domingo, 2 de janeiro de 2005


2005 & exercícios textuais de fim d'ano

"Os homens, tendo podido curar-se da morte, da miséria, da ignorância, lembraram-se, para se tornarem felizes, de não pensar nisso. Foi tudo quanto inventaram para se consolarem de tão poucos males. Consolação riquíssima. Não se dirige a curar o mal. Esconde-o por um pouco. Escondendo-o, faz com que se pense em curá-lo. Por um legítima desordem da natureza do homem, não se acha que o tédio, que é o seu mal mais sensível, seja o seu maior bem. Pode contribuir mais do que qualquer outra coisa para lhe fazer procurar a sua cura. Eis tudo ..." [Lautréamont, in Contos de Maldoror]

"Não me venham com teorias, estou farto. Acontecimentos, seres, objectos, lugares. A coluna vertebral disto tudo. A posição vertical! - eis o que parece justo (...) Dormimos ou estamos acordados, conforme a escolha..." [H.H.]

"É inegável que somos europeus, e até podemos avançar que se fala de nós lá fora como um povo civilizado, desde que (...) Portugal ocupou um lugar honroso (...)
Caminhamos airosamente na via láctea do progresso, porque as estradas cá em baixo o mais que podem é pôr-nos em contacto com o progresso dos antípodas por meio dos abismos insondáveis que o macadame aperfeiçoou (...)
Temos tudo quanto podem ambicionar os netos daqueles que civilizaram mundos novos. Só nos falta - diga-se a verdade sem presunção - falta-nos uma pequena coisa, que faça os homens bons: falta-nos a virtude e a moral; falta-nos o respeito à lei, e a lei que deva respeitar-se; falta-nos esse quase nada que faz um povo de traficantes e de corruptos uma sociedade de irmãos e de amigos ..." [Camilo C. Branco, in Dispersos]

"Portugal precisa de um indisciplinador. (...) Trabalhemos (...) por perturbar as almas, por desorientar os espíritos. Cultivemos, em nós próprios, a desintegração mental como uma flor de preço. Construamos uma anarquia portuguesa. Escrupulisemos no doentio e no dissolvente. E a nossa missão, a par de ser a mais civilizada e a mais moderna, será também a mais moral e a mais patriótica. [F. P.]