sábado, 2 de outubro de 2004


Catecismo Americano

As entrevistas, eloquentemente referidas como debate, desenrolados ontem com Bush & Kerry foram de uma chateza corrosiva. Sabe-se que a capacidade comunicacional da razão como reguladora e mediação do voto entre os eleitores americanos é tarefa extenuante. A ideia de exigir qualquer clivagem mais ou menos radical entre os putativos candidatos, com clareza de pontos de vista, objectivos precisos, argumentação estruturada, credibilidade das propostas, defesa da acção política, estratégia comunicacional, é meramente do domínio da excentricidade. E a mais não são obrigados. Sabendo-se como o discurso político terá de ser sempre polemizante, em democracia, não se entende este dark side na retórica persuasiva americana. Fica-nos, portanto, do discurso publicitário para a presidência americana, a imagem dos candidatos, um ou outro dizer mais emocional, uma ou outra frase mais atribulada, mas sempre na margem da lógica televisiva. Muito pouco, portanto, como meio de persuasão. O catecismo americano é pouco viril.

É claro que o anti-ethos, presente no discurso de Bush para muitos, que a memória da história presente é penosa, apodera-se do ouvinte e impede-o de qualquer capacidade reflexiva. De facto, por muito que Bush manuseie as suas metáforas em prol da democracia no Iraque e comungue no crepitante ataque ao terrorismo, ninguém com sinceridade o ouve. Todos os dias somos devorados no engodo e desilusão do Iraque. Daí que a desqualificação do seu discurso, mesmo que matraqueado até à exaustão, seja total. E se aliarmos isso, à boçalidade da sua figura e à pouca lisonja das suas capacidades intelectuais e humanas, então a pesporrência do seu discurso é repugnante.

Tais factos não impedem a perda do acto eleitoral, pois a idolatria de algum povo americano é simplesmente notável pela grosseria do seu imaginário, sempre transtornado, sempre insolente. O que significa que Kerry, cuja prestação é de longe bem melhor, tem dificuldade em passar a memória discursiva destes anos de chavascal neo-liberal, por muito que o tente. Quer por tudo o que ficou dito, mas também pelos erros tácticos que comete.

Locais: [Análise]- A Debate in Verse / A Knockout for Kerry / Alternet / Bush Comes Out Firing After Debate / Bush's Net strategy for debate spin / Beyond Debate / "Carnets de campagne" / Crunch Time / Faith vs. reason / First blood to Kerry in TV debate / Iraq takes centre stage / It Was a Rout / It's the IQ, stupid / Kerry holds edge over Bush following first debate / Kerry Keeps Hopes Alive / Kerry Wins Debate, But Iraq Mess to Continue No Matter Who Is President / John Kerry tire son épingle du débat / Presidential Fiction: The Story Behind the Debate / Rate the Debate - Who Won? / Scoring the Debate / Tastes Great, More Filling / Transcript: First Presidential Debate / Un «Kerry peu convaincant» contre un «Bush soupirant de frustration» / Un phénomène nouveau / Whiner-in-Chief / Why Bush Won