terça-feira, 27 de fevereiro de 2007


Vasco Pulido Valente: o explicador

"A crítica dos jornais consegue ... exprimir como o criticado está para com o crítico" [K. Kraus]

Vasco Pulido Valente tem o talento que a sua prosa (explosiva) fabrica, mesmo que a argumentação seja "curta" e o entusiasmo excessivo. Eloquente na reprovação, genial nos (des)agravos, desconcertante no expediente, não cede (presume-se que ainda pratica) à criadagem dos fúteis, à devassa melada dos jornaleiros, às tonsuras dos políticos. No Vasco há uma beleza (ácida) de escrita, um encantamento astucioso, uma ventura e humor inconfessável. Nunca foi guardião de políticos ou jornalistas e por isso meio país indígena foi engordando com os "caldos" do camarada Vasco. Mesmo assim, o nosso maître-à-penser não deixa, para o bem e para o mal, de ser um caso de estroina divertido, do mesmo modo que é um dos maiores colunistas, "neste país de putas respeitosas" [VPV].

Mais recentemente, num momento menos feliz, VPV contraiu a doença da ingenuidade e que a sua assumida repugnância não revelaria. O irreprimível gozo de ser o explicador do sórdido do Estado (esse bombo da festa), tanto que até fez o sr. Arroja tornar do além salazarista, começa a fantasiar anodinamente as suas croniquetas semanais. Como outros, deu-lhe para a miudeza da estratégia política e para a sugestiva ressuscitação da presumida garotada liberal nativa. Expliquemos.

Em tese - no Público, de domingo último - o romântico camarada Vasco pensa que um Paulo Portas "mais tranquilo", benevolente aos costumes (liberais) e à prática democrática, exaurido da costumeira vaidade pacóvia e definitivamente afastado que estaria da conhecida "animosidade" que suscita, numa mão exibindo um cardápio fora do "liberalismo diletante" e na outra o cartório pátrio-cristão, seria (ad gloriam) um serviço público prestimoso à direita e ao país. Não se imagine que foi fácil, ao nosso Vasco, dar uma de explicador. Mas a coisa, por imperfeita que seja, teve o proveito de fornecer "livre trânsito" à rapaziada liberal que pulula na blogosfera e, decerto, ao inefável José Manuel Fernandes & Cia, provocando um vertiginoso labor de escrita e um pronunciamento hormonal perigoso.

Ora tudo isso é absolutamente absurdo, mesmo que tenha a graça do próprio Vasco. Mas até se pode compreender. Suspirar, em puro exercício venatório, por mais um partido (certamente temível) réplica do atulhado PSD e faceto do bufante PS, mostra a grandeza ardilosa do vero génio. Teremos, pela humorada e autorizada explicação do camarada Vasco à varanda do Público, paródia para muitos anos. Estamos inscritos.