segunda-feira, 13 de novembro de 2006


Lunário curioso & útil ao Partido do Governo

[Em louvor de Pedro T. Mota que deixou o Borda d'Água]

Há muito a fazer no mês de Dezembro. A invernia pode vir por aí arriba, sem um queixume e tremenda de memória. Como o ano entrou num Domingo, dia do astro Sol, então será áspero o Inverno e, como o Sol tem a regência do ouro, pode observar-se sangria financeira, para o final do ano. Advirta-se que nem o mor Santo Coelho do Rato pode alentar os fiéis da rosa nessa pungente dor. A tardança é uma enxertia arrojada. A máxima será: quem planta no Outono leva um ano de abono. A semente a ser coberta deve obedecer à poética: bom estrume e bom lavor / traz tudo que é um primor. Um podador é, pois, preciso.

Sabe-se que Júpiter e Saturno deixam a quadratura em Dezembro próximo, significando que os ajustamentos serão tensos a partir daí. Saturno representa inquietações, desconfianças, misérias. Os trabalhos de casa, quando feitos sem cautela, não correrão conforme a prognosticação da fazenda. Desconfiai quando os tempos se trocam, denota carestia (thks old Lunario Perpetuo). Cautela, pois!

Nos empregos públicos, nos pregões matinais da Bolsa, nos hospitais e hospícios ministeriais (salvé Correia de Campos), nos estabelecimentos expostos à concorrência externa (thks ó César das Neves pela lição), na agricultura & jardins perfumados (como diz o povo: no minguante colhe bolotas), no expediente da Justiça & dotes, nas tabernas privadas e ofícios correlativos liberais, nas lojas de câmbio ou vulgo Bancos do Espírito Santo, nas hospedarias do Terreiro do Paço, nas mansardas (José Cid, off course) indígenas, aconselha-se mais vigor e menos resignação, limpar da vista e do coração os lambe-botas e tratá-los com a mesma cautela com que se colhem as rosas, ou vigiar de perto os éditos do José Manuel Fernandes.

Deve-se ser prudente à menor maleita, e se a condição de baixa não diminuir, pode-se administrar um caustico no peito do enfermo, continuar a dieta financeira, tomar vinho de quina (69 gr.), xarope de flor de rosa (1 onça), mudando-se o doente de posição. Se for caso grave, o tratamento começa por um vomitório simples, seguido de banhos frios, olhando de frente um cliché de mestre José Lelo embebido em vinagre, e se for tomado de conjuntivite no exercício, deve aplicar-se pomada Silva Pereira, a que não cansa a vista.

Vale

O Livro do Meio - Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa

"Do início de 2006 a finais de Junho do mesmo ano, Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa decidiram pôr em correspondência uma cumplicidade de anos de convívio. O resultado é surpreendente, ocasionalmente chocante: Deus, Pátria e Família, revisitados com ferocidade e compaixão. Não é um ajuste de contas, mas anda, por vezes, perigosamente perto. Até para eles próprios. Nomes de gente viva e morta, memórias de infância, leituras e notícias do quotidiano, exaltante ou sórdido. Amigos e inimigos. Perdas e danos. Escárnio e louvor. A amizade indefectível de dois dos maiores autores de língua portuguesa à vista de quem quiser ler, sob a égide das Liaisons Dangereuses de Choderlos de Laclos. A indignação e a alegria da criação num meio cada vez mais hostil à Ética e à Literatura" [aqui, Editorial Caminho]

A Sessão de Lançamento: 29 de Novembro, 18.30 Horas, na Sala Europa do Hotel Altis.

Local a consulta: Pré-Publicação

Catálogo da Livraria D. Pedro V

Ao comemorar 3 anos, a Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16, Lisboa) publica um bom Catálogo com 50% de desconto sobre o preço de capa. A visitar e comprar.

Algumas referências: As relações diplomáticas entre Portugal e a França no reinado de D. João IV, de Moses B. Amzalak, 1934 / Descrição Geral d Histórica das Moedas cunhadas em nome dos Reis ..., por A. C. Teixeira de Aragão (2ª ed.) / Arquivo Histórico de Góis, 12 numrs, 1956-1971 / Cataláxia, de Pedro Arroja, 1993 / Novas Estrelas, de Mário Beirão, 1940 / Mandato Indeclinável, por Marcelo Caetano, 1970 / Os Armários Vazios, de Maria J. Carvalho, 1966 / A Selva, de Ferreira de Castro (ed. comem. do XXV aniv.), 1955 / As Palavras que Pena, de Y. K. Centeno, 1972 / Casas Pardas, de Maria Velho da Costa, 1977 / Senalonga. Pequenas Histórias de uma Vila em 1900, de Avelino Cunhal, 1965 / Os Telles de Albergaria, por Carlos Malheiro Dias / Documentos Políticos Encontrados nos Palácios Reais depois da Revolução Republicana, 1915 / Ossadas, de Afonso Duarte, 1947 / A Caravela Portuguesa e a Prioridade Técnica das Navegações, de Henrique Quirino da Fonseca, 1978, II vols / Guias de Portugal (vários) / Pátria, de Guerra Junqueiro, 1896 / A Velhice do Padre Eterno (il. de Leal da Câmara) / Commigo, de Manuel Laranjeira, 1923 / Filopólis, de Virgílio Martinho, 1973 / Dirpersos, de Oliveira Martins, 1924, tomo I e II / A Vénus de Kazabaika, de L. Sacher Masoch, 1966 (ed. Afrodite, Ribeiro de Mello) / Obra Poética, de Cecília Meirelles, Rio de Janeiro, 1967 / Jornal do Observador, de Vitorino Nemésio, 1974 / Três Dias em Olivença, de Hermano Neves, 1932 / Viagens Aventurosas de Felício e Felizarda ao Pólo Norte, de Ana Castro Osório, Lisboa, Lusitânia Editora, 1922 / As Amantes de Dom João V, por Alberto Pimentel, 1892 / Uma Fenda na Muralha, de Alves Redol, 1959 / Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, 1891 (ed. D. José Pessanha) / A Procura do Silêncio, de Ernesto Sampaio, 1986

sábado, 11 de novembro de 2006

Fiama Hasse Pais Brandão

Para a nossa musa admirável, paixão de gratidão, única de santidade poética, Fiama Hasse Pais Brandão. Que se restabeleça definitivamente.

"Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho.

Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz"

[Fiama H. P. Brandão]

Economia para o indígena ou Sócrates explicado às crianças

"já estás grande de mais para o teu leito
instala-te de lado o perigo é enorme
barbeia-te com ódio a barba ajuda
" [M.C.V.]

A carreira Rato a S. Bento, passando pela Santa Blogosfera, aqui e aqui, e com apeadeiro em jornaleiros bem orquestrados, sugere um encontro de lentes louvaminheiros, taramelando formidáveis pareceres sobre a governação. Era fatal após o festivo dr. Santana e não deixa de ser fantástico depois da curiosa defumação de Ferreira Leite. A figura dessa gente, desprecavida de olímpica memória económica, política e eleitoral, daria gozo não fosse fatal a todos. Nesta borrasca anti-social que lavra doutrinariamente, acontece que por vezes a canalha, na sua fadiga intelectual, também tem razão! Coisa que a encantadora ignorância socialista e o zelo mísero de alguns comentaristas e outros tantos doutores estranham, tão inchados de autoridade andam, tão alquebrados de encómios persistem. A vida está uma canseira e, ao que parece, "a ociosidade forçada atirou os refugiados [da economia política] para os espaços públicos".

A labuta da semana, não sendo um padre-nosso ao Socratismo e à sua Mercearia (apenas uma cantata suave), colocou em todos os jornais e na curveteada TV um estranho e singular bando de comissários da boa política, sempre muito sobranceiros e tão ajeitadinhos na coisa pública, que no seu caprichoso ladrilhar académico sobre a ordem do mundo do eng. Sócrates sucede o melhor dos desígnios. A arrematação da boa governança, feita por Silva Lopes (o ilustre reformado da Caixa de Crédito Agrícola) na TV do dr. Balsemão, trocando medidas de politica económica com pueris devaneios fiscalistas e o extraordinário alvitre das cartas macroeconómicas e espirituosas de Teodora Cardoso, por todo o lado, à revelia dos manuais e do rosário económico, pelo espantoso desvario festivo opinioso, torna tudo pouco edificante e estampa bem a miséria intelectual da elite indígena. Na dementada afoiteza destas criaturas, a balbúrdia financeira e económica patenteada, todos estes anos muitos, estão a passos do seu fim. Que os Deuses sejam misericordiosos, mesmo que não estudem economia, é o que se deseja. Abençoados sejam!

(Re)pensar

"Se alguma coisa caracteriza a Civilização Ocidental é a possibilidade que confere, àqueles que nela vivem de a negarem. O progresso nela tem sido feito por quem, não aceitando inteiramente os valores herdados os repensou criando contra eles novos valores (...)

Pensar já foi uma necessidade, passou depois a ser um luxo, hoje em dia é um dever..."

[Almanaque, Julho 1960]


Aviso aos indígenas. Be nice to USA!

segunda-feira, 6 de novembro de 2006


Novo Blog: Almanaque Republicano

"O Almanaque Republicano é um álbum onde se vai perfilar uma geração sonhadora, generosa e messiânica, que é afinal o nosso costumado fadário, o nosso "eterno retorno". Da República de 1891 e da outra de 1910 há uma imensa viagem de encantos e desencantos, de "coisa esquecidas e mortas", um itinerário de bondade, pessimismo, ironia e sarcasmo. Há nele todo um movimento que "carecia de alma", como diria Pascoes. Essa Alma Republicana, seja ela qual for, será sempre essa jornada emotiva e social, espiritual e libertária, de encantos e desencantos vários, crença ou saudade do Encoberto, reformadora e socialista, liberal e popular, que da decadência à regeneração marcam para sempre o "espírito lusitano". A "Nova Era" redentora, quer fosse construída no cantar antiquíssimo da Renascença Portuguesa ou ressurgida pela demanda da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ou intencional na exaltação da luta pela emancipação das classes trabalhadoras e em redor do movimento operário e sindical, não deixa de ser, sem dúvida alguma, um dos momentos mais interessantes da história da sociedade portuguesa contemporânea. Afinal, "Ubi libertas, Ibi Patria".

Sitio de passagem e de euforias públicas, jornada de mil caminhos que o tempo percorreu, o Almanaque Republicano é um panfleto aberto e frontal da Alma Republicana" [Ler Aqui]

domingo, 5 de novembro de 2006


Luis Cernuda [1902 - m. 5 Novembro 1863]

"¿Cómo vive uma rosa / Si la arrancas del suelo?" [Cernuda]

"Tus ojos son los ojos de un hombre enamorado;
Tus labios son los labios de un hombre que no cree en el amor
Entonces dime el remedio, amigo,
Si están en desacuerdo realidad y deseo" [Cernuda]

"¿Mi tierra?
Mi tierra eres tú.
¿Mi gente?
Mi gente eres tú.
El destierro y la muerte
para mi están adonde
no estés tú.
¿Y mi vida?
Dime, mi vida,
¿qué es, si no eres tú?
"

[Luis Cernuda, Contigo]

Locais: Luis Cernuda (España, 1902-1963) / Centenario Luis Cernuda 1902 - 2002 / Homenaje a Luis Cernuda / Biografía de Luis Cernuda / Poemas de Luis Cernuda /Luis Cernuda poeta

Livraria Libres del Mirall - Obras Completas

De Barcelona, via Livraria Libres del Mirall, sai Catalogo de Obras Completas de importantes autores.

Algumas referências: Rafael Alberti, Poesías Completas 1961 / Vicente Aleixandre, Obras Completas, 1968 / Pio Baroja, Obras Completas, VIII vols / Jorge Luis Borges, Obras Completas, Buenos Aires, 1974 / Luis Cernuda, Prosa Completa, Barral Editores, 1975 / Miguel Cervantes Saavedra, Obras Completas, M. Aguilar, 1940 / Angel Crespo, Poesia, 1996 / Ruben Dário, Obras Poéticas Completas, Aguilar, 1937 / Federico Garcia Lorca, Obras Completas, Buenos Aires, Editorial Losada, 1946, VIII tomos / António Machado, Poesia y prosa, Ed. Losada, 1964 / Marcel Proust, En Busca del Tiempo perdido, Buenos Aires, Santiago Rueda Editor, 1947 / Jean-Jacques Rousseau, Escritos de Combate, Madrid, 1979 / Angel Valbuena Prat, Antologia de Poesia Sacra Española, Barcelona, 1940 /

sábado, 4 de novembro de 2006


Esta semana ... estivemos assim!

"A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciências:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência
...
A minha casa ... Mas é outra história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória"

[Vitorino Nemésio, A Concha]

sexta-feira, 27 de outubro de 2006


Esta noute deu-nos para os pastelinhos. De boca de dama. Não fazemos por menos. A coisa parece um tesouro. Ao lado d'outro que aqui temos. Ambas as proposta são tentadoras. Dizem-nos que ficamos aptos. Era isso mesmo que precisávamos.

Boa noute ... e nã se esqueça ... pastelinhos de boca de dama. Oferta totalmente grátis.

Flash desportivo: o eng. do Tenta

Não, não se trata de qualquer maledicência com Aquele (genuflexão!) que dá pontapés certeiros em programas eleitorais & outras graças menores. A nossa maldade, de facto, não anda distraída, apenas supinamente espinhosa. Portanto, deixemos o cómico eng. Sócrates no seu alegre despautério e falemos do eng. do Penta, o inefável Fernando Santos, e das suas alegres conversetas em família, lá para os lados da Grande Catedral.

Por mísera falta de leitura inducativa (assim mesmo), caiu-nos entre dedos essa bíblia do futebol indígena, noutros tempos bem regada por eruditas personagens lusas, que com fatuidade se chama, A Bola. Trabalho rijo de leitura, dado o oráculo futeboleiro pátrio ser sempre admirável de nebulosidades narrativas. O periódico da populaça do futebol é arrebatado de estilo, ameno com as corruptelas clubísticas, fero nos refrãos populistas, brioso & rendilhado de engenho. Enfim, um assombro de jornalismo, a fazer corar de inveja a rapaziada, dita, de referência. Lá dizia Bocage: "Musas, falai, nem todos podem tudo".

Acontece que o pranto último do eng. do Tenta oferecido aos adeptos do Glorioso na semana passada e castamente citado pela A Bola, sobre a subtileza arbitral (ou milagre oftálmico) que feriu o sr. Carlos Xistra e o levou a ser acometido da estranha doença dos cartões (cartolinas, para os iniciados), despertou a curiosidade da populaça. A nós e ao público, nem por isso. Vimos harpejar, em várias conferências de imprensa, o eng. Santos. E bem vestido estava de turbulência ética ou desportiva. O homem, afinal, mesmo eng. que seja, tem raciocínio. Mas não é original.

De facto, temos ideia (acontece aos melhores) que o eng. do Penta sabe bem mais, que a esqualidez lamecha que testemunha. Afinal, quando andou extraviado pela toca das Antas, a soldo desse Grande Português (genuflexão!) Pinto da Costa, ensinaram-no como "tosquiar" putativos adversários. São muitos anos de tirocínio azul na lide de afecto & devoção pela arbitragem. Portanto, eis o dogma do apuro do sistema. E que deve fazer pensar o neófito (José) Veiga, entretanto colhido em conversas dúbias ao telefone, que seria melhor restar mudo e quedo. E do mesmo modo, a ilustre & perpétua dupla Vieira & Vilarinho, Lda, novos sobas do nosso e vosso SLB.

Assim, quer o eng. Santos fazer o obséquio e aclarar o que decorou e sabe das maleitas & escapadelas arbitrais engendradas nas Antas, que nós desconhecemos de todo. Muito obrigado. Agradecido. Viva o Benfica! (momento de pura poesis).

Anarchist Bookfair

segunda-feira, 23 de outubro de 2006


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

Hoje estamos ... assim. Com desejos invocados, mesmo que errantes de gratidão. A noute venturosa tem um perfume de mulher que nos arranha de dentro, com cuidado, docemente. Trabalhos corporais. Ilustrados de luzes, campos de olhos doces, sem qualquer prudência & mando.

À nossa princesa ... Mayra Andrade - Comme S'Il En PleuvaitCastpost

Boa noute!

PREC



PREC- "Pensa, Rosna, Estica, Corta", nº 1

"quem faz o PREC fá-lo por gosto"

Aqui demos conta do lançamento do número zero do P[õe] R[apa] E[mpurra] C[ai], datado de Novembro de 2005. Jornal encorpado, papel de copiosa qualidade, leitura & textos contra o esquecimento e gozo. E anda, por aí, muito disso. De momento, ao que se sabe, saiu o nº1. O lançamento em Coimbra do P[ensa] R[osna] E[stica] C[orta] será no Teatro Académico Gil Vicente, dia 6 de Dezembro, pelas 18 horas. Hora celestial!

sábado, 21 de outubro de 2006


Boa noite, Ursula K. Le Guin [n. 21 Outubro 1929]

"Alguma vez pensaste nos vários mundos, nos homens e animais que os habitam, nas constelações dos seus céus, nas cidades que constroem, nas sua canções e modos de vida? Tudo isso se perdeu, tudo, tal como aconteceu com a tua infância. O que é que realmente sabemos da época em que fomos grandes? Uns poucos de nomes de mundos e heróis, uma baralhada de factos que tentámos coligir numa espécie de história ..."

[Ursula K. Le Guin, in A Cidade das Ilusões]

Locais: Ursula K. Le Guin's official website / Ursula K. Le Guin / Ursula K. Le Guin: uma biobibliografia

kultura & crise

um homem parou à minha frente e quiz à viva força vender-me a sua própria cabeça. trazia-a debaixo do braço e sangrava como um sol cortado muito perto. insistiu que era um artista: precisava de viver e sustentar o futuro e comprar uma camisa em rebaixa. e também que já não tinha inspiração nem faca e garfo
confesso que foi terrível e dum horror completo. mas
por sorte apareceu um polícia ou um santo (não me recordo muito bem) que resolveu legalmente o assunto

[António Aragão, in textos e pretextos, Loreto 13, nº2, 1978]

[O economista no Diário de Lisboa]

"Excelente, na sua cautela e lucidez, o artigo habitual do economista no Diário de Lisboa. Sem dúvida que o problema português é um problema de reforma fiscal no regime de taxa progressiva, que permitisse um maior rendimento aliviando o maior número, e uma questão de redistribuição da grande propriedade e da compulsão do investimento. De outro modo não é possível elevar o nível de um país que não é economicamente um país de investimentos coloniais, mas um país de rendimentos egoístas, aos quais o governo cria, à custa da restante população (à qual se dão lavadouros e futebol), o melhor dos mundos possíveis."

[Jorge de Sena, Diário do Tempo das Evidências, 9/03/1954. Jorge de Sena escreveu este diário no tempo em que era "secretário do Eng. Carmona, presidente da Comissão para o estudo das ligações entre Lisboa e a margem sul do Tejo" - in Nova Renascença, nº 32/33, 1988/89]


A senhora Ministra da Educação

quinta-feira, 19 de outubro de 2006


Solidários com os professores - parte II

Noutro registo, menos paciente ou virtuoso (se quiserem) e sem inocência, porque cansados estamos de alguns escribas do eduquês, que tão chorosos andam aos pés da senhora ministra da educação e da política socrática para o ensino, continuamos, porque "há pessoas que são como aviões no ar: / precisam de muita gente a apoiá-los de terra" [O'Neill]

Considerando a originalidade do pensamento dos respeitáveis amigos da ministra, que aplaudem freneticamente o charco de contradições presente na proposta de alteração do ECD, há que confessar que o registo conceptual que expandem não é o mesmo. O saco ministeriável colhe, desde os despeitados da escola que culpam qualquer professor (a "sintomatologia do abandónico" é bem real), os empastados da política (caso do vendedor televisivo Miguel Sousa Tavares), maviosos ex-responsáveis governativos (o malfadado Grilo está em todas), o cacho de uvas liberal (assombrados pela provisão da coisa pública), uns tantos aliterantes da prosápia anti funcionário-público, a nauseabunda cáfila partidária (atenção! genuflexão e gorjeio ao dr. Sócrates!) & outros vaidosos figurinos do funcionalismo público universitário. A divertida opinião de tantos seria ternurenta, se tivesse substância argumentativa. Ou, mesmo, se tivessem estudado, conceitos e práticas educativas, entre o folguedo das suas putativas afirmações. Mas nada disso, em geral, se verifica. Simples perfídia.

Dos oradores assinalados, de onde partem os mimos com que escorcham os docentes e as suas revindicações? Ponto de parte a bondade de alguma análise romântica de graciosos comentaristas, deixando de vez excitantes caricaturas vindas de néscios, resta a frescura arrancoada pelo grupo, perfumada de intriga caseira, dos amigos da senhora ministra. Um ajuntamento curioso, cujo lindismo teorético acampa aqui, alardeia ali ou segrega acolá. De comum, a carícia de serem todos socialistas e terem, ainda, os primeiros o enlevo de pertenceram à notável ourivesaria do regime, o ISCTE, onde pontifica a senhora ministra. Diga-se, desde já, que esse registo nunca foi escondido. Muito bem.

Dir-se-ia que a estes últimos mancebos se exigiria uma argumentação conceptual e trabalho teórico, sociologicamente falando, mais robusto e estruturado no campo e problemática da sociologia da educação, identificando o papel da Escola, a sua dimensão comunicacional (relação pedagógica, organização do espaço e relações de mando e poder), traçando as necessárias competências do acto educativo e sua interdependência em contexto escolar, a representatividade, legitimação e poder dos seus clientes, bem como os recursos exigidos para uma gestão e administração mais dinâmica e autónoma da Escola. E depois, evidentemente, sem jogos de linguagens (à maneira de Wittgenstein) partir para "tricotar" a relação funcional da Escola e o processo "produtivo", na lógica modernizadora da reorganização e reestruturação do sistema educativo. Depois disso, um possível e aceitável conceito de profissionalização para os docentes, poderia ser esculpido, bem como o seu estatuto.

Tais enquadramentos, absolutamente necessários para qualquer conversação séria sobre a análise em causa (reformulação do ECD), esbatem-se sempre por estes exaltados sociólogos, em aplicações recheadas de automatismos neotayloristas, privilegiando-se a máxima racionalidade economicista, decalcada de processos e técnicas de "management", e onde a Escola é tomada como uma qualquer "organização formal" sem "construído cultural". A performance assim proposta configura, sem brilho algum, uma ilusória decomposição do político no domínio do tecnocientífico, o que remete, em último lugar para o fim das ideologias. Mas isso é outra história.

Daí que a colorida argumentação resida, apenas, no fulminar dos incautos leitores com uma barragem de dados estatísticos (aqui, tais escolásticos, simulam um Medina Carreira vergastando números infindáveis, esquecendo qual é a questão em debate) que acabam por escancarar a faccis do indígena. Eles são vencimentos luxuosos que auferem os docentes, acompanhados por mapas, tão vigorosos como irreais, da putativa desbunda financeira do ensino educativo não-universitário, necessariamente a encolher. Pouco mais dizem, a não ser, por certo, acompanhar a hilariante teorização do eng. Sócrates, à rapaziada acofiada dos jornais e em resposta à pretensão dos professores de não aceitarem as cotas para efeitos de mérito avaliativo, quando declara: "Nem todos os jornalistas chegam a editores". Fulminante! Ao que parece a escola argumentativa do dr. Pinho está a tornar-se uma praga. E um desastre! Enfim ... é a vida!

Solidários com os professores

Já, aqui e aqui, prescrevemos o que vai resultar a movida iniciada pelo trio virtuoso & exuberante do Mi(ni)stério da Educação. A saber: a destruição total do ensino e da educação no país. A implementação do renovado ECD, que daí resulta, irá conduzir (mais do que já está) ao caos educativo.

Alguns exemplos mais: aumento da conflitualidade entre os diversos corpos escolares (a avaliação sendo feita por todos, não é por ninguém); persistência de graves insuficiências científicas e pedagógicas na Escola, quer pela via da nova estrutura hierarquizada pretendida (docentes de diferentes disciplinas, em sede de área curricular/departamento, a darem putativo apoio científico e pedagógico uns aos outros, é de um total nonsense e puro disparate) quer pela inexistência de acções de formação de profs com características científicas (não há dinheiro para acordos com as faculdades respectivas, nessa matéria, nem o eduquês ministeriável permitiria tais aventuras, decerto bem "perigosas"); a presença de constantes litígios entre os docentes, sendo que os professores (os não-titulares) terão todo o trabalho e os titulares farão exercer a autoridade (que em muitos casos, quer cientifica quer pedagógica, é nenhuma), o que contraria a linha orientadora esboçada pela ministra para o aparecimento de dois tipos de docentes (na altura, obrou a senhora ministra que os profs mais antigos deviam trabalhar mais, daí a proposta avançada); impedimento, real e objectivo, de docentes excelentes atingirem o topo (e a chefia da gestão pedagógica escolar) dado que o mérito anunciado pela ministra se sagrar em 1/3 do corpo docente, fazendo com que a Escola seja entendida (aliás como seria de esperar vindo de quem tal pensou) como a tropa, onde a velhice é um posto, independentemente da real valia científica e pedagógica de cada um. E haveria muito mais a registar. Fiquemos por aqui.

Estará tudo bem? Evidentemente que não, aliás nunca esteve. Mas as pretensões da ministra tornarão tudo ainda pior. É difícil construir, sabe-se bem, mas para destruir é bem mais fácil. E, certo é, que alguns se afadigam muito bem. Mesmo que seja a coberto da paranóia do défice.

Resulta desta inquietação, muito nossa, que a educação e o ensino, pela demagogia dos vários e alucinados ministros (alguns ex, com audácia, dão entrevistas a jornais, como nada se tivesse passado), pela indiferença dos pais e educandos (que querem mais, é que lhes guardem os filhos), apoiados pelo oportunismo partidário (em todos os governos foi sempre assim) e formatado pelo amigueiro corporativo mais demagógico, dizíamos nós que a educação, restará um espectáculo medonho, onde a interdependência entre o ensino, a aprendizagem e a avaliação estarão a saque. Onde, o prodígio instrutivo destes anos tantos de eduquês e os objectivos educacionais que lhe correspondem, incidirão, doravante, no exercício da mera "passagem administrativa" (para efeitos estatísticos da UE) e onde o rigor, o esforço, o trabalho e a avaliação não serão encarados, como deviam. Triste maldição, a nossa.

[continua]

terça-feira, 17 de outubro de 2006


Livraria Artes & Letras - Catálogo

... assim mesmo se pode ler na capa do último Catálogo da Livraria Artes & Letras, dado à luz pelo estimado livreiro antiquário do Largo da Trindade, 3-4, Lisboa. 1809 peças à venda, versando Antropologia, Enologia, Bibliografia, Culinária, Gastronomia, Vinhos, Direito, Ensaio, Filosofia, História, Lisboa, Literatura, Literatura Africana, Mar, Marinha & Pesca, Música, Teatro e Ultamar. O site está em remodelação, pelo que a espera ... desespera.

Algumas referências: Malaposta, de Azinhal Abelho, 1945 / Poema primeiro, por António Aragão, 1962 / Na senda da poesia, de Ruy Belo, 1969 / vários de António Botto [Cantares, 1928, 2º ed. / Ciúme. Canções, 1934 / O meu amor pequenino, 1934 / The Childen's book] / O Pobre de pedir, por Raul Brandão, 1931 / Memória descritiva, de Rui Cinatti, 1971 (mais 3 outros do mm autor) / A Área. Ode didáctica na primeira pessoa, por João Pedro Grabato Dias (aliás ps. de António Quadros), 1971 / Mar Alto, de António Ferro, 1924 / Agiológico rústico. Santos da minha terra, de Tomas da Fonseca, 1957 / Engrenagem, de Joaquim Soeiro Pereira Gomes, 1951 / A Torre de Babel ou a porra do Soriano seguida de as musas, por Guerra Junqueiro, 1979 / A Pata do pássaro desenhou uma nova paisagem, de Manuel de Lima, 1972 / É proibido apontar. Reflexos de um burguês, de José Rodrigues Miguéis, 1964 / Lote de Wenceslau de Morais (ref. Aquela tremenda gargalhada, 1954, etc.) / O segredo do Ouro Preto e outros caminhos, de Vitorino Nemésio, 1954 / Lote de Luiz Pacheco (ref. Critica de Circunstancia, 1966, O libertino ...) / Paquita, de Bulhão Pato, 1894 / Antologia de poemas portugueses modernos, 1944 (ed. por Fernando Pessoa e António Botto em 1929) / Sobre Sade diga-se que (plaquete Surrealista assim. por António José Forte, Ricardo-Dácio, Bruno da Ponte, Manuel de Castro, Ernesto Sampaio e Virgílio Martinho) / Obras de Eça de Queiroz (ed. centenário), XV vols / Espólio, de Alves Redol, 1943 / Lote de José Carlos Ary dos Santos (ref. Insofrimento in sofrimento, 1969) / Lote de Mário Cesariny Vasconcelos / In Memoriam de Ferreira de Castro, 1976 / Portuguese hebrew grammars and grammarians, por Moses B. Amzalak, 1928 / Sousa Viterbo e a sua obra, de Victor Ribeiro, 1915 / Poemas, de Reynaldo Ferreira, 1960 / Terras do sol, e da febre ?, por Julião Quintinha, 1932 / Arqueologia e História, X vols, 1922-32 / Historia da Expansão Portuguesa no Mundo, de António Baião, 1937-40, III vols / Da reorganização social dos trabalhadores e proprietário, por João Bonança, 1875 / Economia Política, de Bento Carqueja, II vols, 1926 / Cartas Políticas, por João Chagas, 1908-10, V vols / A verdade Monárquica, de Alberto Monsaraz / Lote de António Sardinha (ref. A Epopeia da Planície, 1915) / Figuras Gradas do Movimento Social Português, por Alexandre Vieira, 1959 / Nobreza de Portugal e do Brazil, por Afonso Eduardo M. Zuquete, 1960-61, III vols / Crime de cárcere privado. A censura medica pelo Tribunal da Boa-Hora, por José de Castro, 1909 / Tradições populares e vocabulário da Guarda, por A. Gomes Pereira, 1912 / Obras de Júlio de Castilho (A Ribeira de Lisboa; Lisboa Antiga Bairros Orientais; O Bairro Alto de Lisboa) / O Carmo e a Trindade, de Gustavo de Matos Sequeira, 1939-41, III vols / Colecção de Leis sobre a Pesca desde Março de 1522 até Janeiro de 1891 / Angola (Para uma nova política), de Henrique Galvão, 1937

segunda-feira, 16 de outubro de 2006


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

Ainda não caímos no sono fútil ou bodas de Sócrates, em que o politicamente acertado é uma astúcia simplória que muitos cantam, nos jornais, em frementíssimas palavras. Não nos tresmalhamos na mísera cantata dos estouvados do bem público. Assistir ao dr. Pinho metendo os pés pelas mãos na economia, não nos aborrece, na medida que a inteligência não é inspiração sua. Observar o eng. Sócrates a cogitar aos indígenas da rosa, em raids patrulhados pelo país, não nos impressiona nada. Com Salazar ou Cavaco, o canibalismo era o mesmo. Entender a Ministra da Educação é tarefa que não desejamos ao nosso melhor arqui-inimigo. Não há pedagogia que aguente. E descobrir o S.N.S. sobre a farpela branca do dr. Correia de Campos é elogio demasiado para nós. Preferimos sempre os originais, a todos estes formadores.

Por isso, deixamos aos críticos do dr, Cavaco Silva, Ferreira Leite, do embotado dr. Vítor Constâncio, do dr. Barroso & dr. Lopes ou aos néscios aduladores destes exquisitos socialistas no governo, a improvisação das discursatas de apoio ou esconjuração. Estes últimos extraordinários 30 anos são prenhes de luminárias de estatura moral minguada. Por isso os escombros são de boa qualidade.

Por cá, nesta nossa botica, a rebeldia (agora coisa pecaminosa para uns) é um pergaminho que se usa com vaidade. Nada por cá está amodorrado. O nosso rosário ainda é esse sonho, iradíssimo, do desejo de viver. Porque, como diria Ernesto Sampaio: "O cómico é a impotência". Vate retro!

Assim, para os inocupados da retórica, para aqueles que fatigados de toda a laudatória ainda sorriem, para admiradores de outras musicalidades que em tempos acariciaram o tempo & a pedido de várias famílias e alguns filhos varões, eis de fugida para ritmar gramáticas perdidas de 77 ... o

G.A.C. (Grupo de Acção Cultural) - Ir e VirCastpost


Eu sou
o mais boquiaberto
dos ministros

Estas finanças
doem
como um calo.

Estas finanças
devem ser um galo
cantando o ouro
que urinam
as crianças

Estas finanças
devem ser um falo
ubérrimo Brasil
de esquálidas
donzelas.

[Armando da Silva Carvalho, Cinco Almas Triviais, in Os Ovos d'Oiro, 1969]


... dizem - alguns indígenas - de Sócrates.

domingo, 15 de outubro de 2006


Revista Sema

Sema (Primavera de 1979 e Junho 1982), revista de muita memória, foi uma publicação trimestral de artes e letras, sob direcção de João Miguel Barros e Maria José Freitas, de que saíram 4 números. Todos de muita estimação.

"A divulgação, a critica, a polémica: sim, mesmo que façam ferida. Fundamentalmente, a intervenção no âmbito das letras e das artes. Numa palavra: da sensibilidade ..." [nº1]

Apresenta um rol notável de colaboradores [Al Berto, Álvaro Lapa, Almeida Faria, Ana Hatherly, António Areal, António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Carlos Nejar, Cruzeiro Seixas, Melo e Castro, Eugénio de Andrade, Ernesto Sampaio, Fernando Martinho, Helder Moura Pereira, João Miguel Fernandes Jorge, Jorge de Sena, José Augusto França, José Bento, Jorge Fallorca, Luís Miguel Nava, Manuel Hermínio Monteiro, Maria Estela Guedes, Mário Henrique-Leiria, Nuno Júdice, Pedro Oom, Philip Larkin, Raul Carvalho, Vítor Silva Tavares ... entre muitos]. Referência em especial ao nº1 (Sobre as Vanguardas, dossier Surrealismo em Portugal), nº2 (Cultura e Contracultura), nº3 (Revistas Literárias) e nº 4 (As Perspectivas Actuais da Cultura Portuguesa).

TEATRO DOS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


TEUC - Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra

A Ilha dos Escravos (Marivaux): encenação de Luís de Lima, Coimbra, 1969

"Rio-me das regras e não vejo nisso grande mal; o nosso espírito não merece, muitas vezes, que lhe prestemos tanta atenção" [Marivaux]

quinta-feira, 12 de outubro de 2006


O sindicalista

João Proença, o sindicalista que foi possuído pelo amor aos trabalhadores, vive eternamente alapado às saias do poder político. Nada o demove dessa superior monomania, que de tão graciosa e visionária o transformou no ungido do bric-a-brac governamental. João Proença, o sindicalista que congelou a ho(n)ra operária, ass(ass)ina tudo de cruz. Não precisa de ler, de sentir, de reflectir, de fazer contas. Abaliza tudo de rajada. Ontem, hoje e amanhã, eis João Proença, o sindicalista das lamentações sindicais. Aquele que não tem alma nem vida própria. Aquele que carrega sempre a caneta para os benignos acordos da "concertação social" e que, no fim, morre sempre, com gosto, às mãos dos seus putativos inimigos. Como um herói de um filme negro, o sindicalista da UGT, prenhe de glamour e um sorriso perpetuamente triunfal, sempre a despontar por debaixo da sua fornecida testa sindical, declara servir "a classe". Esforçadamente! Com zelo de antigo cliente. Daí o tamanho do sorriso conceptual que exibe. Os óculos espirituais que ostenta são, inteligentemente, para despistar o patronato. Há ali folgados exercícios venatórios. Tudo puro intelecto.

Sem estranheza alguma viu-se, o João, assinando "acordos históricos", com o bom do eng. Guterres. Aqueles que garantiam a "sustentabilidade financeira da Segurança Social até ao final do século XXI". E Paulo Pedroso, a pensar no prefácio ao livro de René Passet, "Ilusão Neoliberal" (ed. Terramar), abonava, então, que era "uma reforma que visa melhor protecção social, com um futuro mais sólido, garantido nas condições económicas e sociais previsíveis pelo horizonte de um século e com uma situação positiva de pelo menos 40 anos". Os indígenas choraram de comoção. Desde os tempos imemoráveis em que o glorioso Benfica foi campeão europeu, nunca se tinha visto tamanha euforia.

Há poucos dias, agora com o compadre Sócrates pela mão, o mesmo João presenteou a canalha lusa com novos acordos de sustentabilidade da Segurança Social. Tudo envolto nas encomiásticas frases costumeiras. José Manuel Fernandes, intimo do poder, aplaudiu. Van Zeller marcou almoço no Tavares. E o próprio Medina Carreira pavoneou, imediatamente, dois papers curvados de números e forneceu um triste obituário ao jornal Público. A bravata do João, não poderia ser melhor. Que venha à próxima! Viva o sindicalismo!


"O trabalho não é apenas para produzir obras, é para dar valor ao tempo" [Delacroix]

quarta-feira, 11 de outubro de 2006


"O vinho foi definido como o cavalo do poeta. E efectivamente não se pode negar que na sela desse cavalo, o poeta, se não vai devagar, pelo menos vai longe" [E. de Amicis]

"Eu fui à Serra da Gralheira,
À vindima de meu pai;
O pão lá vai na cesta,
O vinho na cabeça vai!
"

"Melhor que a mulher é o vinho,
Que faz esquecer a mulher;
Que faz dum amor mais velhinho,
Ressurgir novo prazer!"

"Três inimigos tem o segredo: Baco, Vénus e o interesse; o primeiro descobre, o segundo vende, o terceiro arrasta"

"A mulher, o estudo, a experiência e o vinho mudam a natureza do homem"

"Com a vinha, em Outubro, come a cabra, engorda o boi e ganha o dono"

... À saúde dos presentes & ausentes. Boa ceia!

Vindima & lagarada

"De aí a nada, arregaçados, os homens iam esmagando os cachos, num movimento onde havia qualquer coisa de coito, de quente e sensual violação. Doirados, negros, roxos, amarelos, azuis, os bagos eram acenos de olhos lascivos numa cama de amor. E como falos gigantescos, as pernas dos pisadores rasgavam máscula e carinhosamente a virgindade túmida e feminina das uvas. A principio, a pele branca das coxas, lisa e morna, deixava escorrer os salpicos do rosto sem se tingir, Mas com a continuação ia tomando a cor do moreto, do sousão, da tinta carvalha, da touriga, do moscatel, do bastardo, do alvarelhão, da farinhata, da mourisca, conforme as castas ..."

[Miguel Torga, citado por J. Duarte Amaral, in O Grande Livro do Vinho]

Nós hoje acordámos assim ...

"O cortimento uns o fazem desengaçando as uvas, cortindo somente com a baganha. Não tenho isto por desacertado, ainda que custe mais trabalho: a razão é porque, se fazem o cortimento com o engaço, este põe travo o vinho"

[Vicencio Alarte (aliás Silvestre Gomes de Moraes), in "Agricultura das Vinhas", 1712 (aliás, in O Desengace e suas vantagens na vinificação, de Duarte de Oliveira, 1911)]

terça-feira, 10 de outubro de 2006


A Reorganização do PRP no Algarve

Na revista História, do passado mês de Setembro, Artur Barracosa Mendonça apresenta um texto curioso, que é um contributo importante para o estudo e reflexão sobre as "elites algarvias", ligadas ao Partido Republicano, nos tempos idos de 1906. A reunião dos republicanos algarvios, em Portimão, em Junho de 1906, considera o autor, foi "um marco na reorganização do PRP no Algarve", em crise até essa data. Refere que os republicanos, até então, tinham apenas o jornal "O Futuro" (Olhão) como veículo de agitação contra o "regime monárquico". Diz-nos, mesmo assim, que desde o seu início o PRP sempre manteve nas suas fileiras importantes personalidades naturais do Algarve, entre as quais cita: João Bonança, José Manuel Martins Contreiras, José Francisco Azevedo e Silva, José Benevides, José Veríssimo de Almeida (pres. eleito da Câmara Municipal de Lisboa), Tomás Cabreira (deputado, ainda na monarquia) e José Estêvão e Vasconcelos (médico em Vila Real de Santo António, deputado eleito pelo circulo de Setúbal em 1908 e, mais tarde, ministro da I República). Tal peso significa, de facto, que "algumas personalidades da elite cultural e política regional aderiram aos objectivos do republicanismo".

Aponta, ainda, os elementos "mais destacados" na referida reunião de reorganização do PRP, entre os quais: Ernesto Augusto Cabrita e Silva (médico em Portimão), António Fernando Pires Padinha (médico em Tavira), Silvestre Falcão (médico em Tavira), Francisco Marques da Luz (comerciante de Portimão), Joaquim Eugénio Júdice (proprietário em Lagoa), Jacques Pessoa (agrónomo em Olhão e Tavira), Zacarias José Guerreiro (comerciante e industrial em Faro e Tavira) e António Vaz Mascarenhas Júnior (proprietário e industrial de cortiça em S. Bartolomeu de Messines). Refere o impacto dessa reunião na imprensa da época, analisando todo o desenvolvimento dessa actividade e sua posterior implantação na região. A consultar.