domingo, 11 de fevereiro de 2007
O referendo ao aborto
"O pátio está cheio de gente clamorosa" [M.V.C.]
Não tagarelámos aqui sobre o aborto. Não porque nos fosse indiferente, mas sim porque a cacofonia e a lamúria que se assistiu era pouco saudável. Os putativos heróis "defensores" das mulheres, um grupo de toleirões castos juntos com melífluas mulheres e outros tantos aparelhados ao delicioso raminho liberal - agora em trabalho de parto aos valores edificantes do Estado -, produziram uma escanifrada discursata, grosseira por vezes e hipócrita sempre, que não aturamos. A sabatina atingiu, por vezes, apetites vorazes. As sentenças condenatórias do abominável César das Neves, a avinagrada opinião de Laurinda Alves, os exorcismos cristãos do imortal prof. Arroja, do dr. Bagão Félix ou a ladainha descomunal de Assunção Cristas ou Graça Franco, todos urrando em estilo vergonhoso e arrogante, se bem que esclarecedor, são de enorme cansaço intelectual. Se não fosse a tragédia do aborto clandestino, que esses requintados histéricos irresponsavelmente defendem, seria um pastiche curioso. Mas o modo como a pragmática (reaccionária) foi assumida - de tão verbosa foi - e as bafientas argumentações então surgidas, vindas do raminho perseguidor de mulheres, impressiona negativamente. Por isso mesmo - e pelo que se sabe nas sondagens eleitorais - o eleitorado deu-lhes a devida resposta. A tolerância tem sempre limites. E mesmo que o flagelo do aborto clandestino não acabe de vez (nunca será possível) ou mesmo que se pressinta dúvidas (absolutamente fundadas) nas capacidades do dr. Correia Campos para a missão, pode-se dizer que a cidadania está, momentaneamente, de regresso. Ainda bem.