tempo das amoras!

[Novo Guia das Ruas de Portugal] Acaba de sair um precioso Guia (Edições Papelaria Laranja), onde se regista o local de todas as artérias das cidades portuguesas, com inclusão das alterações ultimamente feitas em vários arcos, arruamentos, azinhagas, bairros, calçadas, casais, estradas, jardins, largos, miradouros, paróquias, parques, praças, pracetas, ruas, residenciais, rotundas, sítios, travessas e vilas. Os autores agradecem penhorados ao major Valentim Loureiro as sugestões e contribuições apresentadas. Como curiosidade, registe-se as seguintes novidades: Travessa do Luís Delgado; Praça Bush; Azinhaga José Manuel Fernandes; Quinta Celeste Cardona; Residencial Tavares Moreira; Arco Ferreira Leite; Chalé Portas; Miradouro Marques Mendes; Circunvalação José Luís Arnaut; Escadinhas Bagão Félix; Mercado Dias Loureiro; Posto Morais Sarmento; Paróquia Telmo Correia; Rotunda Miguel Beleza; Vila Durão Barroso; Pátio Rebelo de Sousa; Cais Santana Lopes;... Bem Hajam!

JAMES JOYCE [1882-1941]



Morre a 13 de Janeiro de 1941

"Ele quis encontrar no mundo real a fraca imagem que sua alma, indefinidamente, contemplava. Ele não sabia onde ou como procurá-la. Mas uma premonição lhe disse que esta imagem iria encontrá-lo, independente do que fizesse. Os dois iriam se encontrar tranquilamente, como já se conhecessem, como já tivessem se encontrado antes, talvez em um dos portões ou em algum lugar secreto. Os dois estariam sozinhos, cercados pela escuridão e pelo silêncio. E em um momento de suprema ternura, ele mudaria. Se desbotaria em algo impalpável diante de seus olhos e, num breve momento, ele se transformaria. Fraqueza, timidez e inexperiência tombariam diante dele naquele momento trágico."

[J. J., in Retrato de um Artista Quando Jovem]

"(In) Gibraltar as a girl where I was a Flower of the mountain
yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used
or shall I wear a red yes
and how he kissed me under the Moorish wall
and I thought, well as well, him as another
and then I asked him with my eyes to ask again yes
and then he asked me, would I yes to say yes, my mountain flower
and first I put my arms around him, yes
and drew him down to me so he could feel my breasts all perfumed, yes
and his heart was going like mad and yes I said, yes I will, Yes." [J. J., in Ulysses]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

RUBEM BRAGA [1913-1990]



n. Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo), a 12 de Janeiro de 1913

"Braga é sempre bom, e quando não tem assunto então é ótimo. Disseram um dia do português Latino Coelho que era um estilo à procura de um assunto. Braga é o estilista cuja melhor performance ocorre sempre por escassez de assunto. Aí começa ele com o puxa-puxa, em que espreme na crônica as gotas de certa inefável poesia que é só dele. Será este o segredo de Braga: pôr nas suas crônicas o melhor da poesia que Deus lhe deu? Os outros cronistas põem também poesia nas suas crônicas, mas é o refugo, poesia barata, vulgarmente sentimental, que tanto pode estar ali como nos versos de... Bem, cala-te, boca! A boa poesia eles guardam para os seus poemas. Braga, poeta sem oficina montada e que faz poema uma vez na vida e outra na morte, descarrega os seus bálsamos e os seus venenos na crônica diária ..." [Manuel Bandeira]

Locais: Biobibliografia / Rubem Braga / Rubem Braga (1913-1990) / Textos na Folha de S. Paulo / Crónicas de Rubem Braga / Escritos Vários / Poesia / Ai de ti, Copacabana / Diário de um subversivo

sábado, 10 de janeiro de 2004

THE UNNATURAL AND THE STRANGE











"The unnatural and the strange
Have a perfume of their own –
That of human flesh, of change
Made corruption without moan;
The unnatural and the strange
Have a perfume of their own ..."

[Alexander Search (aliás F. P.), The Unnatural and The Strange, 1906]

ROMANCES POLICIAIS



"Um dos poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que ainda resta de intelectual na humanidade é a leitura de romances policiais. Entre o número áureo e reduzido das horas felizes que a vida deixa que eu passe, conto por do melhor ano aquelas em que a leitura de Conan Doyle ou de Arthur Morrison me pega na consciência ao colo.
Um volume de um destes autores, um cigarro de 45 ao pacote, a ideia de uma chávena de café - trindade cujo ser-uma é o conjugar a felicidade para mim - resume-se nisto a minha felicidade. Seria pouco para muitos, a verdade é que não pode aspirar a muito mais uma criatura com sentimentos intelectuais e estéticos no meio europeu actual"

[Fernando Pessoa, in Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação]

sexta-feira, 9 de janeiro de 2004

PROCESSO CASA PIA: A NOVA CABALA


"Uma gaiola ia à procura de um pássaro" [Kafka]

Stau Monteiro escreveu uma vez que "o espectador é por definição o homem que não sabe jogar". Nada mais exacto. Porém, hoje, no processo da Casa Pia, parece subsistir excessivos jogadores à volta da "mesa", e muito poucos espectadores.

A novíssima jogada conhecida, de admirável retórica diga-se, é de José Pacheco Pereira. O seu artigo publicado n'O Publico, curiosamente intitulado, "Anatomia de uma fuga do processo Casa Pia" mais não é que uma argumentação puramente de retórica politica ... contra a politização do processo, que configuraria motivações diversionistas e de ocultação dos crimes praticados. Em nenhum momento da análise desta nova cabala é questionado as razões técnico-jurídicas que evidenciam um constante mal estar nos registos processuais do caso, nem o papel desempenhado pelo Procurador Geral, Souto de Moura, na sua condução, defesa e praticabilidade. Apenas se faz a anatomia da cabala politica em curso, nova urdidura desviacionista, utilizando o discurso meramente político-partidário.

Afinal, o que nos confessa Pacheco Pereira é a impossibilidade de poder debater um caso concreto - Processo Casa Pia - a partir de enunciados técnico-jurídicos, da sua critica interna conceptual, a qual dado a sua especificidade, o cidadão não dominaria. Daí que o branqueamento das (não)orientações tomadas por Souto de Moura, em todo este, caso seja total. E que os jornalistas, por efeito boomerang, se arrisquem a serem tidos por perigosos delinquentes, no que resulta a sua necessária domesticação, nem que seja via reformulação da lei sobre liberdade de imprensa, como um deputado do CDS/PP no Parlamento assumiu. Ora, não é possível, aliás como muito bem Vital Moreira considera, que o papel desempenhado neste caso, e desde o seu início, por Souto de Moura seja menosprezado. Quem tal pensar está a aprontar o funeral da própria Justiça e a médio prazo a cooperar no descrédito das instituições democráticas. E sabe-se onde isso conduz. Ou não?

JOÃO CABRAL DE MELO NETO [1920-1999]















n. no Recife a 9 de Janeiro de 1920

"O esquadro disfarça o eclipse
que os homens não querem ver.
Não há música aparentemente
nos violinos fechados.
Apenas os recortes dos jornais diários
acenam para mim como o juízo final."

[Homenagem a Picasso, in Pedra do Sono]

Locais: João Cabral Melo Neto / Biografia Especial / Bio-bibliografia / idem / Obras / Ambiente Cultural e Primeiras Poesias / Morte Vida Severina / Poemas / Poesia / 6 Poemas

quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

FERNANDO PESSOA



" ... Ao homem vulgar, que queira entrar as portas do Occulto, diremos só uma cousa: não tentes! O occulto é que nos procura, não nos a elle: pois, desde a Queda, não há livre-arbitrio. Não somos nós que olhamos para a Materia: ella é que olha para nós. Collocando-se na passividade chamada mediunica podes julgar que atinges outros mundos; não fazes senão aprofundar a Illusão, que, como é contínua com o mundo, é para nós verdadeira ..."

[F.Pessoa, 53B-72 (m), in Rósea Cruz, por Teixeira da Mota, Ed. Manuel Lancastre, 1989]

PAUL VERLAINE [1844-1896]


















Morre em Paris, a 8 de Janeiro de 1896

"Sur votre jeune sein laissez rouler ma tête
Toute sonore encor de vos derniers baisers ;
Laissez-la s'apaiser de la bonne tempête,
Et que je dorme un peu puisque vous reposez
"

Locais: Paul Verlaine / Notas Biográficas / Biographie / Paul Verlaine / Biografia / Biobibliografia / Paul Verlaine (1844 - 1896) / Obras / Poemas / Carta a Pierre Dauze / Les poèmes Saturniens / Les Fêtes Galantes / Song texts / Poèmes de Paul Verlaine

"Sono escuro, enorme,
A cobrir-me a vida:
Dorme, esperança, dorme.
Tão apetecida!

Não vejo ninguém,
Já perco a memoria
Do mal e do bem ...
Ai que triste historia!

No fundo da vala,
O berço que sou
Alguém mo embala:
Caluda, calou!"

[Paul Verlaine, "Un Grand Sommeil Noir", trad. Jorge de Sena]

quarta-feira, 7 de janeiro de 2004

O PAINEL D'O PÚBLICO E A ELITE À LA ROSADO DE CARVALHO



O jornal O Público brinda-nos, cada segunda-feira, com um suplemento absolutamente extraordinário sobre economia. Esta semana, sob direcção desse inefável Rosado de Carvalho, estabeleceu um ranking das luminárias da governação com base num espantoso painel de inquiridos, aliás bem costumeiro.

Tais exegetas da coisa económica classificaram, com a proverbial certeza que guia sempre os que frequentam a quintarola do poder, positivamente (sem necessidade de ida à oral, é bom de ver) Ferreira Leite, Sevinate Pinto, Luís Filipe Pereira, Carmona Rodrigues e Bagão Félix, reprovando Celeste Cardona e Carlos Tavares. Registe-se que um inquirido do painel, em comovido esforço de amestração, atribuiu a nota máxima à senhora Ministra do défice, um brilhante 20 valores.

Outro, com menos segurança, pouco social, mas decerto com mais trabalho intelectual, classificou Bagão Félix com 19 valores. E até o desaparecido Carlos Tavares, obteve de um intelectual do painel um luminoso 17. Encantador. Curiosamente, só depois de percorrermos a listagem dos examinadores do douto painel, entendemos bem a sua capacidade avaliativa. Enfim, como diria o saudoso brasileiro Joãozinho 30, aqui se testemunha que "pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual".

INÊS DE CASTRO






















Morre em Coimbra, a 7 de Janeiro de 1355

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo o doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
..........
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
"Dos Amores de Inês", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água , e o nome Amores!"

[Camões, Os Lusíadas]

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

UM ÁRBITRO À ESPERA



"Não compreendo as leis; não tenho sentido moral, sou um bruto ..." [Rimbaud]

Aos 7 minutos de jogo tudo estava decidido no Estádio da Luz.

Pedro Proença, o árbitro dito de sensibilidade encarnada, determinou não atormentar o senhor Dias da Cunha e, num gesto avisado e pouco servil, contrariou as afirmações pífias do jornal Record, ao marcar um penalty inexistente a pedido de várias famílias do Horto de Alvalade. Nem interessa debater as assombrosas peripécias do jogo da Luz, que isso fica para os paroquianos dos jornais, mas tão só registar que o Record, mão dada com esse pródigo Dias da Cunha, venceu copiosamente o sempre glorioso Benfica. Isso é que ficará para a história. Parabéns Record. Avé Proença cheio de graça.

A RODA DOS ECONOMISTAS



"Quando se está metido até à garganta com crocodilos, é difícil reter na memória que o objectivo, no princípio, era secar o pântano" [anónimo]

Numa carta a sua mulher, Lydia Lopokova, Lord Keynes dizia: "o economista não é rei; é verdade. Mas devia de ser! É um governante melhor e mais avisado do que o general ou o diplomata ou o advogado notarial".

Dito deste modo, ficamos até com pena dos economistas de antanho, assim tão susceptíveis à paixão do jogo do poder. O mesmo não ocorre com os extraordinários economistas portugueses, a quem cedemos à força da sua infalível argumentação. Estes saltimbancos da economia politica dão invariavelmente no início de cada ano, fabulosas lições de gramática económica, sempre atestadas de adocicadas estatísticas, sempre deliciosos nas piedosas intenções de explicar os cenários macroeconómicos. A sensibilidade económica dos nossos putativos comentaristas é um padre-nosso que todos os anos se renova. E nem ofende que nunca acertem nas previsões, tão solenemente reveladas. Ou sequer lhes incomoda, que o que possam dizer hoje, poder ser negado amanhã. Afinal a ciência económica é um simples metanarrativa, um sermão gratulatório aos crentes indígenas. E estes bem sabem que "temos de trabalhar, senão por gosto, ao menos por desespero, pois, no fim de contas, trabalhar é ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].

Seja como for, o que os dignos eruditos da coisa económica desvelam é uma provinciana maneira de comunicar que a douta classe não tem autonomia científica, politica e ética no seu ofício. Senão que dizer da entrevista dada por Eduardo Catroga ou os artigos de Sérgio Rebelo, Miguel Frasquilho ou do inestimável João César das Neves? Ou será que os economistas são sempre mais belos que os nossos annus horribilis?

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVII)


* Sociedade Secreta S. Miguel da Ala (1851) - O Conimbricense refere que foi Joaquim Martins de Carvalho que "deu notícia desta sociedade, de que era Grão-Mestre El-Rei o Sr. D. Miguel, publicando os Estatutos, muitas noticias e vários documentos, o que na altura causou extraordinária sensação, quer na opinião pública quer no seio dos iniciados no segredo, ao serem assim publicamente denunciados".

A Sociedade S. Miguel da Ala propunha "promover por todos os modos a restauração do governo de El-rei o Senhor D. Miguel I". Rodrigo de Sousa Tudella (G.C. Fagilde), foi o encarregado de organizar os elementos revolucionários nos distritos de Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda e Castelo Branco, e "fazer a divisão territorial, para o Governo oculto da sociedade, composta de Governos Civis, Capítulos, nos quais posteriormente se organizaram Colégios". Do Governo Civil de Coimbra faziam parte os Capítulos 1º (comarcas da Figueira e Cantanhede), Capítulo 2º (comarcas de Soure e Lousã) e Capítulo 3º (comarca de Coimbra). Diga-se que em Coimbra havia dois Colégios sendo um exclusivamente académico. Quando acabavam a sua formatura, os seus elementos passavam para outro colégio que não aceitava estudantes.

Rezava assim os seus estatutos: art 1º - A ordem é essencialmente secreta, militante e politica; art. 2º - Tem por fim defender a religião católica apostólica romana; restaurar a legitimidade portuguesa; manter ilesa a integridade do território da nação; promover a união de todos os portugueses numa só família; ... O Colégio académico citado, era o do Bairro Alto, instalado no dia 22 de Fevereiro de 1851, assistindo à reunião Luís de Vasconcelos Azevedo e Silva Carvajal (Mem Rodrigues), António Tavares da Cunha Soares de Abreu (Afonso de Albuquerque), António Bernardino de Menezes (Massillon), João de Albuquerque Amaral Cardoso (Martim de Freitas), Luís Ribeiro de Souto Maior e Vasconcelos (Egas Moniz), Luiz Cândido de Figueiredo Oudinot e Gouveia (D. Nuno Alvares Pereira), José d'Araújo Cabral Montez de Champalimaud (D. Diniz), entre os mais. Além desse Colégio, existia outro, o Colégio do Bairro Baixo de Coimbra, organizado só em 1852, onde foram iniciados Dr. Francisco Raymundo da Silva Pereira (advogado e Chefe do Colégio, em casa do qual se fazia as reuniões), João Marques Perdigão, Francisco de Sousa Pinto, etc. [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade Philantropica de Coimbra (1851) [ibidem]

* Sociedade Philarmonica de João Alves (1851) [ibidem]

domingo, 4 de janeiro de 2004

MARIA ARCHER [1899-1982]



Nasce a 4 de Janeiro de 1899

Maria Archer, hoje injustamente esquecida, fez crónicas para jornais e revistas (Seara Nova) foi romancista e ensaísta, escreveu contos e peças de teatro, mas foi principalmente uma escritora que desvela a situação da mulher, pela interrogação da condição feminina do seu tempo, quer através da problemática social quer registando a irrupção do desejo sexual feminino. Adolfo Casais Monteiro (1944) diz-nos:«pode afirmar-se que escritora portuguesa alguma conseguiu, como ela, exprimir certas das mais fundas determinantes da psicologia feminina e da relação homem-mulher». Maria Archer teve, por isso, problemas vários com a censura e com a sociedade de antanho, sendo conhecido o episódio em torno do seu livro "Ida e Volta Duma Caixa de Cigarros" (Editorial Século, 1938) que foi retirado da circulação por ser considerado amoral e, mesmo, "pornográfico", o que era evidentemente falso. Saiu em sua defesa Mário Dionísio, n'O Diabo. Maria Archer viveu parte da sua vida em Africa, tendo escrito contos e ensaios de características antropológicas, e participou nos populares Cadernos Coloniais, de forte conteúdo documental e etnográfico.

"Duas novelas deste livro foram escritas sob deliberado propósito de contribuir para a revelação da mulher.
- Vão-te acusar de autobiografia, disse-me quem as leu no original.
- Que bom! Pensei eu, lembrando-me da razão porque Arnold Bennet fora acusado de fazer autobiografia quando descreveu a execução duma pena de morte (…)
A todos aqueles que, ao lerem as minhas novelas, se sentirem pris aux entrailles e me acusarem de ter feito autobiografia, eu confesso o meu lisongeado reconhecimento"

[Maria Archer, Introdução à "Ida e Volta duma Caixa de Cigarros", 1938]

Algumas Obras: Africa Selvagem / Sertanejos (Cadernos Coloniais) / Singularidades de um País Distante (idem) / Ninho de Bárbaros (idem) / Angola Filme (idem) / Colónias Piscatórias em Angola (idem) / Caleidoscópio Africano, 1938 / Três Mulheres (novelas) / Ida e Volta duma Caixa de Cigarros (idem) / Há Dois Ladrões sem Cadastro (idem) / Fauno Sovina (idem) / Ela é Apenas Uma Mulher (romance) / Aristocratas (idem) / Casa Sem Pão (idem) / Viagem à Roda de Africa (lit. infantil) / Roteiro do Mundo Português, 1940 / Memórias da Linha de Cascais (col. De Branca Colaço), 1943 / Filosofia duma Mulher Moderna (1939) / Eu e Elas (1945) / Herança Lusíada / Brasil, Fronteira de África (1963)

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVI)


* Sociedade do Teatro da Graça (1849) [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade Agrícola (1849) [ibidem]

* Companhia Agrícola e Comercial (1849) [ibidem]

* Sociedade de Beneficência da Typographia da Universidade (1849) - O Conimbricense refere que "só podiam fazer parte os operários e empregados da Imprensa da Universidade, sendo o iniciador o sr. José Pereira Júnior, antigo typographo" [ibidem]

* Sociedade Consoladora dos Aflitos (1849) [ibidem]

* Sociedade Philantropica Académica (1850) [ibidem]

* Monte-Pio Conimbricense (1851) - A 1 de Janeiro de 1851, por diligência de Joaquim Martins de Carvalho [ibidem]

sábado, 3 de janeiro de 2004

IN MEMORIAM EDUARDO GUERRA CARNEIRO [1942-2003]




[Via Aviz] "ADEUS. Morreu Eduardo Guerra Carneiro. Era um bom poeta, esquecido por todos nós, e um jornalista esquecido pelos jornais. Morava no mesmo prédio onde viveu Agostinho da Silva, ao Bairro Alto. Escrevia em caderninhos lisos e tinha canetas de tinta permanente. Gostou muito. Foi muito amado. Tinha um brilho nos olhos que se foi perdendo à medida que ia envelhecendo, mas nunca foi um ressentido. Bebeu muito. Leu bastante. Escreveu o suficiente. Alguns livros: Isto Anda Tudo Ligado, Como Quem Não Quer a Coisa, É Assim que se Faz a História, Contra a Corrente, Lixo ou Dama de Copas. Era boémio, mas não era da boémia. Sentava-se ao fundo dos bares caboverdianos. Gostava de mornas, da sua terra do Norte (Chaves), dos salgueiros ao longo da estrada nacional n.º 2, dos choupos do Douro e de poetas que sabiam calar-se. Uma pessoa escreve «era um bom poeta» e sente que alguém desconfia, como se fossem bons todos os poetas que desaparecem. Não. Ele era um bom poeta que raramente ficava contente com os seus livros. Não se dava muita importância. Brigou muito. Tinha bom feitio. Tinha mau feitio. Tennyson repetiria: «O selfless man and stainless gentleman.» Bebia cerveja. Acho que bebia tudo. Tinha uma bela voz. Eduardo." [Francisco José Viegas, in Aviz]

"O Eduardo nasceu em Chaves, em 42. Depois foi à vida: perdeu-se um vossa excelência (4º ano incompletíssimo de história), ganhou-se um poeta (...) Livros, amores, deambulações, vagabundagens, cervejolas, empregos vários, carolices (o & etc agradece, no que lhe toca): uma generosidade (arrebatada, lírica, desmedida) que lhe alimenta a poesia (dor mais funda, alegria em sol maior) e lhe dá cabo da gravata. Assim o Eduardo é um poeta visceral. Talvez que já não saiba (nem possa) ser outra coisa) ..." [in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"O desafio, afinal tão simples!, de prosseguir um texto, vendo bem perseguir, conseguir mesmo despir-me das pequenas e grandes vaidades, como já foi dito. Dizias: o texto. Eu pensava na intriga a construir, nos antigos manuscritos onde se falava de música, sinfonia, órgão, retábulos de igreja, o que se liga à então recente leitura de qualquer clássico. Órgãos do prazer: funções vitais em totalidade. Procuro a linha enredada na complicada teia de aranha que em volta de mim próprio enlacei: aqui está a razão do desafio; os nós a desfazer; a pontuação a assinalar um modo de avançar «todo» sem receio mais que o discurso baço, vago, maricas afinal (...)

Daí, daqui: os textos que perseguem e rasgam o próprio ventre para nascerem pelas suas próprias mãozinhas: impressão digital marcada a sangue. Direi. Um corpo em movimento; a infância da invenção; o salto mortal da literatura; a destruição (corrosão) dos vocábulos ..." [E.G.C., Uma Teoria (da) Prática, in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"Algumas palavras são mais que o som.
Soltam-se delas lâmpadas, por vezes gritos.
Palavras que demoram na boca
com o sabor da manhã de Outubro, o claro gosto
da terra húmida, castanha até doer
...
" [E.G.C., Zero, O Perfil da Estatua, 1961]

"Estamos no extremo ocidental de uma Europa gangrenada que teima ainda em conservar limpos os punhos e o colarinho, embora tenha podres nas meias e as cuecas estejam borradas de medo antigo, caca seca, agarrada aos Pirinéus, a montecarlos, montecassinos, urais ou andorras do báltico.
Estamos e continuaremos a estar até que a bomba rebente nos nossos tomates inchados, na goteira do sexo, nas moscas que teimam em disputar-nos a cerveja, nas putas que envolvem em dança os cromados dos bares de hotéis de gare. Poârto ou Parises; Tomar ou Bruxelas; Leiria ou Malmo: a mesma merda.
Estamos quase a rebentar as costuras deste maldito soutien com que nos apertam as mamas da invenção; quase a rebentar as cuecas com que nos espartilham os caralhos da revolta. De pé, ó vítimas da Europa decadente! Nuzinhos até Trancoso! Com pezinhos de lã até Almeida!.
Avançar assim, descobrindo novo discurso, importante porque me importa, também me faz bem, talvez te ajude, vos ajude, ajude afinal a acender o rastilho que vai fazer rebentar a bomba ..." [E.G.C., À Luz de Novembro, in Como Quem Não Quer a Coisa, & etc, 1978]

Algumas Obras: O Perfil da Estátua, Silex, 1961 / Corpo Terra, Ed. Autor, 1965 / Alguma Palavras, Nova Realidade, 1969 / Isto Anda Tudo Ligado, Cadernos Pensinsulares, 1970 / É Assim Que se Faz a História, Assírio & Alvim, 1973 / Como Não Quer a Coisa, & Etc, 1978 / Dama de Copas, & Etc, 1981 / Profissão de Fé, Quetzal, 1990 / Lixo, & Etc, 1993 / O Revólver do Repórter, Teorema, 1994 / Outras Fitas, Teorema, 1999 / A Noiva das Astúrias, & Etc, 2001

quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

OES MELHORES BLOGS PORTUGUESES | ESTRANGEIROS DE 2003


"As únicas coisas belas são as que a loucura dita e que a razão escreve" [Gide]

Temos este fado: registar, apreciar, catalogar, ordenar. Aprendemos os (per)cursos das coisas perenes, a doçura desta morada, factos, caminhos e rostos ... que são os da vida. Estamos decididamente prendados. É verdade. O nosso olhar sobre o fenómeno da blogosfera passa, naturalmente, pela sua avaliação. Somos, de facto, prudentes. Nesta apatia cultural que é a vida portuguesa a cair de sono, sabe bem o refúgio em leituras mil, orgulhosamente tempestuosas, delicadamente suaves. A blogosfera permite perseguir a palavra, inscrever a vertigem. Tudo nos encanta neste jardim celestial. A listagem da coluna da esquerda (sempre!) aí está para a douta prova. Aqui chegados, partimos para uma outra ordenação. A nossa proposta tem em conta critérios vários, a saber: o espaço temporal da participação do blog; o conteúdo que nos estimulou a "libido"; o construído estético, enquanto lugar de corporalidade textual; a "moral de prazer" do(s) diferente(s) sujeito(s); a interacção com os leitores e outros "criadores de circunstâncias"; a procura de uma (possível) especialização temática; linkagens e outros interstícios; cumplicidade afectiva e relacional. Não apreciámos, com pesar nosso, os blogs Coluna Infame, A Carta Roubada e a Formiga de Langton, dado terem terminado. De outro modo, ensaiámos agrupar blogs com os critérios considerados, por nós, do mesmo teor performativo. Registe-se na posição décima, um conjunto (pequeno) de blogs de características locais, que antecedem a próxima "explosão" da blogosfera lusitana. Não apresentamos qualquer fundamentação para a ordenação feita. Seria fastidioso tal, sendo conveniente referir, porém, que não seguimos altares iluminados ou iluminantes, mas tão só percorremos os critérios estabelecidos e ponderámos os blogs que conhecíamos. Mesmo sabendo que era muitíssimo pouco.

Eis, pois, os Melhores Blogs Portugueses de 2003 ou de companhia; assim se dizem coisas importantes, apaixonadas umas, ardilosas outras, deslumbrantes todas. De vós este é o fruto. Dos ausentes que a palidez os não atraiçoem. Amem!

1. Abrupto
2. Aviz
3. Janela Indiscreta / A Montanha Mágica / Um Blog Sobre Kleist
4. Blog de Esquerda / Homem a Dias / Dicionário do Diabo / Flor de Obsessão
5. Terras do Nunca / Barnabé / Mar Salgado / Mata Mouros / Grande Loja
6. Ângela Berlinde / There's Only Alice / Absurdo / Silêncio Digital
7. A Natureza do Mal / Klepsydra / A Memória Inventada / Rua da Judiaria
8. Reflexos de Azul Eléctrico / Latinista Ilustre / Miniscente
9. Avatares de um Desejo / Epiderme / Bomba Inteligente / Fumaças
10. Amicus Ficaria / Estarreja Efervescente / Poiares On Line / Estarreja Light

Os Melhores Blogs de Autores Estrangeiros de 2003

1. Letteri Café
2. Kafka em Belo Horizonte / Hotel Céline
3. Alexandre Soares Filho / Andrew Sullivan / The Agonist
4. The Cartoonist / Bibi Fonfon / Desnudas / Grafolalia
5. Prosa Caótica / Sub Rosa / Surrealismo dos Atos/ Mysterium
6. Esporas / Asakhira / DeFocused
7. Vigna-Marú /Giornale Nuovo / Un Que Passava
8. Beat Box/ Iconomy / Simon V / Disquiet
9. Marketing Hacker / Arts & Letters Daily
10. EconoBlog /Eschaton

terça-feira, 30 de dezembro de 2003

10 LIVROS PORTUGUESES DE 2003



1. Caderno de Caligraphia e Outros Poemas a Marga (Vitorino Nemésio, IN)
2. Respiração Assistida (Fernando Assis Pacheco, Assírio & Alvim)
3. A Boca na Cinza (Rui Nunes, Relógio d'Água)
4. Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo (António Lobo Antunes, Dom Quixote)
5. Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal (Fernando Pessoa, Assírio & Alvim)
6. Poesia / Dia do Mar / Coral / No Tempo Dividido / Mar Novo / O Cristo Cigano / Livro Sexto (Sophia Mello Breyner Andresen, Editorial Caminho)
7. Obra Completa de José Marmelo e Silva. Não Aceitei a Ortodoxia (Campo de Letras)
8. Conflito e Unidade no Neo-Realismo Português (António Pedro Pita, Campo de Letras)
9. Poesia da Presença (Adolfo Casais Monteiro, Cotovia)
10. Dicionário do Milénio Lusíada, vol. I (Manuel Gandra, Hugin)
  

10 Livros de Autores Estrangeiros de 2003 [colab. Bibliomanias]

1. Odisseia (Homero, trad. Frederico Lourenço, Cotovia)
2. Em Busca do Tempo Perdido (Marcel Proust, Relógio d'Água/ Círculo de Leitores)
3. Diário de Um Fescenino (Ruben Fonseca, Campo de Letras)
4. Pentesileia (Heinrich Von Kleist, Porto Editora)
5. Antologia da Poesia Anglo-Americana - De Chaucer a Dylan Thoma (Campo de Letras)
6. A Rainha do Sul (Arturo Pérez-Reverte, Asa)
7. A Douta Ignorância (Nicolau de Cusa, FCG)
8. Espinosa - Vida e Obra (Steven Nadler, Europa-América)
9. Winston Churchill - Uma Vida (Martin Gilbert, Bertrand)
10. Antologia Poética (Miguel de Unamuno, Assírio & Alvim)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

10 ÁLBUNS DE 2003

  

1. HoboSapiens - John Cale
2. North - Elvis Costello
3. Silver of Lead - Ursula Rucker
4. Mototronic - Ryuichi Sakamoto
5. Cuckooland - Robert Wyatt
6. Lead Us Not Into Temptation - David Byrne
7. The Mess We Made - Matt Elliott
8. The Raven - Lou Reed
9. Three Street Worlds - Two Banks of Four
10. Miles Davis In Person: Friday Night at the Blackhawk