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domingo, 30 de novembro de 2003

FERNANDO PESSOA



Fernando Pessoa [1888-1935]

"Não procures nem creias: tudo é oculto" [Fernando Pessoa]

"... Poeta, sobretudo poeta, mas também dramaturgo, pensador, crítico, ocultista, astrólogo, teorizador apaixonado da secreta verdade de um Portugal-mito, pesquisador subtil de realidades visíveis e indivisíveis...”
[in prefácio de António Quadros, para: "Livro do Desassossego", Europa-Ámerica, Lisboa, 1986]

"... Fernando Pessoa encontra na filosofia hermética uma via para o instruir sobre a natureza do homem (e da arte), como sua mais elevada dimensão, a natureza do universo e de Deus. Alcança deste modo uma forma de sabedoria, a que lhe permite fechar o círculo da serpente ouroboros, descobrindo e afirmando que «tudo é um» e que ao artista, como ao adepto, compete «reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo» ..."
[in prefácio de Yvette Centeno, para: "Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética", Lisboa, Editorial Presença, 1985]

" ... Quem somos e para onde vamos, são duas perguntas que ele [Fernando Pessoa] procura responder através do conceito da alma tripla a evoluir em cada um de nós, e da afirmação duma Ordem Secreta e dum plano divino no qual se insere a vida do país, a alma da nação, que teve nos Templários, e na Ordem de Avis e na de Cristo os seus mediadores e avatares mais conscientes. Com estes e outros iniciados se catalizou, em Portugal, a harmonia social, a cultura tradicional, o culto do Espírito Santo, as descobertas, a universalidade. E, se houve depois queda e dormência do país, causadas pelas mais diversas influências, como nos relataram Antero e Pessoa entre outros, haverá agora a possibilidade de se dar um segundo movimento da Ordem Iniciática que me Portugal inspirou os Templários e a Ordem de Cristo. E, é para essa tarefa que Pessoa diz que é a hora (...)"
[Pedro Teixeira da Mota, in "A Grande Alma Portuguesa", colectânea de textos de Fernando Pessoa, Edições Manuel Lencastre, 1988]

sexta-feira, 14 de novembro de 2003

O ÚNICO HOMEM


"O único homem feliz é o que não toma nada a sério. Quanto mais as cousas se tornam a sério, mais infeliz se é. O que toma a sério a sorte da humanidade é quase o mais infeliz de todos os homens ... Quase, porque o que toma a sério a sorte do mundo e o enigma do universo é ainda mais infeliz"

[Fernando Pessoa, in Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, 2003]

sexta-feira, 17 de outubro de 2003

O PARACLETIANISMO E O QUINTO IMPÉRIO


[O Paracletianismo e o Quinto Império]

"O Paracletianismo, doutrina filosófica formada a partir da interpretação dos textos bíblicos, no ponto em que se anuncia a vinda do Espírito Santo, o assistente congregador de uma nova era, a quinta, segundo a letra do Livro de Daniel (II, 44 e VII, 9), representa-se actualmente em Portugal pela voz profética de Raul Leal (...) É na Águia e no Orpheu que se adivinham os prenúncios desse renovo de forças genuinamente portuguesas, embora só mais tarde se realizem literariamente as contribuições para a gradação messiânica de um entendimento de historia pátria como fulcro de atenção temporal da nova idade. Os exemplos de Fernando Pessoa, na Mensagem, de Ferreira Gomes, no Quinto Império, de Duarte de Viveiros, na Obra Poética (...), e Raul Leal, no Anthéchrist et la Gloire du Saint Espirit, para lembrar apenas alguns dos nomes mais proeminentes, voltados para o messianismo português, são a prova flagrante do cuidado posto na reabilitação de ideias entre nós não envelhecidas.

(...) Fundamentalmente , a base do Sebastianismo de Pessoa era a interpretação medieval do texto bíblico, a ideia do translatio imperial que é a primeira evidencia da filosofia politica do Quinto Império. E, na comunhão unitária da translatio com as revelações da astrologia, do exemplarismo, das profecias sebásticas, está, com exactidão, o porquê da superioridade universalista da obra de Raul Leal ou Fernando Pessoa sobre incipientes balbucios de patriotismo, que formam a literatura sebástica dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX.

Ora, partindo da verificação desta estrutura mental, aceitando, com premissas do Paracletianismo, tais dados filosóficos, explicar-se-à a filiação do Messianismo português (...) realce de uma verdadeira plêiade de construtores do Quinto Império, assim escalonada cronologicamente em Portugal: Bandarra, D. João de Castro, Padre António Vieira, D. Francisco Manuel de Melo, António Pereira de Figueiredo, Oliveira Martins, Sampaio Bruno, Fernando Pessoa, Ferreira Gomes e Duarte Viveiros - selecção que, recentemente, em estudo antológico sobre o Quinto Império, me pareceu a mais acertada, entre os autores não vivos.

O caso especifico de Raul Leal, sedutora amostra de compreensão do Paracletianismo, tem, sobre todos os outros escritores portugueses, a superioridade original da sua não filiação directa, imediata, no tradicionalismo sebástico - o que o aproxima, naturalmente, da obra quinto-imperial de alguns autores estrangeiros, como Papini ou Bloy. Recorde-se, a propósito, a extraordinária aceitação que as ideias de Império futuro, de translatio imperial, de Paracletianismo, de Império ideal, obra de alquimia, de Unidade, tiveram em autores como S. Agostinho, S. Bernardo, Joaquim de Flora, S. Boaventura, Raimundo Lúlio, Dante, Margílio Ficino, Pico delle Mirandola, Paracelso, Nostradamus, Bobeme, Goethe, Kleist, etc. ..."

[Artur Anselmo, in Diário da Manhã, 12/11/1960]

domingo, 12 de outubro de 2003

LINGUAGEM DOS DEUSES - LINGUAGEM DOS HOMENS



"Tive sempre uma repugnância quasi psychica pelas coisas secretas – intrigas, diplomacia, sociedade secretas, occultismo. Sobretudo me incomodaram sempre estas duas ultimas coisas – a pretensão, que teem certos homens, de que, por entendimentos com Deuses ou Mestres ou Demiurgos, sabem - lá entre elles, exclusos todos nós outros – os grandes segredos que são os caboucos do mundo.

Não posso crer que isso seja assim. Posso crer que alguem o julgue assim. Porque não estará essa gente toda doida, ou illudida? Por serem varios? Mas ha allucinações collectivas.

O que sobretudo me impressiona, nesses mestres e sabedores do invisível é que, quando escrevem para nos contar ou suggerir os seus mysterios, escrevem todos mal. Offende-me o entendimento que um homem seja capaz de dominar o Diabo e não seja capaz de dominar a língua portugueza. Porque há o commercio com os demónios de ser mais fácil para o commercio com a grammatica? Quem, atravez de longos exercícios de attenção ou de vontade, consegue, conforme diz, ter visões astraes, porque não póde, com menor dispendio de uma coisa e de outra, ter a visão da syntaxe? (...) Porque ha de gastar-se toda a energia da alma no estudo da linguagem dos Deuses, e não ha de sobrar um reles bocado, com que se estuda a côr e o rhytmo da linguagem dos homens?"

[Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego]

13 DE OUTUBRO DE 1307 - TEMPLÁRIOS SÃO PRESOS EM FRANÇA



13 de Outubro de 1307 - Templários são presos em França

"... Apesar de ainda na véspera o grão-mestre acompanhar o Rei [Filipe O Belo] às exéquias de uma cunhada deste, a notícia da prisão estala como uma bomba a 13 de Outubro de 1307, em que os Templários são presos nas suas comendadorias. Desde então, o Rei promove, através de Nogaret [Guillaume de Nogaret, professor de direito em Montpellier, e Chanceler do Reino] e dos inquisidores dominicanos, a divulgação de acusações contra a Ordem, como heresia, idolatria, sodomia e blasfémia, acompanhadas de um sistema de delações e torturas que pretensamente as confirmavam, descrevendo sacrilégios, ritos iniciáticos ..."

[Jorge de Matos, A Coroa Francesa e o Processo Templário, in jornal «V Império», nº 4, Maio 1991]

"... A Ordem, não consegue escapar ao processo que irá ser montado pelo rei francês. O inquérito por ele levantado, irá durar 7 anos, culminados com a morte de Jacques de Molay, o último Grão-Mestre da Ordem. Condenado à morte pelo fogo, em praça publica, a 18 de Março de 1314 (…) Clemente V, tinha sido o Papa que dois anos antes, mais precisamente a 3 de Abril de 1312, pela Bula Vox in Excelso, submetida ao Concílio de Viena, extinguira a Ordem do Templo, sem se pronunciar, no fim do inquérito, sobre a sua condenação canónica, por certo, devido às irregularidades do processo. O Processo iniciara-se a 13 de Outubro de 1307, em que era determinado a «todas» as Casas da Ordem, em França e no resto da Europa, fossem alvo de um inquérito semelhante e todos os seus bens imediatamente confiscados e que revertessem para as respectivas Coroas europeias ..."

No entanto, o processo dos Templários não vingará em terras portuguesas (...) D. Dinis, unido por forte laços de amizade com o Mestre Templário em Portugal, acedeu elaborar um inquérito, tal como o Papa o ordenara. Mas o inquérito leva o tempo sufuciente, para proporcionar a fuga dos templários para terras do Norte de Africa. Os seus bens passam temporariamente para a Coroa, enquanto D. Dinis se reúne com Fernando IV de Castela e Jaime II de Aragão. Nesse «Concílio», os templários portugueses e espanhóis são declarados inocentes ... [D. Dinis] prepara uma embaixada a Avinhão, encarregada de expor ao Papa João XXII (que em 1316 tinha sucedido a Clemente V) as razões da necessidade portuguesa na criação de uma nova «ordem», uma «santa milícia» ... É assim, que a Ordem do Templo extinta em 1312, por Clemente V, ver-se-á recriada na nova Ordem, por sugestão do rei D. Dinis em 1319, passando a denominar-se Ordem da Milícia de Jesus Cristo ou Ordem de Cristo ..."

[Teresa Mesquitela, A Mística das Descobertas (Portugal Profundo e Encoberto), Tomar, 1989]


"... O que é que permitiu que, em Portugal, a Ordem da Milícia do Templo continuasse a existir coberta pela Ordem da Milícia de Cristo? Este facto é simples: Portugal é a Ordem do Templo até D. Manuel I e desde a sua origem ..." [António Telmo, Historia Secreta de Portugal, Vega, 1977]

"... O silêncio de René Guénon sobre tudo quanto se passou em Portugal, depois da destruição na Europa da Ordem da Milícia do Templo, tem surpreendido e perturbado os raros investigadores que verificaram a relação directa existente entre o que ele escreveu no Rei do Mundo e os descobrimentos marítimos portugueses ... [idem]

"Todos os symbolos e ritos dirigem-se, não á intelligencia discursiva e racional, mas á intelligencia analogica. Por isso não ha absurdo em se dizer que, ainda que se quizesse revelar claramente o occulto, se não poderia revelar, por não haver para elle palavras com que se diga. O symbolo é naturalmente a linguagem das verdades superiores à nossa intelligencia, sendo a palavras naturalmente a linguagem d’aquellas que a nossa intelligencia abrange, pois existe para as abranger" [Fernando Pessoa, in Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética (Yvette Centeno), Presença, 1985]

"Em todas as ordens definidas, mas com fundamento occulto, ha a ordem externa e a ordem interna. Assim os Templarios, na data da sua extinção violenta, era Chefe Externo (Grão Mestre) o cavalleiro francez Jacques de Molay, e era Mestre Interno (Mestre do Templo) o cavalleiro escocez Robert de Heredom" [idem]

segunda-feira, 8 de setembro de 2003

ELIEZER KAMENEZKY [n. 7 de Setembro 1888 - 1957]



Eliezer Kamenezky, judeu russo, exilado em Lisboa, onde se estabeleceu como alfarrabista na Rua D. Pedro V, foi poeta e também pessoa que frequentava os meios literários e artísticos da cidade. José Malhoa fez-lhe o retrato, que vem na edição de Alma Errante. Fernando Pessoa foi seu amigo e prefaciou aquele seu livro, de 1932, com um dos textos mais importantes sobre a Maçonaria, os Judeus e os RosaCruzes. António Lopes Ribeiro fê-lo actor de cinema no filme a Revolução de Maio, onde figurava um bolchevista russo" [in, A procura da Verdade Oculta /Textos Filosóficos e Esotéricos, prefácio e notas de António Quadros]

Era, portanto, amigo de Fernando Pessoa que lhe prefaciou o livro "Alma Errante" (1932), sendo que tal texto introdutório ao livro de Eliezer Kamenezky é demasiado importante para passar despercebido. De facto, parece ser o primeiro texto em torno da problemática maçónica que FP publicamente escreveu. Yvette Centeno diz-nos ("Fernando Pessoa/O Amor/A Morte/A Iniciação") que faria parte de um projectado livro intitulado Átrio. As considerações de Pessoa em torno das origens da maçonaria são aí debatidas, expressando o poeta uma não correspondência evidente entre o judaísmo e o maçonismo. Curiosamente, um amigo seu e colaborador da Orpheu – Mário Saa – num livro "amaldiçoado" ("A Invasão dos Judeus", 1924) considera a origem judaico de FP via Sancho Pessoa, natural de Montemor-o-Velho. Ora, as linhas finais do prefacio ao livro de Eliezer (1932, note-se), são de alguma perplexidade, pois FP diz que, "nenhum judeu seria capaz de escrever este prefácio", o que levanta a questão de saber, afinal, passados oito anos do texto de Saa, que pretendia FP afirmar nessa sua demonstração de não ligação entre a maçonaria, os rosacruzes e a “conspiração judaica”? Ou houve alguma cumplicidade entre os dois?


Obras a consultar:

Alma Errante (prefácio de Fernando Pessoa) - Eliezer Kamenezky, Lisboa, Emp. Anuário Comercial, 1932
Fernando Pessoa/ O Amor/ A Morte/ A Iniciação Yvette Centeno, Regra do Jogo, 1985
Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética Yvette Centeno, Presença, 1985
A Procura da Verdade Oculta /Textos Filosóficos e Esotéricos – Pref. António Quadros, E.A., 1986
O Pensamento Maçónico de Fernando Pessoa Jorge de Matos, Hugin, 1997

domingo, 31 de agosto de 2003

AUGUSTO FERREIRA GOMES (1892-1953)



n. 31 de Agosto de 1892

"Jornalista, poeta e ecritor. Grande amigo de Fernando Pessoa. Companheiro e confidente de muitas obras (...) Era de baixa estatura, franzino, bigode aparado, mente viva e humor mordaz (...)" [Encontro Magick Fernando Pessoa Aleister Crowley, Hugin, 2001]

"Na vida dinâmica dos cafés, na tumultuosa discussão de literatos e jornalistas, costumava Augusto Ferreira Gomes marcar o seu lugar, deixando sobre o mármore polido duma mesa ou sobre uma cadeira, um volume de Edgar Poe. Os colegas e os amigos, chegados nos curtos intervalos da sua ausência, já o sabiam por perto (…) Quem o não conhecesse, ao vê-lo tomar assento, ficaria logo convencido de que seria ele o possuidor, o apaixonado admirador do artista dos «Contos Extraordinários», de tal modo se depreende da sua fisionomia uma sugestiva atracção pelos ambientes trágicos e uma decidida vocação para interpretar as maravilhas do Belo, mesmo quando ele atingia as culminâncias do horrível" [Mário Filipe Ribeiro (?) in, prefácio à "Múmia Assassina?", 1923, citado da obra "O Encontro Magick ... "]

"Augusto Ferreira Gomes foi poeta do Primeiro Modernismo, colaborador de "Orpheu" e das revistas "Contemporânea" e "Athena". Grande amigo de Fernando Pessoa, a quem o livro é dedicado e que o prefacia, partilha com este poeta o gosto pelo ocultismo e pelas ciências esotéricas. Foi ele, aliás, o autor do horóscopo de Álvaro de Campos (...)" [AMP]

Bibliografia: "Rajada Doentia, 1915 / Procissional (poesia), 1921 / O Cosme, 1922 / Múmia Assassina?, 1923 / QUINTO IMPÉRIO, AMP, 1934 (c/ Prefácio de F. Pessoa) / NO CLARO - ESCURO DAS PROFECIAS: S. Malaquias, Nostradamus, Bandarra, o Apocalipse de S. João, ...... Dedicado pelo autor à memória do astrólogo Fernando Pessoa, Lisboa, Portugália, s/d (1943)

sexta-feira, 29 de agosto de 2003

28 DE AGOSTO

n. 1481 F. Sá de Miranda
n. 1749 Goethe

"Nem esqueçamos que à Maçonaria devemos, neste critério, a maior obra literária dos tempos modernos - o Fausto, do Ir. Goethe, que foi iniciado na Loja Amália de Weimar em 23 de Junho de 1780, passando a Companheiro em 23 de Junho de 1781 e feito Mestre em 2 de Março de 1782" [Agenda Centenário de Fernando Pessoa, Edições Manuel Lencastre, 1988]

Canção de Linceu

"Nado para ver,
Para olhar justado,
Consagrado à torre,
O mundo é um agrado,
Olho lá para o longe,
Vejo aqui pertinho:
A lua, as estrelas,
A mata, o corcinho.
E em todos vejo
O adorno sem fim,
E como me agradou,
Eu me agrado a mim.
Meus felizes olhos,
Tudo o que sentiste,
Fosse como fosse,
Em beleza o vistes!"

[J. W. Goethe,in POEMAS, versão portuguesa de Paulo Quintela, Coimbra, U.C., 1958]

sexta-feira, 27 de junho de 2003

OCULTO [POR F.P.]

"A grande regra do Occulto é aquella do Pymandro de Hermes: «o que está em baixo é como o que está em cima». Assim, a organização das Baixas Ordens copia, guardadas as differenças obrigatorias, a organização das Altas Ordens; reproduzem-se os mesmos transes, por vezes as mesmas especies de symbolos; o sentido é outro e menor, mas a regra da similhança tem de ser mantida, pois, de contrario, a ordem menor não vive e abatem, por si, as columnas do seu templo."

[in Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética, por Y. K. Centeno, Presença, 1985]

FERNANDO PESSOA PELO REPÓRTER X


FERNANDO PESSOA - in Semanário X (de Reinaldo Ferreira)

Reinaldo Ferreira (1897-1935), ou o famoso Repórter X, nascido em 1897 em Lisboa, foi jornalista, escritor de livros policiais e de peças de teatro, fundador de semanários e jornais, mais ou menos sensacionalistas ou curiosamente extravagantes, argumentista e realizador de filmes, aventureiro e ex-morfinómano (Memórias de um Ex-Morfinómano é um testemunho notável do jornalista).

Do X - Semanário de Grandes Reportagens, cujo director e jornalista era Reinaldo Ferreira, número 13 de 7 de Fevereiro de 1935, nos "Homens da Semana" (pag. 4), vem o seguinte sobre Fernando Pessoa:

"O nome Fernando Pessoa surgiu, bruscamente, ao som de uma imprevista pancada de gongo, como um Mefistófeles de Opera (...) e assim, à la minute, duma noite para o dia (...)
Fernando Pessoa que, há dez dias a esta parte é dos indivíduos mais discutidos, não só nos cafés, nas esquinas, nas tertúlias da capital, como em todo o pais, é também dos nomes mais ignorados, das personagens menos conhecidas. (...)
Fernando Pessoa é uma incógnita. (...) Antes de mais nada, é preciso que se saiba que a especial e sempre admiravelmente estranha actividade mental de Fernando Pessoa dura há vinte e tal anos. Já na aurora desta geração, Fernando ocupou um posto marcante de chefe, de orientador fleumático, oculto, desprezando glórias e troféus (...)

Poeta de ritmos preciosos, os seus versos, como a sua prosa, são forjados num ineditismo de concepções que, para muitos significa ânsia audaciosa de sensacionalismo, mas que é apenas uma disciplinada, premeditada e sábia expressão do seu pensamento e dos seu gosto estético. A literatura, para ele, é a sobremesa, o doce da vida. Não exibe as suas produções; raramente as publica. São para ele só, e para alguns amigos. A sua missão na vida, missão mental, espiritual, parece oculta-la como um segredo, e cumpri-la fervorosamente como um desígnio de Deus. Do mistério da sus intimidade apensa se transparenta o seu ar místico, a sua sede de estudo, a orientação complexa das suas leituras, duma biblioteca, da sua cultura. (...)
O seu contacto com a vida, fora da faina profissional é regateado : uma hora, todas as tardes, no Martinho da Arcada, no Terreiro do Paço, cercado por meia dúzia de jornalistas, poetas, escritores, artistas (...) é o menos palrador; mas quando fala, esgota a crítica ao objecto de discussão com um critério estranho, dir-se-ia que filtrado por um cérebro, uma mentalidade, um espírito doutro planeta. Esse estilo das sua expressões críticas, esse seu sistema de análise aos factos ou de profecias às consequências, criou-lhe a vaga fama de "ocultista", ou pelo menos de um mergulhador de textos misteriosos (...)
Fisicamente Fernando Pessoa é magro, tem os lábios sempre comprimidos, como os de uma criança, e como uma criança esbugalha os olhos, atrás dos óculos, numa expressão de pasmo infantil quando escuta algo que o surpreende ou quando fixa a sua atenção numa conversa (...)"

quarta-feira, 18 de junho de 2003

ÁLVARO DE CAMPOS



"Porque o que basta acaba onde basta
e onde acaba não basta"


[Álvaro de Campos]