quinta-feira, 31 de maio de 2007


A Greve Seráfica

"a liberdade é um dom do mar” [Proudhon]

Não discutimos a greve. Geral, parcial, espontânea ou permanente. Ela é sempre legítima e democrática, tenha a capacidade inventiva e a dimensão íntima que tiver. Por isso não anunciamos a vossa, formal e de choro desvalido. Daí, também, que não nos pronunciemos sobre aquela outra, que é sempre "no bisel dos beijos". Um cavalheiro - sabem os democratas - nunca denuncia o amor ou ódio em público. Tem recato, nas horas vagas de serenidade. Fica, assim, para o putedo intelectual, para quem a greve é sempre a maneira vocativa da canalha ser obscena, alentar maliciosamente a análise e a interpretação sobre a caducidade da "coisa". O tédio de quem nunca trabalhou e a chateza da vida dão sempre origem a melodias anti-greve formidáveis, de puro exotismo.

Ontem - dia de greve - a bravata de algumas personagens, de sorriso seráfico, rendeu a mais boçal das récitas governamentais. A comunicação social, em especial o reaparecido Diário da Manhã, foi retumbante de gracejo político sobre a greve e os grevistas. E de extenuadas vénias ao poder. Para quem assistiu à investida exterminadora de uma sra. jornalista (TVI?) contra o "bom" do Carvalho da Silva, durante a sua conferência de imprensa, entenderá a fúria e coacção que por sobre os indígenas cai.

Por tudo isso, não espantou que um raminho de zelosos subordinados do eng. Sócrates, com o inefável Silva Pereira, o clássico João Figueiredo e o garoto Fernando Medina à ilharga, se ocupassem do empolgante trabalho de manipular e intimidar cidadãos livres, ao longo do dia. Os comissários partidários, como no tempo do Botas de S. Comba, regressaram em força. Frescos, buliçosos e desprovidos de hábitos democráticos, tais personagens que parecem comentadores de um jogo de futebol, explicam que de 2007 para 1973 "o olhar trocou-se / não se trocou o cheiro" [O'Neill]. Conhecemo-los bem.