sábado, 18 de fevereiro de 2006


A Paleta e o Mundo nº1

"Transformações Estruturais do Campo Cultural Português", eis o livro editado pela Ariadne, sediada em Coimbra, em parceria com o CEIS20, e que reúne as comunicações apresentadas no colóquio, com o mesmo título, realizado em Outubro de 2004. Sob coordenação de António Pedro Pita e Luís Trindade, a obra tem como objectivo "redesenhar os campos tradicionalmente trabalhados pela história cultural pondo em contacto investigações que superam a dependência da história cultural tradicional relativamente às histórias das ideias, da literatura e da arte".

De referir entre outros estudos revelados, o aliciante texto de Ana Leonor Pereira & João Rui Pita, Freud em Portugal. Os Trabalhos de Seara-Denis na 'Biblioteca Cosmos'.

Registe-se um curioso estudo - "A Produção livresca numa região periférica. O Algarve nas primeiras décadas do século XX", de Artur Ângelo Barracosa Mendonça - onde nos é apresentado a indústria tipográfica da época, as livrarias [Faro (1875), proprietários Manuel Viegas Gago Coutinho e António Pedro Correia Belles; Olhão (1905), livraria de Manuel Rodrigues Português; num total de 14 livrarias, entre 1901-1930], as bibliotecas públicas existentes, consideradas "mal equipadas, mal localizadas, com fraca concorrência e com pouco pessoal competente", e próximas de importantes centros republicanos [como as de Lagos, Portimão e S. Brás de Alportel, Liceu de Faro, Municipal de Silves, biblioteca Jara de Tavira, Municipal de Faro, todas antes da Republica], bem como nos é referido algumas importantes bibliotecas particulares [de João Martins Formosinho (Lagoa); dr. Ataíde em Loulé (que se julga ter sido do conhecido Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, falecido em 1915). Em seguida, além da estatística de publicações, apresenta os "escritores algarvios mais prolíficos", como o já citado F. X. Ataíde de Oliveira, José Dias Sancho, Marcos Algarve (Francisco Marques da Luz), João Lúcio Pousão Pereira, Manuel Teixeira Gomes, Francisco Xavier Cândido Guerreiro, Pedro Paulo Mascarenhas Júdice, Bernardo de Passos. No final sumaria duas livrarias editoras em Faro: Livraria Palma & Fazenda e a Livraria das Novidade (de António dos Santos Capela).

São, ainda, de salientar os escritos de Luís Trindade (O Jornalismo como modernismo); o "olhar" de Luis Reis Torgal sobre os "Intelectuais orgânicos e políticos funcionais do Estado Novo - os casos de António Ferro, Augusto de Castro, João Ameal e Costa Brochado); o excelente "Transformações na figura do intelectual dos anos 30", de Luís Crespo de Andrade (cobrindo figuras do neo-realismo português e as polémicas havidas, com referências a revistas, escritores e editores; um estimado documento de Miguel Dias Santos, "Arlindo Vicente - O artista entre o individualismo e o comprometimento social"; e o contributo notável de Paulo Jorge Granja, em "Cinema como Arte: Intelectuais, Cineclubes e Crítica de Cinema".