quarta-feira, 25 de janeiro de 2006


Ava Gardner [1922 - m. 25 Janeiro 1990]

"Sou um veneno para mim e para qualquer pessoa a minha volta" [Ava Gardner]

Alguém disse (cito de cor) que "entre a virgem e a mulher fatal ergue-se a divina". Temos para nós, que a mulher fatal é sedutora, abre a "fenda radical" ou ferida narcísica em cada um de nós, mas ao sê-lo cai na "armadilha" do seu jogo amoroso. Doutro modo, a divina desperta o desejo e "joga" (joga-nos), pelo prazer de "jogar" e não pelo prémio do "jogo". Se a mulher fatal, inebriada no desejo de conquista, passa a amar-se através do amor que o outro lhe tem, isto é, "o sujeito da conquista passa para o lugar de objecto amado" [Barthes], a nossa divina nunca sucumbe à própria tomada amorosa. Na divina tudo é vertigem, ambiguidade, lamento. O triunfo sobre o objecto amoroso é sempre um movimento sem fim último, um investimento libidinal quase inocente, uma linguagem sempre urgente, uma pulsão de vida. Por isso obriga-nos a amar. Daí ser inquietante.

Talvez, por isso, o romance de amor ou "logro no tempo do amor" [Barthes] de Ava Gardner ("o animal mais belo do mundo", segundo J. Cocteau) ao longo da sua vida, entre Mickey Rooney, Howard Hughes, Artie Shaw, Burt Lancaster, John Huston, Robert Taylor, Robert Mitchum ou Frank Sinatra, tenha sempre sido o mesmo - a busca do estado amoroso, porque nunca estamos satisfeitos. Por isso Ava Gardner, como outras divas, será sempre uma das nossas divinas. Há desafios que não cansam.