segunda-feira, 5 de setembro de 2005


In Memoriam de Fernando Távora [1923-m. 3 Setembro 2005]

"Os desenhos são de arquitecto. Todos são de viagem. Quase todos são feitos entre 60 e 64.

Fê-los Fernando Távora, percorrendo o mundo com «olhos de quem chora» e com o pensamento porventura ancorado numa ética de sóbria preocupação pela «organização do espaço português», que já na altura denunciava «a maior crise da sua já longa história»

(...) São instrumentos de consolidação de uma resistência à «predominância do espírito analítico sobre o espírito sintético». Pedaços de vida dedicados a ver, anotar e medir a passo os templos de Kioto com o saber de quem já tinha calcorreado, medido e desenhado os sequeiros de Sobreira.
São o modo tranquilo de eternizar os vários momentos do gesto até à religiosa transcrição das palavras perpetuadas na lápide tumular de Wright.

Estão para além do mero documento de viagem. Tratam da relação que ela estabelece com o método de projecto. E da relação desta com a vida - a grande solução hédonica onde todas as emoções são filtradas e dissolvidas para que, de um modo «harmonioso» e puro, possa cristalizar a Arquitectura (...)"

[José António Bandeirinha, in Via Latina, Coimbra, Maio de 1991]