sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Lembrar Fernando Assis Pacheco [1937-30 Novembro 1995]

"... descubro uma carta do ano de 1978 enviada de Pardilhó. Nessas linhas é ele quem fala, não eu. E conta-me coisas saborosíssimas nessas linhas com aquela escrita tão arguta e tão travessa que tanto lhe admiro. Sim, a escrita. Esperei toda a vida dele que, por excepção, alguém da merda dourada dos lobbies deste país tivesse um instante de sensibilidade para analisar com mínimo de gosto e de inteligência a pessoalíssima construção literária de Fernando Assis Pacheco. Em vão.
Lá chegaremos um dia, é mais que certo. Mas nessa altura os eruditos daquele tempo já estarão em metamorfose de vermes a borbulhar na própria merda..." [José Cardoso Pires, in "Um recado entre muitos", Revista Espacio/Espaço Escrito, nº15 y 16, 1998]

"... Um homem tem de viver.
E tu vê lá não te fiques
um homem tem de viver
com um pé na Primavera.

Tem que viver
Cheio de luz. saber
um dia com uma saudade burra
dizer adeus a tudo isto.
Um homem (um barco) até ao fim da noite
Cantará coisas, irá nadando
Por dentro da sua alegria ...
"

[F. Assis Pacheco, A Musa Irregular, 1996]