sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005


O Choque-Debate ou Lopes versus Sócrates

Era para ser um debate proveitoso, foi pura ilusão. Era local para acolher e esclarecer temas sérios, mesmo se o talento e erudição estivessem à margem, mas foi de uma ligeireza incómoda. Era, segundo os jornalistas, um debate ambicioso, resultou em venialidades medíocres. Só a demonstração de fé partidária não foi ignorada. No resto, restou um choque de lugares-comuns previsíveis.

A ideia da formatação do debate em modelo americano, longe do vigor esperado pela inteligentzia mediática, foi de uma pretensão parola e exibicionista. Tanto vigor cénico evocado, com luzes bruxuleando perante olhares dos indígenas e um dispositivo formal onde o jogo dos olhares estava omisso, que se esqueceu o fundamental: o contraditório dos jornalistas. Nunca os moderadores foram exigentes perante as respostas, algo difusas e pouco substantivas, dos candidatos. Em tempo algum enfrentaram o seu fragilíssimo discurso televisivo. Por isso o debate foi constrangedoramente fraco e de pouca capacidade persuasiva. Como é possível permitir-se que candidatos a primeiro-ministro dispensem a clareza e o rigor nas soluções que referem para os programas que defendem? Acaso não era este o local para esse exercício de virtude cívica?

Por isso, fora o embaraço de Santana Lopes em defesa da sua anterior prestação maledicente em comício femeeiro, o debate resultou numa enorme sensaboria. A parte do debate económico, então, foi verdadeiramente insuportável, tal a profusão de disparates proferidos. O espectáculo tinha de continuar. E assim foi. Até ao próximo.