sábado, 15 de janeiro de 2005


[A Bem da Nação]

"Os homens parecem-se como corvos de olhos fixos que levantam voo por sobre os cadáveres e todos os peles-vermelhas são chefes de estação" [Francis Picabia]

Desfilaram esta semana um conjunto apreciável de sujeitos nas festas eleitorais. Enquanto a gravidade económica do país era assinalada, curiosamente também pelos que mais participaram na sua mediocridade, cá dentro e nos países civilizados, os diferentes espíritos da coisa pública, em discursos buliçosos, entravam no mais perfeito dislate. Supõe-se que os parcos aplausos eram todos "a Bem da Nação".

A crónica inicia-se pela apologia inenarrável do despeitado turista acidental, Morais Sarmento, a banhos em S. Tomé. A fraseologia usada revela-se de pouca singularidade. Fosse o ministro Sarmento um qualquer gentio da província, um ilustre desconhecido da administração pública, tivesse vestido a farpela fútil d'algum secretário de estado ou ministro-a-dias, que a palestra em sua defesa não existiria. O tiroteio seguido de intensa emoção, que o facto desvelaria, percorreria o país de lés-a-lés, e os frémitos contra o desafortunado turista produziriam em todas as bancadas espasmos colossais. Mas o homem era outro. Neste caso, passe o dito cheio de graça de Lobo Xavier que jura que Sarmento é homem de sucesso (curiosamente, todas as luminárias da politica o são, caso do próprio Xavier), a classe política juntamente com alguns opinion makers de serviço à Nação fizeram a desafronta e chibataram a plebe. Que não deve ter gostado da reprimenda.

Quanto ao cada vez mais clone de Santana Lopes, o eng. Sócrates, o caso é deveras admirável. A sua afoiteza em jurar eterno apoio do Estado aos mais pobres, "aqueles que se encontram abaixo do limiar da pobreza", fez lembrar com eterna saudade o outro engenheiro, de nome Guterres. A gaffe é elucidativa. A história repete-se. Como dizia o outro, "a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa". A peça espectaculosa sobre a eliminação ou não dos benefícios fiscais num futuro governo de Sócrates foi clarificadora. Diz-se uma qualquer coisa, não importa o quê, contra o governo com a alegação que a classe média é penalizada, que não há equidade fiscal, e noutro momento, imperturbavelmente, faz-se o elogio da estabilidade fiscal Santanista. Não há paciência para iluminadores assim. Ninguém resiste a tal grotesco.